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Começando a pensar numa rotina

19 de Janeiro de 2015, 19:50 , por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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  • A boa notícia: consegui uma casa! Fica numa linda república, com mais 4 pessoas. Uma casa antiga, de madeira, bem aconchegante e a 15 min andando do prédio que trabalho. Fiquei no sótão, com dois quartos pequenos. Não tem móveis (bonitos), mas tem uma cama antiga, uma mesa, e segundo dizem, aqui tem bons lugares para garimpar móveis usados. Me mudo na quarta, e mando fotos da casa e da cachaça ;)
  • A notícia ruim: meu amigo Mohamed, minha amiga Farah, meu amigo Lavdim ainda não conseguiram. Os preços não são convidativos, e no caso do Mohamed, que também procura uma república, é bem provável que o nome atrapalhe. O mais trágico é que é o só o nome mesmo, porque ele nem tem traços árabes muito marcantes. Lembro que em 2004, quando estive em Berlin, fiquei num albergue, e conheci um iraniano, também Mohamed: era engenheiro eletrônico, como eu, já havia sido aceito numa universidade estadunidense mas não conseguia o visto, e aguardava na Alemanha. Ele disse que a dificuldade era por conta do nome também, já que nem árabe ele era (persa, no caso).
  • No Brasil, a distinção entre classes é vísivel pela cor da pele, pela conta bancária, pela "boa aparência", enfim, diversos critérios. Isso já é ruim o suficiente. Aqui, além disso tudo, cidadãos de primeira e segunda classe são objetivamente distinguíveis através dos documentos, ou mais especificamente, passaporte. O idioma também é outro elemento. Mas aqui, quem não tem passaporte pode falar o que quiser, parecer o que quiser, mas é cidadão de segunda classe. E quem tem, como eu, pode até falar um alemão de padaria, ter uma pinta de baiano (hehe), que tá tudo bem.
  • Isso cria um ambiente propício para o surgimento, e um amplo e assustador apoio da sociedade, a coisas como o Pegida, os patriotas europeus contra a "islamização" do ocidente. Em Bonn, como se isso não bastasse, temos o Bogida, a versão local desta corja. Enquanto isso, um grupo de judeus cola adesivos dizendo que "toda crítica a Israel é anti-semita". Assim, usam porcamente o sofrimento de milhões de pessoas, inclusive meu avô, para justificar as atrocidades praticadas em Gaza e na Cisjordânia.
  • Os jornais que tenho lido aqui usam terrorista e muçulmano como sinônimos. Desacaradamente. A entrevistada da capa de domingo do Die Welt am Sontag, tipo o Globo daqui, era uma espécie de Beltrame versão feminina-alemã. Imagine. A partir do pressuposto da guerra ao terror, disseram estar monitorando mais de 100 grupos islâmicos (=terroristas, no caso). Ela também disse não ver problema nenhum no Pegida ("é até bom que cada um mostre sua bandeira"). E espera que caiam as leis de privacidade na internet para eles poderem vigiar melhor os islâmicos...
  • Capa do jornal de hoje dava conta da proibição de aglomeração de pessoas em Dresden, e por consequência, proibia uma manifestação do Pegida já marcada. Dizia que o líder do Pegida estava ameaçado de morte (pelos islâmicos?terroristas?tanto faz?). A outra matéria era sobre um deputado alemão verde (progressistas, por aqui) que apareceu num vídeo a seis meses atrás com uma planta de maconha. Ia ser processado. A outra matéria era sobre as execuções de estrageiros na Indonésia, incluindo o Brasileiro.
  • Hoje, finalmente fui tentar comer comida alemã. No restaurante em frente ao meu prédio de trabalho, tem dois restaurantes: um persa, que serve comida "Halal" (própria para muçulmanos) e outro alemão. Aproveitei que estava sozinho e fui no alemão, já que meus colegas só comem no outro. O prato do dia já tinha acabado (salsicha com salada de batata, que mais poderia ser?). Pedi um trem chamado Flammenkuche (tipo Bolo flamejante). Daí veio uma.... pizza! E não poderia ter sido mais clichê, com chucrute em cima (e outros coisas mais, estava bem gostoso). Aliás, atenção: chucrute em alemão não é "chucrrrute" (não é, mas poderia ser). É Sauerkraut. Meus vizinhos que se cuidem ;)
  • Fingindo que sou rico, pedi uma água (pensando que era da torneira) e veio uma com gás, de E2,2. Fingindo que sou rico, pedi um café - expresso? não, preto mesmo (achando que seria mais barato). Resultado: mais E2,00  (o expresso era 1,20). Daí que a conta deu 10,60. Daí que dei uma nota de 50 e disse, peraí, tenho 0,60. Contei as moedinhas e tinha 0,57. Daí pensei, vou me dar bem pelo menos uma vez! Daí ela disse, Nein, e preferiu me dar o troco em moedinhas...

 Jantar de sexta ;)

Esses vegans daqui são ótimos!

Ao lado do cartaz: Patriotismo não, obrigado.

Na página indicada (http://www.keinbockaufnazis.de/), um aviso: "Por favor, não escreva nenhum comentário começando com 'Eu não tenho nada contra estrangeiros, mas ... '. Nossa experiência é de que o risco é alto que venha um racismo daí."

Me sentindo em Santa Teresa...

Vista da minha sala. Tão vendo o Reno? Nem eu, mas juro que ele tá logo ali.

Podia chamar essa foto de "quem mexeu no meu queijo", mas jamais faria isso.

A janta de hoje - vai gordinho!


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