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Manda descer, que hoje tem chucrute com dendê!

31 de Janeiro de 2015, 16:13 , por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Chucrute não teve não, mas hoje a Doro48 - versão alemão da TK22 - cheirou a dendê! Teve muito coentro, farinha, pimenta e peixe - dorrrrrado, chama-se. Depois duas semanas em Bonn, pude fazer uma moqueca pras meus Mitbewohner, amigos de casa, aqui na Dorotheenstraße 48. Foi preparada ao som de Roque Ferreira e Gil, e comida com tempero de Mariene.

Christian, Simon, Arne, Doro (sim, o mesmo nome da rua!), Stephi e Georg

Na república - WG (Wohnsgemeinschaft, ao pé da letra Comunidade de Moradia, sim, eles adoram juntar palavras, mas essa ficou tão grande que precisou de sigla - WG - vêguê) moram 7 pessoas, numa casa antiga, de 3 andares. No primeiro, um quarto, sala da foto acima, a cozinha (o melhor lugar da casa, pelo menos no inverno), e um jardim, que deve ser o melhor lugar da casa no verão.

A cozinha é grande o suficiente pra cozinhar o que quiser, e pequena o suficiente pra ficar aconchegantemente cheia com 7 pessoas dentro

O jardim! Até agora nevou só um dia aqui...

O armário de guardar comida. Adivinha qual meu lugar?

Pois então, aqui é tudo divididinho, cada um tem seu lugar no armário e na geladeira (são duas). Algumas coisas são comuns como cebola, alho, azeita, vinagre, e tal. A princípio estranho um pouco isso, pois nunca fiz assim em casa. Mas é razoável, porque é muita gente, cada um com hábitos diferentes. E também não é tão estrito assim, dá pra dar uma roubadinha do amiguinho, e também, se calhar de trombar com alguém na cozinha, sempre rola umas trocas. E sempre rola de trombar, sempre tem alguém na cozinha, e sempre comemos meio juntos, meio separados.

No segundo andar tem 3 quartos e um banheiro. Moro no sótão, onde tem mais um quarto além do meu, e um banheiro. Meu quarto na verdade são dois - visitas bem vindas! - mas só um tem aquecedor. Então talvez melhor esperar esquentar um pouco, mas também dá pra dormir na sala. Tenho um espelho ondulado, uma cama-sofá, uma estante, uma cadeira, uma mesa e uma cadeira de balanço (!). O melhor de tudo é que não precisei comprar nada, aqui na casa tem um porão cheio de coisas legais.

Meu antequarto. Bonitinho, mas sem aquecimento, então não dá pra trabalhar nele agora. Felipe, duvido você não ficar com inveja dos pacotes que tão no alto estante!

Levanta a mão aí quem tem uma pia no quarto! :) Aqui é assim, dividimos o banheiro (privada e chuveiro - klo), mas cada quarto tem sua pia. Se alguém reparou no detalhe rasta da toalha da mesa, ela me foi emprestada pelo Georg, que trouxe da Etiópia, da comunidade Awra Amba - para saber mais, google. Na cabeceira, Vito Gianotti! Alías, tava falando desse livro com o povo aqui, e perguntaram: nossa, como você sabe tanto sobre a história da Europa? Pois é, para pensar em casa...

 

Enfim, tudo isso pra dizer: estou muito bem instalado, aluguei uma casa e ganhei um bocado de amigos muito legais, atenciosos e cuidadosos, que estão me fazendo sentir em casa, com todo o peso que essa palavra tem. Com eles eu também estou aprendendo alemão, já que na universidade é tudo em inglês. O alemão é uma língua incrível, tem uns significados muito profundos, um dia vou escrever melhor sobre isso.

Duas palavras que estou amando: Schleim (xláim) - catarro, sim fiquei resfriado, era de se esperar, até que demorou muito, e ungebügelt, algo que não foi passado a ferro, ou seja amassado, ou seja todas as minhas roupas. O caso dessa palavra hoje foi que, para a moqueca (aliás, coisa mais engraçada do mundo é eles tentando falar moqueca e cachaça - catchaca, sim, também teve cachaça), eles montaram uma mesa grande na sala. Aí rolou um debate porque a toalha de mesa estava ungebügelt, mas na verdade ninguém passa nada aqui.

Na universidade também estou bem instalado. Se em casa são todos alemães, trabalhadores, alguns inclusive desempregados, o que não é raro aqui por ora, na universidade são todos estrangeiros. Tenho uma sala, dividida com um taiwanês, duas paquistanesas, uma iraniana, e um líbio. Na sala ao lado, mais colegas: Etiópia, Algéria, e Kosovo - alguém aí já sonhou em conhecer um Kosovar? Incrível. Com eles não rola muito diálogo, ainda. A língua é uma barreira grande, pois todos falam um inglês mais ou menos. Acho que o único que fala alemão sou eu. E as diferenças culturais são tão grandes que é difícil até começar. Mas uma hora rola.

Minha salinha na universidade

Sabemos todo os problemas do imperialismo, mas... estar no "centro do mundo" é fantástico! Pra nós no Brasil (pra mim, pelo menos) a África, é um lugar tão distante, mesmo que falemos, estudemos, nunca me imagino lá, é sempre algo do imaginário. Aqui não, a África está logo alí. E os africanos também. Não os africanos que eu fico imaginando quando vou num quilombo, mas os africanos que vieram, fugidos ou não, enfim, que existem e eu posso tocar. O mesmo com a Ásia.

E tanto um quanto outro se materializam nas lojas de comida. Tem duas aqui perto realmente especiais. Numa delas, asiática-africana, comprei coentro fresco, lula (congelada), leite de coco, e ví que tem mandioca congelada, e tapioca (em bolinhas). Troquei uma ideia com o dono, vietnamita, que me deixou profundamente ofendido quando, após eu anunciar minha nacionalidade, disse que eu não tinha cara de brasileiro. Não reconheceu minha bainidade nagô. Mas tudo foi compensado pelo sorriso que ele deu quando contei que no Brasil usamos muito coentro e leite de coco. A Ásia é logo alí, nós é que não sabemos.

No mercado turco eu encontro frutas e legumes, e .... feijão!!!! Esse vai ser o prato do próximo Brasilianisches Mittagessen, o almoção verde-amarelo.

UPDATE: Cartas para Dorotheenstr. 48, Bonn - 53111 - Alemanha ;)

Mais um pouco de conversa com as paredes:

Propaganda nazista, com adesivo dos Antifas (anti-fascistas) por cima.

Precisando de móveis? Veja o dia de botá-los pra fora (sim, tem uma dia específico, assim como cada tipo de lixo) no seu bairro e vá à caça! Não é so bagaceira não, tem até privada!

Na placa, se lê: desobediência civil, e na árvore, um pano de oncinha

 Brincadeira com a propaganda da cidade. As duas da esquerda são propaganda oficial, com as palavras alegria e cidade em alemão, inglês e francês, e tudo isso resultando em Bonn. A ideia é retratar a cidade como global, cool, interessante (alguma semelhança com outra cidade que tentam vender como global?). Na esquerda: Burguês. Mente estreita. Pequeno burguês. Bonn.

 

 


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