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O Quilombo vive porque resiste!

20 de Fevereiro de 2012, 22:00 , por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Por Alan Tygel, publicado originalmente na revista Vírus Planetário.net

A luta pela terra segue no Brasil. Das favelas cariocas aos índios de Brasília, chegamos aos quilombolas da Bahia. O grande confronto que vem atraindo a mídia alternativa baiana é a luta da comunidade quilombola do Rio do Macaco por um espaço que é seu por direito, mas que vem sofrendo tentativas de saque pela Marinha do Brasil.

Instalada há mais de 200 anos na localidade de Simões Filho, região metropolitana de Salvador, a comunidade já foi reconhecida como quilombola pela Fundação Palmares. Entretanto, há 50 anos, a Marinha do Brasil se instalou no local e vem fazendo de tudo para expulsar os moradores do local. A força armada vem se utilizando tanto de procedimentos judiciais quanto de ameaças e cerceamento de direitos. Hoje, os moradores precisam dar uma longa volta para entrar na comunidade, pois a Marinha fechou a entrada principal. A pesca também está proibida, e são frequentes os relatos de intimidações com armas contra crianças, jovens e idosos, alguns com mais de 100 anos.

A história completa pode ser vista aqui: http://www.youtube.com/watch?v=bwUXjUzqU6w. E, por incrível que pareça, a presidenta Dilma passou o ano novo na base da Marinha, com apenas um muro dividindo ela da comunidade: http://www.youtube.com/watch?v=ASbf4vMRja8.

 

Comunidade do Rio do Macaco sofre violações aos direitos humanos e ameaça de remoção pela Marinha, enquanto Dilma, do outro lado do muro, curtia férias na praia paradisíaca na Base Naval de Aratú, em Simões Filho, BA

O assunto é de extrema importância, e merece toda atenção. Mas eu gostaria de, na primeira coluna do ano, mostrar um aspecto positivo da luta pela terra. Também na Bahia, o NEPPA – Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias vem construindo uma prática exemplar no apoio à reforma agrária por grupos oriundos da universidade.

Formado por estudantes de várias Universidades de Salvador, e também por trabalhadores, o NEPPA tem como atividade principal a realização do Estágio de Vivência em Áreas de Reforma Agrária, este ano em sua sexta edição. O estágio consiste em fazer com que cerca de 80 pessoas por ano, a maioria estudantes, tenham a oportunidade de “pisar os pés no chão” para fazer a “cabeça pensar”.

O Estágio, entretanto, não é a única a atividade do grupo. Ao longo do ano, o NEPPA realiza atividades permanentes nas 7 áreas que participam do EIVI. Aliás, o nome EIVI – Estágio Interdisciplinar de Vivência e Intervenção é outra inovação em relação aos demais estágios de vivência praticados no Brasil.

Trabalho coletivo na hortas comunitárias em São Sebastião do Passé, BA

Justamente por conta das atividades permanentes nos assentamentos, o Estágio tem um caráter explícito de intervenção, pois os estagiários dão continuidade aos trabalhos que o grupo já realiza. Esses trabalhos incluem intervenções nas áreas de saúde, rádio, educação popular, agroecologia e juventude.

No último ano, o grande projeto do NEPPA foram as hortas e viveiros comunitários construídos nas 4 comunidades de São Sebastião do Passé: Santa Maria, Recanto da Paz, Nova Panema e Bento. A metodologia inclui um curso de agroecologia, com foco na abordagem política das diferenças entre agricultura familiar e o agronegócio. Até porque, na hora de botar as mãos na terra, quem ensina são os assentados.

Com a produção estabilizada em São Sebastião do Passé, os desafios agora se dão em torno do escoamento da produção, um problema histórico do campesinato brasileiro, que sempre acaba deixando os ganhos nas mãos dos atravessadores. A meta é levantar fundos para a compra de um caminhão que possa levar os produtos às feiras das cidades vizinhas.

Neste ano, o planejamento tem o foco na construção das hortas e viveiros de mudas comunitários  nas áreas de Sano Amaro da Purificação. Os assentamentos Nova Suíça, Pitinga e Bela Vista já possuem uma boa produção, mas a maior parte é individual. Através do incentivo ao trabalho coletivo, o NEPPA pretende resgatar o espírito do mutirão, indispensável quando falamos em luta da classe trabalhadora do campo e da cidade.

Os produtos das hortas ainda contam com um valor adicional por não utilizarem agrotóxicos. O NEPPA também participa da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, e já realizou oficinas nas áreas utilizando o filme O Veneno está na mesa, de Sílvio Tendler. “É impressionante a identificação dos agricultores com o filme. O povo que costuma dormir às 9 da noite, ficou até às 11 debatendo o filme”.

Cerca de 40% dos participantes da edição deste ano do EIVI são de fora de Salvador, alguns inclusive de fora do Brasil. Com isso, o NEPPA espera incentivar a formação de novos grupos de apoio à reforma agrária, num momento em que a pauta continua estagnada no Brasil.

E que surjam vários Neppas pelo Brasil, espalhando agroecologia e revolução pelo campo de nosso país! 

Veja mais:

http://cirandas.net/neppa/

http://cirandas.net/neppa/estagios/vi-eivi

http://cirandas.net/alantygel/blogdoalan/eivi-mst-ba


Tags deste artigo: rio do macaco quilombo

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