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27 de Janeiro de 2010, 22:00 , por Alan Freihof Tygel - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Blog do Alan, contém pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.


Engenharia e Desenvolvimento Social na Amazônia - o XI ENEDS no Pará

3 de Outubro de 2014, 9:52, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

por Alan Tygel, fotos de Ana Castro

Em 2003, ainda sob os ecos da eleição do presidente Lula, um grupo de engenheiras e engenheiros que se recusaram a aceitar a Engenharia única e exclusivamente voltada para a geração de lucro resolveu realizar o I Encontro de Engenharia e Desenvolvimento Social. Hoje, 11 anos depois, o encontro cresceu, se tornou nacional, criou asas, filhas, e aterrissou por fim na região Norte.

Entre os dias 24 e 26 de setembro de 2014, o GETS - Grupo de Pesquisa e Extensão Trabalho Tecnologia Social e Desenvolvimento da Amazônia promoveu, junto a diversos parceiros, o XI Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social, na cidade de Castanhal, região metropolitana de Belém, Pará.

A motivação básica do ENEDS é fazer a Engenharia pensar politicamente sobre o seu papel, e mostrar às futuras engenheiras e engenheiros que existem possibilidades - e muitas necessidades - de realizar a prática da Engenharia voltada para o desenvolvimento social, e para as reais necessidades do povo brasileiro.

O XI ENEDS teve como tema "Repensando a Tecnologia e a Sustentabilidade da Amazônia". A motivação é justamente questionar a utilização do discurso da sustentabilidade e da tecnologia para justificar ainda mais destruição da natureza em nome do benefício de poucos.

A conferência de abertura colocou em discussão a construção de Belo Monte, onde foram apontadas as diversas contradições deste projeto, em todas as indas e vindas que já duram mais 30 anos. O discurso técnico da geração de energia falha quando se observa a vazão inconstante do Rio Xingú. A falácia da energia renovável e limpa também não se sustenta, dado o período de vida útil da usina, e as emissões de metano pela floresta submersa, que é liberado após a água passar pela turbina. E finalmente, a destinação da energia para produção de alumínio para exportação coloca um ponto de interrogação sobre a real necessidade do empreendimento.

O XI ENEDS teve dois momentos que já estão gravados na história deste encontro. O primeiro deles foi o "saiaço" promovido no último dia. Durante o mini-curso sobre Gênero e Engenharia, que discutiu a questão do feminismo dentro da Engenharia, alguns participantes fizeram ofensas a homossexuais presentes. Como respostas, mais de 10 homens vestiram saias para ministrar palestras e participar do evento, mostrando que o Desenvolvimento Social do qual falamos não pode ser levado à cabo sem uma Engenharia construída por todas e todos, sem distinção de gênero e opção afetiva.

Outro momento marcante foi a criação de Rede de Engenharia Popular, durante a plenária final do evento. A rede, que de alguma forma já existia na prática, tem como objetivo identificar engenheiros e engenheiras pelo Brasil que estejam dispostos a se colocar à disposição dos movimentos sociais.

Os mini-cursos e mesas do eventos buscaram abordar áreas específicas das engenharias e debates mais amplos. No campo da engenharia civil, os debates deixaram claro que pensar em materiais de construção sustentáveis não basta. É preciso discutir a cidade e as formas de exclusão que ela promove. Nesse sentido, a mesa Engenharia, intervenção urbanística e direito à cidade fez uma grande contribuição à reflexão sobre o assunto. E o mini-curso sobre habitação popular contribuiu com a experiência prática do coletivo Usina.

No campo da Computação, dois mini-cursos debateram a contribuição das tecnologias de informação aos movimentos sociais, e as formas de desenvolver sistemas voltados a uma lógica anti-capitalista. Os interessados na Engenharia de Produção também tiverem muitas contribuições nos minicursos sobre arranjos produtivos locais, análise FOFA e mapa mental, qualidade e pesquisa-ação para o desenvolvimento local.

A importância da agro-industrialização nos assentamentos de reforma agrária foi tema de uma mesa com participação da universidade e do MST, além do Incra. Foi ressaltada a importância de processar os produtos agrícolas para gerar valor agregado e maior durabilidade na produção da agricultura familiar camponesa.

Outros temas discutidos foram os resíduos sólidos, a formação em engenharia, e as alternativas de trabalho profissional.

O ENEDS analisa e aprofunda a complexidade do papel do engenheiro e engenheira na resolução de problemas reais de uma sociedade desigual e que enfrenta um crise ambiental sem precedentes. Ainda assim, a mensagem é clara: existem caminhos para a construção de uma engenharia solidária, multidisciplinar, comprometida com um desenvolvimento que ponha fim às desigualdades sociais e às injustiças ambientais.

Enfim, uma Engenharia Popular.

 



As eleições, as lutas e meu voto em Dilma

1 de Outubro de 2014, 8:34, por Alan Freihof Tygel - 44 comentários

 

Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro o papel que penso cumprirem as eleições na sociedade em que vivemos. Estamos numa democracia burguesa, e votar num/a presidente/a ou governador/a é simplesmente escolher o/a novo/a gerente do Capital sobre o Estado. Partindo desse pressuposto, derrubo qualquer aspiração revolucionária a partir do voto. Amo a Luciana Genro, curto demais o Eduardo Jorge e sou fã do Mauro Iasi. Mas pra botar qualquer um desses no poder, precisaríamos de armas. Só apertando o botão não dá.

Reconheço o papel que candidatos com posições mais à esquerda têm nas eleições. Os debates são oportunidades únicas de usar o espaço de radiofusão, que deveria ser público e democrático, para propagar ideias progressistas. Mas é muita ingenuidade pensar que alguém que estivesse realmente concorrendo a um cargo poderia falar tão abertamente a favor do aborto, da legalização das drogas, ou contra o capital. Só podem dizer o que dizem porque não concorrem a cargo algum. Vivemos num país de 200 milhões de conservadores, sinto muito dizer a verdade. Dizer então que fica "decepcionado" com Dilma é ignorar isso.

Mas foi precisamente nesse país de 200 milhões de conservadores que o PT conseguiu levar adiante projetos ofensivos à algumas frações da burguesia, como as cotas, bolsa família, mais médicos, elevação real do salário mínimo. O Programa de Aquisição de Alimentos, uma importante conquista para a agricultura familiar, foi alvo de reclamações imperialistas.

Quem me conhece sabe que acompanho de perto o tema da reforma agrária e da agroecologia, e portanto tenho argumentos para reclamar três dias e três noites do PT sem parar. Nenhum dos programas que citei afrontam diretamente a propriedade privada. Essa, só com reforma agrária e reforma urbana, coitadas, uma mais distante que a outra.

Mas para que servem então as eleições? Como já avisei antes, escolher o novo gerente do Capital. Nada mais do que isso. Esse gerente será tão melhor quanto mais permitir que a classe trabalhadora acumule forças para se organizar. E isso se faz melhorando as condições objetivas e a consciência de classe. Quanto ao primeiro ponto, é inegável que houve avanços. Já em relação ao aumento da consciência...

Ainda que o governo PT tenha sido deplorável nesse sentido, quando tinha totais condições de fazê-lo, considero que o aumento da participação da sociedade organizada nos espaços de decisão são um grande avanço. Ainda que quem já tenha participado destes espaços muitas vezes tenha saído profundamente decepcionado, podemos medir sua importância pelo tamanho do chilique que a direita deu quando Dilma propôs a criação do Sistema Nacional de Participação Social e o Plebiscito sobre Reforma Política. Ambos trariam o povo para mais perto da política, e a direita portanto veio forte para barrar os dois.

Nesses anos em que acompanhei alguns espaços políticos mais de perto, percebi a importância da incidência da sociedade nas políticas, e a tragédia que seria perder esses espaços. Só para dar um exemplo, a construção da Política de Agroecologia foi fruto concreto da nossa luta. Saiu dilacerada, estilhaçada, mas saiu. E vai se despedaçar ainda mais na sua implementação. Mas está lá, e nos permitiu chegar a um avançado Programa Nacional de Redução do Uso de Agrotóxicos.

Daí já entramos no outro assunto, que é o nosso maravilhoso parlamento ruralista. Enquanto não extirparmos esse câncer (literalmente!), ou pelo menos reduzirmos seu escopo de atuação, as mudanças positivas, se houverem, serão poucas. E, precisamente neste ponto, saliento a grande importância de termos parlamentares comprometidos com nossas lutas, esses sim possíveis de serem eleitos. No Rio, os deputados do PSOL e alguns do PT são fundamentais para obtermos vitórias, ainda que pequenas, mas que nos animam a continuar lutando. Precisamos elege-los, mais e mais.

Respeito demais as grandes companheiras e companheiros que constróem o PSOL, PSTU e PCB. São fundamentais para construir a crítica consistente, apresentar alternativas e mobilizar a sociedade para as lutas da classe trabalhadora.

Respeito também quem vota nos candidatos destes partidos para presidente com intuito de ter a consciência tranquila, de votar em quem realmente acredita. Acho até bonito.

Eu acredito na revolução socialista e tenho certeza que ela não será construída pelo voto, nem nada perto disso, como foram Allende ou Chavez, na conjuntura atual. Eu acredito na luta dos movimentos sociais e na elevação da consciência revolucionária pelo povo a partir de pautas que ofendam a burguesia e a propriedade privada, para que um dia possamos construir uma unidade na esquerda capaz reverter a correlação de forças em nosso favor.

Eu luto pela Reforma Agrária Popular, pela democratização das comunicações e por uma Engenharia a serviço do povo. E voto em Dilma.