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27 de Janeiro de 2010, 22:00 , por Alan Freihof Tygel - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Blog do Alan, contém pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.


O segundo encontro

15 de Maio de 2015, 20:43, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Não, não é todo dia que a gente encontra alguém tão especial. Volta e meia a gente esbarra na rua com um conhecido, toma uma cerveja com uma amiga querida, sai pra dançar com os colegas do serviço... Mas aquele encontro, que por mais que você espere é sempre de supetão, por mais que você saiba, nunca está preparado, por mais que você deseje, não acontece toda hora.

Hoje eu encontrei Paulo Freire pela segunda vez. Não foi à toa, não foi por acaso, mas foi surpreendente. A primeira vez foi em 2010, durante o IV Estágio de Vivência e Intervenção - EIVI Bahia. Na entrada do local onde fizemos a formação, uma grande faixa dizia: "A cabeça pensa onde os pés pisam". Entrava e saia, saia e entrava, lendo e relendo a frase, e não havia jeito de entender.

Já no assentamento, depois de uma semana morando na casa de dona Gilma, Tiquinho e o pequeno Francisquinho, percebi que o menino, apesar de já ter 10 anos, tinha muitas dificuldades de leitura. Então sentei com ele, peguei o caderno, pedi para ele ler algumas palavras, e nada. Folheei até chegar numa página onde estava o alfabeto, e foi lá que encontrei Paulo Freire, mas não só. Luiz Gonzaga veio de brinde, e poderia até dizer que Fagner ficou de longe olhando.

"Francisquinho, que letras são essas?"

"A, Be, Ce, De, Fe, Fe, Gue, Agá, I, Ji, Le, Me, Pe, O, Que e Re".

Eu jamais podia ensinar alguém a ler sem enteder sua realidade. Podia até saber de cor a quantidade de soja produzida no Brasil naquele ano, mas o alfabeto com o qual aquele menino aprendeu a ler, eu não sabia. Lembrei que, apesar de ter ouvido a música um tanto de vezes, jamais havia conseguido decorar. E, no mesmo sopetão, entendi a frase: só entra na cabeça quando o pé ta no chão.

Hoje foi diferente. Depois de uma semana inteira preparando, ao mesmo, um artigo sobre alfabetização em dados inspirado em Paulo Freire, e uma oficina sobre educação no MST para um congresso sobre internacionalismo, na Alemanha, estava com a corda todo no homi. O objetivo não era focar em Freire, porque no mesmo congresso, haveria uma oficina só sobre ele no dia seguinte. Mas durante a oficina, a conversa acabou indo para esse lado, aproveitei que estava com tudo fresco na cuca, e fui falando sobre o método de alfabetização.

Uma companheira alemã estava realmente muito interessada, me interrompia toda hora, fazendo muito esforço pra entender. O camarada alemão confessou: parece muito interessante, mas pra mim é muito difícil imaginar. Foi quando comecei a me dar conta do tamanho da distância entre Angicos de 1960, e Münster em 2015. Comecei a achar que fiz tudo errado.

"Mas então assim, partindo da realidade dos estudantes, fazendo pontes daí com novos assuntos, blablablaeminglêsmisturadocomalemãoblblbla"

"Desculpe, não entendi sua pergunta!"

"Não foi uma pergunta, foi só uma constatação que percebi agora. Problematizando a realidade das é pessoas, é tão simples inserir o debate político em qualquer processo de formação!"

Confesso que eu chamei. Mas mesmo assim, quando ele apareceu na minha frente, assim tão simples, natural, óbvio, deu aquele sorriso na alma...

Até a próxima, camarada Paulo Freire!



Transgênicos: malefícios do mau uso dos dados e o diálogo mentiroso

11 de Maio de 2015, 3:41, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Resposta ao artigo: Transgênicos: benefícios e diálogo, publicada no Jornal da Ciência em 11 de maio de 2015

Gostaria que os nobres cientistas discorressem sobre a metodologia de cálculo do aumento da produtividade no Brasil. O referido artigo afirma que “os transgênicos representam apenas 30% da área plantada: são 160 milhões de hectares cultivados com as mais diversas culturas no país contra apenas 45 milhões com cultivos transgênicos”, e vai mais fundo, dizendo que “a produtividade geral da agricultura brasileira nos mesmos 10 anos: foi de 200%”, referindo-se, provavelmente, ao período de 2004 a 2013.

Como cidadão, fiquei impressionado com a eficiência do agro brasileiro e fui conferir os dados. Afinal, plantar 160 milhões de hectares e cravar um aumento de produtividade geral em exatos 200% é um feito incrível!

Apenas 10 minutos de pesquisa no site da PAM/IBGE, foram necessários para me desiludir. O agro brasileiro não estava com essa bola toda…Em 2004, o somatório da produção de culturas temporária e permanente foi de 609.173.973 toneladas, numa área de 62.691.475 hectares, o que acarreta numa produtividade de 9,72 toneladas por hectare.

Em 2013, tivemos 1.034.842.193 produzidos em 74.206.968 de hectares, que resultam em 13,94 toneladas por hectares.

Ou seja:

1) A área total plantada no Brasil é de 74 milhões de hectares, “apenas” 86 milhões a menos, quase uma França e meia mais. (Com a diferença que a França caminnha a passos largos para banir os transgênicos). Estamos confundindo agricultura com pecuária ou silvicultura? Espero que não…

2) Disso decorre que os transgênicos não representam 30% das plantações, e sim 40,3/74 = 54%. (A área de transgênicos em 2013 foi de 40,3 milhões de hectares, medidos sabe-se lá como pelo ISAAA.) Considerando que mais de 90% da soja é transgênica, e que mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil vão para a soja, a afirmação de que “a contribuição dos transgênicos no consumo de agrotóxicos é menor” no mínimo está subjugando a inteligência dos leitores.

3) Finalmente, o fantástico aumento de produtividade de 200% minguou para 43,51%. O que não é mau. Mau é errar 360% numa conta.

4) Ainda, é muito mau-caratismo estatístico usar como argumento que no período a área de transgênicos aumentou 1000% (da próxima vez use o número correto: 1306,67%, de 2003 a 2014, ok?). Qualquer coisa que começa do zero vai ter um crescimento alto. Comparar o crescimento dos transgênicos ao dos agrotóxicos desde que os transgênicos começaram (oficialmente) é como se não se usasse agrotóxico antes de 2003, e todo o crescimento fosse devido aos transgênicos. Nunca ninguém fez essa afirmação.

Prezados Paulo Paes de Andrade, Francisco G. Nóbrega, Zander Navarro, Flávio Finardi Filho, Walter Colli,

Se vocês argumentam que não temos dados para provar a relação entre uso de agrotóxicos e transgênicos, tampouco vocês o têm para provar o contrário. Mesmo inventando. Querem diálogo? Dialoguem de maneira justa. Jogar números estapafúrdios para ver se cola é prova da falta de argumento.

Transgênico é feito para ser resistente a agrotóxico, e portanto é óbvio imaginar que o uso de agrotóxicos vai aumentar. Ou será que é coincidência que as 6 grandes empresas de agrotóxicos são donas das patentes de transgênicos? Será porque transgênicos e agrotóxicos não têm nada a ver?

Sei que você não gostam do princípio da precaução. Mas invoco ele para afirmar que quem deve provar que transgênico não aumenta o consumo de agrotóxico são vocês. Sem inventar.

Atenciosamente,

Alan Tygel, engenheiro e membro da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.