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Introdução

2 de Novembro de 2008, 22:00 , por Aurélio A. Heckert - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
A civiliza&ccedil;&atilde;o moderna enfrenta tr&ecirc;s crises potencialmente catastr&oacute;ficas: (1) colapso social, um termo que revela o crescimento da pobreza, sem-teto, crime, viol&ecirc;ncia, aliena&ccedil;&atilde;o, viciados em drogas e &aacute;lcool, isolamento social, apatia pol&iacute;tica, desumaniza&ccedil;&atilde;o, deteriora&ccedil;&atilde;o das estruturas comunit&aacute;rias de auto-ajuda, ajuda m&uacute;tua, etc.; (2) destrui&ccedil;&atilde;o dos delicados ecossistemas do planeta do qual dependem todas as formas complexas de vida; e (3) prolifera&ccedil;&atilde;o de armamentos de destrui&ccedil;&atilde;o em massa, particularmente armamentos nucleares. <p> As observa&ccedil;&otilde;es de ortodoxos, inclusive &quot;peritos&quot; do sistema, meios de comunica&ccedil;&atilde;o de massa, e pol&iacute;ticos, geralmente consideram essas crises em separado, onde cada uma delas tem suas pr&oacute;prias causas e portanto poss&iacute;veis de serem tratadas em bases separadas, isoladas umas das outras. Obviamente, contudo, esta abordagem &quot;ortodoxa&quot; n&atilde;o est&aacute; funcionando, uma vez que tudo vai de mal a pior. A menos que se tome logo uma provid&ecirc;ncia, fatalmente mergulharemos todos em um desastre, na forma de uma guerra catastr&oacute;fica, num Armagedom ecol&oacute;gico, numa selvageria urbana -- ou a tudo isso ao mesmo tempo. </p> <p> O anarquismo proporciona uma sa&iacute;da &uacute;nica, coerente e de bom senso para essas crises, todas oriundas de uma fonte comum. Esta fonte &eacute; o princ&iacute;pio da <strong>autoridade hier&aacute;rquica</strong>, que rege as principais institui&ccedil;&otilde;es de todas as sociedades &quot;civilizadas&quot;, sejam elas capitalistas ou &quot;comunistas&quot;. A an&aacute;lise anarquista come&ccedil;a no fato de que a totalidade de nossas principais institui&ccedil;&otilde;es s&atilde;o constitu&iacute;das na forma de hierarquias, i.e, organiza&ccedil;&otilde;es que concentram poder a partir do topo da estrutura piramidal, tais como corpora&ccedil;&otilde;es, burocracias governamentais, ex&eacute;rcitos, partidos pol&iacute;ticos, organiza&ccedil;&otilde;es religiosas, universidades, etc. Todas elas mostram como as rela&ccedil;&otilde;es inerentemente autorit&aacute;rias de tais hierarquias afetam negativamente aos indiv&iacute;duos, sua sociedade, e sua cultura. Na primeira parte deste FAQ (<strong>se&ccedil;&otilde;es </strong><a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secAint.htm">A</a>, <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secBint.htm">B</a>, <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secCint.htm">C</a>, <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secDint.htm">D</a> e <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secEint.htm">E</a>) apresentaremos a an&aacute;lise anarquista da autoridade hier&aacute;rquica e detalharemos seus efeitos negativos. </p> <p> Isto n&atilde;o significa, contudo, que anarquismo &eacute; apenas uma cr&iacute;tica &agrave; moderna civiliza&ccedil;&atilde;o, uma cr&iacute;tica &quot;negativa&quot; ou &quot;destrutiva&quot;. Anarquismo &eacute; muito mais que isso. &Eacute; tamb&eacute;m uma proposta para uma sociedade livre. Emma Goldman expressou aquilo que poderia ser chamado de &quot;a quest&atilde;o anarquista&quot;: <em>&quot;O problema que enfrentamos hoje . . .&nbsp; &eacute; sermos n&oacute;s mesmos enquanto em comunh&atilde;o uns com os outros, sentir profundamente todos os seres humanos enquanto que &uacute;nicos em nossas caracter&iacute;sticas&quot;</em> [<strong>Red Emma Speaks</strong>, pp. 133-134]. Em outras palavras, que sociedade &eacute; essa onde potencial de cada indiv&iacute;duo n&atilde;o &eacute; reconhecido pelo seu valor intr&iacute;nseco, mas &agrave;s custas dos outros? De forma a alcan&ccedil;ar o ideal, os anarquistas anunciam uma sociedade em que, em vez de ser controlada &quot;de cima para baixo&quot; atrav&eacute;s de estruturas hier&aacute;rquicas de poder centralizado, os afazeres da humanidade seriam <em>&quot;administrados por indiv&iacute;duos ou associa&ccedil;&otilde;es volunt&aacute;rias&quot;</em> [Ben Tucker, <strong>Anarchist Reader</strong>, p. 149]. As &uacute;ltimas se&ccedil;&otilde;es do FAQ (se&ccedil;&otilde;es <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secIint.htm">I </a>e <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/secJint.htm">J</a>) descrever&atilde;o as propostas positivas do anarquismo no sentido de organizar a sociedade desta forma, &quot;de baixo para cima&quot;. Portanto, algumas das estruturas essenciais do anarquismo ser&atilde;o expostas nas pr&oacute;ximas se&ccedil;&otilde;es. </p> <p> Conforme Clifford Harper observou com elegancia, <em>&quot;Como todas as grandes id&eacute;ias, o anarquismo &eacute; extremamente simples quando voc&ecirc; o coloca em pr&aacute;tica -- os seres humanos d&atilde;o o melhor de si quando vivem livres da autoridade, quando decidem as coisas por si pr&oacute;prios fazem melhor do que quando s&atilde;o ordenados&quot;.</em> [<strong>Anarchy: A Graphic Guide</strong>, p. vii]. Devido a seu desejo de se maximizar individualmente, consequentemente maximizam a liberdade social. Os anarquistas querem desmantelar todas as institui&ccedil;&otilde;es que reprimem as pessoas: </p> <blockquote> <em>&quot;O desejo comum a todos os anarquistas &eacute; uma sociedade livre de todas as institui&ccedil;&otilde;es sociais coercitivas e pol&iacute;ticas que impedem o desenvolvimento de uma humanidade livre&quot;</em> [Rudolf Rocker, <strong>Anarcho-Syndicalism</strong>, p. 16] </blockquote> Conforme veremos, todas essas institui&ccedil;&otilde;es s&atilde;o hier&aacute;rquicas, e sua natureza repressiva brota diretamente de sua estrutura hier&aacute;rquica. <p> Anarquismo &eacute; uma teoria pol&iacute;tica e s&oacute;cio-econ&ocirc;mica, n&atilde;o uma ideologia. A diferen&ccedil;a &eacute; <strong>muito</strong> importante. Basicamente, teoria significa que voc&ecirc; <em>possui</em> id&eacute;ias; ideologia significa que id&eacute;ias <em>possuem</em> voc&ecirc;. Anarquismo &eacute; um corpo de id&eacute;ias, mas elas s&atilde;o flex&iacute;veis, em um constante estado de evolu&ccedil;&atilde;o e movimento, e abertas para serem modificadas &agrave; luz de novas informa&ccedil;&otilde;es. Da mesma forma que a sociedade se altera e se desenvolve, assim tamb&eacute;m &eacute; o anarquismo. Uma ideologia, em contraste, &eacute; um conjunto de ideias &quot;fixas&quot; que as pessoas abra&ccedil;am dogmaticamente, usualmente ignoram a realidade ou apenas efetuam &quot;mudan&ccedil;as&quot; que se adaptem &agrave; ideologia, que &eacute; (por defini&ccedil;&atilde;o) correta. Todas essas id&eacute;ias &quot;fixas&quot; se constituem em uma fonte de tirania e contradi&ccedil;&atilde;o, que conduzem a tentativas de fazer com que cada pessoa se adapte a uma camisa de for&ccedil;a. E isto se aplica a todas as ideologias -- Leninismo, Objetivismo, &quot;Libertarianismo&quot;, e da&iacute; por diante -- todas elas produzir&atilde;o o mesmo efeito: a destrui&ccedil;&atilde;o da personalidade, do indiv&iacute;duo, em nome de uma doutrina, uma doutrina usualmente a servi&ccedil;o de uma elite dominante. Ou, como Mikhail Bakunin descreveu: </p> <blockquote> <em>&quot;At&eacute; agora toda a hist&oacute;ria humana tem se restringido a uma perp&eacute;tua e sanguin&aacute;ria imola&ccedil;&atilde;o de milh&otilde;es de pobres seres humanos em homenagem a uma cruel abstra&ccedil;&atilde;o -- Deus, pa&iacute;s, poder do estado, orgulho nacional, direitos hist&oacute;ricos, direitos jur&iacute;dicos, liberdade pol&iacute;tica, interesse p&uacute;blico&quot;</em>. </blockquote> Os dogmas s&atilde;o est&aacute;ticos e mortais em sua rigidez, que muitas vezes s&atilde;o materializados na figura de algum &quot;profeta&quot; religioso ou secular morto, em torno do qual seus seguidores constroem suas id&eacute;ias, representadas na figura de um &iacute;dolo, imutavel como uma pedra. Os anarquistas querem vida para enterrar a morte, querem da vida tudo aquilo que a vida pode dar. A vida governando sobre a morte, n&atilde;o vice-versa. Ideologia &eacute; o sacrif&iacute;cio do pensamento cr&iacute;tico e consequentemente da liberdade. Ideologia &eacute; um providencial livro de regras e &quot;respostas&quot; que nos desobrigam do &quot;&ocirc;nus&quot; de pensar por n&oacute;s mesmos. <p> Ao produzirmos este FAQ sobre anarquismo n&atilde;o almejamos dar a voc&ecirc; as respostas &quot;certas&quot;, um novo manual ou livro de regras. Apenas explanaremos uma part&iacute;cula sobre o que o anarquismo foi no passado, mas focalizaremos mais suas formas modernas e porque<strong> n&oacute;s</strong> somos anarquistas hoje. O FAQ &eacute; uma tentativa de cutucar teu pensamento e incitar tua an&aacute;lise. Se voc&ecirc; est&aacute; procurando por uma nova ideologia, o anarquismo n&atilde;o &eacute; para voc&ecirc;. </p> <p> Na tentativa de sermos realistas e pr&aacute;ticos, n&atilde;o somos pessoas &quot;razo&aacute;veis&quot;. Pessoas &quot;razo&aacute;veis&quot; aceitam passivamente que &quot;especialistas&quot; e &quot;autoridades&quot; lhes digam o que &eacute; verdadeiro, e dessa forma sempre permanecer&atilde;o na condi&ccedil;&atilde;o de escravos ! Os anarquistas sabem que, conforme Bakunin escreveu: </p> <blockquote> <em>&quot;[uma] pessoa &eacute; forte apenas quando ela exp&otilde;e sua pr&oacute;pria verdade, quando ela fala e age a partir de suas mais profundas convic&ccedil;&otilde;es. Ent&atilde;o, seja qual for a situa&ccedil;&atilde;o, ela sempre saber&aacute; o que dizer e o que fazer. Ela pode cair, mas nunca se envergonhar&aacute; de si mesmo ou de sua causa&quot;.</em> [<strong>Statism and Anarchy</strong> - citado por Albert Meltzer, em <strong>I couldn't Paint Golden Angels</strong>, p. 2]. </blockquote> Bakunin se refere ao poder do pensamento independente, que &eacute; o poder da liberdade. N&atilde;o lhe incitamos a ser &quot;razo&aacute;vel&quot;, a aceitar aquilo que os outros dizem a voc&ecirc;, mas a pensar e a agir por si pr&oacute;prio! <p> Uma &uacute;ltima coisa: para falar o &oacute;bvio, esta <strong>n&atilde;o</strong> &eacute; a &uacute;ltima palavra em anarquismo. Muitos anarquistas discordar&atilde;o de muita coisa que foi escrita aqui, mas estas coisas s&atilde;o esperadas de gente que pensa por si mesma. Tudo que pretendemos fazer &eacute; indicar as id&eacute;ias <strong>b&aacute;sicas</strong> do anarquismo e expor nossa an&aacute;lise de certos t&oacute;picos com base em nosso entendimento e aplica&ccedil;&atilde;o das id&eacute;ias. Esperamos, todavia, que todos os anarquistas concordem com o conjunto de id&eacute;ias que apresentamos, mesmo discordando com sua aplica&ccedil;&atilde;o aqui ou ali. </p> <p>Fonte: <a href="http://www.geocities.com/projetoperiferia2/indice.htm">http://www.geocities.com/projetoperiferia2/indice.htm</a></p>