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Incluir: quem? para que? como?

20 de Janeiro de 2014, 12:56 , por Caio - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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A compreensão e problematização do termo inclusão digital é fundamental no contexto contemporâneo, uma vez que existem discursos que estão em conflito. O artigo, Inclusão Digital, Ambiguidades em Curso, (1) de Maria Helena Bonilla e Paulo Cezar Souza de Oliveira trata disso. 

Os tecnófobicos afirmam que cada vez mais os jovens tem se isolado em seus mudos e jogos virtuais, e que as mobilzações nas redes sociais vem esvaziando ações coletivas e grupos políticos. Tecnoútopicos pensam em distribuir o poder na mão das pessoas, conectando tudo a rede de computadores numa convergência digital planetária, o que aumentaria a autonomia dos indivíduos e das sociedades. Realistas, indicam que as tecnologias são ambíguas e incapazes de mudar as mentalidades. Todas essas visões acabam por perceber o desenvolvimento da tecnologia numa caminhada particular, que é capaz de exercer efeitos sobre o mundo social de forma autônoma, auto-derminada, exógena a questões culturais e políticas.

Um dos falsos consenso sobre as tecnologias na contemporaneidade, é o senso comum quanto a necessidade de inclusão digital na nossa sociedade. Há uma inundação de informações, para usar os termos de Noam Chomsky, sobre o assunto. A ideia que a mídia propaga é que inclusão digital é dar acesso domiciliar ou comunitário (telecentros, escolas e pontos de cultura) para às pessoas que vivem em situação de desigualdade social possam usar tablet, cameras, computadores, serviços do governo, jogos, compartilhamento de música e qualquer outra vantagem relacionada com as TIC.

Não há como negar que o mundo hoje é traduzido em informação, dai um novo arranjo social emerge uma vez que diversas atividades humanas passaram a acontecer também na rede mundial de computadores – Internet. Por isso que estar desconectado da Internet é ter o direitos a comunicação amputado, tendo como consequência uma das formas mais danosas de marginalização em nossa economia e em nossa cultura. Outra premissa a se destacar é que há desigualdade de acesso a essas TIC. O Mapa da Inclusão Digital, realizado em 2010, pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, mostra as diversas formas de acesso à tecnologia digital, sua qualidade, seu uso e seus retornos. Segundo este mapeamento, o nível de escolarização, a localização geográfica e a renda são os grandes determinantes no acesso à Internet.

Conforme afirma Marcelo Buzato (2) no capitulo 2 de sua tese de doutorado, não há clareza no discurso transmitido a sociedade que, no caso das TIC, acesso não é um conceito binário, do tipo ter ou não ter. Essa divisão entre os que tem (incluídos) e os que não tem (excluídos), desconsidera as diferenças nas velocidades, no tempo disponível para o uso, no custo da conexão, a diversidade dos usos e sua relevância para a qualidade de vida da pessoa. Enfim nas consequências sociais, econômicas e culturais de distribuição igual do acesso. A partir deste prisma podemos pensar concretamente sobre incluir: quem? para que? Como?.


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Por exemplo o assentamento Terra Vista. Já falei um pouco da história deles em outros post, mas para quem ainda não conhece pode assistir o vídeo criado pela comunidade e que conta sua história no portal do MST (3), aqui

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Estes moradores de um assentamento de reforma agrária, vivem numa comunidade rural que se estivessem desconectada da Internet teria muito mais dificuldade de participar das ações de nossa sociedade do que aqueles que moram em áreas urbanas. Os motivos são diversos mas destaco o projeto de homogenização neoliberal em curso em toda América Latina.

Parte da marginalização destes sujeitos está na falta de reconhecimento de seu modo de vida, e uma constante ofensiva para homogenização das singularidades, da  diversidade.  Na medida que existem condições básicas de comunicação para além das mídias massivas, cujo a produção e difusão não segue controle/censura, as populações marginalizadas podem expressar sua visão de mundo.

Com acesso de qualidade a Internet, gratuita e pública, podem fazer como sugere Pierre Levy - liberar a palavra para veicular sua mensagem. Porém para isso só a internet não resolve. É preciso estar apropriado das tecnologias para serem capazes de produzir seus conteúdo voltados para os interesses de fortalecer e dar visibilidade a identidades diversas, locais e globais. Uma vez compartilhados, estes conteúdos ajudam na concepção de um mundo novo, diverso, plural e multireferenciado. E por isso a comunidade abraçou a ideia do projeto Tabuleiros Digitais, que ruante o ano de 2012 realizou atividades de formação em comunicação comunitária, software livre e produção de conteúdo. 

Agora em 2013 começará a fomentar a criação de um comitê gestor de tecnologias digitais e mobilização para cultura digital. Da mesma forma a participação na política é encorajada, pois se é no local que as questões globais se manifestam, a ação planetária dar-se-a pelo envolvimento de questões locais, práticas, como a gestão do serviço de internet de forma solidária e comunitária, como uma crítica ao modelo centralizado onde as empresas de telecomuniação e as oligarquias da comunicação são as únicas beneficiárias.

Enfim, a inclusão digital de populaões pode ser apenas uma outra ação de enquadramento dentro da política neoliberal mundial, de ter acesso a novos mercados, e de fazer de todos comsumidores. Pode também ser ação de resistência, atuando na contra-mão deste modelo de progresso homogenizante.Isso é exatamente o que os organizadores desta politica neoliberal não querem, e é exatamente por isso que a comunidade do Assentamento Terra Vista quer, pois compreendem seu papel de movimento social como motor das transformações sociais.

Entretanto, diante dos desafios já postos pelo conjuntura da reforma agrária, cada vez pior, paralisada diante aos interesses do agronegócio, cabe a estes grupos marginalizados procurarem apoio, parcerias, alidados. E a nós? Cada um que descubra qual a parte que te cabe desse latifúndio.

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1 - O texto é parte de um livro - Inclusão digital – polêmica contemporânea , uma coletânea de atigos organizada por Maria Helena Silveira Bonilla e Nelson De Luca Pretto, lançado em 2011.

2 - Marcelo Buzato escreeu a tese, Entre a Fronteira e a Periferia: linguagem e letramento na inclusão digital, como parte do doutorado em Lingüística Aplicada na Pós-Graduação do Instituto de Estudos da Linguagem na Universidade
Estadual de Campinas, e está disponível para consulta pública no repositório instucional da UNICAMP, aqui.

3 - O portal www.mst.org.br é um canal de comunicação do movimento social MST, que faço questão destacar para difundir que existem mídias alternativas sendo construídas.


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