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Cidades em Transição

31 de Agosto de 2016, 19:56 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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A compreensão da urgência de mudar a lógica da organização das cidades vem se aprofundando. Desde as primeiras reflexões sobre a finitude dos recursos da Terra, ao progressivo entendimento sobre os limites do crescimento econômico, até a tomada de medidas para diminuir o impacto da ação humana no planeta, foram-se algumas décadas. No novo milênio, as ações se multiplicaram e o movimento “Cidades em Transição” é uma delas. Seu foco é o desenvolvimento urbano que melhore a qualidade de vida e evite o aprofundamento das desastrosas mudanças climáticas em curso.

A ideia surgiu em Totnes, na Inglaterra, em 2004, tendo como mentor o professor de permacultura Rob Hopkins e Naresh Giangrande. Eles convenceram conterrâneos a ajudá-los na iniciativa com discussões que aconteciam após sessões de cinema. Em 2006, o “Transition Towns Totnes” foi lançado como movimento que buscava reduzir drasticamente as emissões de CO2 na cidade. Esse gás é o maior inimigo do meio ambiente e sua emissão é uma consequência do modo de vida atual, com uso excessivo de bens industrializados e de carros e desperdício generalizado. As primeiras ações em Totnes foram a produção de alimentos em hortas urbanas, a redução do consumo de energia e de água e a reciclagem de lixo na casa dos envolvidos.

Hoje o conceito de Transition Towns ganhou o respeito de instituições e governos e o movimento está implantado em 14 países. As Cidades em Transição mostram que as melhores soluções vêm do engajamento da própria população em mudar seu comportamento. O envolvimento dos governos reforça as ações e lhes dá maior impacto, mas, sem o convencimento das comunidades, não é possível desenvolver soluções duradouras. A construção de cidades mais resistentes a crises econômicas e ecológicas, é um movimento horizontal, em que as pessoas se envolvem voluntariamente e acabam por reconfigurar a sociedade local e, consequentemente, por influenciar o mundo.

Rob Hopkins tornou-se uma referência, sobretudo após a publicação, que fez com Ben Brangwyn, do “Manual das Iniciativas de Transição”, no qual descreve como fazer coletivamente um plano de trabalho para desenvolver maior resiliência nas cidades. A resiliência (capacidade de um sistema em resistir a choques externos) consiste em construir maior autonomia das comunidades em face de dificuldades, e um bom exemplo disso é a produção local de comida para fazer face à contaminação química e a carestia dos alimentos. Todos os processos da Transição acabam por reforçar a economia local, favorecendo empregos locais e melhorando a renda da comunidade.

O movimento chegou ao Brasil em 2009 quando foram realizados “Treinamentos para a Transição” em São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Com em outros lugares do mundo, as cidades e bairros que adotaram os objetivos do movimento estão trabalhando para mudar seu modelo de organização socioeconômico em direção a soluções mais sustentáveis. Isso implica, certamente, em resgatar o vínculo das pessoas com o lugar em que moram, mas também buscar soluções para o desemprego e a violência, buscando bem viver coletivo. No âmbito nacional, o movimento realizou seu terceiro encontro no início de 2016 e segue tecendo sua história. Na dimensão internacional, a inclusão de experiências do movimento Transitions no badalado filme francês “Demain” (“Amanhã”) contribui muito para sua divulgação e conquista de novos adeptos.


Categorias

Meio-ambiente, Agroecologia, Política, Consumo ético e solidário, Economia, Desenvolvimento territorial
Tags deste artigo: Transição cidades mobilização cidadã ecologia sustentabilidade participação

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