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Micro efeitos culturais do combate à corrupção no Brasil

23 de Março de 2018, 18:33 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Pode-se ter a sensação de que a corrupção atingiu níveis inimagináveis nos últimos anos pois esse tema tornou-se tão presente na mídia que parece que nunca tinha havido antes tanta roubalheira no âmbito público. Ok, nem vou citar inúmeros escândalos desde a época da ditadura até antes da Lava Jato pra dizer que o que tivemos nos últimos tempos foi apenas investigação e punição. Nem vou entrar na discussão sobre as disparidades entre os crimes, a parcialidade ou não de certos juízes, etc. etc., a perseguição de uns e as vistas grossas para outros, temas sobre os quais já se gastou muitas palavras. Vou falar de nós, pessoas comuns, honestas e que se deliciam ao lembrar que Cunha, Maluf e Geddel estão presos, na companhia de muitos outros notórios corruptos.

O que observo, feliz? Uma intolerância cada vez maior com os pequenos crimes que nos rodeiam. Quem não percebeu o quão é comum hoje falar criticamente sobre as “pequenas corrupções”, desde subornar um guarda de trânsito até ter carteira de estudante falsa? A sociedade está evoluindo muito para perceber o caráter cultural e sistêmico da corrupção e também para combatê-la nos micro espaços. Acompanho nos últimos tempos verdadeiras rebeliões pela ética até mesmo nos rincões mais privados e corporativos da sociedade.  Posso citar as mulheres que denunciam sem cessar os abusos masculinos, sejam eles sexuais ou puro machismo “ordinário” de homens que consideram que tudo lhes é devido.  As manifestações contra o racismo estrutural se multiplicam assim como contra o racismo “ordinário”.  Mas vou terminar focando no ambiente das Universidades, que é onde estudo e trabalho desde meu vestibular, há mais de três décadas.

Estudantes que compram trabalhos em plataformas na internet? Que copiam trabalhos já publicados em suas dissertações e teses? Estão sendo denunciados e punidos pelas bancas de avaliação. Professores que colocam informações falsas na plataforma nacional de currículos do CNPQ? Que acumulam horas em contratos múltiplos que lhes fazem ter até 80 horas remuneradas por semana ? Que faltam aulas injustificadamente e que não honram a profissão por não dedicar-se seriamente à formação de seus alunos e alunas? Estão sendo denunciados pelos próprios colegas que abrem processos muitas vezes unânimes e assim rompem com uma prática corporativa que vi por décadas. Talvez as reações à corrupção no país devessem estar sendo mais públicas, sobretudo quando malas de dinheiro vão e vêm. Mas a reação fulminante da sociedade brasileira em face do assassinato de Marielle Franco e os processos que tenho acompanhado em torno de mim mostram que podemos ficar otimistas com o futuro. Nossa sociedade está mudando em profundidade.

Publicado no Jornal A Tarde, 23/03/2018

 

Micro efeitos da luta contra a corrupção 23 03 18


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Temáticas, Cultura, Política

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