Ir para o conteúdo
Mostrar cesto Esconder cesto
Voltar a Blog
Tela cheia

TESTEMUNHO ÀS COMISSÕES NACIONAL E ESTADUAL DA VERDADE

29 de Julho de 2015, 19:04 , por Marcos Arruda - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 167 vezes

Dia 30.7.2015 a Comissão da Verdade do RJ vai promover uma audiência pública para ouvir o testemunho de presas e presos políticos que estiveram internados no HCE - Hospital Central do Exército nos anos tenebrosos da ditadura empresarial-militar (1964-1985). Vamos testemunhar que o HCE fez parte do que chamo de "cadeia produtiva da tortura e do assassinato". As pessoas torturadas nos centros de repressão eram frequentemente levadas para o HCE para serem tratadas em preparação para retornarem aos centros de tortura. Foi o caso da brava Estrella Dalva Bohadana, falecida em maio passado. 

Aproveito esta ocasião para divulgar aqui o meu testemunho às Comissões Nacional e Estadual da Verdade, RJ, em setembro de 2013, com algumas pequenas correções ao texto original. O objetivo daqueles que irão depor amanhã, apoiados pelo Projeto Clínicas do Testemunho, é mostrar a importância de o Governo Federal dar continuidade às investigações sobre os crimes da ditadura, e ao pagamento da dívida política, social e moral para com a cidadania do País que teve a coragem de se opor ao regime ditatorial e lutar pela emancipação e pelo autêntico desenvolvimento do povo e da Nação brasileira.

TESTEMUNHO DE MARCOS ARRUDA

ÀS COMISSÕES NACIONAL E ESTADUAL DA VERDADE

Rio de Janeiro – 170913

  1. SENTIDOS DO MEU TESTEMUNHO
    1. Identificar os crimes do Estado ditatorial, ocupado por militares e civis autoritários, que usurparam o poder por um golpe inconstitucional em 1964, e estabeleceram o terrorismo de Estado, aprofundando o atrelamento da economia brasileira ao Império corporativo transnacional.
    2. Purificar a memória do Brasil – Resgatar o heroísmo dos que morreram por um Brasil libertado dos seus jugos, próspero, igualitário, livre, fraterno, verdadeiramente democrático e feliz: menção especial aos desaparecidos PEDRO ALEXANDRINO DE OLIVEIRA, PAULO WRIGHT, LUIS HIRATA, HONESTINO GUIMARÃES, EDUARDO BACURI, JOSÉ CARLOS DA MATTA MACHADO, MARIA AUXILIADORA LARA BARCELOS, FREI TITO. Mostrar que nós - sobreviventes da ditadura - e eles somos parte viva da história do nosso país.
    3. Somar o meu grito ao de todxs que exigem O FIM DE TODAS AS DITADURAS: a das torturas, a dos sequestros, a dos assassinatos impunes (CADÊ AMARILDO?), a das armas contra o povo. E também a ditadura da dívida pública, da corporatocracia e do lucro acima da vida. A vitória sobre todas as ditaduras é viável somente através da reestruturação radical do sistema de segurança pública em todo o país; o fim das Polícias Militares; e uma profunda reforma política e eleitoral, capaz de introduzir a Democracia Direta como principal fator de uma governança verdadeiramente republicana.

 

  1. MINHA MOTIVAÇÃO PARA LUTAR CONTRA O SISTEMA DO CAPITAL – antes e agora:
    1. Primeiro, eu acredito que a Humanização da humanidade é possível, e procuro ser aquele ser humano que eu desejo para o mundo.
    2. Segundo, o sistema do Capital se veste com diferentes roupagens, da democracia representativa excludente até a ditadura mais sanguinária. Por trás delas está sempre a ditadura do capital, do corporativismo consumista e produtivista, do sistema antidemocrático de propriedade e gestão, da ditadura da classe do capital sobre as/os trabalhadores.
    3. O objetivo deste sistema é sempre perpetuar os privilégios das classes que controlam o capital. O sistema político que prevalecia nos 21 anos de ditadura, e continua a prevalecer na democracia representativa é a corporatocracia. A maioria dos políticos que ocupam o Estado – federal estadual e municipal - ou são membros da classe capitalista ou são políticos que escolheram servir ao capital, mesmo usando como disfarce o eufemismo “representantes do povo”.
    4. Este sistema patriarcal e patrimonialista de dominação e alienação submete, coopta e mercantiliza todos os aspectos e dimensões do ser humano, inclusive seu mundo mental e psíquico. Manipula com a propaganda comercial e o domínio da mídia e do sistema educativo a visão de mundo, as fantasias e os desejos das pessoas de todas as idades. Cria seres desumanos, esterilizando sua capacidade de cooperar, de dar com gratuidade e de amar com autenticidade.

 

  1. BREVE PASSAGEM PELOS CONTEXTOS
    1. Minha formação cristã serviu de base para o despertar da minha consciência social, no contexto da Juventude Universitária Católica, nos anos 60. Rapidamente, fui eleito presidente do diretório dos estudantes da Escola Nacional da Geologia (ENG) da Universidade do Brasil (hoje, UFRJ), mais tarde, presidente da Executiva Nacional dos Estudantes de Geologia. Foi no meu mandato que os generais deram o golpe e depuseram o presidente constitucional.
    2. Participei do movimento em defesa da Constituição, contra o golpe militar e pela tomada de posse do vice-presidente João Goulart, depois da renúncia do presidente Jânio Quadros. Daí por diante, concentrei minha ação política no campo da profissão de geólogo, defendendo uma política nacional de controle do subsolo brasileiro a serviço do desenvolvimento do Brasil e o bem estar da população, e contra a entrega das riquezas minerais a outros países através de suas empresas transnacionais e da exportação não regulada de matérias primas minerais. Minha convicção era estar dando testemunho do amor evangélico, do serviço, da compaixão pelos que sofrem exploração e opressão. Isto atraiu ataques e perseguições pelo diretor da ENG, que me denunciou como comunista e armou toda sorte de constrangimento, até mesmo ao meu estudo e graduação. O que ele conseguiu foi motivar-me para estudar as obras de Marx e aspirar ao socialismo democrático.
    3. Em colaboração com colegas de Belo Horizonte e Ouro Preto, participei da organização da Conferência “Minério não dá duas Safras”, em fevereiro de 1964, que atraiu a participação de lideranças políticas nacionais, entre elas o líder sindical Clodesmidt Riani, o governador Miguel Arraes, de Pernambuco, e o Ministro do Trabalho Almino Afonso. Nossa campanha era pela adoção de uma política mineral nacionalista e pela criação da Minerobrás, que seria um monopólio estatal semelhante à Petrobrás, que teria o controle estratégico das riquezas minerais do Brasil.
    4. O golpe militar de 1964 obrigou a uma mudança na forma da militância. O foco passou a ser a luta contra a ditadura, pela democracia e pelos direitos e liberdades individuais e sociais. Trabalhei três anos como geólogo e professor de geociências, atuando na Ação Popular como alfabetizador de trabalhadores pelo método de Paulo Freire, e ajudando a organizar os intelectuais do Rio contra a ditadura. Em 1967 a polícia foi me prender em casa, eu estava ausente, fiquei sabendo e tive que partir com a roupa do corpo. Fui para São Paulo, onde o amigo Frei Betto me acolheu com minha esposa de então, e me apresentou à equipe da Revista Realidade. Aí trabalhei até decidir deixar tudo e trabalhar como operário para aprofundar a militância junto às classes oprimidas.[1] Trabalhei na Sofunge, fundição pertencente à Mercedes Benz, e na Stora, metalúrgica sueca de tubulações de aço. Atuei na Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo, focalizando a educação e organização dos operários para o que eu acreditava ser uma ‘guerra prolongada entre classes sociais’. Na Oposição Sindical convivi com Waldemar Rossi, Vito Gianotti, Aparecida, Luis Hirata, Raimundinho e muitos outros, entre eles Pedro Alexandrino de Oliveira.[2]
    5. Emoções: minha motivação profunda era colaborar no despertar da consciência crítica e criativa das classes trabalhadoras, pois só elas poderiam ser autoras da sua própria libertação. Sem uma classe que usurpa as riquezas naturais, escraviza o trabalho, saber e criatividade daquelxs que vivem somente do seu trabalho, não haveria luta de classes. As classes oprimidas precisam lutar para libertar-se desse jugo e criar uma socioeconomia onde o empoderamento de cada pessoa, a cooperação, a solidariedade e a partilha oferecem o suficiente para todas as pessoas; as classes sociais, assim, deixarão de existir. A educação e a comunicação têm um papel libertador fundamental.

 

  1. PRISÃO – TORTURA – NOMES
    1. Prisão – Eu estava buscando trabalho. Depois de várias visitas a portas de fábricas, vim à casa na Vila Baronesa e saí para o encontro com Marlene Soccas, dentista, que ia sair da organização dela para entrar na AP e se integrar na produção fabril. Eu devia encontrar uma nova moradia para ela. Hasiel Pereira, que vivia na mesma casa que eu, me aconselhou a não ir. Meu sentimento de responsabilidade para com Marlene levou-me a ir encontra-la. Ela havia sido presa quatro dias, violentamente torturada e levada para o encontro comigo.
    2. Fui agredido já na rua e levado para a Operação Bandeirantes pela equipe do Capitão Albernaz. Os detalhes das torturas, transferência para o Hospital Geral do Exército, retorno à OBAN para acareação com Marlene, retorno ao HGE, transferência para o Rio – Doi-Codi, depois Hospital Central do Exército, retorno ao Doi-Codi e, afinal, libertação estão na carta que escrevi ao Papa Paulo VI, pedindo-lhe que interviesse para que a tortura parasse de ser praticada no Brasil.[3]
    3. TORTURADORES DA OBAN, São Paulo: Capitão Benoni de Arruda Albernaz, Capitão Dalmo Lúcio Muniz Cirillo, Capitão Homero César Machado, Capitão Maurício Lopes Lima, Capitão Faria (interrogatórios na OBAN e no Hospital Militar), Sargento Tomás, Chico e Paulinho. Na sessão de tortura ao longo da acareação com Marlene Soccas, o Major Gil (seria ele o Coronel Waldir Coelho, diretor da OBAN na época?), Capitão Dalmo Cirillo, um tenente do Corpo de Bombeiros e o carcereiro Roberto. Na OBAN, interrogou-me um sargento médico nissei, com o nome coberto por esparadrapo, que se assemelha às fotos do legista Harry Shibata, que vi posteriormente. No Hospital Geral do Exército, Sérgio Adão. Companheiros presos na OBAN mencionaram o assassinado do metalúrgico Olavo Hansen pelos mesmos torturadores, 10 dias antes da minha prisão.
    4. No DOI-CODI do Rio de Janeiro: o Capitão Gomes Carneiro, que liderou meu transporte do Hospital Central do Exército para o DOI-CODI em 22 de dezembro de 1970. Passei três dias de terror no DOI-CODI do Rio de Janeiro, até 25.12.70, esperando a qualquer momento ser levado para a sala de tortura, onde outros companheiros já haviam sido assassinados, como Mario Alves. Passei toda a noite de Natal vendo outros presos ser levados para a tortura, ouvindo seus gritos lancinantes, e vendo-os arrastados de volta à cela pelos “catarinas”, arrasados, ensanguentados.
    5. O Comandante do 1º. Exército na época era o General Siseno Sarmento, que chefiava de cima toda a operação da repressão, tortura e assassinatos. O Diretor do HCE na época era o General Galenno, vice-diretor Tenente-Coronel Aquino, e Drs. Oscar, Elias e Mota. O chefe da segurança do HCE foi o Major Sadi, depois substituído pelo Capitão Morais (que nos reconhecia e nos tratava como seres humanos). O responsável pelo tratamento das presas e presos políticos era o Major Boia, dermatologista. Ele é que dava alta para que fossem levados de volta à tortura.
    6. No Ministério do Exército, o Tenente-Coronel Mello, da Cavalaria, chefe da PE do I Exército afirmou que o Exército estava convencido de que eu era um “subversivo irrecuperável”, e fez comentários agressivos e ameaças antes da minha libertação, em 1.2.1971. Minha mãe já o tinha visitado, com o nosso advogado Técio Lins e Silva, Miguel, meu irmão, o Prof. Clemildo, meu pai, e o Cônsul estadunidense.
    7. PRESOS COM QUEM CONVIVI: na OBAN, apenas MARLENE SOCCAS. Não sei quem foram meus companheiros de cela na única noite que passei numa cela comum no andar térreo. Nessa noite ouvi prolongados e repetidos gritos lancinantes de pessoas sendo torturadas. No Hospital Militar de São Paulo estive em cela na enfermaria dos soldados. Convivi e gravei o nome de alguns,[4] que se mostraram solidários comigo. Ali convivi várias semanas com o argentino HUGO MIGUEL MORENO. No Rio, JOSÉ CARLOS TORTIMA. ESTRELLA BOHADANA e IRONY BEZERRA, aos quais presto homenagem aqui.[5]

 

  1. IGREJAS
    1. Minha formação cristã havia sido provada pela proximidade da morte. Quando o capelão militar veio para confissão e extrema unção no Hospital Militar de São Paulo, eu soube que ele era também capitão. Contei-lhe da tortura e pedi que avisasse à minha família que eu estava nas mãos da OBAN. Ele não avisou nem voltou para me trazer a comunhão.
    2. Dom Aluísio Lorscheider, Arcebispo do Rio de Janeiro, foi um bravo opositor da ditadura e das suas agressões aos direitos dos cidadãos. Recebeu minha família quando eu ainda estava preso, ofereceu todo o apoio ao seu alcance. E nos recebeu quando eu saí da prisão, querendo saber de tudo que passei e se comprometendo a continuar a defender os direitos das pessoas que eram presas e brutalizadas.
    3. Também recebi pleno apoio de antigxs companheirxs da JUC, dos ex-colegas de seminário jesuíta, e dos meus colegas geólogos.
    4. Suspeito, mas não posso confirmar, que o bispo que me visitou no HCE em dezembro de 1970, talvez tenha sido Dom Alberto Trevisan, que havia sido Bispo Auxiliar para o Ordinariado Militar do Brasil(1964 - 1966). Naquele momento, ele era Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro (1966-1973). Veio me perguntar se, quando fosse libertado, iria “cuidar da vida e silenciar sobre o que passei”, ou se ia fazer alarde e criar constrangimentos...
    5. IGREJAS DO EXTERIOR: além da Anistia Internacional, o Escritório da América Latina do Conselho dos Bispos Católicos dos EUA, o Conselho Nacional de Igrejas dos Estados Unidos e o Conselho Ecumênico de Igrejas, de Genebra, todos deram significativa contribuição no combate à tortura e às violações dos direitos humanos pela ditadura brasileira. Menciono, em especial, o Pe Louis Michael Collonese e Thomas Quigley, do Escritório da América Latina, o pastor William Wipfler, do CNI-EUA, Ralph della Cava, Brady Tyson, Charles Harper, do COE-Genebra.

 

  1. REFUGIADO POLÍTICO
    1. EUA – logo que cheguei a Washington DC fui convidado a trabalhar no Escritório da América Latina, do Conselho dos Bispos Católicos dos EUA. Gesto solidário, que me deu um ganha-pão naquele início, em que eu estava dependente dos cuidados de minha mãe e irmã.
    2. Convivi com pessoas ligadas às igrejas católica e protestantes, que não apenas me ajudaram com amizade, moradia, apoio financeiro (Elizabeth e Patrick French financiaram meu primeiro semestre no Mestrado em Economia da American University), mas também colaboraram de forma determinante na criação do Comitê Contra a Repressão no Brasil e, a partir do golpe no Chile em 1973, do Comitê pela Libertação da América Latina (Coffla).[6]
    3. Gratidão especial a pessoas ligadas à Igreja Católica dos EUA, como Loretta e Harry Strharsky, Marjorie and Thomas Melville, Mary Harding, Francisco Otero e outros que colaboraram conosco no Comitê Contra a Repressão no Brasil, que, a partir do golpe do Chile, tornou-se Comitê pela Libertação da América Latina.
    4. Gratidão especial também ao Prof. James Green, da Universidade Brown, pela sua incondicional solidariedade à luta de libertação do povo brasileiro.
    5. GENEBRA - Trabalhei durante quatro anos no Instituto de Ação Cultural, liderado pelo Prof. Paulo Freire, e três anos e meio no Conselho Ecumênico de Igrejas, como consultor econômico responsável pelo Programa sobre Empresas Transnacionais.

7. PROJETO CLÍNICAS DO TESTEMUNHO – Presto homenagem ao bravo e persistente trabalho não só de apoiar as vítimas de tortura da ditadura, mas as da ditadura do capital que prevalece até hoje no Brasil. Tenho sido beneficiado pela dedicada competência das/dos profissionais do Projeto, assim como minha irmã e minha mãe. Expresso aqui minha gratidão à psicóloga Tania Kolker e à dedicada equipe de terapeutas-pesquisadoras. Solicitamos ao Estado brasileiro que dê continuidade a este trabalho, como uma das formas de reparar os danos físicos, psíquicos e morais causados a milhares de cidadãs e cidadãos que ousaram expressar seu desacordo com o regime autoritário, muitos dos quais foram privados da vida ou da sua saúde física e mental.

8. COMISSÃO DA ANISTIA – Gratidão ao Dr. Marcello Lavenère e aos membros da Comissão da Anistia de então, em especial a advogada Beatriz Bargieri, e ao Dr. Paulo Abrão, seu atual Presidente.

9. RENASCIMENTO DA NAÇÃO - O Brasil começa a revisar sua história, com grande atraso em relação aos países irmãos do Cone Sul. A COMISSÃO DA VERDADE tem um papel muito relevante a desempenhar, realizando em nome da Nação o esforço de forçar a abertura da “caixa preta” da ditadura, revelando os responsáveis pelo terror de Estado e o destino dos mortos e desaparecidos da ditadura, que as Forças Armadas ainda não demonstram a coragem de reconhecer e assumir, a fim de redimir-se e purificar-se de seu passado recente tão tenebroso.

10. SENTIDO ÚLTIMO DO MEU TESTEMUNHO

  1. Chefe Seattle, em sua carta ao presidente Franklin Pierce escreveu: "De uma coisa sabemos. A Terra não pertence, ao homem: é o homem que pertence à Terra. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo que agride a Terra, agride os filhos da Terra. Não foi o homem quem teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que ele fizer à trama, a si próprio fará."
  2. A humanidade também é uma família, e tudo que fazemos de bom ou de ruim uns aos outros, fazemos a nós mesmos. Embora responsáveis pelo regime de terror que reinou durante os 21 anos de ditadura empresarial-militar, os algozes, os torturadores, os ditadores e seus financiadores, apoiadores e beneficiários também são nossos irmãos. Temos dois modos de ajuda-los a evoluir, a fazer a difícil passagem de seres infra-humanos a seres humanos: o perdão, a ser dado pelo mais íntimo do nosso ser (“Pai, perdoa-os porque não sabem o que fazem!”), e a justiça, a fim de que, mediante a exposição e punição dos crimes hediondos por eles cometidos, sua consciência desperte para nunca mais desejarem ou tolerarem qualquer violência e opressão contra pessoas e contra o povo brasileiro e latino-americano, que eu amo e a quem presto a última homenagem.

[1] Relato esta experiência num Capítulo do livro, “Educação para uma Economia do Amor”, 2011, Editora Ideias&Letras.

[2] Pedro e eu éramos muito amigos. Ele saiu da fábrica em Osasco, depois de preso e solto decidiu ir para a Guerrilha do Araguaia. É um dos desaparecidos cujo paradeiro faz parte da gigantesca dívida do Exército brasileiro para com sua família e o nosso povo.

[3] A carta está publicada no livro de Lina Penna Sattamini, 2000, “Esquecer Nunca Mais”, OR, produtor editorial independente – Osmar Rodrigues, a quem agradeço cordialmente! Rio de Janeiro.

[4] Ver minha carta ao Papa Paulo VI.

[5] http://www.torturanuncamais-rj.org.br/denuncias.asp?Coddenuncia=73&ecg=

[6] Ver James Green,  2009, “Apesar de Vocês – Oposição à Ditadura Brasileira nos Estados Unidos, 1964-1985”, Companhia das Letras, São Paulo


Categorias

Redes/Cadeias
Tags deste artigo: democracia direitos humanos ditadura

0sem comentários ainda

    Enviar um comentário

    Os campos são obrigatórios.

    Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.

    Cancelar