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12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Desconhecido - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

ONDE HÁ SEDE DE PODER, NÃO HÁ AMOR

21 de Março de 2016, 15:58, por Marcos Arruda - 0sem comentários ainda

Refletindo sobre a crise política e moral brasileira

Esta frase do psicanalista Carl Jung é um chamado universal à consciência. Jung diz: “Onde há amor, o poder não domina. Onde há sede de poder, não há amor. Um é a sombra do outro”. O ser humano só pode ser feliz no amor. Sendo um ser social, ele está vocacionado para o amor, diz o biólogo chileno Humberto Maturana. E ele define o amor como o acolhimento do Outro enquanto autêntico outro no conversar, e não como projeção dos meus desejos e carências. E ele conclui: sem amor, o ser humano adoece e morre.

O drama que o Brasil vive nestes dias – uma crise política e moral – se soma à crise econômica que vive a maioria trabalhadora da população – pois os ricos não estão em crise. Mas a clivagem atual da sociedade brasileira não se dá apenas em torno do tema da corrupção. Contra a corrupção, na retórica todos se unem, inclusive os corruptos e os corruptores. A clivagem maior continua sendo entre os que vivem de rendas do capital, e os que vivem de vender o seu trabalho no mercado do capital, seja como empregados, funcionários públicos, autônomos, desempregados e biscateiros. Quem determina a estrutura da sociedade e a luta de classes não são os segundos, mas os primeiros, ao se apropriarem dos bens e recursos comuns, que se tornam produtivos com o trabalho de todos.

Quando todos tiverem suficiente dinheiro e bens materiais para satisfazer suas necessidades materiais e imateriais, não haverá mais pobres, porque não haverá mais ricos. Para isto é preciso que aja em todos os corações o sentimento da partilha, da colaboração, do amor ao próximo como a si mesmo. Até esta transformação dos corações e mentes acontecer, por força do desabrochar da consciência coletiva do Brasil e da humanidade, viveremos de crise em crise, gerando sofrimentos com nossa ganância de poder e riqueza material, nosso medo e nosso desamor.

 

O PT E O SONHO DE UM BRASIL SEM MEDO DE SER FELIZ

 

O amigo Haroldo Mendonça, da SENAES, postou na sua página do Feice uma fala do Lula em uma concentração de petistas. Fiz a ele o seguinte comentário, ampliado por mim para mais ampla divulgação.

3.3.2016
Caro Haroldo,

O PT virou este fantasma que está hoje servindo ao grande capital, em grande parte por escolha de Lula e Dilma. Eles fizeram os melhores governos que a direita podia desejar em seu próprio benefício.

Nunca os banqueiros ganharam tanto. Nunca o patrimônio nacional foi tão vergonhosamente entregue ao capital transnacional como agora. Lula e Dilma fugiram da Rede Jubileu Brasil e da Auditoria Cidadã da Dilma: durante 15 anos se recusaram a nos receber para conversarmos sobre a AUDITORIA da dívida externa. Fogem deste preceito da Constituição que o próprio Lula ajudou a aprovar... Se acovardaram diante dos credores.

Ao longo dos seus anos de governo, não fizeram nenhuma MUDANÇA ESTRUTURAL neste país, que apontasse para uma Economia do Trabalho e não do capital. Em 1989, quando o PT ainda era "dos Trabalhadores", participei do Governo Paralelo na qualidade de membro da equipe de economia internacional. Aceitar dinheiro do grande capital para as campanhas, de 1994 para cá, foi fatal. De lá para cá, o espaço para eu e outros com senso crítico colaborarmos na formulação dos programas de governo foram estreitando, até que em 2002 meu único meio de colaboração foram as cartas que eu escrevi ao Lula com sugestões para a Campanha e depois para a ação de governar o nosso País.[1]

Estou fora do PT desde 2005, quando elegeram o lamentável Berzoini em vez do Plinio. Estelionato eleitoral, foi o que o PT fez: prometeu e não cumpriu o essencial do seu programa de governo. Fez alianças espúrias e escravizou-se a elas. Transformou o poder do Estado em fim, em vez de meio para tornar o Brasil o protagonista de um desenvolvimento endógeno, soberano, autenticamente democrático, solidário e sustentável. Desperdiçou a oportunidade histórica de envolver o povo no governo do País, saindo do Planalto para a planície onde o povo vive para trabalhar e para sofrer. Tem tratado as minorias étnicas - os povos originários, os quilombolas, os pescadores, em grande parte mestiços pelo Brasil afora, com uma arrogância e um desprezo indesculpáveis e criminosos. O genocídio-em-marcha dos Guarani-Kaiowá são uma amostra desta cumplicidade do governo com o grande agronegócio.

Brasil, campeão do uso de agrotóxicos. Brasil, campeão das sementes transgênicas sem a investigação prudente dos seus riscos para a saúde e o ambiente. Brasil, campeão dos tiros no pé, com a política altos juros e enorme desvalorização do real para baratear nossos produtos de exportação. Brasil, campeão da febril exportação de mercadorias de baixo ou nenhum valor agregado, para viabilizar o pagamento da espúria e impagável dívida externa. Brasil, campeão do fiel pagamento de juros aos credores da dívida pública, às custas do investimento no desenvolvimento humano e social! Entre 2002 e 2015 a dívida pública passou de R$ 820 bilhões para R$ 6,1 trilhões.[2] Continuamos escravos do "sistema da dívida": quanto mais pagamos, mais devemos. E para pagar, estamos vendo o patrimônio natural e humano do Brasil sendo entregue, dizimado, esmagado.

Triste que meu livro "Cartas a Lula: um Outro Brasil é Possível" esteja tão válido hoje como estava em 2006, quando foi lançado. Praticamente tudo que eu propus nas cartas ficou ignorado. Pior para o Brasil. Pois minhas sugestões faziam parte do bom senso no contexto de então. E continuam válidas para agora.

Não, caro Haroldo. O sonho de um Brasil inteiro sem medo de ser feliz parece ter sido adiado sine die. Isto porque quem foi para o Planalto achou que podia atender ao mesmo tempo aos interesses do grande capital e das suas escravas e escravos trabalhadores.  Só descendo do Planalto para a planície onde o povo vive e sofre é que a Política vai voltar a ser instrumento de gestão da emancipação deste nosso grande País.

 

SOBRE A NOMEAÇÃO DE LULA COMO MINISTRO DA CASA CIVIL

 

15.3.16 - A situação se agrava muito para Lula e Dilma com a nomeação do Lula como Ministro da Casa Civil. O juiz Sergio Moro permitiu à Polícia grampear o telefone da Presidenta! Isto soa como uma grave ilegalidade. Como é que um juiz de primeira instância pode grampear o telefone da Presidenta da República? Mais estranho ainda, no momento seguinte a Rede Globo já tem acesso ao grampo e o divulga para o País inteiro! Quem entregou o grampo, feito pela Polícia Federal, à Globo? Na breve conversa com Lula, Dilma diz que está enviando um documento que contém o termo de posse para ser usado em caso de necessidade. Isto, segundo a grande imprensa e os próceres da oposição, configura que "Dilma atuou para tentar evitar prisão de Lula na Lava Jato."

Como eu havia escrito na minha linha do tempo do Feicebuque, ela não devia nomear Lula para nenhum cargo público enquanto ele for suspeito de crime e estiver sendo investigado. O princípio ético que defendemos para suspeitos de crimes como Eduardo Cunha, Renan Calheiros e outros políticos, tem que valer também para Lula. A nomeação, a meu ver, é um ato de violação da ética na política. Mas também é um problema jurídico a mais para engrossar as águas do impedimento de Dilma. A direita está articulada nos vários poderes, e nas ruas, para tirar Dilma, e ela está colaborando para isto acontecer. O PT e suas lideranças estão conseguindo levar o País de volta às mãos da direita, talvez até da extrema direita. O Judiciário fazendo o papel do que foram os militares nos anos 60. Algo parecido já ocorreu, com inspiração e apoio da CIA, na Venezuela em 2002, no Haiti em 2004, em Honduras em 2009 e no Paraguai em 2012. O único país em que o povo foi para as ruas e impediu que este golpe institucional fosse vitorioso foi a Venezuela.

Nesta “briga de cachorro grande”, que sobra para a massa de trabalhadores empobrecidos do país, sejam eles operários, empregados do setor de serviços, funcionários públicos, autônomos, trabalhadores rurais, desempregados, agricultores pequenos e médios? Estamos diante de uma mega crise do sistema político brasileiro e da democracia representativa. Uma manifestação improvisada está ocorrendo em Brasília contra a nomeação de Lula, pelo impedimento da Presidenta, e pela prisão de Lula. Sergio Moro figura como o grande herói da conjuntura. No Supremo, a voz mais eloquente é do mais retrógrado e questionável dos seus membros, Gilmar Mendes. A BandNews mostra agora os manifestantes expulsando os congressistas que apareceram na manifestação para protestar contra o governo. Existe um sentimento de total descrença da política institucional. Isto é demasiado grave.

Nem todos os manifestantes são de direita! Nem todos querem o retorno ao poder de outros corruptos que, antes dos governos de Lula e Dilma, acolheram propinas das mesmas empreiteiras que nos últimos 15 anos engrossaram as contas de políticos e de burocratas dentro da Petrobrás. Estão lá para protestar contra toda a podridão que está sendo revelada. Esta é uma podridão histórica e sistêmica, que nasceu com a ocupação das Américas pelos ibéricos das rainhas e reis de Portugal e da Espanha, e vem se perpetuando à medida que o capitalismo se enraizou no continente. Esta conexão da corrupção com o sistema do capital raramente é mencionada ou mesmo pesquisada. Mas, afinal, qual é a ética do capital?
"Tudo que colabora para eu acumular dinheiro e poder é bom. Tudo que impede, é mau.

As horas passam e – espantoso - a polícia continua grampeando o telefone da Dilma e só ela e Lula parecem não saber disto. E a mídia continua tendo acesso imediato a estes vídeos invasivos da privacidade da Presidenta e do ex-Presidente. A BandNews diz que Lula já sabia dos grampos. Lula fala em república de Curitiba. Eu falo em ditadura do Judiciário. Mas é uma ditadura com base social, que neste momento está nas ruas Brasil afora. Na linguagem televisiva, o eufemismo dos grampos é "áudios". Será que Dilma não vai imediatamente investigar e processar Sergio Moro pelos grampos e pelo vazamento deles para a grande imprensa?

O Lula, a Dilma e o PT ainda não se deram conta de que estão politicamente esmagados pela sua própria falta de bom senso político e de espírito público neste momento.

Segundo a TV Brasil, Sergio Moro declarou que mandou interromper as gravações e a Polícia não obedeceu. E continuou não obedecendo. E Moro não fez mais nada a respeito. A Polícia diz que quem interrompe não é ela, mas a empresa privada de telefonia móvel!!! Qual será ela? Hoje, são todas ligadas ou controladas por transnacionais! Segurança nacional zero! E como é que estas gravações foram acabar nas garras da TV Globo?

Há, evidentemente, uma politização e mesmo partidarização do Judiciário.
Onde estão neste momento as forças que defendem a Democracia? Se elas quiserem sair às ruas, qual será sua causa? Quais serão suas consignas? As minhas são de defesa da Democracia e da Legalidade. E isto evoca 1962 e 1964...

QUEM É SERGIO MORO?[3]

E COMO SUPERAR A "DITADURA DO JUDICIÁRIO"?
QUE DESAFIOS PARA OS MOVIMENTOS QUE DEFENDEM A VERDADEIRA E PLENA DEMOCRACIA?

16.3.16 - Lamento começar o dia com uma nota negativa, e muito. Mas é preciso conhecer quem hoje se configura como inimigo da Democracia.

Moro excedeu suas atribuições como juiz. Ele está atuando como se fosse o primeiro poder da Nação, daí eu falar em "ditadura do Judiciário". É preciso que setores democráticos do Judiciário recoloquem Moro no seu devido lugar. Mais ainda, é preciso que a Presidenta, eleita para ser a cabeça do organismo que é a sociedade brasileira, use seu poder para recompor a ordem jurídica da Nação. Mas sua autoridade moral e política está abalada, e ela está na defensiva, incapaz de cumprir seu papel de máxima autoridade, eleita pelo povo para servir ao povo. Ela tem que recobrar-se, recuar na nomeação de Lula para a Casa Civil (como argumentei ontem na minha linha do tempo), e governar com correção e coragem, até o fim, qualquer que ele seja.

Sempre que ocorre uma crise política eu recorro à Constituição, pois ela é a Carta-Guia da Nação brasileira, mesmo que desfigurada por tantas PECs que eu entendo como inconstitucionais! (É legal e legítimo um Congresso ordinário aprovar emendas a uma Constituição que foi elaborada por uma Assembleia Constituinte, investida do poder democrático de elaborar uma nova Constituição? Se é, então para que existem Assembleias Constituintes?).

Então, vejamos o Parágrafo único do Art. 1o.: "TODO PODER EMANA DO POVO, QUE O EXERCE POR MEIO DE REPRESENTANTES ELEITOS OU DIRETAMENTE, NOS TERMOS DESTA CONSTITUIÇÃO".
Esta combinação de democracia representativa (DR) com democracia direta (DD) está quase que apenas no papel. Há mecanismos de DD previstos na Constituição, que o povo brasileiro ignora ou subutiliza.

É a hora de os setores autenticamente democráticos irem para as ruas com uma proposta de superação pacífica e eficaz da crise: 
* que o Judiciário continue as investigações de corrupção, que serão reforçadas se a proposta de legislação anticorrupção feita pela Presidenta Dilma tornar-se lei;[4] que as investigações não se limitem aos governos de 2003 para cá, mas sejam equitativas no trato das práticas de corrupção dos governos passados, desde o fim da ditadura em 1985;[5] 
* se for comprovado crime de responsabilidade ou outro por parte da Presidenta, que ela seja pressionada a renunciar e a convocar eleição antecipada para Presidente da República;
* se nada for comprovado como crime da parte da Presidenta, que o mandato popular da Presidenta seja fortalecido, que ela governe até o fim desse mandato e que a Nação se reunifique em torno de um projeto de Brasil autenticamente democrático;
* que os movimentos sociais e populares se unam para pressionar nas ruas e noutros espaços públicos em favor do saneamento e da democratização da economia, recolocando-a a serviço da maioria oprimida e explorada pelo grande capital, através da implementação fidedigna da Constituição e da legislação complementar.

A Carta Magna do Brasil, no seu Art. 3o., define como "objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;..."
Não haverá sociedade livre, justa e solidária, nem erradicação da pobreza, enquanto não houver ECONOMIA LIVRE, JUSTA E SOLIDÁRIA.

Permitam que eu lembre outros três artigos das Disposições Transitórias que considero fundamentais. O descumprimento do Art. 26 tem sido causa de uma sangria dos recursos arrecadados pelo Tesouro, em favor do enriquecimento dos credores da dívida pública brasileira. O descumprimento dos Artigos 67 e 68 tem dado espaço para um verdadeiro genocídio (que rima com Delcídio...) dos povos tradicionais:

Art. 26 - "No prazo de um ano a contar da promulgação da Constituição o Congresso Nacional promoverá, através de Comissão mista, exame analítico e pericial dos atos e fatos geradores do endividamento externo brasileiro.
Par. 2. "Apurada irregularidade, o Congresso Nacional proporá ao Poder Executivo a declaração de nulidade do ato e encaminhará o processo ao Ministério Público Federal, que formalizará, no prazo de sessenta dias, a ação cabível."

O cumprimento deste artigo visava acabar com a sangria do Tesouro Nacional, com o fim da prática dos juros sobre juros, viabilizando assim o desenvolvimento socioeconômico do País a partir dos nossos próprios recursos.

Art. 67 - "A União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição." (Portanto, 1993!)

Art. 68 - "Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos."

Se a União tivesse cumprido estes dois artigos, quantas mortes de líderes indígenas teriam sido evitadas, de quanto sofrimento esses povos teriam sido poupados! E haveríamos saldado a dívida histórica que continua pendente sobre cabeça da Nação!

Por que o Judiciário brasileiro não coloca o poder de sua ação na garantia do cumprimento da Constituição em aspectos tão importantes quanto estes? O descumprimento desses artigos não representa omissão grave dos três Poderes da Nação? Não seriam eles parte da pauta do PROJETO DE BRASIL QUE QUEREMOS?

 

[1] Publiquei uma seleção destas cartas no livro “Cartas a Lula: Outro Brasil é Possível”, 2006, da Editora Documenta Historica.

[2] Para mais dados, análises e notícias, visite www.auditoriacidada.org.br.

[3] http://rededante.blogspot.com.br/2016/03/ex-conhecido-de-sergio-moro-mostra-uma.html?m=1

[4] http://www.pragmatismopolitico.com.br/2015/03/dilma-anuncia-pacote-anticorrupcao-em-resposta-as-manifestacoes.html

[5] E por que não investigar a corrupção que campeou durante a ditadura, com uma impunidade protegida pelo pretexto da “segurança nacional”? Os grandes grupos bancários, industriais e agropecuários cresceram pendurados nas tetas do Estado ditatorial que vigorou entre 1964 e 1985.

 



ECUMENICAL CELEBRATION IN NOTRE DAME OF PARIS during COP21

5 de Dezembro de 2015, 9:36, por Marcos Arruda - 0sem comentários ainda

Ecumenical celebration in Notre Dame de Paris - 3.Dec.15

The cathedral of Notre Dame was half full. A choir of monks, another choir of young women and men from Madagascar colored the evening with their chants. Clergy of various Christian churches led the celebration. These are the most touching moments.

 “You are the salt of the earth; but if salt has lost its taste how can its saltiness be restored? It is no longer good for anything…

“You are the light of the world… No one after lighting a lamp puts it under the bushel basket… Let your light shine before others, so that they may see your good works and give glory to your Father in heaven”.

Offertory:

Theme: “Natural resources are not inexhaustible, … we must learn to share them and protect our environment that sustains life on Earth.”

  1. A piece of cotton: from a tropical region, is a means of dressing our bodies. A call to overcome all forms of slavery in today’s world.
  2. A piece of linen: a gracious herb that makes a blue flower. Beauty and softness adorn should adorn the lives of each and every human being.
  3. A metal ewer: through human labor and creativity minerals are transformed into useful, beautiful objects, from tools to works of art, to coins. They should serve to satisfy human needs, we should not convert them into our masters.
  4. A pottery: we are life embodied in earthen vessels. We are part of God’s adventure in Matter.
  5. A bottle of olive oil: an ointment that soothes and relaxes, a bearer of fragrance that embalms, an ingredient that nourishes. Let us offer our life as a multiple service to others and to our own good living and happiness.
  6. A musical instrument: through art, music and culture, humans can express what they are in the deepest sense: a being connected to all forms of life on Earth and in the Cosmos. Gratitude for our capacity to co-create ourselves and the world through all forms of art!
  7. A boat: modern means of communication abolish distances and make us aware that our world is unique and that we are interdependent. We need to deepen our awareness to choose communion with one another, to rebuild humankind as one single family, wherein sisters and brothers love and care for one another and for all forms of life. A special place should be granted to women, youth and native peoples, who are prominent caretakers of Earth Mother.
  8. The globe, represented by a Chinese lamp shade with the continents made of modeling clay. Creation is a gift entrusted to us, humans. We are responsible to the current and future generations for the whole inhabited Earth.

A message from the Council of Christian Churches of France for the COP21 was read. Its final paragraph says:

“Our hope as Christians rests in our belief that our world is not destined to disappear but to be transformed, and that human beings capable of self-destruction are also able to unite and to choose that which is good”… that which creates good living and happiness in harmony with Nature.



COP 21: Quando o colapso parece promissor

4 de Dezembro de 2015, 10:44, por Débora Nunes - 0sem comentários ainda

Texto em colaboração com Marcos Arruda

 

Numa das atividades da Rede Global Diálogos em Humanidade, em Paris, como parte das manifestações da sociedade cívica para pressionar os Estados a assumirem reais responsabilidades frente ao aquecimento global, um grupo de trabalho propôs incorporar a possibilidade de colapso da humanidade. O grupo deveria imaginar as bases com as quais a sociedade humana poderia ser reconstruída para desenvolver-se sem correr riscos de nova aniquilação.

Num primeiro momento, o grupo ficou atônito ao imaginar a conjunção de dados reais: a aceleração do aquecimento global com suas cada vez mais nefastas consequências, mas também do terrorismo; os acidentes ambientais cada vez mais graves devidos aos excessos do capitalismo; a onda de refugiados de guerras e de mudanças climáticas que, buscando o justo direito de reconstruírem suas vidas, desestabilizam territórios já precários; a crise dos alimentos, cada vez mais caros e envenenados; a crise do endividamento, dos Estados nacionais até as famílias e as pessoas; entre outras. Esses dados juntam-se à forte probabilidade de um novo colapso financeiro mundial causado pela insustentável ciranda especulativa, muito mais grave do que a de 2008. Essa explosão torna-se inevitável pela aplicação de recursos oriundos do trabalho humano real junto a uma montanha de dinheiro imaginário (pura especulação), configurando um perigoso cassino global. Ao ruir, o sistema financeiro vai carregar consigo o sistema produtivo globalizado, principalmente bancos e empresas transnacionais, o emprego, as redes de seguridade social, e o nível já conquistado de bem estar.

Passado o momento inicial de impacto de se imaginar o colapso, o grupo pergunta-se o que fazer e imagina que restaram comunidades humanas espalhadas pelo interior dos continentes menos tocados pela catástrofe econômica e pelo aumento do nível dos oceanos. As grandes cidades - com poucos alimentos e energia, falência das grandes companhias atingindo as demais, governos desestabilizados e comunicação precária, expostas à barbárie dos sem esperança - foram em grande medida desertadas por suas populações. Milhões de sobreviventes se transformam em refugiados e buscam locais mais estáveis para reconstruírem suas vidas.

O panorama, aparentemente saído de um filme catastrófico de Hollywood, espelha na verdade os dados de pesquisas recentes sintetizadas no livro « Comment tout peut s'effondrer: Petit manuel de collapsologie à l'usage des générations présentes », de Pablo Servigne e Raphaël Stevens (“Como tudo pode entrar em colapso –pequeno manual de colapsologia para uso das gerações presentes”), ainda sem tradução no Brasil.  De modo mais artístico, esse é também o cenário do filme « A era da estupidez », de Franny Armstrong, que fez um misto de documentário, ficção e animação para contar a história da destruição da Terra, causada pela insensatez da humanidade.

O grupo de trabalho, formado por cidadãos e cidadãs de várias partes do mundo, começa a traçar um caminho de soluções possíveis, buscando enfrentar não só as questões de cunho político, ambiental, social e econômico, mas também criar um quadro cultural e psíquico, que evite que a humanidade desenvolva mais suas sombras que sua luz, e que aproveite ao máximo seus potenciais de conhecimento, criatividade e cooperação. A descontração criada pelo fato de que se tratava apenas de fazer um exercício coletivo de sonhar acordados, sem a pressão de « salvar o mundo », fez do trabalho uma alegre atividade, simples e inspiradora.

Em primeiro lugar, o grupo tratou de reorganizar a sociedade humana a partir dois fatores. Um, subjetivo – o acolhimento e o respeito às diferenças - e o outro, objetivo - as atividades locais que produzem o suficiente para a sobrevivência da comunidade de forma absolutamente ecológica, sem fertilizantes nem pesticidas nos alimentos, e utilizando fontes locais de energia como o sol, a biomassa, os ventos etc. A força de trabalho e os recursos naturais locais vão sendo valorizados por meio de tecnologias adequadas à realidade local e ecossistêmica, produzidas em todo o planeta, o que aumenta em grande medida a produtividade local, e permite a partilha dos seus ganhos com base na proporcionalidade. Volta-se, de certa forma, ao tempo das comunidades primitivas, enriquecidas agora pela consciência de todas as evoluções humanas, em termos sociais, políticos, culturais e tecnológicos.

Imaginando o pleno emprego dos membros da comunidade, chegou-se ao conceito de subsidiariedade, no qual só se mobiliza um nível posterior de escala territorial quando se esgotam as possibilidades de resolver desafios localmente. Em termos brasileiros, isso seria uma autonomia imensa para o nível de governança comunitária e municipal, passando-se para o nível estadual e federal apenas poucas questões, impossíveis de serem respondidas localmente. A subsidiariedade reforça a responsabilização da comunidade e dos indivíduos para a conquista de boas condições de vida para si e para o coletivo, de modo colaborativo. Ela propõe também a construção das escalas « superiores » a partir da prática da solidariedade entre as comunidades.

Na dinâmica da subsidiariedade, constrói-se a pirâmide de possibilidades e responsabilidades de baixo para cima, a partir das necessidades e dos recursos humanos e naturais existentes na comunidade, e não de cima para baixo, a partir do poder da força e/ou do controle do dinheiro, do conhecimento e das técnicas, como se fez na história pregressa da humanidade.

O segundo campo de trabalho do grupo foram os próprios membros da comunidade e a educação. Para evitar os efeitos desastrosos da condição e do sentimento de exclusão, é preciso que cada um tenha seu lugar na sociedade. Todo um programa de apoio ao autoconhecimento, fundado na busca da identificação dos talentos de cada um seria colocado em prática pela comunidade em um sistema educativo baseado na prática da pesquisa e da construção colaborativa do conhecimento, e na busca do bem viver integral. A ideia é que cada indivíduo, sem exceção, sabendo de suas potencialidades, busque ser feliz, disponibilizando seus talentos para que sejam uteis a si e aos demais. Assim, o desejo de cada humano de ser reconhecido e amado teria fundamento na contribuição dada ao todo e a cada outro, e não na supremacia sobre os demais. Apostou-se, como Teilhard de Chardin, o grande paleontólogo e humanista francês, que a crescente individuação naturalmente constrói a solidariedade entre todos, e que a história cósmica é a história da construção da Noosfera – a esfera da cooperação na riqueza da diversidade – após passar pela da geosfera, biosfera e tecnosfera.

O terceiro é o tema do poder: como organizar a partilha do poder de modo a não reproduzir o modelo político fracassado de hoje? Como resgatar, ao mesmo tempo, a história das conquistas democráticas da sociedade humana, que nos levou à noção de direitos humanos e de democracia representativa, sem cair nas armadilhas que enfrentamos hoje de insuficiência humanista e democrática? Partilha, co-responsabilidade e serviço, três palavras-chave que qualificam um tipo de poder político que canaliza a consciência coletiva e viabiliza a democracia co-criativa. Auto-estima, humildade e gratuidade, três atitudes que qualificam quem é investido daquele poder democrático co-criador. A trilha proposta por Patrick Viveret, de buscar o melhor da tradição e o melhor da modernidade, nos fez buscar o modelo político de muitas sociedades ancestrais (entre eles os índios bororos e ianomâmis do Brasil), nas quais o poder é entregue àqueles que são reconhecidos como os mais generosos entre os membros da tribo. Aqueles que têm, como diria São Francisco, maior capacidade de dar do que receber.

Para evitar os excessos que podem ser cometidos quando alguém, ou um grupo de pessoas, mesmo consideradas generosas desvia-se de si mesma no exercício do poder, a noção moderna de controle social seria utilizada. Assim, as pessoas que governam os diversos territórios nos estritos domínios da subsidiariedade (ou seja, respeitando a autonomia individual, familiar e comunitária) seriam acompanhadas pelo conselho da comunidade, composto por sábios e especialistas da confiança da comunidade, recrutados em sua maioria entre jubilados com comprovado espírito público. Esse conselho de sábias e sábios, recriando a sabedoria ancestral, teria, como se concebe modernamente, a representação de todos os setores da sociedade, inclusive jovens e crianças.

O exercício do grupo de trabalho teve tempo limitado e, assim, outros temas não puderam ser tratados e muitos ficaram implícitos. O cultivo de uma relação profunda da humanidade com a Natureza, entendendo seu lugar como parte dela; a modelagem da organização dos serviços públicos e sociais; a pluralidade de lógicas econômicas que, tendo como referência comum a solidariedade e o suficiente, poderiam prevalecer para evitar o monopólio de uma só logica, como a do lucro ou a do Estado, e tantos outros desafios ficaram para novas oportunidades de encontro. As pessoas do grupo sentiram alegria com o trabalho e pode-se dizer que imaginar a possibilidade do colapso da civilização atual é como lidar com a própria morte. Pode nos ajudar a organizar a vida, de modo a tirar dela o melhor e dar a ela a melhor contribuição. As civilizações também podem morrer, como já morreram os impérios mundo afora, por viverem sem consciência da possibilidade de sua própria extinção. Pensar o colapso para além da tragédia das suas dores, pode ser instrutivo… e promissor.



A nova encíclica papal e a crítica ao atual modelo de desenvolvimento

20 de Agosto de 2015, 13:08, por Marcos Arruda - 0sem comentários ainda

www.aepet.org.br/videos

Amigxs,

Neste portal vcs encontram a entrevista feita por Paulo Passarinho, âncora do Programa de TV DebateBrasil, com Marcos Arruda e Ivo Lesbaupin, sobre a Encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, recentemente lançada em preparação à 21a Conferência do Clima, no início de dezembro em Paris, e o atual modelo de desenvolvimento.

Obrigado por divulgar a entrevista.

Marcos Arruda



TESTEMUNHO SOBRE O HCE - Marcos Arruda 300715

31 de Julho de 2015, 0:48, por Marcos Arruda - 0sem comentários ainda

COMISSÃO DA VERDADE DO RIO DE JANEIRO

CLÍNICAS DO TESTEMUNHO

AUDIÊNCIA PÚBLICA COM EX-PRESAS E PRESOS POLÍTICOS QUE ESTIVERAM INTERNADOS NO HOSPITAL CENTRAL DO EXÉRCITO – HCE

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2015

 

TESTEMUNHO DE

MARCOS PENNA SATTAMINI DE ARRUDA

 

Vocês que vivem seguros

Em suas casas cálidas,

Vocês que encontram comida quente

E caras amigas quando voltam à casa.

Considerem se isto é um homem

Que trabalha na lama,

Que não conhece a paz,

Que luta por uma migalha de pão,

Que morre por um sim ou não.

Considerem se isto é uma mulher

Sem cabelos, sem nome,

Sem a força de recordar,

Vazios são seus olhos, frio é seu ventre,

Como uma rã no inverno.

Nunca esqueçam que isto aconteceu.

Lembrem-se destas palavras.

Gravem-nas nos seus corações,

Quando em casa ou na rua,

Quando deitados ou se levantando.

Repitam-nas para seus filhos.

Ou que suas casas sejam destruídas,

Que a doença lhes golpeie,

Que seus filhos virem as costas a vocês”.

Primo Levi, Survival in Auschwitz

 

  1. Estudei geologia no Rio de Janeiro e trabalhei três anos como geólogo. Deixei a profissão para trabalhar em fábricas metalúrgicas em São Paulo, ajudando na organização e luta dos operários por seus direitos e contra a ditadura. Fui preso em 11.5.1970 e torturado pela Operação Bandeirantes (OBAN). A brutalidade foi extrema, me levou às portas da morte. Levado ao Hospital Geral do Exército, na manhã seguinte, recebi a Extrema Unção. Passei um mês e meio para melhorar o suficiente para ser levado de volta à OBAN para uma acareação. Só em agosto minha família conseguiu que, depois de três meses internado no Hospital Geral do Exército eu fosse transportado numa cela-ambulância para o Rio de Janeiro, minha cidade de origem. No Rio, fui entregue ao DOI-CODI, no Batalhão da Polícia do Exército sediado na Rua Barão de Mesquita. De lá fui levado para o Hospital Central do Exército (HCE), em Triagem, onde fiquei preso entre os dias 21.8.1970 e 1.2.1971.
  1. “Esquecer? Nunca Mais!” é o nome do livro publicado pela minha mãe, Lina Penna Sattamini, onde ela conta a saga do filho nas mãos sangrentas da ditadura empresarial-militar que dominou o Brasil durante 21 anos, e o que a família vivenciou para conseguir a minha libertação. Por iniciativa do professor de história do Brasil na Universidade Brown, James Naylor Green, esse livro ganhou uma versão em inglês, com o título “A Mother’s Cry”, da Universidade Duke, dos Estados Unidos, país onde Lina viveu e trabalhou por mais de duas décadas.
  2. Em setembro de 2014 participei da Comissão que visitou o HCE, composta de membros das Comissões Nacional e Estadual da Verdade, das Clínicas do Testemunho e de ex-presas e presos políticos que ali estiveram internados. Nesta ocasião, entreguei carta em mãos ao Diretor do HCE solicitando o meu prontuário. Até hoje não obtive qualquer resposta. Neste testemunho, não deixo dúvida de haver conhecido por dentro o HCE na época em que lá estive. Portanto, não se pode pôr em dúvida que lá estive como preso político. Então, se o HCE se recusa a fornecer meu prontuário, está violando conscientemente um direito meu como cidadão.
  3. No HCE fui colocado num quarto-cela no pavilhão chamado de 13a Enfermaria, onde fiquei em torno de 20 dias totalmente incomunicável, sem ninguém que me examinasse nem falasse comigo. E o servente que me trazia comida se recusava a trocar palavras comigo.
  4. No fim deste tempo, fui transferido para uma enfermaria ampla e aberta, com cerca de 20 camas. Ela ficava no fundo à esquerda do corredor, e defronte dela havia outra enfermaria de mesmas proporções, para militares presos. Como algumas pessoas passaram por lá que não eram presas políticas, percebi que essa enfermaria abrigava presos políticos e presos comuns civis. Todos os que ali conheci haviam sido vítimas de sevícias pelos órgãos da repressão governamental.
  5.  Nomes
    1. Raimundo Nonato dos Santos – contou que foi torturado pelo I Batalhão da Polícia do Exército, na rua Barão de Mesquita, Tijuca, Rio de Janeiro. Estava com as pernas imobilizadas e sofria descontinuamente descargas nervosas espontâneas nas duas pernas. Depois de um mês foi levado de volta à PE. Contou que fora acusado de tentativa de roubo de automóvel.
    2. José Carlos Tortima, preso político – contou que, por ser membro do PCBR, sofrera violentas torturas no DOI-CODI da rua Barão de Mesquita durante 9 dias, em fevereiro e março de 1970, fora hospitalizado em estado grave, voltara à PE e estivera preso sete meses na Ilha Grande. Foi trazido ao HCE para tratamento psiquiátrico.
    3. João Pedro Francisco – contou que sofrera choques violentíssimos nas mãos e tornozelos, que ficaram incinerados. Depois fora pendurado num pau-de-arara enferrujado, que provocara infecção das feridas. Os ossos e tendões de uma das mãos e um dos tornozelos estavam à mostra e João estava sendo submetido a operações plásticas de enxerto.
    4. Senildo da Silva – contou que estivera na Delegacia de Roubos e Furtos, no DOPS e na PE. Fora torturado com choques e muitas pancadas, que lhe quebraram o fêmur direito em dois lugares e a tíbia direita. Foi transportado para o Hospital Souza Aguiar e depois para o HCE. Os policiais diziam que ele tentara pular do terceiro andar de um prédio para fugir e quebrara a perna. Senildo disse que a própria Polícia quebrara sua perna com pontapés, em meio a sessões de tortura.
    5. Estrella Dalva Bohadana Bursztyn, arquiteta de 19 anos de idade – contou que fora trancada num quarto escuro durante seis dias no 1o. Batalhão de Infantaria Blindada de Barra Mansa, e depois transferida para o DOI-CODI da rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro, onde foi violentamente torturada com chutes na barriga (quando disse que estava grávida), choques e pancadas. Estrella foi levada para o HCE em péssimo estado, com hemorragia interna e as pernas paralisadas. Contou-me que sofreu aborto, devido às sevícias que sofreu. Ficou em torno de um mês no HCE, entre novembro e dezembro de 1970, e pude comunicar-me com ela graças à ajuda solidária do servente Sr. Valter. Ele e o Sargento-enfermeiro Argolo mostraram total solidariedade para com as presas e presos políticos durante todo o tempo em que estive no HCE. Estrella recebeu alta pelo diretor da enfermaria, Major Dr. Wilson Boia, e foi levada de novo para o DOI-CODI e de lá para o 1o BIB de Barra Mansa, onde voltou a ser torturada brutalmente sofrendo, entre outros danos, fratura de duas costelas.
    6. Através da Estrella fiquei sabendo da presença de outra presa política, de nome Irony Bezerra, que estava em estado de gravidez avançada. Por isso, não tinha condição de suspender-se até a janela gradeada para participar, durante as noites, das conversas minhas com Estrella. Ela estava na cela ao lado daquela em que Estrella estava presa.
  6. Os remédios que eu tomava diariamente incluíam pílulas anti-convulsivas (eu tive convulsões depois de horas de pau-de-arara com choques elétricos muito violentos, e elas retornavam de forma intermitente) e soníferos (creio que Valium), em dose que me deixava lerdo e semi-drogado. Nos últimos meses de prisão, eu fingia tomar o Valium e depois guardava as pílulas, ou as jogava na privada, para estar desperto para as conversas com Estrella. Durante esses meses fui tratado com fisioterapia diária, e tive visitas de um neurologista para examinar meu olho esquerdo, cuja pálpebra estava caída desde a tortura com choques elétricos.
  7. O quadro do pessoal do HCE, quando lá estive, incluía:
    1. o diretor General Galleno,
    2. o responsável pela segurança, Capitão Morais, que sempre tratou os membros de minha família com gentileza e humanidade,
    3. o Major Dr. Wilson Boia, dermatologista, que não dava praticamente nenhuma assistência aos pacientes, tratando-os como animais, aos berros e com ameaças;
    4. os dois Sargentos-enfermeiros, Argolo, solidário e prestativo com presas e presos, e outro do qual esqueço o nome;
    5. os dois serventes, Sr. Valter, sempre solidário e prestativo com presas e presos, e o outro, creio que de nome Wilson.

Minha homenagem ao Sargento-enfermeiro Argolo e ao Sr. Valter, pelo espírito solidário com que nos apoiaram naqueles tempos sombrios.

8. Durante minha estada no HCE, passei a maior parte do tempo incomunicável, apesar de todos os esforços da minha família de me visitar, e mesmo do advogado, Técio Lins e Silva, que ela contratou de vir entrevistar-se comigo pessoalmente. Só o conheci depois que fui libertado, em 1.2.1970. Expresso aqui minha gratidão a cada membro da minha família e ao Técio, que trabalharam amorosamente pela minha libertação. Em especial à minha mãe, Lina Penna Sattamini, minha avó materna, Maria e minha madrinha Elza Sattamini de Britto Pereira, pelos esforços incansáveis em pressionar os militares pelo meu direito à liberdade.

9. A função do HCE, assim como do Hospital Geral do Exército em São Paulo, onde eu já estivera preso entre 12.5.1970 e 21.8.1970, era “recauchutar” presas e presos políticos que haviam sido torturados, para que pudessem retornar aos centros de tortura para mais interrogatórios e novas sevícias. Portanto, os hospitais militares cumpriam a função de elos da cadeia produtiva das torturas e dos assassinatos. Os médicos que realizaram esta função traíram seu juramento ético-profissional, denegrindo assim suas instituições e as Forças Armadas.

10. Daquele período de cinco meses e 10 dias que passei de prisão no Rio de Janeiro, apenas três dias não foram no HCE, mas sim no Doi-Codi da rua Barão de Mesquita. Dias de inferno, entre 23 e 25.12.1970, pois fiquei trancado numa cela, situada num corredor em que havia várias celas com outros presos. Dia e noite vinham os soldados, apelidados de ‘Catarinas’, levar um preso para a tortura. Os gritos dos torturados ecoavam por todo o prédio, inclusive durante toda a noite de Natal, levando-nos a um sentimento de compaixão e impotência, e de terror diante da possibilidade de servos o próximo a ser levado para a tortura. Os soldados depois traziam o preso de volta apoiado neles ou arrastado pelo chão. Por falta de medicamento, voltei a ter convulsão e fui levado de volta para o HCE. Só fui libertado em 1.2.1971.

PROPOSTAS

  1. Expresso aqui minha gratidão aos membros das Comissões Nacional e Estadual da Verdade, e sugiro que seja criada uma instância governamental permanente, ligada à Secretaria Nacional de Direitos Humanos, para dar continuidade às investigações sobre o HCE em particular, e sobre os Hospitais das Forças Armadas que serviram à repressão durante das décadas da ditadura empresarial-militar.
  2. Desejo também expressar minha gratidão às psicólogas e psicólogos do Projeto Clínicas do Testemunho, que têm acolhido com espírito de pesquisa, competência e carinho, vítimas das torturas do tempo da ditadura empresarial-militar e suas famílias. Este Projeto tem colaborado ativamente com os trabalhos das Comissões Nacional e Estaduais da Verdade, em particular a CEV-RJ. Defendo que o Governo Federal transforme as Clínicas do Testemunho em projeto de governo, com mandato para realizarem sua missão sem horizonte temporal e contando com recursos suficientes para isto. 

Na realidade

Vivemos hoje

Os sonhos

Que sonhamos ontem.

E, vivendo

Estes sonhos,

Sonhamos outra vez.

 

MARCOS PENNA SATTAMINI DE ARRUDA