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Minha história e o conflito de classes

14 de Julho de 2015, 17:37 , por Maria Suziane Gutbier - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Qual é o principal desafio posto em minha vida hoje? Ser eu mesma. Escrever mais um capítulo dessa história na qual atuo.

Sou resultado da luta de classes que atravessou o lar dos meus pais pois, apesar de serem ambos de família pobre, meu pai sempre se viu como alguém de mais cultura (socialmente inserido), com tios fazendeiros e sobrenome famoso, dizem que de um braço bastardo da família do Duque de Caxias...

Já minha mãe era filha da parteira, Mãe Véia (nem era conhecida pelo nome de batismo, Idalécia), curandeira, que sabia remédios caseiros pra tudo e criava os filhos sem pai... Com 9 anos as meninas já trabalhavam em casas de família ajudando nas lides domésticas em troca de moradia e alimentação. Escola nem pensar! 

Este é um conflito que não se resolveu: passaram brigando quase que toda a sua vida nos 30 anos que viveram juntos. Frutos de uma sociedade machista. Minha mãe lutou muito para construir sua individualidade. Desenvolveu o que sempre chamei de "estratégias de sobrevivência", contornando as vontades machistas do meu pai e achando brechas para respirar. Costurando, vendendo bordados, ia driblando a proibição do marido de trabalhar fora, e ia provendo as necessidades do dia-a-dia: remédios, roupas, alimentos para si e para os filhos. Ela dizia: quando a minha última filha completar 15 anos eu vou me separar. E assim fez!

Meu pai foi trabalhador autônomo na maior parte da sua vida. Trabalhando com construção e com móveis sob medida, sempre esteve a serviço de uma classe mais abastada, com a qual se relacionava. Se realizou quando conseguiu ser patrão de um Centro de Tradições Gaúchas, como se o título fosse o coroamento da sua "nobreza". 

Ambos foram fonte de importantes aprendizados para mim. Observando suas trajetórias de vida posso compreender meus próprios conflitos existenciais básicos e definir novos rumos para essa história que agora protagonizo.

Sinto necessidade de registrar meus passos pois percebo que somos ainda subjugadas, dependentes, subsumidas nos afazeres que a vida tem nos imposto como se isso fosse natural. Como se fosse nosso destino de mulher... e não serão os homens que nos tirarão desse lugar pois eles também não sabem fazê-lo. E o nosso deslocamento também mexe com eles, que ficam sem chão, sem saber como agir, sem saber o que de fato lhes cabe fazer... Somos nós, mulheres, apenas nós que temos o poder de escrever essa história com novas cores e tons. E é para isso que me desafio nesse exercício reflexivo. Ao escrever sobre mim escrevo sobre mulheres do meu tempo porque, ainda que eu não seja todas, sou muitas!


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Mulheres
Tags deste artigo: feminismo conflito de classes

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