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Entrevista sobre empreendedorismo e pacificação

10 de Março de 2013, 21:00 , por Celso Alexandre Souza de Alvear - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Licenciado sob CC (by-nc-sa)

No início de março a jornalista Bruna Cerdeira do portal das UPPs me pediu uma entrevista sobre empreendedorismo e pacificação, devido a nosso projeto RioEcoSol. Quando liguei para saber se ela tinha recebido minha resposta, ela disse que não teve como usá-la, pois demorei muito (acho que demorei uns 3 dias pra responder) e que já tinha feito a matéria. Mas acho que minha resposta não agradou muito ela não... Pedi para ela me informar quando entrasse no ar, porém até hoje não tive resposta e não vi nada no site da upps. Assim, estou publicando minha resposta. Acho importante desmistificar um pouco essa visão acrítica que depois da pacificação aumentou o empreendedorismo nas favelas. Abaixo minhas respostas:

Repórter: Fui informada que o senhor foi o responsável por uma pesquisa sobre empreendedorismo em 4 comunidades pacificadas: Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Manguinhos e Santa Marta.

Na verdade, não fui responsável por uma pesquisa sobre empreendedorismo em 4 comunidades pacificadas, mas sim pelo livro (https://docs.google.com/file/d/0B24YqjKIOsIFY0F4UktQaUdubDQ/edit?usp=sharing) resultante da pesquisa sobre economia solidária e economia popular nas 4 favelas (conhecida como RioEcoSol). Diferentemente da maior parte das abordagem de empreendedorismo, que prezam pela competição e pela individualidade dos empreendimentos (sob uma ótica capitalista de quanto mais lucro melhor), a economia solidária preza por uma relação de trabalho sem chefes e empregados (numa cooperativa todos os trabalhadores são donos do empreendimento) e numa lógica de cooperação e solidariedade entre os empreendimentos e entre esses e seu território.

De qualquer jeito, espero que possa te ajudar com sua pesquisa. Seguem minhas respostas.

1) Como a pacificação está ajudando a transformar as comunidades em ambientes favoráveis ao empreendedorismo e a fomentar o consumo dos produtos dos negócios locais pelos moradores?

O programa de pacificação ajudou na vida dos moradores e dos empreendimentos dessas favelas com a possibilidade de um transito mais livre no território e com uma diminuição de uma estigmatização negativa dessas favelas e dos empreendimentos localizados nelas (principalmente aqueles que vendem para pessoas de fora de suas favelas). Porém, com a repressão da polícia a diversas atividades culturais na favela (como no caso dos bailes funks), muitos empreendimentos relatam uma grande diminuição de suas vendas, pois essas atividades culturais geravam uma dinâmica econômica endógena. Outro problema é que muitos empreendimentos relatam que, com o programa de pacificação, muitos empreendimentos familiares vêm sofrendo coerção para se formalizarem (alguns empreendimentos populares, familiares, ou coletivos não tem capacidade para se formalizarem no momento).

Por fim, com o livre transito nesses territórios, a tendência é que os grandes empresários entrem nesses territórios acabando com todo o comércio local (assim como os de Barra/Jacarepaguá tem feito na Cidade de Deus, de botafogo e da zona sul estão fazendo no Santa Marta etc.). Existem vários exemplos de rádios comunitárias que foram fechadas depois da pacificação e de tvs comunitárias que fecharam pois as teves a cabo não tiveram interessem em colocar na grade. No alemão, também temos o exemplo de um empreendedor que comercializava internet (de forma regular e legal) antes da pacificação, mas que agora, com a entrada de velox, tem dificuldades para competir com essas grandes empresas. A pergunta seria então quais estratégias podem evitar a morte desses empreendimentos locais? Consideramos que só com políticas públicas e investimento do Estado pode-se evitar isso (e não com programas como pretendem casar a demanda desses territórios com o que o mercado pode ofertar). Uma política que deveria ser mais estimulado são os bancos comunitários e as moedas sociais. Isso porque, com a moeda social, por exemplo, você favorece a que se compre no comércio local, por conta do desconto.

2) Qual faixa etária (jovens, adultos) está se tornando a principal característica do empreendedorismo nas comunidades?

Todos os dados de nossa pesquisa são estáticos, então não podemos afirmar que é algo de agora ou uma tendência. Os dados detalhados estão no arquivo em anexo.

3) Que tipo de empreendimento mais cresce nessas 4 comunidades pacificadas e qual o perfil do empreendedor? (se tiver um dado mais geral, que englobe outras comunidades pacificadas)

Todos os dados de nossa pesquisa são estáticos, então não podemos afirmar que é algo de agora ou uma tendência. Os dados detalhados estão no arquivo em anexo.

4)Que cursos e/ou oficinas podem contribuir para a formação empresarial dos moradores com vocação para abrir seus próprios negócios?

Além de formações técnicas que possibilitem melhorar seus produtos e gerirem melhor seus empreendimentos, consideramos fundamental formações que desenvolvam a consciência crítica desses empreendedores, sob uma ótica de economia solidária, que permitam refletir seu empreendimento em relação a seu território. Sobre formação empresarial, não fizemos nenhuma pesquisa.


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