O Fotógrafo
September 14, 2009 21:00 - Pas de commentaireDifícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrgada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei a minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bebâdo.
Fotografei esse carregados.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografeio o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim eu enxerguei Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.
Manoel de Barros em Ensaios Fotográficos.
Record, 2005.