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enero 12, 2009 22:00 , por Desconocido - | 1 person está siguiendo este artículo.

O milagre dos Orixás

septiembre 13, 2015 19:14, por Débora Nunes - 0no comments yet

Que Yansã, Oxum, Xangô, Ogum, Oxossi, Oxalá, Yemanjá e tantos outros orixás tenham chegado aos nossos dias tão prestigiados por gente de todas as cores já é um milagre. As histórias e crenças dos escravos, perseguidas e desprezadas pelos senhores, conseguiram sobreviver e se tornaram parte importante da história brasileira. Esse processo exigiu empenho e sacrifício de muitos, já que os “terreiros”, ou locais de prática de culto aos orixás, sofriam batidas da polícia e seus seguidores eram presos. Até hoje há atos de intolerância religiosa que desafiam os praticantes do candomblé.

A principal forma de resistência dos escravos foi o sincretismo, ou seja, a mistura simbólica de orixás com santos católicos, de forma a “disfarçar” os rituais nos terreiros, e mesmo em igrejas católicas. É assim que na Bahia Oxalá é associado ao Senhor do Bonfim, Yansã a Santa Bárbara, Ogum a São Jorge, etc. Esse inteligente estratagema dos negros escravizados mostra sua capacidade de resiliência, ou seja, de superar adversidades encontrando caminhos de existência e proliferação. Outra estratégia utilizada foi a de juntar, em uma só casa de santo, o culto a vários orixás, pois os escravos, reunidos em um mesmo local de trabalho, eram oriundos de diferentes partes da África nas quais havia o culto a apenas um orixá. Juntá-los e reverenciá-los em um mesmo espaço ritual foi um fenômeno brasileiro, que uniu forças contra a opressão.

Do mesmo modo que na mitologia chinesa, maia, grega, japonesa, hindu ou outra, as mitologias africanas têm explicações sobre o mundo físico e o mundo sutil, sobre as relações entre esses mundos, sobre o significado da vida e o papel de cada indivíduo na Terra. Os orixás, como os deuses em outras mitologias, são arquétipos, ou seja, representações simbólicas de forças da natureza, de qualidades, de comportamentos. Cada um deles têm suas cores, poemas, animais, folhas, dias da semana, pedras, números e histórias, algumas delas belamente contadas pelo antropólogo Ordep Serra (ver Oxum, Yansã, Ossain). Assim, Yansã está associada aos raios, ao vermelho, à quarta feira etc. Ogum está associado ao azul, à terça feira, ao ferro etc.

Conhecer seu orixá é uma forma de aprofundar o autoconhecimento, assim como conhecer seu signo zodiacal ou chinês, ou qualquer outro sistema de interpretação da personalidade. Só um/a sacerdote (Ialorixá (mulher) ou Babalorixá (homem)) pode identificar o orixá “de cabeça” de cada pessoa. Entretanto, uma interessante forma de investigação sobre si mesmo pode ser é a consulta a uma tabela, que sintetiza informações sobre os orixás. O conhecimento de suas principais características pode lhe dar pistas sobre a qual (is) orixá (s) você está relacionado/a, até que você possa ter a bela oportunidade de abrir uma das portas da história ancestral do Brasil, indo a um terreiro de candomblé.

 



Por que meditar? Como?

septiembre 7, 2015 10:55, por Débora Nunes - 1Un comentario

O ritmo alucinante da vida atual faz com que as pessoas distanciem-se de si mesmas, ocupadas demais com demandas externas, compromissos e cobranças. A mente em constante ebulição e o corpo em frequente estresse dificultam o aquietamento, que traz saúde e a paz. A meditação é um meio simples de busca do equilíbrio, com técnicas e tempos diversos de prática diária que podem se adaptar à vida de qualquer pessoa. Seus efeitos na saúde física e mental, comprovados pela ciência e pela experiência, são tão grandes que vale a pena tentar. Nesse post vou sugerir uma técnica básica que pode ser tentada por qualquer um, começando com dez minutos de prática diária, ou em dias alternados.

É preciso saber algo antes de começar a praticar: a decisão de meditar necessita perseverança. Reencontrar a serenidade e o alinhamento com aquilo que o Universo quer para você e para o qual lhe deu todos os talentos e possibilidades é uma decisão pra toda a vida. O grande fator que diferencia os que sentem os efeitos da meditação nas suas vidas é a constância, a visita frequente ao íntimo de si mesmo. Aos poucos, encontramos nosso próprio jeito de meditar e a prática torna-se tão prazerosa e essencial como os exercícios físicos para aqueles que têm anos de prática e não podem viver sem eles.

A primeira atitude é encontrar o tempo de aquietamento, em local silencioso e no qual você não seja interrompido. Crie esse tempo, se você vive com muitas pessoas, acordando mais cedo. Crie esse lugar na sua casa, com algum objeto que signifique pra você um desejo de paz. Uma simples vela acesa já ajuda a aquietar-se. Encontre seu símbolo e associe a ele a ideia do encontro consigo.

O segundo passo é encontrar uma postura confortável para sentar-se, em uma almofadinha ou tapete. A posição de lótus, a da figura desse post, é associada milenarmente à meditação pois dá estabilidade e conforto, mantendo a coluna ereta. Ela pode ser desconfortável a princípio, mas com perseverança ela se torna natural e ajuda você a alinhar também a sua alma com a calma.

O terceiro gesto, quando você está no lugar escolhido e na postura conveniente, é atentar para a respiração. Focar a mente em algo simples e vital como o ar que entra e sai pelas narinas pode parecer difícil e a mente foge para o que aconteceu ontem ou o que virá depois. Traga-a para o presente, para o que acontece aqui e agora e ela aos poucos se unirá ao seu corpo e agradecerá, ficando tranquila.

Um quarto momento é o de concentrar-se, sem deixar de manter uma respiração profunda, em sentir o ambiente à sua volta como sendo um lugar de sua predileção: um lugar na Natureza, um canto de sua infância. Observe, descrevendo-o mentalmente, o prazer que esse lugar lhe traz, e alterne a visualização, a sensação corporal, a escuta dos barulhos que lhe são peculiares. Ao “estar” nesse lugar com um ou vários de seus sentidos físicos e sua imaginação, sua mente aquietar-se-á e sua respiração se aprofundará.

Por fim, como um teste se você efetivamente se acalmou e encontrou-se consigo por um breve momento, tente sentir o movimento do seu coração dentro do peito. E, em seguida, tente até a ouvir os batimentos desse músculo que irriga seu corpo e desse centro vital de sua vida interior. Encontrar esse instante de conexão íntima é uma porta para outros desenvolvimentos do processo meditativo, mas isso fica pra outro post.

É simples assim, pra começar. Para algumas pessoas nem é tão simples, pois a mente vaga, o corpo incomoda, a respiração parece pouco interessante e o coração está escondido. Com tempo e perseverança, tudo se resolve e sua alma pedirá mais. A vida ganha mais sentido, a mente mais clareza, o corpo se acostuma com o alinhamento e a estabilidade, a respiração ganha profundidade. Sua existência vai, aos poucos, ganhando interioridade e, com isso, realizando alegremente aquilo para o qual você veio ao mundo.  A mente duvida, o coração sabe.



Novos modelos políticos: é preciso crer para ver

agosto 31, 2015 17:02, por Débora Nunes - 0no comments yet

Claro que há saídas para a crise política atual e para a crise da democracia representativa em geral. Quem estuda história sabe que a solução para um tempo de crise já está em gestação, só que poucos vêm. Os chineses até associam crise a oportunidade, pois a criatividade e a visão se aguçam quando os velhos modelos caem. Só acreditando que as soluções existem podemos buscá-las e perceber seu poder transformador. Como disse o mestre ao discípulo que perguntava como viver nesse inferno: “procure o que, no inferno, não é inferno, e faça-o crescer” (Ítalo Calvino, “As cidades invisíveis”).

Pesquisando experiências de economia solidária (com seu comércio justo, suas finanças solidárias, suas moedas sociais, sua produção cooperada), assim como experiências de alianças cidadãs de todos os gêneros, vivências de moradores de ecovilas e ecobairros, de cidades em transição, o exemplo do fórum social mundial, de softwares livres e grupos cooperativos de todo tipo, encontrei caminhos. Ivan Malcheff e eu escrevemos o livro “Os novos coletivos cidadãos” para dar luz a esses novos modelos políticos que são também novos modelos de vida em comum (tenha acesso ao livro aqui).

Como tudo na vida, essas empolgantes novidades, caracterizadas pela partilha do poder, pela autogestão, pela busca de coerência entre o que se diz e o que se faz, tem muitos problemas. Fizemos um esforço, no livro, para entender e apoiar essas sementes do futuro, para ajudá-las a crescer. Há em comum, entre os que vivem novas lógicas de ação política, de consumo, de produção, mas também de discussão e aprendizado, de produção artística, etc, uma alegria simples. Aquela alegria que se aproxima do conceito de Gandhi de felicidade; “quando o que penso, o que faço e o que digo estão em harmonia”. Reclamar do mundo não traz alívio à nossa angústia, reinventá-lo no nosso universo pessoal, sim. Estar em rede com um monte de gente que se reinventa é um ato político que definirá o futuro. Mais que isso, é um gesto de bem viver agora.



Como sair da crise política?

agosto 26, 2015 12:16, por Débora Nunes - 0no comments yet

 

Quem dera eu tivesse uma resposta. Tenho lido e conversado com muita gente que se interroga sobre essa questão fundamental e percebo que a crise da democracia representativa é universal. Contestações ao funcionamento dos governos e parlamentos eleitos acontecem hoje no mundo todo e a descrença na política é generalizada. Sim, essa descrença pode ser caminho para soluções autoritárias. Porém, o mesmo sentimento pode também ser caminho para o aprofundamento democrático. Modestamente, tentarei avançar nessa tarefa de pensar saídas, sabendo que essas dependem de um imenso esforço coletivo não só de análise, mas de observação de novas práticas que podem apontar caminhos.

Em primeiro lugar, acho que a democracia é o melhor caminho e que a famosa frase de Winston Churchill, de 1947: “a democracia é o pior sistema de governo, excetuando-se as demais”, continua válida. Em segundo lugar, vejo que o domínio das corporações e do capital financeiro sobre a engrenagem política democrática atual distorce o preciso conceito de Abraham Lincoln de democracia como um governo “do povo, pelo povo e para o povo”. O exemplo da crise grega é claro: o presidente Tsipras, que se elegeu pregando a soberania do país e ganhou um plebiscito popular para levar essa política adiante, teve que curvar-se ao poder do dinheiro da União Europeia para evitar “males maiores”.

A distorção da representação democrática nos parlamentos é outro fato visível para quem acompanha minimamente a política. Nossos “representantes” no Brasil são em absoluta maioria oriundos das classes médias e altas, enquanto o povo brasileiro pertence majoritariamente às classes baixas. O caso francês mostra a deterioração da qualidade representativa do parlamento: enquanto nos anos 1940, cerca de 20% dos deputados eram trabalhadores comuns, em 1958 eram 4% e em 2012 apenas 2%.  (Ver Daniel Gaxie, Questionner la répresentation politique. Université de Paris I, Centre Européen de Sociologie et Science, en Savoir/Agir. Nº 31, mars 2015, citado por Alejandro Teitelbaum).

Se os representantes parlamentares são de origem social mais favorecida que os representados, é natural que eles evitem mudanças no sistema que os favorece, a não ser em situações especiais de muita pressão popular. Esse foi o caso do Brasil nos primeiros anos da era Lula, quando mudanças na política econômica e nos gastos do governo permitiram a saída da miséria de milhões de famílias. Entretanto, com o tempo, a “acomodação” desses governos de transformação à estrutura perversa de concentração de poder e de riqueza do sistema capitalista tem se mostrado uma triste realidade. A desilusão dos espanhóis com o antigo primeiro ministro Zapatero, dos americanos com Obama, dos franceses com Hollande e dos brasileiros com o PT leva à descrença na democracia.

Acredito que as distorções democráticas só podem ser resolvidas com mais democracia, e, como disse em vários posts anteriores, o que chamo de movimento de cidadania planetária está engajado nesse caminho.  Mudanças na educação estão produzindo jovens e adultos cada vez mais informados, educados e conectados e isso possibilita que sejam ativos politicamente. Segundo a UNESCO (2015), o número de crianças e adolescentes fora da escola no mundo diminuiu quase pela metade desde 2000. Do mesmo modo, quase metade da população do planeta já está conectada à internet, em dados de 2015. Esses fatos são capazes de produzir uma revolução na denúncia a governos e parlamentares corruptos e em sua punição. A pressão da sociedade civil está produzindo mudanças na ação policial e na ação da justiça – e o Brasil é um exemplo – que faz com que políticos e empresários paguem por seus crimes contra o patrimônio público, fenômeno raro há 15 anos. 

Se estreiteza de uma organização política baseada no poder do dinheiro e na manipulação da mídia vem sendo denunciada de modo cada vez mais consistente, é preciso, como dizia Paulo Freire, passar ao anúncio, ou seja, a evidenciar outras formas de agir, outras esperanças, e a possibilidade de mu(n)danças. O livro de Bénédicte Manier, “Um milhão de revoluções tranquilas”, que está sendo traduzido pelo querido Professor Paul Singer, mostra novas organizações autogestionárias e solidárias, agindo positivamente no mundo com base em outra política, onde o poder é partilhado. No meu livro com Ivan Malcheff, “Os novos coletivos cidadãos”, refletimos exatamente sobre quem organiza essas experiências anunciadoras. Essas pequenas revoluções não têm espaço na grande mídia, é preciso procurá-las e, sobretudo, vivê-las, para acreditar no seu potencial transformador. Há saídas, sem dúvida, mas, permitindo-me repetir o sempre emblemático Jesus Cristo, “é preciso crer para ver”.



Meio Ambiente em Salvador: RESÍDUOS

agosto 26, 2015 10:51, por Débora Nunes - 0no comments yet

 

Segue a ultima parte do texto de Emerson Sales, com as Considerações finais e Bibliografia. Boa leitura e boas ações para melhorar o quadro!

 

Resíduos:

Conforme dados divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2012) cada brasileiro consumiu e descartou em 2008, em média, 21,9 kg de embalagens de papel ou papelão, 1,8 kg de embalagens de alumínio, 4,7 kg de embalagens de aço, 4,1 kg de embalagens de plástico, 5,5 kg de embalagens de vidro, e estes números são crescentes ano após ano. Com base neste ano (2008) só de embalagens houve uma geração de mais de 7 milhões de toneladas de resíduos sólidos, ou seja, mais de 19 mil toneladas por dia.

Quanto à coleta e recuperação destes materiais, as informações exatas são difíceis de se obter; uma amostragem em 131 municípios brasileiros indicou em 2008 uma recuperação de 3,4 Kg de papel, 2,0 kg de plástico, 0,8 kg de metais e 0,6 kg de vidro por habitante neste ano, o que representa apenas 18% do total de embalagens consumidas no mesmo ano. Uma estimativa da quantidade de material recuperado por programas de coleta seletiva em 994 municípios revelou um total de 579.200 toneladas em 2008, ou seja, um índice menor ainda de recuperação de embalagens, pois isso corresponde a apenas 8,3% do total gerado de embalagens.

Quanto à geração de resíduos totais, segundo o CEMPRE (2008)[1], a média de geração per capita no país gira em torno de 0,8 kg/hab./dia, sendo que nos grandes centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba, este índice ultrapassa facilmente a barreira de 1,5 kg/hab./dia. Cidades turísticas como Rio de Janeiro e Salvador, por exemplo, tem uma alta taxa de população flutuante, que gera resíduos e não é incluída no cálculo do índice de geração per capita.

Quanto à coleta destes resíduos totais, segundo o IPEA (2012) neste mesmo ano de 2008 foram coletados em média 183.481,5 toneladas de resíduos totais por dia no Brasil, e existe uma discrepância alarmante entre as zonas rurais e urbanas; para este mesmo ano (2008) a cobertura média de coleta de resíduos nas áreas urbanas foi de 98,5%, enquanto que a média nas áreas rurais foi de 32,7%, e estes números são diferentes nas diversas regiões do país, como sempre os melhores índices são das regiões sul/sudeste.

Quanto ao destino final do que foi coletado, do total admitido em 2008, apenas 0,8% recebeu tratamento como compostagem, 1,4% foi direcionado para triagem e reciclagem menos de 0,1% incineração; 58,3% foi destinado a aterros sanitários, 19,4% para aterros controlados, e 19,8% foi destinado à vazadouros a céu aberto, o que chamamos de "lixões", estratégia ainda adotada por 50% dos municípios analisados em 2008.

começar aqui Analisando o perfil dos resíduos, foi estimado que 51,4% do total corresponde à matéria orgânica, ou seja 94.309,5 t/dia em 2008, mas por não ser coletado em separado, acaba sendo encaminhado para destino final junto com os demais resíduos, contaminando-se mutuamente e dificultando o destino correto de todos eles. Esta ação gera para os municípios despesas que poderiam ser evitadas, caso houvesse separação na fonte e tratamento específico, como por exemplo a compostagem da parte orgânica, valorizando o resíduo. Apenas 1,6% desta quantidade (ou cerca de 0,8% do total de resíduos em 2008) teve destinação para compostagem, segundo o relatório.

Ainda segundo a mesma fonte, 31,9% do total de resíduos coletados em 2008, ou 58.287,4 t/dia, seria de material reciclável, mas isso não é a realidade. Apenas com certos tipos de materiais de embalagens é que temos altas taxas de recuperação.

Conforme dados do CEMPRE (2008), apenas 7% dos municípios brasileiros tem programas de coleta seletiva, mas como geralmente são os maiores, estes representam cerca de 14% da população. Destes dados de 2008, tem-se ainda que deste total de 405 municípios 2% se localizam no Norte do país, 4% no Centro Oeste, 11% no Nordeste, 35% no Sul e o restante, 48%, no Sudeste. Quanto à composição do material coletado, tem-se em média que 1% é alumínio, 3% embalagens longa vida, 3% diversos materiais, 9% metais diferentes do alumínio, 10% vidros, 13% rejeito, 22% de plásticos e 39% papel e papelão.

Ainda conforme dados do CEMPRE, a taxa de reciclagem global de materiais em alguns países é: Suécia - 40%; Estados Unidos - 25%; Espanha - 25%; França - 25%; Reino Unido - 15%; Brasil - 11%; Tailândia - 10%; Grécia - 10%; Portugal - 5%; Polônia - 4%; México - 5%; Argentina - 3%. Conforme a BBC, a Suíça seria o campeão mundial, com 52% de reciclagem, seguido da Áustria com 49,7%, Alemanha com 48%, Holanda com 46%, Noruega com 40%, Suécia com 34% e Estados Unidos com 31,5%, dados de 2012.

Para exemplificar, um trabalhador de escritório norte americano utiliza cerca de 500 copos descartáveis por ano. Todos os anos, a quantidade de copos descartáveis plásticos e de papel, garfos e colheres descartáveis que os norte americanos jogam fora é suficiente para circundar o equador 300 vezes. Outro dado: cerca de 3,18 milhões de toneladas de PVC são jogados fora nos EUA a cada ano; apenas 8,17 mil toneladas, ou seja, 0,26% do que é descartado, é o total reciclado[2]. Tudo isto fica depositado inadequadamente no meio ambiente, poluindo e causando transtornos, como por exemplo o entupimento do sistema de drenagem pluvial das cidades, e estima-se que este material pode durar até cinco séculos para ser absorvido pela natureza.

Mesmo os polímeros que se intitulam oxibiodegráveis e são usados em embalagens tem sua biodegradabilidade considerada como um assunto polêmico na comunidade científica internacional. Por exemplo, Guilherme José Macedo Fechine (2009), professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, realizou uma bateria de testes com um tipo de plástico oxibiodegradável vendido no mercado nacional e constatou que, apesar dele se fragmentar e virar pó, não é consumido por fungos, bactérias, protozoários e outros microorganismos – condição necessária para ser considerado biodegradável e desaparecer do solo ou da água. A luz solar pode quebrar estes materiais em partículas menores e menores, mas elas contaminam o solo e a água e é caro e difícil removê-las. Quando estas pequenas partículas de sacos plásticos entram em contato com os ecossistemas, Biotoxinas são então passadas para a cadeia alimentar, chegando até os seres humanos.

Quanto à cidade de Salvador, segundo dados do IPEA (2012), a quantidade coletada de resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos em 2008 foi de 2.541,9 t/dia, valor completamente discrepante do total de resíduos sólidos domiciliares e/ou públicos destinados em solo próprio, que foi de 6.523,0 t/dia (ou 2.380.895 toneladas por ano, cerca de 3,5% do total brasileiro), o que evidencia a transferência de resíduos entre municípios vizinhos.

Conforme observou Gardênia Oliveira David de Azevedo (2004), o resíduo total em Salvador aumentou bem mais que a população, no período analisado, de 1990 a 2002, numa taxa de até 6% ao ano, e um dos motivos apontados foi o incremento da utilização de embalagens, e mudanças na gestão municipal, com alteração na coleta melhoria da renda. O estudo realizado sobre o fluxo de resíduos sólidos urbanos (RSU) na cidade de Salvador identificou a possibilidade de redução da geração na fonte de 27,5%. Caso se fizesse o desvio de resíduos do aterro, com retorno ao processo produtivo como matéria-prima (ou seja, reuso), isso significaria um montante de um quarto do total de resíduos domiciliares coletados.

Quanto à coleta seletiva em Salvador, segundo Maria de Fátima Nunesmaia e colaboradores (2004) o que predominava no período estudado era a coleta seletiva informal, a qual normalmente não está inserida em nenhum programa oficial municipal nem em políticas sociais municipais. Os programas de coleta seletiva porta-a-porta e de entrega voluntária ainda são insignificantes em relação à coleta seletiva informal praticada pelos catadores de rua.

Maria de Fátima Jesus de Araújo e colaboradores (2008) analisaram a coleta seletiva na comunidade Canabrava em Salvador, onde existe a CAEC - Cooperativa de Catadores Agentes Ecológicos de Canabrava. A CAEC, assim como outras cooperativas, é apoiada pelo Governo Federal, que desenvolve ações de apoio aos catadores e, para isso, foi criada uma Comissão Internacional para cuidar exclusivamente desse público-alvo no programa Fome Zero. A ONG Pangea possui representantes nessa comissão junto ao Movimento Nacional de Catadores, e considera-se a “Secretaria Estadual do Movimento”. A Petrobras é a patrocinadora do Projeto, que conta também com o apoio da União Européia. Os autores concluíram que os catadores, através da cooperativa, obtêm benefícios tais como: bolsa escola, bolsa família, assistência médica, dentista, cursos, grupos de teatro, além da inserção no mercado de trabalho, renda, trabalho digno e seguro, adquirindo uma melhoria significativa da qualidade de vida. Eles afirmam que um dos grandes desafios para o chamado Desenvolvimento Sustentável é a ampliação das políticas públicas voltada para a inclusão social, e a distribuição da riqueza, pois sem elas há miséria e degradação ambiental.

Por outro lado, o aumento recente do poder aquisitivo de uma parcela considerável da população brasileira vem alterando o seu perfil de consumo, incluindo mais produtos industrializados, e este é um fator que contribui para o aumento da geração de resíduos sólidos em todo o país. Devem ser portanto estimuladas com igual veemência para todos os cidadãos práticas de uso racional dos recursos, e de consumo consciente.

 

Considerações finais:

 

Pelos dados e análises referenciadas acima, observa-se que Salvador encontra-se em uma situação bastante precária no que diz respeito a diferentes aspectos da temática meio ambiente e poluição. Os dados apresentados neste resumo são esparsos e nenhum deles foi obtido junto aos órgãos públicos que deveriam monitorá-los e desenvolver politicas públicas para seu controle e manejo, visando a qualidade ambiental da população soteropolitana. A tradição de ação pública na área ambiental é muito restrita em Salvador, com um panorama de pouca estrutura e raros profissionais capacitados para encarar este problema vital na cidade. Há um longo caminho a ser percorrido para que Salvador seja um cidade ambientalmente correta. Experiências internacionais bem sucedidas podem servir de exemplo, mas temos que aprofundar nossas questões específicas, locais e nacionais, enfrentando nossos problemas, e ressaltando nossas qualidades. Salvador é uma cidade abençoada, mas se continuar sofrendo os problemas gestão sinalizados, poderá atingir em curto prazo um colapso em termos de degradação ambiental, o que implicaria na perda irreversível da qualidade de vida de seus habitantes.

 

 Referências:

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TAKANO, T.; MAKAMURA, K.; WATANABE, M. "Urban residential environments and senior citizens' longevity in megacity areas: the importance of wakabel green spaces". Journal of Epidemiological Community Health, v. 56, p. 913-918, 2002.

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Vianna, N. A., Gonçalves, D., Brandão, F., Barros, R. P., Amado Filho, G. M., Meire, R. O. Torres, J. P. M., Malm, O., D’Oliveira Júnior, A., Andrade, L. R. "Assessment of heavy metals in the particulate matter of two Brazilian metropolitan areas by using Tillandsia usneoides as atmospheric biomonitor". Environmental Science and Pollution Research March 2011, Volume 18, Issue 3, p. 416-427

Zuccari, M. L., Quartaroli, C. F., Scanavaca Junior, L., Silva, E. M., Bacci, D. de La C. "Relação das áreas verdes com a qualidade de vida em Salvador (BA)" in: 150 Congresso Brasileiro de Arborização Urbana; 10 Congresso Ibero Americano de Arborização Urbana; 2011, Recife-PE. Anais. Sociedade Brasileira de Arborização Urbana, 2011.

 

 

[1] CEMPRE - Compromisso Empresarial para Reciclagem, dados de 2008

http://www.cempre.org.br

 

[2]http://www.cleanair.org/Waste/wasteFacts.html

 



Meio ambiente em Salvador: POLUIÇÃO DO AR

agosto 10, 2015 11:18, por Débora Nunes - 0no comments yet

 

Esse é o terceiro post em que divulgo importante  fonte de dados sobre Salvador, a partir de um texto do Prof. Emerson Sales que cobre grande lacuna sobre um tema vital para a cidade.

 

Qualidade do ar em Salvador

(Emerson Sales)

 O crescimento da cidade de Salvador, de modo acelerado sobretudo a partir do século XX, gerou uma série de problemas sociais e ambientais em seu espaço geográfico, limitado fisicamente pelo mar e pelos municípios vizinhos. Uma grande quantidade de pessoas vivendo em um ambiente estruturalmente não planejado, a alta densidade, somada à poluição de fábricas e veículos, tem como consequência, dentre outros fatores, a elevação dos índices de poluição atmosférica.

Os padrões de qualidade do ar definem legalmente o limite máximo para a concentração de um poluente na atmosfera, que garanta a proteção da saúde e do meio ambiente. Estes padrões são baseados em estudos científicos dos efeitos produzidos nos seres vivos por poluentes específicos, e são fixados em níveis que possam propiciar uma margem de segurança adequada. 

Os padrões nacionais foram estabelecidos pelo IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e aprovados pelo CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente, por meio da Resolução CONAMA 03/1990.

São estabelecidos dois tipos de padrões de qualidade do ar: os primários e os secundários. 

São padrões primários de qualidade do ar as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo. 

São padrões secundários de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e à flora, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concentração de poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo.

O objetivo do estabelecimento de padrões secundários é criar uma base para uma política de prevenção da degradação da qualidade do ar. Devem ser aplicados às áreas de preservação (por exemplo: parques nacionais, áreas de proteção ambiental, estâncias turísticas, etc.). Não se aplicam, pelo menos no curto prazo, em áreas de desenvolvimento, onde devem ser aplicados os padrões primários. Como prevê a própria Resolução CONAMA n.º 03/1990, a aplicação diferenciada de padrões primários e secundários requer que o território nacional seja dividido em classes I, II e III conforme o uso pretendido. A mesma resolução prevê ainda que enquanto não for estabelecida a classificação das áreas, os padrões aplicáveis serão os primários.

Os parâmetros regulamentados são os seguintes: partículas totais em suspensão, fumaça, partículas inaláveis, dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio e dióxido de nitrogênio. A mesma resolução estabelece ainda os critérios para episódios agudos de poluição do ar. A declaração dos estados de Atenção, Alerta e Emergência requer, além dos níveis de concentração atingidos, a previsão de condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes.

No estado da Bahia, estão sendo operadas duas redes de monitoramento da qualidade do ar: a rede de monitoramento do Polo Industrial de Camaçari e a rede de monitoramento da Região Metropolitana de Salvador. A rede de monitoramento do Polo é composta de 10 estações fixas do monitoramento do ar, distribuídas no entorno do mesmo, monitorando continuamente 54 poluentes atmosféricos em atendimento à Portaria CRA 5210/05. A rede é gerenciada pela CETREL, empresa responsável pela proteção ambiental do polo.

A rede de monitoramento da Região Metropolitana de Salvador é fruto do acordo de cooperação técnica assinada entre o Governo do Estado da Bahia, a CETREL, a Braskem e a Prefeitura de Salvador em 2010. A rede prevê a implantação de dez estações de monitoramento fixas e uma móvel. Em fase de implantação, a rede de monitoramento da região metropolitana de Salvador entrou em operação com a instalação da primeira estação localizada na paralela. Atualmente (em 2014) estão em operação, além de uma estação móvel, oito estações fixas localizadas na Paralela, Dique do Tororó, Campo Grande, Rio Vermelho, Pirajá, Detran, Itaigara e na Avenida Barros Reis. Os parâmetros monitorados visam estabelecer as emissões relacionadas aos grandes centros urbanos, associadas, sobretudo, às emissões automotivas.

Apesar de ser um grande avanço em relação à situação anterior, na qual sequer havia monitoramento, consideramos que a abrangência das substâncias monitoradas em Salvador (monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio, dióxido de Enxofre, Ozônio e material particulado inalável - MP10) não são suficientes para traduzir a real qualidade do ar, e subsidiar os gestores visando a adoção de medidas preventivas, ou alternativas, para minimizar os impactos na saúde dos soteropolitanos, e no meio ambiente em geral. Acreditamos que a rede pede evoluir para que seja atingida sua finalidade maior: proteger o cidadão.

Por exemplo, no Brasil usa-se muito o etanol como combustível; mesmo a gasolina comum já contém cerca de 25% deste álcool como aditivo, e nenhuma estação monitora os possíveis subprodutos da combustão do etanol, tais como aldeídos, 1,3-butadieno e diversos outros hidrocarbonetos que podem ser nocivos aos seres vivos. Altos níveis de formaldeído, composto também não monitorado, podem ser atribuídos à combustão incompleta do metano, principal constituinte do gás natural veicular, também muito usado em Salvador, principalmente por táxis.

Além disso, a queima do combustível diesel utilizado nos ônibus, caminhões e veículos utilitários emite para a atmosfera material particulado sólido fino, que o cidadão desinformado pode confundir com fumaça, constituído por carbono elementar, vários compostos de enxofre e de nitrogênio, metais pesados, hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA), dentre inúmeros outros componentes químicos com alto grau de toxicidade. Dependendo do seu tamanho, estas partículas podem se instalar em diferentes regiões do sistema respiratório humano ou de outros seres vivos.

As partículas inaláveis são as que possuem o diâmetro aerodinâmico médio (dp) abaixo de 10 mm (sigla: MP10), as quais, para efeito de comparação, são 6 a 8 vezes menores do que a espessura de um fio de cabelo, ou do tamanho aproximado de uma célula, e que justamente pela pequena dimensão podem penetrar no aparelho respiratório. As emissões diesel podem também conter partículas ainda mais finas, com diâmetros inferiores a 2,5 mm (MP2,5), ou seja, do tamanho das bactérias, e que podem ser acomodadas nos ramos mais profundos do trato respiratório (alvéolos). Além destas, podem ser emitidas partículas ultrafinas, ou nanométricas, com diâmetros menores que 0,1 mm (MP0,1) que são invisíveis ao olho humano.

Um estudo realizado por Nelzair Araújo Vianna e colaboradores (2011) mostrou que mais de 80% das partículas detectadas e analisadas em Salvador tinham tamanho inferior a 10 mm (MP10), e continham metais pesados com cádmio, cromo, chumbo, cobre e zinco, os quais intensificam os efeitos maléficos deste material particulado no corpo humano. Nenhuma estação de monitoramento da qualidade do ar em Salvador analisa parâmetros tais como as partículas MP2,5 ou metais pesados. Também não são monitorados em Salvador compostos como o benzopireno, considerado como marcador do total de hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPA) carcinogênicos, que estão associados à estas partículas inaláveis.

Diversos estudos toxicológicos em outras cidades, como por exemplo o de F. W. Lipfert (1984), ou de Jôse Mára de Brito (2009), associaram a exposição a estas partículas à problemas cardiovasculares, respiratórios, como asma crônica, incidência de mortes prematuras e aumento de internações hospitalares de crianças e idosos. Por este motivo, muitos centros urbanos em países desenvolvidos evitam o uso de diesel para transporte público, dando preferência aos veículos elétricos, em vários modais de transporte, mas mesmo assim as partículas inaláveis de todos os diâmetros  são monitoradas, em tempo real, ininterruptamente.

Estas partículas tem ao menos três origens:

 

  1. Emissões diretas para a atmosfera, devido à atividade industrial e veículos de transporte, principalmente;
  2. Reposição na atmosfera de partículas que estavam depositadas no solo, por ação dos ventos ou pela passagem dos veículos ao longo das ruas;
  3. Transformações químicas; por exemplo, em certas condições o dióxido de nitrogênio que já está no ar pode se transformar em partículas muito pequenas de nitrato, e o dióxido de enxofre em partículas muito pequenas de sulfatos;

 

Estas duas últimas fontes são as mais difíceis de quantificar, e são também as mais complicadas no que diz respeito à tomada de ações para reduzir o nível de partículas no ar.

A Organização Mundial de Saúde (OMS, ou WHO em inglês[1]) recomenda que a exposição máxima à MP10 seja a uma concentração de 50 mg/m3 média de 24 horas ou a 20 mg/m3 média anual; para as partículas menores, (MP2,5), as restrições são mais rigorosas, pois restringe a exposição humana a uma concentração de 25 mg/m3 média de 24 horas ou a 10 mg/m3 média anual. O Brasil tem seus atuais padrões de qualidade do ar estabelecidos pela Resolução CONAMA nº 03/1990, possuindo padrões apenas para MP10, infelizmente.

A grande maioria dos países desenvolvidos adota as recomendações da OMS, e monitora em permanência estes parâmetros nos grandes centros urbanos, disponibilizando as múltiplas informações aos cidadãos em tempo real. O sistema de monitoramento da qualidade de ar de Salvador, recém instalado, também disponibiliza seus dados coletados, mas acreditamos que não são suficientes para um bom diagnóstico, conforme os argumentos explicitados acima. Como dito, ele não monitora as partículas MP2,5 ou MP0,1 nem vários compostos potencialmente danosos que são específicos ao uso local de combustíveis. Em 98% do tempo, o índice de qualidade do ar da cidade de Salvador tem se mantido bom, conforme indicado no website da CETREL[2], mas acreditamos que isso não traduz a realidade.

 Como explicado no seção precedente (áreas verdes), Salvador tem uma densidade demográfica de 9.213 hab./km2, considerando dados de 2013, o que a coloca como a cidade brasileira com maior densidade demográfica, entre as maiores do mundo, e historicamente nunca foram tomadas medidas voltadas à mobilidade sustentável; o transporte é majoritariamente realizado por veículos pessoais, e transporte público (ônibus), todos usando combustíveis poluentes; então, como podemos concordar com os indicadores das nossas atuais estações de monitoramento do ar, informando que a qualidade do ar da cidade de Salvador tem se mantido boa em 98% do tempo, sobretudo em locais da cidade com menor dispersão atmosférica e alta concentração de veículos?

Alguns dados de outros países, revelados por estudos recentes, são alarmantes:  por exemplo, a poluição do ar pode custar até US$ 300 bilhões anuais em saúde à China, segundo um relatório realizado em conjunto pelo Banco Mundial e o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Conselho de Estado do gabinete chinês, apresentado pela Agência France Press em 25/03/2014[3]. "A medida que a China se prepara para a próxima onda de urbanização, resolver as restrições ambientais e de recursos se tornará cada vez mais urgente, porque a maior parte da poluição na China está concentrada em suas cidades", Níveis elevados de mortalidade e outros problemas de saúde decorrentes da poluição atmosférica já são notórios neste país. Estudos mostraram que  a poluição do ar causa até 500.000 mortes prematuras por ano na China. Este relatório apresentado em 25/03/2014 diz que as consequências no longo prazo para os Chineses podem incluir defeitos congênitos e funções cognitivas prejudicadas, porque as crianças e adolescentes são severamente afetadas pela má qualidade do ar.

Também segundo a Agência France Press, o governo francês decidiu restringir o tráfego de veículos na segunda-feira, 17/3/2014, em Paris e seus arredores, no momento em que a França enfrenta, há cinco dias, um dos maiores picos de poluição já vividos no país[4]. O rodízio de carros permite apenas que veículos com placas pares ou ímpares circulem na cidade em função dos dias. A medida foi testada apenas uma vez na capital francesa, em 1997. No sábado (15/03/2014), o número de partículas no ar ultrapassou o limite de segurança e acendeu novamente o alerta vermelho para a poluição. Este é o quinto dia consecutivo que a qualidade do ar atinge tais condições da região de Île-de-France - onde fica Paris - assim como em outros Departamentos do norte da França. Numa tentativa de conter o problema, as autoridades parisienses liberaram os transportes coletivos gratuitamente até a noite de domingo, para convencer os moradores a deixarem seus carros em casa. Medidas similares foram tomadas por diversas cidades na França, pois as partículas presentes no ar poluído podem provocar asma, alergias, doenças respiratórias cardiovasculares. As mais finas entre elas, com menos de 2,5 mícrons (partículas MP2,5) penetram nas ramificações mais profundas das vias respiratórias e do sangue, e algumas delas foram classificadas como "cancerígenas" pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Esta mesma organização (OMS) publicou também em 25/03/2014 o resultado de um estudo informando que cerca de 7 milhões de pessoas morreram em 2012 - uma em cada 8 do total de mortes globais - como resultado da exposição à poluição do ar[5]. As estimativas confirmam que a poluição do ar é hoje no mundo o maior risco individual ambiental para a saúde. Os novos dados revelam uma ligação mais forte entre exposição à poluição do ar e as doenças cardiovasculares, como acidente vascular cerebral e doença isquêmica do coração, assim como entre a poluição do ar e câncer.

Por tudo o que foi exposto é que achamos que a cidade de Salvador deve melhorar seu sistema de monitoramento da qualidade do ar, ampliando pontos de medição e sobretudo incluindo parâmetros tais como as partículas MP2,5 e os demais parâmetros citados no texto, que possam monitorar a real qualidade do ar, e assim permitir aos gestores que medidas corretas sejam adotadas tanto de caráter emergencial, para amenizar os impactos à saúde dos cidadãos em eventos ou locais críticos, ou de médio e longo prazo, que visem a melhoria da qualidade de vida de todos que aqui vivem.

 

[1] http://www.who.int/en/

[2] http://www.cetrel.com.br/

[3] Agência France Press; "Health costs of China's polluted air up to $300 bn a year"

http://www.afp.com/en/node/2217147

[4] Agência France Press; " Paris restricts driving as pollution hits danger level"

http://www.afp.com/en/node/2171049

[5] WHO - 7 million deaths annually linked to air pollution

http://www.who.int/phe/health_topics/outdoorair/databases/en/

 



Estudos sobre meio ambiente em Salvador: ÁREAS VERDES

agosto 4, 2015 15:22, por Débora Nunes - 0no comments yet

Continuando a publicação do texto do professor Emerson Sales, em que ele denuncia a falta de planejamento e as decisões tomadas para favorecer grupos e não a cidadania soteropolitana, veja agora uma abordagem geral sobre o verde urbano.

(em breve publicarei as referências bibliográficas completas do texto, para os/as interessados/as)

 

Áreas verdes:

Inúmeros trabalhos atestam a importância das áreas verdes em centros urbanos, sobretudo a vegetação arbórea, por exercerem muitas funções benéficas, tais como a função ecológica, a social através do convívio, lazer e educação, além do embelezamento das cidades. Os múltiplos efeitos benéficos para a saúde e bem estar humano, assim como para todos os demais seres vivos, muitas vezes não é evidente ou tangível, e talvez por isso não receba a devida atenção e prioridade dos gestores públicos, e mesmo do cidadão comum, apesar de todos terem a sensação de bem estar quando vivenciam o contato com a natureza.

Além disso, a cobertura vegetal também desempenha um papel fundamental na manutenção da geomorfologia, na medida que impede a desagregação das camadas superficiais do solo, reduzindo o risco de erosão e de deslizamentos e dificultando o transporte de materiais para o sistema de drenagem que possam resultar em assoreamento dos cursos d'água e comprometimento da qualidade dos mananciais hídricos. A remoção da vegetação, principalmente quando associada a cortes acentuados das camadas de solo e a aterros mal planejados, se constitui em elemento de desestabilização das estruturas naturais, com efeitos danosos, de grande alcance e de difícil reversão, sobre o ambiente (CADERNOS DA CIDADE, 2009). A triste história de desabamentos de encostas de Salvador, que já custou tantas vidas, é consequência direta destes fatores.

Mais uma vez, decisões tomadas movidas por circunstancias, interesses de pequenos grupos, ou mesmo ausência de decisões, levaram Salvador ao seu atual estágio de degradação ambiental; inúmeros bairros populosos praticamente não apresentam cobertura vegetal; restaram apenas áreas de conservação já institucionalizadas, a exemplo das Áreas de Proteção Ambiental (APA) da represa do Cobre, do Joanes/Ipitanga, do Abaeté, do Parque da Cidade (Joventino Silva), do Parque Zoobotânico de Ondina, do Parque de Pituaçu, e do Parque São Bartolomeu, quase todas constantemente ameaçadas por ocupações urbanas. Além destas, devem ser mencionadas as reservas florestais sob domínio da União correspondentes às áreas de segurança do Exército e da Marinha, respectivamente a mata do 19° Batalhão de Caçadores, próxima ao Cabula, e a da Base Naval, na Baía de Aratu, além de outras menores mais centrais, também áreas de segurança, como nos bairros da Barra e Ondina.

Olhando Salvador do alto, com o uso de fotos aéreas, ou de satélites, pode-se realizar estimativas da área total do município, e das suas áreas verdes. A primeira contradição aparece em relação à área total: estimamos esse valor em torno de 310 km2, o que está coerente com os dados historicamente utilizados pelos profissionais da cidade, enquanto que o IBGE, através da Resolução no 24/1997, atribuiu  ao Município de Salvador um território  de 709,50 km², mais do que o dobro da área até então reconhecida, de 313 km², conforme o próprio Censo de 1991. Uma imprecisão dessa magnitude só poderia ser explicada pela inclusão de parte da Baía de Todos os Santos no território municipal, o que pode ser confirmado pelo mapa atualmente apresentado no próprio website do IBGE[1].

Para o Censo de 2000, a área de Salvador voltou a ser revista pela instituição, passando a ser 325 km², ainda assim díspar, uma vez que equivale à área existente antes da emancipação do Município de Madre de Deus, em 1989. Conforme dados da Prefeitura de Salvador (Cadernos da Cidade, Vol.1, página 30), a área de 313 km² é a mais próxima da realidade, embora para efeito dos estudos realizados para o Plano Diretor (especialmente o cômputo de áreas relativo ao espaço municipal) tenham sido adotadas  as dimensões medidas na Base Cartográfica Digital (CONDER, 1992, referência interna da anterior), que resulta numa superfície de aproximadamente 309 km².

O território municipal é composto por dois espaços geograficamente distintos, o continente e as ilhas. A porção continental abrange 279 km², equivalentes a aproximadamente 90% do Município e corresponde à península onde está implantada a Cidade do Salvador. A porção insular compreende um pequeno arquipélago situado no interior da Baía de Todos os Santos, constituído pelas ilhas de Maré, dos Frades, do Bom Jesus dos Passos, de Santo Antônio e pelas ilhotas dos Santos e dos Coqueiros, que juntas perfazem 30 km², equivalentes aos 10% restantes  do território municipal.

Para o Censo Demográfico de 2010, a área do Município de Salvador adotada pelo IBGE foi de 693,276 km², ou seja, volta a ser considerada uma grande superfície marítima, o que significa considerar a superfície da cidade mais que o dobro do seu valor físico, real, utilizável pelos cidadãos; com base neste valor, e também na população medida pelo IBGE em 2010 (2.675.656 hab.), a densidade demográfica de Salvador foi calculada em 3.859,4 hab./km2, a oitava maior do Brasil.

Área territorial é um parâmetro físico, real, geográfico, não deveria ser determinada por Decreto ou Resolução. Salvador tem seus limites físicos bem claros, determinados pelo contorno da península. Se considerarmos a área real da cidade, continental, de aproximadamente 313 km², pois a população não vive no mar, flutuando ou submersa, e a estimativa da população da cidade feita pelo próprio IBGE em 01/07/2013 de 2.883.682 habitantes, encontramos uma densidade demográfica de 9.213 hab./km2, o que coloca Salvador como a cidade brasileira com MAIOR densidade demográfica do país, e uma das maiores do mundo, e admitir isso certamente influenciaria os gestores municipais, estaduais e da esfera federal a adotarem políticas públicas adequadas à gestão de uma cidade tão populosa, ou no mínimo alteraria a prioridade nas ações de planejamento, voltadas à saúde, habitação, mobilidade, abastecimento de água e energia, saneamento e todas as demais necessidades dos cidadãos, incluindo o direito à áreas verdes, que tem relação direta com a qualidade de vida.

Quanto à quantificação das áreas verdes em Salvador, também fazendo-se uma estimativa com base em fotos do alto, encontramos uma superfície total de cerca de 80 km², coerente com o valor reportado por Anderson Gomes de Oliveira e colaboradores (2013), de 86 km² em 2009. Isto significa aproximadamente 25% do território do município, e um Índice de áreas verdes (IAV) em torno de 28 m²/hab., o que seria razoável, quando comparado o valor bruto com o de outras cidades no Brasil e no mundo. Por exemplo, com base nos dados disponibilizados pelo Eng. Urbanista Vagner Landi[2], este valor está acima do de capitais europeias como Viena (19,8 m²/hab.), Zurique (10,3 m²/hab.), ou mesmo do de Nova York, nos Estados Unidos (23,1 m²/hab.); também é bem maior que o IAV de São Paulo (5,2 m²/hab.), mas bastante inferior ao de cidades bem arborizadas como as brasileiras Curitiba (64,5 m²/hab.), Vitória (91 m²/hab.), ou a campeã Goiânia (94 m²/hab.), que tem quase o mesmo índice de área verde por habitante que a campeã mundial, Edmonton, no Canadá (100 m²/hab.)

Na nossa opinião, o maior problema no tocante aos espaços verdes em Salvador não se resume ao valor de um índice, tal como o IAV, em metros quadrados por habitante, e sim à má distribuição, ou segregação destes espaços, essenciais para a qualidade de vida de todos. Em muitos bairros o índice de cobertura vegetal não alcança sequer 1m²/hab., enquanto outras regiões da cidade apresentam uma boa cobertura vegetal, como o parque São Bartolomeu, grande reserva de Mata Atlântica que permaneceu abandonada por muitos anos e agora passa por obras de requalificação sob responsabilidade do governo do Estado. Além das áreas de conservação institucionalizadas já citadas, existem várias outras áreas com alta qualidade ecológica, mas de uso não público, como a da família Mariani, em frente à Igreja Santo Antônio da Barra, ou a imensa reserva da ilha dos Frades, que integra o município de Salvador. Vê-se também uma área remanescente de cobertura vegetal no miolo da cidade, em torno do bairro de Cajazeiras, e no entorno da Avenida Paralela, porém ambas vem sendo continuamente agredidas por ocupações imobiliárias desde as alterações impostas na LOUS/PDDU em 2008 e 2011. A recente decretação de inconstitucionalidade (ADIN) destas alterações, por iniciativa da sociedade civil organizada, certamente contribuirá para uma gestão mais racional dos recursos naturais de Salvador.

Maria Lucia Zuccari e colaboradores estudaram a relação das áreas verdes com a qualidade de vida em Salvador.  Os autores se basearam em estudos anteriores, realizados em outras cidades, como o de Moreira e colaboradores (2007) onde índices de desenvolvimento humano (IDH) mais elevados foram encontrados em bairros de São Paulo mais arborizados; ou o de Takano e colaboradores (2002), que mostra correlação positiva entre a longevidade da população de Tóquio e o acesso às áreas verdes; ou ainda o de Lewis (1995) afirmando que a visitação de parques, jardins botânicos e áreas verdes em geral está relacionada ao bem-estar humano, como a redução de estresse, batimento cardíaco e  pressão arterial.

Sobre o estudo em Salvador, os autores concluíram que os benefícios das áreas verdes ligados ao bem-estar da população podem ser tão importantes quanto seus benefícios ecológicos, e justificam esforços públicos para sua implantação e manutenção, mas em Salvador a maior densidade de cobertura vegetal está associada a bairros residenciais das classes socialmente  mais  privilegiadas.  Bairros  das  classes  sociais  menos  favorecidas,  com ocupação já consolidada, normalmente apresentam alta densidade populacional e maiores percentuais de áreas construídas e impermeabilizadas.

Recentemente, Anderson Gomes de Oliveira e colaboradores (2013) apresentaram um estudo detalhado com dados do mapeamento de índices de cobertura vegetal dos bairros de Salvador, e confirmam o que foi dito acima, pois dos 163 bairros analisados, 108, ou seja, 66,26% possuem um Índice de áreas verdes (IAV) inferior ao recomendado pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU), de 15 m²/hab., e apenas 53 bairros (32,52%) estão acima deste índice. Destaca-se a ocorrência de 30 bairros, onde este índice de cobertura vegetal não alcança sequer 1m²/hab. Estes bairros estão localizados nas áreas de consolidação mais antiga da cidade, com alta densidade populacional, variando de 8.904 hab./Km2 em Mares até 48.283 hab./Km2 em Pero Vaz, e predominância de população de baixa renda. Os autores chamaram a atenção para a situação preocupante dos bairros de Caminho de Areia, Curuzu, Uruguai e Massaranduba, os quais tem alta densidade populacional, todos acima de 30.000 hab./km2, e apresentam 0% de cobertura vegetal.

Conforme Ângelo Serpa (2008), "os problemas ambientais urbanos são de ordem sobretudo ética, política e econômica... Desenvolvimento Sustentável para quem? Metros quadrados de áreas verdes para quem? A questão emblemática da distribuição espacial dos espaços públicos de natureza nas cidades, por exemplo, deveria ser o cerne de uma discussão acadêmica profunda, que pudesse fundamentar em outras bases a gestão de áreas assim nos territórios municipais e metropolitanos... A correlação entre riqueza e pobreza de certos bairros da cidade e o valor ecológico de certas áreas, classificadas como unidades de conservação, são fatores importantes para a compreensão dos processos de segregação sócio-espacial em Salvador... Parques que passaram por processos recentes de reabilitação urbana como os de Pituaçu ou o Parque da Cidade encontram-se imediatamente próximos aos bairros considerados “nobres”... Assim, fica evidente que projetos, programas e intervenções recentes foram realizados em função de estratégias de valorização do solo urbano, em bairros com maior concentração de população de melhor poder aquisitivo. Estas estratégias baseiam-se em um modelo ideal de cidade, onde a criação de espaços públicos, o "embelezamento urbano", entre outros, constituem estratégias de marketing urbano, de acordo com o paradigma de Barcelona. As opções de desenho urbano adotadas e a estética desses espaços reforçam seu caráter mercadológico... O problema é que esses programas não atendem, via de regra, as áreas periféricas da cidade, onde o abandono de parques e praças é notório.

            Em resumo, este é mais um tema que carece de um plano diretor urbanístico de longo prazo, multidimensional, estruturado para atender as necessidades de todos os cidadãos, reconhecendo os inúmeros benefícios que as áreas verdes trazem para a saúde e bem estar humano, assim como para todos os demais seres vivos que também habitam a cidade.

 

[1] http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=292740

[2] http://engvagnerlandi.com/2011/08/06/indice-de-areas-verdes-por-habitantes-nas-cidades

 



Estudos sobre Meio Ambiente em Salvador: ÁGUA

julio 26, 2015 15:44, por Débora Nunes

 

O professor Emerson Sales publicou recentemente um texto que cobre uma lacuna de abordagem global sobre o meio ambiente em Salvador. Ele faz uma cuidadosa revisão de literatura sobre os temas da água, das áreas verdes, da qualidade do ar e dos resíduos urbanos. Divulgo esse texto a seguir, em quatro pequenas partes, visando maior divulgação de dados sobre a temática ambiental soteropolitana, que possam basear ações cidadãs em sua defesa.

 

Abastecimento de água e contaminação de mananciais

Há cerca de 40 anos optou-se pela construção de uma grande barragem, denominada Pedra do Cavalo, na bacia hidrográfica do rio Paraguaçu, e uma longa adutora para fornecer água para a cidade de Salvador. Um dos argumentos para justificar a realização destas grandes obras foi a necessidade de deixar as reservas locais de água para prioritariamente atenderem à demanda das indústrias que estavam se instalando no maior complexo petroquímico da América Latina, o Polo Petroquímico de Camaçari[1].

Uma incoerência é logo evidente: trazer água de uma região semiárida, com cerca de 700 mm de precipitação por ano (INMET), para a capital, que está numa região úmida, com média de 2000 mm de precipitação por ano (PALMA, 2013). Acrescente-se a isto o fato da cidade de Salvador estar inserida numa bacia hidrográfica com plena capacidade de atendimento ao uso de água pelos cidadãos e dotada de imensas reservas subterrâneas deste recurso natural.

Analisando os dados pluviométricos com mais detalhes, vê-se que, no longo prazo, esta decisão talvez já tenha causado mudanças no clima do semiárido: o índice pluviométrico de Salvador manteve-se estável, numa séria histórica analisada por Joseval dos Santos Palma (2013), desde 1949 até 2008, apresentando uma precipitação média de 1964,6 mm/ano, com baixo grau de dispersão dos dados (7,4%).  O mesmo não ocorreu com Feira de Santana: analisando os dados históricos disponíveis na base BDMEP do INMET[2], encontramos para a década de 1960, ou seja, antes da barragem, uma média anual de 1036,2 mm/ano de precipitação; dados recentes publicados por Aline Franco Diniz e Emerson Galvani (2013) mostram um índice de precipitação médio anual de 777,0 mm entre 1994 e 2010 para o município de Feira de Santana. Outros fatores podem ter contribuído para esta redução de 25% nas chuvas, mas acreditamos que a retirada contínua de um grande volume de água para Salvador tem influenciado o ciclo hídrico da região, já restrito.

Outro dado importante, que atesta a contradição: o consumo total de água do Polo de Camaçari, hoje em sua maturidade (cerca de 1000 litros por segundo), é cerca de um décimo do consumo de Salvador. A isso some-se o desperdício e a ineficiência na distribuição, pois cerca de metade de toda a água captada e tratada é simplesmente perdida na rede antiga, mal planejada e mal mantida, colocando a cidade de Salvador como uma das piores do mundo em termos de gestão da água. Órgãos internacionais como a UNESCO ou a IWA (International Water Association) consideram aceitáveis perdas menores que 15%; algumas cidades de grande porte, tais como Singapura, exibem índices de perda de água tratada menores que 5%. Países como o Japão ou Alemanha exibem perdas médias de 5%. Ou seja, com uma gestão eficiente, Salvador, assim como a maioria das cidades brasileiras, poderiam consumir metade do que hoje consomem de água.

Quanto ao aspecto energético, também há uma grande irracionalidade no processo. Cada metro cúbico de água vinda do semiárido é bombeado através da adutora de 120 Km utilizando energia elétrica fornecida pela CHESF, e necessita de 0,58 kWh, ou seja, energia elétrica gerada por 4,08 metros cúbicos (m3) de água passando pelas turbinas na barragem em Paulo Afonso, que vão para o mar logo em seguida, sem outra utilização, conforme cálculos de Fernando de Almeida Dultra (2007). Ainda segundo este mesmo autor, cada metro cúbico de esgoto elevado em Salvador, consome em termos energéticos 1,28 m3 de água do Rio São Francisco em Paulo Afonso. Em síntese, cada metro cúbico de água lançado no mar em Salvador, e não reutilizado, consome em termos de energia elétrica 5,36 m3 de água do Rio S. Francisco, e mais 1m3 do Rio Paraguaçu, ou seja, o próprio volume que foi transportado pela adutora, que também vai para o mar, totalizando 6,36 m3 de água doce que deixam de ser usados para atender outras finalidades, inclusive a irrigação.

Isto tem outra implicação além do desequilíbrio no ciclo hídrico regional: aumento da demanda de energia elétrica, que poderia ser destinada a outros fins. Vale ressaltar a correlação estre estes dois aspectos, pois o desequilíbrio hídrico afeta o clima, e, consequentemente, o regime de chuvas que abastecem as represas hidrelétricas, as quais no Brasil respondem por cerca de 80% do total de energia elétrica consumida no país. Em diversos momentos enfrentamos crises de fornecimento de energia elétrica por baixa capacidade dos reservatórios, e a lógica adotada para o abastecimento de água de Salvador vem contribuindo, no longo prazo, para este problema.

Quanto à instalação do Polo Petroquímico de Camaçari sobre o aquífero São Sebastião, consideramos um outro equívoco dos gestores públicos, pois em poucos anos causou a contaminação da água subterrânea com centenas de produtos químicos com alto grau de toxicidade, com consequências nefastas para os trabalhadores do complexo e para os habitantes de todas as cidades vizinhas, incluindo Salvador.

Segundo o professor Olivar Antônio Lima de Lima, coordenador do Departamento de Geociências da UFBA, em depoimento à jornalista Letícia Belém[3], o aquífero tem água doce até a profundidade de 1.500 metros e estoca seis bilhões de metros cúbicos, com disponibilidade de 500 milhões de metros cúbicos por ano, que poderiam abastecer todas as vilas e cidades do Recôncavo baiano, além de complexos industriais instalados na área, e ainda a população de Salvador. A contaminação industrial espalhou-se em riachos e lagoas, e a água, utilizada em todos os processos industriais e no resfriamento de caldeiras e tubulações, acabou se misturando às substâncias químicas e produtos tóxicos solúveis, que foram despejados sem controle no solo e nas redes de drenagem pluvial e fluvial.

Entre os contaminantes estão metais e uma grande variedade de compostos químicos tóxicos[4] todos com elevados graus de prejuízo à saúde humana.  Destes, os metais são os mais perigosos, porque são mais densos que a água e tendem a contaminar o lençol mais profundo. Só na área da Caraíba Metais, foi identificado um volume de água contaminada estimado em 3,2 milhões de metros cúbicos. Se forem ingeridas, como se acredita que estão sendo tanto na região de Camaçari e Dias d'Ávila como indiretamente por habitantes de Salvador e da região metropolitana, estas substâncias se acumulam no organismo e, no longo prazo, podem causar altos índices de câncer de medula, fígado, pulmão e outros órgãos.

A preocupação dos estudiosos é com a real dimensão do que foi contaminado ao longo dos anos, em níveis verticais e horizontais, e até onde já chegou a contaminação, pois as águas subterrâneas fluem para a bacia do Rio Imbassaí, em Dias d'Ávila, onde estão as engarrafadoras de água mineral e as cervejarias, que extraem a água do aquífero profundo, e para o mar. As águas minerais de Dias d'Ávila são provenientes deste mesmo aquífero, das camadas mais profundas, que podem ser contaminadas pela proximidade do Polo (apenas sete quilômetros). Na década de 60, Dias d'Ávila era famosa pelas suas águas minerais, que atraíam turistas para a Estância Hidromineral de banhos medicinais.

Em 1995 uma medida paliativa foi adotada, com a implantação da Barreira Hidráulica do Polo (BHP). Constitui-se em um conjunto de 14 poços de extração e 19 poços de monitoramento das águas subterrâneas, alinhados perpendicularmente ao fluxo subterrâneo de modo a interceptar ao máximo possível as contaminações. Tomando-se como referência o fluxo das águas subterrâneas e superficiais, a BHP foi implantada à jusante do Polo, estrategicamente posicionada entre as nascentes dos rios Imbassaí e Dias D’Ávila. São, portanto, objetivos específicos da BHP: 1) conter a propagação das plumas contaminadas (camada superior, que concentra os contaminantes leves) para fora dos limites da área do Polo Industrial de Camaçari; 2) evitar a contaminação das nascentes do Rio Imbassaí, e minimizar a contaminação de mananciais subterrâneos (poços, cacimbas, etc.) utilizados pela população do entorno, sobretudo da cidade de Dias D´Ávila. Uma vez na superfície, a água extraída dos poços é encaminhada para o sistema de esgoto contaminado do Polo, e em seguida direcionada para o mar. O volume total extraído do sistema, em 2006, foi de aproximadamente um milhão de metros cúbicos, segundo Iara Brandão de Oliveira e colaboradores (2010). Estes autores afirmaram que, apesar da perda da capacidade específica e baixa produtividade de alguns poços desde sua entrada em operação em meados de 1995, a técnica vem sendo efetiva na redução da contaminação.

O eng. João Severiano Caldas da Silveira Júnior, apresentou na sua dissertação de mestrado no Teclim / UFBA em 2004 uma avaliação do sistema de água subterrânea do Polo Industrial de Camaçari, e concluiu que, mesmo após 30 anos de experiência na operação das indústrias, a tecnologia para a ocupação segura do solo, representada por controles de engenharia para minimização dos riscos das instalações e por procedimentos operacionais, em situações emergenciais ainda não é sistêmica de modo a assegurar, na maioria das empresas pesquisadas, a aplicação de padrões exigentes de prevenção e controle de perdas de contaminantes para o solo e consequentemente para o sistema aquífero. O autor recomendou a criação de um “Comitê Permanente de Gerenciamento dos Recursos Hídricos” da região na estrutura do COFIC, para coordenar e integrar as ações comuns no âmbito do Polo, dentro do programa de gerenciamento das águas subterrâneas, e promover debates sobre a gestão dos recursos hídricos da região, fomentando o intercâmbio técnico e institucional entre os principais usuários, órgãos reguladores e entidades científicas, contribuindo para a criação das condições estruturantes de modo que o planejamento e o uso dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos tenham como base as bacias hidrográficas abrangidas pela Formação São Sebastião.

A contaminação com produtos químicos perigosos foi também detectada através de análises químicas realizadas durante a execução de projetos de pesquisa em cooperação entre a UFBA e Empresas do Polo, na bacia de contenção de águas pluviais do complexo básico do Polo, e ainda em maior grau numa outra grande bacia vizinha, a do complexo metalúrgico do cobre, ou Caraíba Metais. Como resultado de dois destes projetos de pesquisa, foi proposto pela equipe de pesquisadores o reuso industrial destas águas contaminadas, inclusive da barreira hidráulica (BHP) (OLIVEIRA-ESQUERRE e colaboradores, 2006, 2009 e 2011). Em 2006 os pesquisadores mostraram no Io Congresso Técnico Braskem o trabalho "Bacia do Complexo Básico e Barreira Hidráulica: reuso de água para fins industriais". Em 2009 alguns destes mesmos pesquisadores publicaram no periódico Computer Aided Chemical Engineering um trabalho explicando a metodologia de gerenciamento para minimização do consumo de água e geração de efluentes num Complexo Petroquímico. Em 2011 outro grupo dentre os mesmos pesquisadores da UFBA e da Braskem publicou no periódico internacional Resources, Conservation and Recycling um trabalho falando do aproveitamento da água de chuva e bacias de retenção de água para minimização do uso da água em instalações industriais, mostrando dados históricos, apresentando a metodologia desenvolvida, e resultados concretos de redução no consumo de água e geração de efluentes na Braskem UNIB, como consequência da implantação de alguns projetos conceituais desenvolvidos pela equipe.

Como consequência de tudo isto, recentemente em 20/12/2013, foi inaugurado pela Cetrel, em parceria com a Braskem, um projeto de reutilização industrial da água contaminada, pluvial ou dos efluentes, chamado de projeto Água Viva. Todos estes estudos relacionados à gestão dos recursos hídricos na região do Polo, com reflexos para Salvador, tiveram sua origem no início do século 21, no Mestrado Profissional em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, associado à Rede de Tecnologias Limpas, Teclim, da Escola Politécnica da UFBA. As idéias surgiram a partir de questionamento dos mestrandos, experientes profissionais do Polo, e continuaram a desenvolver-se nos projetos cooperativos de pesquisa citados acima, tais como os financiados pela FINEP e Copene/Braskem, chamados de Copene-Água, Braskem-Água, e depois EcoBraskem, sendo aprimoradas e levadas ao nível executivo, financeiro e de engenharia pela Cetrel.

Segundo informações disponíveis no site da empresa Cetrel, o projeto Água Viva pretende recuperar uma vazão de 500 a 800 m3/h, equivalente em termos de água potável ao consumo de uma cidade de 150 mil habitantes. A iniciativa reduzirá a demanda da Braskem por recursos hídricos em, no mínimo, 4 bilhões de litros/ano, podendo alcançar em anos mais chuvosos o volume de 7 bilhões de litros/ano.

Além de permitir uma maior proteção dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos da região, o reuso representará uma considerável redução do volume de água extraído dos mananciais atualmente utilizados, assim como uma redução do volume de efluentes enviado para o emissário submarino. Vale ressaltar ainda que a água economizada na Região Metropolitana de Salvador (RMS) é água que deixa de ser retirada do semiárido, da bacia do rio Paraguaçu.

Paulo Roberto Penalva dos Santos e Iara Brandão de Oliveira (2013) avaliaram a vulnerabilidade do aquífero Marizal, na região de influência do Polo Industrial de Camaçari-Bahia, localizado entre as bacias hidrográficas dos rios Joanes e Jacuípe, que apresentam conexão hidráulica com os aquíferos de Salvador. Na região, a utilização da água subterrânea para abastecimento humano e industrial vem crescendo de forma desordenada, principalmente nas áreas urbanas, podendo provocar prejuízos de caráter irreversível para os sistemas aquíferos locais. Com base nas características envolvidas no método: geológicas, hidrogeológicas, topográficas, solo, clima e recarga, foi possível identificar as zonas vulneráveis do aquífero, variando de alta a extremamente alta em 19,8% (47,5 km2) da área, na porção norte da região de influência do Polo Petroquímico de Camaçari que coincide com a área de descarga do aquífero freático e a zona urbana de Nova Dias D’Ávila.

Sérgio Augusto de Morais Nascimento (2008) fez um diagnóstico hidrogeológico, hidroquímico e da qualidade da água do aquífero freático do Alto Cristalino de Salvador. Do ponto de vista quantitativo, este sistema aquífero constitui um reservatório pequeno, com uma reserva renovável capaz de abastecer cerca de 20 a 25% da população de Salvador durante o ano, mas se apresenta vulnerável à contaminação ao longo da sua planície litorânea por apresentar, principalmente, o nível hidrostático muito raso. Foi observado um maior risco de contaminação devido à utilização pela população de detergentes, saponáceos, inseticidas e pesticidas, além da participação dos esgotos domésticos, nas áreas do planalto costeiro rebaixado à montante das principais bacias hidrográficas que cortam o município de Salvador, particularmente  das  bacias  hidrográficas  do Camarujipe e do Jaguaripe, sobretudo em áreas de alta densidade demográfica e que apresentam serviços precários de saneamento básico. O autor identificou uma tendência de progressiva degradação ambiental de algumas áreas, como por exemplo da bacia de Pituaçu, onde bairros como Tancredo Neves, Pau da Lima e Sussuarana tem aumentado sua densidade demográfica, aumentando os impactos urbanos sobre os recursos hídricos superficiais.

Aucimaia de Oliveira Tourinho e Magda Beretta (2010) estudaram a qualidade da água das fontes naturais da cidade de Salvador, abrangendo parâmetros físico-químicos, bacteriológicos, compostos orgânicos voláteis e metais pesados, além da identificação dos usos atuais. As campanhas de coleta de amostras foram realizadas nos meses de julho de 2005 e abril de 2007. Do total de 52 fontes catalogadas, foi possível realizar coleta de água em 22 fontes, as quais foram georeferenciadas, além da caracterização do conjunto arquitetônico das mesmas. Foram realizadas entrevistas junto à comunidade para identificação dos usos da água de cada fonte. Dentre os 40 parâmetros analisados, preocupam os elevados teores de nitrato e os coliformes termotolerantes, ambos provenientes da introdução de efluentes de esgotos sanitários no manancial, que foram quantificados em várias fontes, e estavam em concentração acima da permitida para fins de potabilidade em 54,5% e 90,9% respectivamente. Como o nitrato está associado a efeitos adversos à saúde, é preciso um alerta em relação aos possíveis problemas aos quais os usuários se expõem. Quanto às estruturas arquitetônicas construídas para proteção destas fontes públicas, embora tenham elevado valor histórico, a maioria está sofrendo um processo de abandono e degradação física.

Adriana Pena Godoy (2013) realizou um estudo sobre o programa Vigiágua da Vigilância em Saúde Ambiental da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador e a Potabilidade das Águas de Poços em Salvador. A autora afirma que as águas de poços de Salvador, antes potáveis, estão na sua maioria, impróprias para o consumo, principalmente devido à contaminação microbiológica, mas vários poços apresentaram também contaminação por metais tóxicos e compostos aromáticos carcinogênicos, atribuída às atividades de postos de combustíveis, oficinas e garagens nas vizinhanças dos poços. O programa Vigiágua monitorou a qualidade das águas de poços de 2007 a  2012 através de parâmetros  físico-químicos e microbiológicos, mas atualmente apenas a água da rede de abastecimento é monitorada por esses mesmos parâmetros. As medidas independentes do trabalho da autora em quatro poços compreenderam as concentrações de alguns metais (Cr, Mn, Fe, Ni, Cu, Zn e Pb) e um semimetal, arsênio, além dos parâmetros físico-químicos e microbiológicos, e nenhum poço analisado se mostrou em conformidade com os padrões de qualidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde (Portaria MS nº. 2.914/11).

Dentre as novas classes de poluentes orgânicos, ganham destaque os fármacos, que são concebidos para terem um modo específico de ação de serem persistentes e manterem suas propriedades para os fins terapêuticos originais. A administração por via oral, um dos métodos mais utilizados, normalmente é indicada em doses maiores para compensar a perda do medicamento no trajeto pelo trato gastrointestinal e posterior metabolização no fígado antes de atingir a circulação sanguínea. Dessa forma, uma grande parte desses medicamentos são eliminados na forma original e lançados nos corpos d´água, pelo esgotamento sanitário, em centros urbanos. Magda Beretta e colaboradores (2012) realizaram um estudo inédito para identificação de produtos farmacêuticos e de cuidado pessoal (sigla PPCPs) em amostras de sedimentos superficiais de dezessete estações localizadas na Baía de Todos os Santos (BTS) e ao longo do litoral norte de Salvador. Muitos compostos foram identificados e quantificados usando as técnicas de cromatografia líquida e gasosa acopladas a espectrômetros de massas. Os autores concluíram que a textura do sedimento é um fator importante na fixação e depósito de PPCPs, assim como na inibição da sua biodegradação; a presença de sedimentos lodosos em grande parte da área costeira e do fundo da BTS é responsável pela fixação desses compostos.

 

 

[1] Este polo industrial, por sua vez, teve uma injustificável implantação justamente sobre um imenso aquífero, o São Sebastião, o mais importante reservatório de água doce, potável, de excelente qualidade mineral do Estado da Bahia, e o segundo maior lençol subterrâneo do País, situado na região de Camaçari e Dias d'Ávila, a cerca de 40 km de Salvador.

[2] INMET - Instituto Nacional de Meteorologia (http://www.inmet.gov.br/portal/index.php?r=home/page&page=rede_estacoes_auto_graf)

[3] Jornal "A Tarde", em 22/03/2005

[4] Hidrocarbonetos clorados, compostos aromáticos da indústria petroquímica, como benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos; organoclorados, como cloretos de etileno, de metileno, diclorobenzeno, dicloroetano, nitroclorobenzeno, tetracloreto de carbono; fluoretos, cianetos, nitratos, ácido sulfúrico, óleos, graxas e metais pesados, como arsênio, cádmio, cobalto, chumbo, cobre, cromo, manganês, mercúrio, zinco e sódio.

 



Homens e mulheres, diálogos em humanidade, COP 21

julio 18, 2015 5:49, por Débora Nunes - 0no comments yet

Para um número cada vez maior de pessoas existe a percepção de que a paz no mundo, a justiça social e a solução dos problemas ambientais podem se tornar realidade pela construção do equilíbrio entre as forças Yang, da ação, e as forças Yin, da manutenção. Essas forças primordiais estão por toda a parte e são associadas ao princípio masculino e ao céu, o Yang, e ao princípio feminino e a Terra, o Yin. Acontece que na história humana, muito cedo, o Yang dominou o Yin, rompendo o equilíbrio da Natureza e construindo instituições, culturas e modos de vida nos quais conquistar, competir e mandar são mais presentes do que cuidar, cooperar e dividir tarefas igualmente.  Reequilibrar o masculino e o feminino é um desafio político, econômico e ambiental.   

A Rede Internacional Diálogos em humanidade, que articula movimentos cidadãos em vários países, percebeu, em seu recente encontro em Lyon, nesse mês de julho de 2015 (foto acima), que precisa avançar para uma estrutura que continue a reconhecer as tarefas ativas ditas "masculinas" (dos que estão à frente dos eventos e ações, por exemplo), mas também aquelas ditas "femininas" (que dão suporte e acolhimento para que os processos ativos tenham continuidade). Do mesmo modo, estruturas organizacionais que mantenham cooperação, fluidez e horizontalidade (Yin), como a dos Diálogos no mundo e a do Brechó Eco Solidário em Salvador, precisam ser capazes de vigorosa ação (Yang) coletiva em âmbito internacional. A intensidade das crises sistêmicas em que se encontra a humanidade se aprofunda e somos chamados/as a agir com urgência e sabedoria.

A Conferência do Clima da ONU, a COP 21, que acontecerá em dezembro de 2015 em Paris, será certamente um momento de mobilização da sociedade civil mundial. Muitas redes internacionais estão imaginando ações positivas, que mostrem o comprometimento cidadão com os desafios humanos e da Terra e que expressem nossa unidade na diversidade. Pode ser, por exemplo, o plantio de árvores em um dia preciso em vários cantos do planeta, para mostrar que enquanto os governos vacilam nos seus delírios capitalistas de crescimento econômico ilimitado, os cidadãos e cidadãs assumem responsabilidade duradoura de cuidar da Natureza, de manter a vida. Convido a todos e todas a conhecer esses movimentos cívicos que, de algum modo buscam equilibrar o masculino e o feminino em nós, como a rede Diálogos em humanidade, a rede Cidades em Transição, a rede Global de Ecovilas e muitas outras.



Quer um mundo sustentável e justo? Venha ser voluntário/a da 10ª. Edição do Brechó Ecosolidário/ Salvador - Ba

junio 29, 2015 11:56, por Débora Nunes - 0no comments yet

       

Os problemas do mundo são tão grandes que a gente pode pensar que pequenas ações engajadas não abalam seu curso. Mas a alegria de fazer algo, partilhada por muitos, é grande impulsionadora de mudanças. Como disse a antropóloga americana Margareth Mead: “Nunca duvide que um pequeno grupo de pessoas conscientes e engajadas possa mudar o mundo. De fato, sempre foi assim que o mundo mudou”. O Brechó Eco Solidário é parte de uma onda de pequenas revoluções tranquilas promovidas por pessoas engajadas em “práticas do futuro emergente”. No evento, um mercado de trocas de bens usados, que estimula a solidariedade e o consumo consciente, funciona usando a moeda social “grão”. Essa pequena mostra de um mundo com outras bases é organizada inteiramente através do trabalho voluntário, e você pode ser parte disso.

Todo o evento, desde a administração da circulação do “grão”, as atividades de educação ambiental, de auto-cuidado, de economia solidária, de cultura e arte reciclada, os debates públicos sobre temas atuais e muitas outras atividades, são realizadas de forma cooperativa e auto-gestionária. As inscrições para o curso que forma voluntários/as estão abertas (ver formulário aqui) e vão até dia 17 de julho. Já no dia 18/07 começam os encontros para que os voluntários entendam melhor a riqueza do processo em que estão se envolvendo e sejam treinados para realizar o evento. Certificados com validade em todas as universidades serão disponibilizados ao final. Todo o processo é teórico-prático e tem deixado boas lembranças, segundo quem passou pela experiência: fala-se do intenso aprendizado, das novas amizades e da alegria de ser agente de mudança, para si e para o mundo.

O Brechó Eco Solidário é parte da rede internacional “Dialogues en humanité”, que nasceu na França, mas que hoje está espalhada por quatro continentes. Os eventos de Bangalore/India, Riad/Marrocos, Porto Novo/Benin, Berlin/Alemanha, entre muitos outros, também mostram práticas alternativas, promovem o Diálogo e baseiam em um compromisso de integração entre o que se pensa, o que se faz e o que se diz. Os eventos da rede Dialogues possibilitam ao público a discussão e a vivência de inovações na sociedade para fazer face aos desafios econômicos, sociais, ambientais e espirituais da humanidade.

Hoje existem milhões de iniciativas de pessoas e redes que não esperam acontecer e nem se contentam em criticar a economia, a política, a sociedade, pois sentem-se responsáveis por promover mudanças. Gandhi, com sua frase cada vez mais citada e conhecida “Nós precisamos ser a mudança que queremos ver”, é um guia. Nosso Vandré, símbolo da luta contra a ditadura, vencida pelo povo brasileiro, é outro, e diz “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Ajude o Brechó diretamente, se você está em Salvador. Se não, participe da campanha de coleta de fundos pela internet que lançaremos em breve. Um mais um é sempre mais que dois.