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Fórum Brasileiro de Economia Solidária

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Retrospectiva 2015: A luta das mulheres (Revista Fórum)

December 19, 2015 10:34 , von Fórum Brasileiro de Economia Solidária (Artigos e reflexões) - 0no comments yet | Es folgt noch niemand diesem Artikel.
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"As mobilizações em torno da luta pelos direitos das mulheres vêm se intensificando tanto nas redes, quanto nas ruas. Entre campanhas como a do #PrimeiroAssédio e contra a aprovação do PL 5069/13, uma série de eventos contribuiu para que o grito feminino de "basta" fosse ouvido com mais força. Como de costume, a reação machista não demorou a vir."

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"Esses e outros assuntos de relevância nacional e internacional foram acompanhados pela Fórum ao longo do ano e, nessa edição especial de retrospectiva, pode-se relembrar as reportagens já publicadas sobre os temas. A análise a respeito do que passou funciona principalmente - como toda boa resolução de Ano Novo - para uma reflexão aprofundada sobre o tipo de futuro que queremos e o que é possível fazer para transformá-lo.

Boa leitura."

A luta das mulheres mais forte do que nunca

São Paulo acordou no último final de semana ainda na ressaca do ato organizado por coletivos feministas contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Na sexta-feira (30), http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/mulherescontracunha-o-ato-em-imagens/">cerca de 15 mil mulheres marcharam por mais de três horas da Avenida Paulista à Praça da Sé, no centro, contra a retirada de direitos conquistados a duras penas. Dois dias se passaram, mas o grito feminino e feminista não arrefeceu: já na segunda-feira (2), a campanha #AgoraÉQueSãoElas bombou nas redes e pipocaram textos e depoimentos de mulheres de diferentes áreas do saber em blogues, portais, jornais, revistas e canais do Youtube, entre outros meios e veículos de comunicação.

Nas palavras da professora e doutora em Relações Internacionais Manoela Miklos, sua idealizadora, a ação consiste em "uma semana de mulheres ocupando os espaços masculinos de fala. Homens convidam mulheres para escrever no seu lugar e se colocam nesse lugar do ouvinte. Dando voz e vez a uma mulher. Reconhecendo a urgência da luta feminista por igualdade de gênero e o protagonismo feminino nesta luta".

Desde o início do projeto, já participaram nomes como a editora da Companhia das Letras, http://m.folha.uol.com.br/colunas/alexandrevidalporto/2015/11/1701399-mulheres-tem-pouca-voz-na-literatura-e-na-grande-imprensa.shtml?mobile">Sofia Mariutti, na coluna de Alexandre Vidal Porto; as jornalistas e escritoras http://negrobelchior.cartacapital.com.br/elas-sao-muitas-nao-so-em-numero-%e2%80%8eagoraequesaoelas/">Bianca Santana e http://www.revistaforum.com.br/wp-admin/(http://negrobelchior.cartacapital.com.br/por-uma-consciencia-negra-e-feminista/">Jarid Arraes, no Blog do Negro Belchior; http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/11/02/a-internet-odeia-as-mulheres-e-ninguem-ve-problema-nisso/">Juliana de Farias e Luíse Bello, do coletivo feminista Think Olga, e a filósofa http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/11/04/o-corpo-da-mulher-negra-como-pedaco-de-carne-barata/">Djamila Ribeiro, no Blog do Sakamoto; a psicanalista http://www1.folha.uol.com.br/colunas/contardocalligaris/2015/11/1702176-abortemos-o-projeto-de-cunha.shtml">Maria Rita Kehl, na coluna de Contardo Calligaris; entre outras.

A mobilização em torno do #AgoraÉQueSãoElas é parte de um processo que se iniciou há pouco mais de duas semanas, com a estreia do programa MasterChef Júnior na noite do dia 20 de outubro. Durante a transmissão do primeiro episódio, como de costume, o Twitter foi inundado por mensagens relativas à atração da TV Bandeirantes. Dentre a avalanche de tuítes e memes, alguns não puderam ser ignorados: seu alvo era uma das participantes, de apenas doze anos. Com teor sexual, faziam menção à aparência física da menina e a colocavam em situações que uma criança como ela sequer compreende.

A jornalista Carol Patrocinio, diante da situação, escreveu um http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/a-polemica-do-masterchef-junior-e-a-afirmacao-da-cultura-do-estupro/">texto sobre a íntima relação entre o assédio à "chef júnior" e a cultura do estupro, ao mesmo tempo tão comum e negligenciada em nossa sociedade. A revolta diante dos comentários motivou, logo em seguida, a campanha http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/em-campanha-no-twitter-mulheres-relatam-primeiros-casos-de-assedio-que-sofreram/)">#PrimeiroAssédio, criada pelo Think Olga, que incentivou as mulheres a compartilharem nas redes os primeiros casos de assédio de que foram vítimas. Em cinco dias de mobilização, a hashtag foi replicada 82 mil vezes, entre tuítes e retuítes.

Os fortes relatos publicizados por aquelas que decidiram quebrar o silêncio impressionaram os internautas e provocaram acalorados debates. Ao avaliar os dados, mais um choque: o Think Olga descobriu que, num grupo de 3.111 tuítes analisados, a idade média em que o primeiro assédio ocorreu era de 9,7 anos. Na nuvem construída a partir das mesmas postagens, palavras como "casa", "escola", "pai" e "vizinho" apareceram em grandes proporções, indicando que foram frequentemente citadas (leia mais ).

Protesto contra Eduardo Cunha e o PL 5069/13 no Rio de Janeiro (Foto: Mídia NINJA)

Protesto contra Eduardo Cunha e o PL 5069/13 no Rio de Janeiro (Foto: Mídia NINJA)

Com tudo isso, coincidiu a aprovação, na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, do http://www2.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=565882">projeto de lei 5069/13, de autoria de vários deputados; entre eles, Eduardo Cunha. O PL, além de tornar crime o anúncio de meios ou métodos abortivos e determinar punição a quem induz, instiga ou auxilia num aborto, dificulta o acesso de mulheres vítimas de violência sexual aos procedimentos de interrupção da gravidez fornecidos pelo Estado. Se agora a palavra da mulher é soberana, após um estupro, caso aprovada a matéria, ela terá de registrar boletim de ocorrência e se submeter a exame de corpo de delito para poder exercer o direito ao aborto, garantido por lei desde 1940 (leia mais ).

Outro evento importante sucedeu esses episódios: o Exame Nacional do Ensino Médio. No sábado (25), primeiro dia de provas, uma http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/com-simone-de-beauvoir-enem-teve-questao-sobre-feminismo/">questão sobre a filósofa francesa Simone de Beauvoir causou alvoroço. No domingo (26), os concorrentes conheceram a proposta de redação, que caiu como uma luva após uma semana marcada por denúncias de assédio e abuso sexual: "A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira". Fervilharam nas redes comentários contrários ao Enem - figuras reacionárias como http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/bolsonaro-feliciano-e-constantino-criticam-questao-sobre-beauvoir-no-enem/">Jair Bolsonaro (PP-RJ) e Marco Feliciano (PSC-SP) comandaram o coro. Houve até vereadores subindo à tribuna da Câmara em Campinas, no interior de São Paulo, para aprovar uma http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/nao-e-sensacionalista-vereadores-de-campinas-sp-aprovam-mocao-de-repudio-a-simone-de-beauvoir/">moção de repúdio contra Beauvoir. Teve também promotor de Justiça chamando a pensadora de http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/promotor-chama-simone-de-beauvoir-de-baranga-francesa/">"baranga francesa".

Na semana seguinte, a resposta das mulheres brasileiras à reação conservadora veio em forma de protesto. Começou pelo Rio de Janeiro na quarta-feira (28), passando por São Paulo na sexta (30) e Porto Alegre, na última terça (3). Novos atos estão sendo marcados e a expectativa é de que sejam ainda maiores.

Embora o movimento feminista, em suas diversas correntes, venha há algum tempo ocupando as redes - e se fortalecendo por isso -, é inegável que as mobilizações das últimas semanas atingiram magnitude inédita e conseguiram se transportar para as ruas com força semelhante à que mostraram no Twitter e no Facebook. Em http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/11/04/vao-morrer-mais-mulheres-negras-e-pobres-e-a-culpa-sera-do-congresso/">texto publicado no Blog do Sakamoto para a campanha #AgoraÉQueSãoElas, a jornalista e escritora Laura Capriglione considera que a luta pelo direito das mulheres vem ganhando mais espaço e projeção por conta de um "novo tipo de feminismo".

"Trata-se de um feminismo que tem como ponto de partida o compartilhamento generalizado de experiências individuais dolorosas. Milhares de testemunhos agora públicos sobre o #PrimeiroAssédio permitiram a cada menina/jovem/mulher entender que pertence a uma parte da humanidade tratada como presa de outra parte, dos caçadores. E, de repente, houve uma coagulação de solidões em um 'nós' comum - uma menina juntando-se a outra e mais a outra", argumenta. "Essas mulheres não tolerariam que mais um boçal como Eduardo Cunha viesse tocar em seus corpos, como tantas outras vezes ocorreu", destaca.

Para Vanessa Rodrigues, uma das fundadoras e diretora executiva da ONG feminista Casa de Lua, as recentes manifestações significam um sinal de "basta" vindo das mulheres. "Acho que tudo isso subiu a fervura de nossa profunda exaustão. Quando a gente pensa que estão querendo mexer em direitos que já tínhamos garantidos, piorando mais ainda o atendimento a mulheres estupradas, já tão falho, nos damos conta do quão pouco valemos nesse jogo político", explica. "Já sabíamos que não avançaríamos no debate da legalização do aborto. Mas o risco de retroceder é muito assustador. Isso foi muito mobilizador. Até mesmo o 'Enem Feminista' pode ter influenciado na disposição em ir pras ruas." (Leia o texto de Vanessa para a campanha #AgoraÉQueSãoElas).

A definição de um inimigo nítido, expressa na figura de Eduardo Cunha, também contribuiu para instigar a movimentação das mulheres, avalia a antropóloga Caroline Freitas, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). "É mais fácil lutar e resistir quando há um inimigo evidente. Lutar contra o patriarcado e o machismo é algo difuso. Temos feministas e coletivos feministas históricos e importantíssimos no Brasil, mas essa mobilização teve a ver com uma pauta bem objetiva: há essa pessoa bem identificável que é o autor do projeto de lei, e há o projeto de lei específico."

As mobilizações das últimas semanas conseguiram se transportar para as ruas com força semelhante à que mostraram no Twitter e no Facebook (Foto: Caio Santos/Jornalistas Livres)

As mobilizações das últimas semanas conseguiram se transportar para as ruas com força semelhante à que mostraram no Twitter e no Facebook (Foto: Caio Santos/Jornalistas Livres)

Para além de conferir visibilidade à luta das mulheres, as articulações das últimas semanas podem provocar avanços na sociedade, ou ao menos ajudar a frear retrocessos? Rodrigues acredita que há essa possibilidade. "A adesão às marchas do 'Fora, Cunha' em algumas cidades é um bom exemplo disso. É parte, é causa e consequência, se alimenta e alimenta a onda. Precisamos ocupar as ruas, a política, a mídia. Precisamos fortalecer o ativismo, para que cheguemos a todas, incluindo a quem e onde as hashtags não chegam. Vejo mulheres cada vez mais jovens se identificando como feministas, se organizando em coletivos na escola. Então, quero muito acreditar que apesar da contra-ofensiva conservadora, há um fortalecimento no ativismo. Que pode ser um outro feminismo no qual muitas de nós vínhamos militando, mas, que está inserido, é dialético", considera.

Na concepção de Freitas, as mais recentes ações protagonizadas por mulheres têm o potencial de ao menos gerar reflexões. "O texto da Djamila Ribeiro, no Blog do Sakamoto, por exemplo: penso que se ele servir para as pessoas entenderem o que é o feminismo interseccional já foi um baita gol de placa, porque mesmo as feministas brancas têm dificuldade de compreender a importância da interseccionalidade", coloca.

A reação

"Sempre que há um avanço feminista, vem uma forte reação antifeminista misógina". A ponderação é da professora universitária Lola Aronovich, que conversou com a Fórum sobre os ataques que vem sofrendo há cerca de quatro anos por causa do conteúdo de seu blog, o Escreva Lola Escreva, que se tornou referência nas discussões sobre igualdade de gênero no país.

São diversas ameaças de morte e de estupro, além de calúnias publicadas sobre ela na internet. A atitude mais recente de um grupo especializado na disseminação de ódio nas redes foi a criação de um http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/site-que-prega-discurso-de-odio-e-criado-em-nome-de-lola-aronovovich/">site falso em seu nome, que pregava o infanticídio de meninos, a queima de bíblias e a venda de remédios para a realização de abortos.

A página chegou a ser divulgada por pessoas como o filósofo Olavo de Carvalho e o roqueiro Roger, o que ajudou a espalhar as mentiras inventadas pelos criminosos. Para a blogueira, as ações de intolerância que vêm surgindo nos últimos tempos podem ser uma resposta aos avanços da luta feminista e precisam ser avaliados com todo o cuidado. "Misóginos continuam com o mesmo discurso de sempre e têm amplo espaço nos meios de comunicação, muito mais do que ativistas que lutam contra esse discurso", afirma.

Um exemplo dessa cultura discriminatória foi o http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/no-facebook-as-paginas-feminismo-sem-demagogia-e-jout-jout-prazer-sao-derrubadas/">ataque a outras fanpages com propostas similares à dela, como a "Feminismo sem Demagogia" e a "Jout Jout Prazer". A primeira foi derrubada e replicada com posts de deboche às mulheres. Já a segunda permaneceu fora do ar por aproximadamente dois dias, após chamar a atenção para o debate em torno do assédio sexual com o vídeo "http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/10/nao-sabe-o-que-e-assedio-sexual-veja-este-video/">Vamos fazer um escândalo".

A ação teria sido orquestrada por retaliação pela retirada da página "Orgulho de ser hétero" do Facebook, que contava com dois milhões de seguidores e se tornou conhecida por compartilhar mensagens machistas e homofóbicas. Apesar das denúncias, ela não demorou para estar de volta. "Renascemos das cinzas, livres das cicatrizes, mais fortes e renovados" foi o recado deixado pelos administradores, já acostumados com a impunidade.

"Vejo mulheres cada vez mais jovens se identificando como feministas", afirma diretora executiva da ONG Casa de Lua (Foto: Ian Maenfeld/Jornalistas Livres)

Outro caso de reações violentas contra ativistas aconteceu no Rio Grande do Sul na noite de domingo (1), http://www.revistaforum.com.br/blog/2015/11/em-porto-alegre-mulheres-protestam-contra-violencia-policial-na-feira-feminista/">quando um grupo de mulheres foi atacado por policiais militares durante a Feira do Livro Feminista e Autônoma de Porto Alegre (Flifea). De acordo com o relato das participantes, nove mulheres saíram feridas, vítimas de chutes e cassetetes usados na intervenção da PM.

Ainda segundo o relato, a polícia teria sido chamada pelos vizinhos, incomodados com o barulho do evento, onde acontecia um ensaio de teatro. Logo depois que a primeira viatura foi embora teriam voltado seis, com cerca de quatro policiais em cada uma, decididos a dispersar à base de agressões as cerca de trinta mulheres presentes, incluindo uma grávida. As que tentavam fugir foram perseguidas e derrubadas pelos agentes.

Assim como outras militantes, Lola Aronovich acredita que boa parte das atitudes extremas vistas recentemente tem a ver com o tratamento dado pelo Exame Nacional do Ensino Médio às discussões de gênero, considerado um marco. "Esses últimos ataques contra mim e outras feministas podem ter relação com o que é visto como uma vitória recente do feminismo, que foi a prova do Enem, que fez 7 milhões de jovens refletirem sobre Simone de Beauvoir e sobre a violência contra mulher", observa.

E ela ressalta que ainda há um longo caminho pela frente. "Esses ataques só reforçam o que todas já sabíamos: que o feminismo ainda tem muito o que combater", conclui. Mas, enquanto houver esse tipo de reação opressora e punitiva à busca pela igualdade de direitos, as mulheres continuarão em marcha. A luta, apesar de antiga, parece se renovar a cada geração disposta a dar fim às chagas herdadas de uma sociedade moldada pelas imposições do patriarcado.

Foto de capa: Lina Marinelli/Jornalistas Livres


Quelle: http://www.fbes.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=8771&Itemid=62

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