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Indignados: ''Não se trata de um movimento conjuntural''

October 19, 2011 22:00 , par Fernanda Nagem - 0Pas de commentaire | No one following this article yet.
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A essência do movimento dos indignados não está tanto na crítica ao sistema financeiro, isto não é novo. A novidade está precisamente na crítica radical da representação política, esse grito mundial que diz ‘vocês não nos representam’. As pessoas estão dizendo: não é porque votamos em você que isso lhe dá o direito de fazer o que quer contra a nossa opinião. Essa é a inovação fundamental. O protesto pede um retorno às fontes da democracia, a democracia real.

O comentário é do economista e ativista da Atacc Thomas Coutrot em entrevista a Eduardo Febbro do Página/12, 18-10-2011. A tradução é do Cepat.

Os protestos que colocaram milhares de pessoas nas ruas no mundo dão corpo a uma corrente moral e política cujos precursores já levam anos propondo modelos alternativos ao sistema de destruição neoliberal. Se Sthéphane Hessel e o seu livro Indignem-se conseguiu dar forma a um planeta indignado, há atores cujos ensaios já continham muitas consignas que agora se escutam nas ruas do mundo.

O economista francês Thomas Coutrot é um deles. Em 2005, publicou um livro que está no coração da crítica formulada pelos indignados: Capitalisme ou démocratie [Capitalismo ou democracia]. Em 2010 publicou outra obra que representa muito bem a essência do que os indignados pedem em Paris, Londres, Nova Yorj, São Paulo, Tel Aviv ou Berlim: Jalons vers un monde possible [Referências para um mundo possível – tradução livre]

 Economista e estatístico, vice-presidente da ong Attac desde 2009, membro da Rede de alerta sobre as desigualdades, Thomas Coutrot resgata um fato central na emergência dessa revolta globalizada: diante do esgotamento do modelo capitalista e neoliberal e o descrédito dos dirigentes políticos, o povo sai às ruas e encarna assim uma espécie de retorno à democracia. Para Coutrot, a insurreição do mundo ocidental não teria sido possível sem as revoluções árabes que a precederam.

Eis a entrevista.

Para você o movimento dos indignados significa um retorno às fontes da democracia. Mas até agora, os responsáveis políticos do planeta fazem ouvidos moucos às reivindicações desse movimento mundial.

O retorno às fontes da democracia significa a intervenção do povo. É então quase normal que os dirigentes políticos se façam de surdos porque não estão de acordo com isso. Consideram que são representantes do povo e que, por conseguintes, é tarefa deles administrar os assuntos do povo. De fato, os dirigentes políticos não querem ver que no movimento atual há uma crítica fundamental contra o sistema tal como funciona hoje. Será necessário muito tempo e muito trabalho para que a classe política aceite que o seu papel foi colocado em questionamento. Por isso, o essencial de tudo isso não está tanto na crítica ao sistema financeiro. Isto não é novo. A novidade está precisamente na crítica radical da representação política, esse grito mundial que diz “vocês não nos representam”. As pessoas estão dizendo: não é porque votamos em você que isso lhe dá o direito de fazer o que quer contra a nossa opinião. Essa é a inovação fundamental. O protesto que pede um retorno às fontes da democracia, a democracia real.

Muitos analistas criticam os indignados porque que não têm líderes visíveis. Essa não é sua análise?

Não. É preciso ver isso a partir de uma perspectiva histórica. Estamos no começo de uma crise muito profunda, uma crise do sistema capitalista e, fundamentalmente, do modo de civilização e do chamado capitalismo parlamentar. Esse capitalismo parlamentar está numa fase terminal e o movimento dos indignados, de ressonância internacional, é um dos primeiros sinais que a sociedade está emitindo. As sociedades humanas estão trabalhando, criando alternativas para um modelo democrático que está esgotado. Não se trata então de um movimento conjuntural que vai se acabar sem mais nem menos, ou que se abrandará com a próxima reativação econômica. É preciso vê-lo numa perspectiva mais ampla, ou seja, frente aos próximos dez anos.

Isto equivale dizer que a contestação vai para além de uma recuperação da atividade econômica.

Sim, é isso. O que está em questão é muito mais do que apenas o protesto contra a dominação do mercado e até mesmo da dominação da classe política. O que está em questão é um modelo de desenvolvimento baseado no enriquecimento permanente e no crescimento constante, independentemente de toda finalidade humana. Por isso, acredito que esse movimento que explode em plena crise do modelo democrático, irá amadurecer nos próximos anos.

O que vemos hoje é, de fato, a explosão de todo um conjunto de ideias e iniciativas que já estavam postuladas faz tempo, tanto no terceiro mundo como nos países emergentes, nas comunidades indígenas. Esses discursos penetraram nas democraciais ocidentais.

Sim, é certo. No seio do movimento alter mundialização já se via a emergência desses componentes assim como a crítica do modelo de desenvolvimento, não apenas capitalista, mas também ocidental. Esse modelo se caracteriza por estar baseado unicamente no bem estar material, independentemente dos valores e da solidariedade. Hoje, esse movimento conseguiu desenvolver suas críticas no coração da Europa.

O capitalismo teria chegado ao final de sua propria barbárie social?

Não acredito que tenha chegado ao final, penso que ainda o teremos por um tempo e que veremos acontecimentos terríveis. A crise econômica e social não terminou. Ainda não chegamos ao final da barbárie social. Receio que o que vem pela frente será muito feio como, por exemplo, o desencadeamento dos nacionalismos e a ruptura entre as nações. Já vemos hoje, o ascenso das tensões dentro da Europa, entre os Estados Unidos e a Europa, entre a China e os Estados Unidos. As rivalidades despontam. As elites tentarão prolongar sua dominação, buscarão legitimá-la recorrendo sempre a um inimigo exterior, ao nacionalismo. A emergência, entretanto, de um movimento mundial como os do indignados é um sinal de que o pior não é a única alternativa. A ação da sociedade civil pode ser um muro de contenção. Estamos numa disputa mundial entre soluções autoritárias que implicam a xenofobia e do outro lado, a afirmação de uma sociedade civil internacional em torno dos valores da democracia. O curioso é que estes valores são os valores oficiais das elites. Daí o fato de que o movimento dos indignados seja às vezes poderoso e perigoso para as elites, porque repousa sobre a ideologia oficial das elites. Mas essas elites se tornaram incapazes de preservar esses valores.

É um paradoxo, uma espécie de Revolução em nome dos valores da elite dominante.

Sim, esse é o grande paradoxo dessa crise e desse movimento que defende os valores supremos da sociedade. As elites que se proclamam democráticas estão renunciando à democracia para preservar sua dominação.

Muitos indignados reconhecem a influência determinante que tiveram as revoluções árabes na revolta ocidental.

As revoluções árabes foram uma faísca fundamental porque demonstraram que nas situações mais fechadas, como em regimes menos democráticos e onde as elites tinham tudo sob controle, desembocaram numa situação revolucionária inesperada. As revoltas árabes aportaram num alento de esperança, num impulso, numa dinâmica. O mundo se deu conta de que as elites dominavam porque nós permitíamos que dominassem. Fazem o que querem porque nós as deixamos fazer e, além disso, votamos para que o façam. As revoluções árabes foram uma mensagem de esperança e um chamado a insurreição dos povos. Hoje, as pessoas renunciaram a resignação.

Outro paradoxo radica no fato de que a França, o país da Revolução por excelência, o país de onde é oriundo o autor do livro através do qual se plasmou o movimento – Indignem-se de Stéphane Hessel – seja na atualidade o mais passivo e menos mobilizado.

Trata-se de um autêntico paradoxo. Há várias razões para explicar isso. Talvez, a primeira, seja o fracasso do movimento social contra a reforma do sistema de aposentadorias proposto pelo presidente Nicolas Sarkozy. Foi um movimento muito profundo e forte na sociedade, que não impediu que o governo retrocedesse com sua reforma. Isso tem pesado muito na disponibilidade mental dos cidadãos para empreender outra ação coletiva. Também temos a campanha eleitoral em curso, que polariza muito os debates e leva a que muita gente diga: vamos tirar o Sarkozy e depois veremos. O ultimo elemento é o fato de que a França não conhece no momento uma onda de austeridade tão brutal como na Grécia, Espanha ou Portugal. As políticas de austeridade na França estão muito abaixo das aplicada em outros países, inclusive na Inglaterra ou nos Estados Unidos. Esses fatores explicam porque, no momento, a população não se sente tão agredida como noutros países.

Surpreendeu o surgimento de um movimento social no berço do liberalismo, os Estados Unidos?

A crise social é a consequencia do ultraliberalismo mais dogmático, mas foi os ultraliberais quem cristalizaram um movimento de massa como o Tea Party. Agora, o despertar do movimento dos indignados nos Estados Unidos mostra que a sociedade civil democrática começa a se organizar, a atuar, a plamar-se num movimento de massa e popular.

Mais indignados depois do concorrido 15-O.

“Ocupa Wall Street” comemorou ontem o seu primeiro mês de existência fortalecido pela ampliação do movimento nos Estados Unidos e as manifestações de indignados  no resto do mundo. Desde a incipente ocupação que começou no dia 17 de setembro com o acampamento de 150 pessoas na praça Zucotti, ao lado do bairro de Wall Street, o movimento se ampliou para mais de 100 cidade estadunidenses. O grupo que ocupa o coração da bolsa norteamericano, que se apresenta como uma organização não violenta e sem líderes é muito ativo nas redes sociais. Tanto que em Madri, o 15-M passou do acampamento para a ocupação de edifícios abandonados. Como é o caso do antigo Hotel Madri, ocupado desde sábado por meia centena de indignados. O movimento 15-M pensa em repassá-lo a famílias sem teto ou convocar assembléias ali durante o inverno.

Por sua vez, o prefeito de Roma, Gianni Alemanno, proibiu as manifestações no centro histórico da capital italiana durante um mês após os distúrbios acontecidos no sábado, que deixaram um saldo de dezenas de feridos e causaram estragos de vários milhões de euros. A polícia italiana realizou buscas em todo o país para localizar os responsáveis pelos incidentes. A prefeitura de Roma informou que a proibição se refere ao distrito 1 da cidade, o mais central, onde apenas poderão acontecer concentrações com prévia autorização. A praca da Boca da Verdade, a praça da República, o circo Massimo, a praça do Povo e a praça Farnesio estão entre esses pontos de concentração. O ministro do interior da Italia, Roberto Maroni, disse que anunciará no Senado novas normas para evitar que se produzam fatos violentos como os do final de semana.

Os indignados continuavam acampados ontem na cidade de Londres pelo terceiro dia consecutivo em protesto contra o sistema financeiro. Junto a eles, cartazes com mensagens de protestos às corporações e a favor da democracia. Segundo a cadeia britância BBC, uma centena de barracas e uns 200 ativistar permaneciam na região onde no sábado se concentraram em torno de  2 e 3 mil pessoas no marco da campanha global.

Enquanto isso, o grupo de defesa dos animais PETA (Pessoas a Favor de um Tratamento Ético aos Animais – sigla em inglês) se uniu ontem aos simpatizantes do movimento “Ocupa Wall Street” em Nova York para denunciar as empresas agrícolas que exploram os animais nos Estados Unidos. Vários ativistas se fantasiaram de porcos, galinhas e vacas e portavam cartazes com a mensagem: “Sou 99% dos animais que se matam por comida nos Estados Unidos”. E distribuiram pizzas vegetarianas aos indignados que acampam na praça Zucotti.


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