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24 de Fevereiro de 2010, 21:00 , por Alan Freihof Tygel - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

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MARCHA DO MST E DO CETA 2007

24 de Fevereiro de 2010, 21:00, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Dois depoimentos de integrantes do NEPPA que participaram Marcha Estadual do MST e do CETA, de 9 a 14 de abril de 2007.

 

"Cheguei hoje da Marcha Estadual na Bahia do MST e do CETA, após ter passado 5 dias dos 9, ao lado dos trabalhadores rurais sem-terra. Esta Marcha veio de Feira de Santana à Salvador para denunciar que há 25 mil famílias acampadas de baixo da lona preta na beira da estrada lutando por um pedaço de terra e 50 mil famílias assentadas que não têm crédito para plantar, só na Bahia. A Marcha exigia que os governos federal e estadual do PT se posicionem frente à trincheira na qual se encontram movimentos sociais do campo de um lado e o agronegócio do outro.

Foram dias em que marchei junto com mais de 5.000 sem-terras, organizados em 2 fileiras quilométricas, com uma disciplina revolucionária, percorrendo mais de 100Km. Em que senti com eles o calor de dia na estrada e o frio e a chuva à noite, de baixo da lona preta. Pois, após acordar às 4 horas da manhã para desmontar barracos, marchar por 4 a 5 horas ininterruptas na BR, quando chegava a madrugada, a chuva invadia os barracos de lona preta, pelos lados abertos e pelos buracos no teto, e esta era a hora em que todos - homens, mulheres, crianças, lideranças e base - acordavam. Em que escutei histórias de militantes antigos sobre ocupações, despejos e sonhos. E escutei pessoas novas no movimento, mas que há muito são exploradas, contarem sobre compra de votos no interior, sobre trabalhar para fazendeiro e receber só em ticket para comprar na venda do próprio patrão, sobre a imposição do êxodo rural aos camponeses – uma aula que não há igual na Universidade. Vi mais de 1.000 gripados, inúmeros hipertensos sem tratamento ou orientação adequada, muitos pés inchados, latejantes, com calos e doendo, feridas e cortes pelo corpo, pessoas picadas de cobra, vários diabéticos que nunca saberão sê-lo, incontáveis pessoas que nunca foram a um médico (aliás, quase todos não tiveram sequer a oportunidade de ser crianças para irem a escola) e outras tantas que morrerão sem ir a um médico. Conheci pessoas, como todos nós, que morrerão de morte morrida e outras tantas que morrerão de morte matada – como os 19 companheiros do MST que tombaram no massacre do Eldorado dos Carajás há 11 anos (sem que haja punição dos culpados até hoje) e como milhares de pessoas que são mortas de fome todos os dias... Senti o quanto se precisa de médicos, mas em especial daqueles que atendam a um ser humano que lhe pede ajuda e não a um órgão ou a uma doença. Atendi Seu João um acampado hipertenso, gripado, queimando em febre, com olhos cabisbaixos, encolhido na lona que cobria o chão do posto de saúde montado pelo MST. No dia seguinte, ao voltar para que eu pudesse vê-lo, já praticamente recuperado, respondeu com olhos brilhantes, a minha recomendação de descansar mais um dia: “Não, se já estou bom, amanhã posso marchar!!!”, e vi a certeza que aquele homem tinha de que só conseguiria terra se ele mesmo lutasse com seus companheiros. No último dia da marcha, reencontrei- o ao acaso, feliz, marchando, inteiro, abraçado a uma bandeira do MST. Mas atendi também Dona Maria do Carmo, 66 anos, hipertensa com tratamento irregular porque a prefeitura não fornece medicamento, gripada, marchando. E no segundo dia que a vi, ela chorava. Não porque marchara 100km, ou porque estava doente dormindo no relento, ou porque quando tudo aquilo acabasse voltaria para debaixo da lona preta, lutando e resistindo, diariamente, por um pedaço de terra para que possa plantar o que vai comer. Não, ela chorava por que teria que voltar para casa onde estava o marido alcoólatra que lhe trazia transtornos. Isto porque até mesmo entre os militantes persiste o machismo e a opressão de gênero, com manifestações das mais sutis às mais violentas. Aliás, a maioria dos 5.000 marchantes não tem terra, são acampados. Viver de baixo da lona preta e resistir diariamente não é um fenômeno, mas seu cotidiano. Resistem porque têm esperança de viver num mundo sem desigualdades. Apesar disso, boa parte destes acampados nunca terá terra – o INCRA nunca irá vistoriar muitos dos latifúndios improdutivos que eles ocupam, ou a polícia chegará antes com suas armas em punho e o mandato de despejo ou até mesmo parte dos companheiros sucumbirá às injustiças vividas antes de conseguirem ter direito a terra... Foram dias em que ouvi as lideranças do MST dizerem que o governo do PT é um governo de conciliação de classes e que por isso era necessário pressionar desde já o governador da Bahia, pois tinham aprendido, ao esperar por 4 anos Lula, que a reforma agrária não se faz dentro de gabinetes, mas na rua. Participei da formação política destes companheiros que são principalmente formados pela vida e cuja teoria lhes chega por militantes, como eles iletrados, igualmente explorados, mas que carregam como diferença a consciência de classe que deve ser despertada em todos os trabalhadores. Fui irreversivelmente e para sempre formada politicamente por eles.

Eu entrei em Salvador com 5.000 soldados da paz e da justiça social, portando seus instrumentos de trabalho (facões e foices) e um sonho por um mundo igualitário. Passamos por favelas, pelo MTD (Movimento dos Trabalhadores Desempregados) , por ônibus lotados, por trabalhadores da cidade sensíveis à luta do campo, por operários da construção civil que constroem prédios nos quais não poderão entrar quando prontos, por carros com vidros fechados querendo passar por entre (e por cima) dos marchantes, por um policial civil que puxou uma arma contra os trabalhadores com a mesma naturalidade com que se oferece uma flor. Mas pelo menos hoje, os exploradores tiveram que baixar a voz e esperar os 5.000 trabalhadores rurais, unidos, passarem. Sim, podem dizer a quem encontrarem que eu vi a luta real contra o capitalismo acontecendo hoje, agora, no Brasil e que era o caminho para a Revolução."

Camila Góes

Estudante de Medicina – UFBa
Integrante do NEPPA (Núcleo de Estudos e Práticas em Políticas Agrárias )
Integrante do Projeto de Prevenção e Promoção da Saúde em áreas de Reforma Agrária desenvolvido pelo DAMED e DMP, vulgo Projetão
Ex-aluna na ACC 456 - Ações Interdisciplinares em Áreas de Reforma Agrária

 


 

"Sonhamos com a revolução, desejamos que ela chegue, que as condições históricas propiciem à classe trabalhadora ir em direção à ruptura com o capitalismo e a construção de uma sociedade socialista.

Sonhamos e trabalhamos, montamos grupos, debatemos, nos filiamos a partidos, estudamos, fazemos passeatas, construímos projetos, participamos de eleições, concorremos a eleições. Amamos e odiamos uns aos outros, fazemos alianças e rachas, somos dialógicos e sectários. Às vezes até fazemos ocupações e greves. Em resumo, nos esforçamos muito para construirmos o caminho para a Revolução.

Hoje (16/04), mais de 5.000 Trabalhadoras e Trabalhadores armados com suas ferramentas de trabalho, facões, foices e enxadas, entraram em Salvador MARCHANDO. Não é uma caminhada ou uma passeata, é uma MARCHA REVOLUCIONÁRIA que percorreu mais de 100 Km , onde todas e todos são soldados que enfrentam o inchaço dos pés, as hostilidades reacionárias, as noites não dormidas por causa da chuva que teima em entrar nos barracos, o calor infernal em baixo da lona preta, a falta de remédio e as vezes de água, a total ausência das condições mais básicas de dignidade a que todo, ABSOLUTAMENTE TODO SER HUMANO TEM DIREITO. Mesmo assim esse povo se levanta no dia seguinte às 4h da madrugada, desmonta seus barracos, se cobre de vermelho e MARCHA, não apenas para si, mas para toda a humanidade.

É esse povo que enfrenta o capitalismo em uma de suas formas mais perversas, o Latifúndio, é esse povo que morre de morte matada e de bala "achada", é esse povo que está acampado na beira das estradas com mais 25.000 famílias (só na Bahia) em condições ainda piores todos os dias e muitas vezes por anos, é esse povo que marcha 9 dias para dizer aos governantes que eles só existem para servir ao povo e que o povo Sem Terra está organizado e disposto a negociar, a matar e a morrer.

Agora sim vejo a revolução sendo construída no presente, vejo de forma real e concreta que o sonho não é utopia, vejo o povo Sem Terra dando uma lição ao mundo que ainda se recusa a aprender. VEJO A OBRIGAÇÃO DE TODOS NÓS ENGROSSARMOS AS FILEIRAS.


OBRIGADO AO MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), ao CETA (Movimento dos Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas) e aos INDÍGENAS.

OBRIGADO AOS SOLDADOS DO POVO (homens, mulheres e crianças)"


"...Vem lutemos, punho erguido

Nossa história nos leva a edificar.

Nossa Pátria livre e forte

Construída pelo poder popular..."


Trecho do Hino do MST


Obede Guimarães depois de cinco dias MARCHANDO e nunca mais como antes...
História - UFBA
NEPPA - Núcleo de Estudos  Práticas em Políticas Agrárias