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27 de Janeiro de 2010, 22:00 , por Alan Freihof Tygel - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Blog do Alan, contém pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.


Sem agrotóxico é mais caro mesmo???

13 de Fevereiro de 2016, 21:17, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Porque você acorda num sábado pós-carnaval em Recife às 5h:

( ) para curtir um bloco de ressaca que sai às 6h.

( ) não acorda, pois ainda não dormiu.

( ) para ir ao banheiro fazer xixi e voltar a dormir.

(x) para ir ao Espaço Agroecológico das Graças!

 

Sim, foi isso mesmo que aconteceu hoje. Duro mesmo é chegar na feira às 5:50h e vários produtos já terem acabados, e algumas barracas já estarem desmontando. Da próxima vez chegamos mais cedo.

Além de ter a alegria de conversar com produtores e produtoras de alimentos, de saber um pouquinho de onde vem o produto que vai pra minha mesa e de saber que estou incentivando um modo de produção que não envenena os agricultores e não polui o meio ambiente, outra coisa me chamou a atenção.

Depois de um ano fora, há 3 semanas estive na feira do bairro de Fátima, no Rio de Janeiro, onde durante 5 anos da minha vida fiz as compras semanais de frutas, legumes, verduras e peixes. Fiquei chocado com o aumento dos preços, e também com a diminuição das porções. O molho de coentro e de manjericão foram reduzidos quase pela metade.

Hoje, na Feira das Garças, pude ter o prazer de desmentir a velha falácia de que os produtos orgânicos e agroecológicos são sempre mais caros do que os convencionais.

Em primeiro lugar, a pessoa que menos influencia o preço de um alimento é quem põe a mão na terra para produzi-lo. O preço é determinado basicamente pela quantidade de incentivos dados pelo Estado, e depois pela rede de intermediários que se colocam entre produtor e consumidor. Por conta da política de subsídios, a Alemanha, país mais rico da Europa, tem o custo de alimentos mais baixo do continente. O preço de um almoço em Bonn é quase o mesmo do Rio de Janeiro, mesmo considerando a atual cotação estratosférica do Euro. (Esta política de subsídios tem consequências bem perversas, como por exemplo a quebra da agricultura familiar na África, que acaba importando produtos da Alemanha, mas isso é outro papo.)

Na feiras orgânicas e agroecológicas, muitas vezes são os próprios agricultores ou familiares que comercializam o produto. Mesmo assim, os preços às vezes ainda são mais caros, justamente pela falta de incentivos de Estado para este tipo de produção.

Quando numa feira convencional se paga R$2,00 num alface, pode ter certeza de que o agricultor não recebeu nem 10% disso. E ainda teve que pagar pelos agrotóxicos, pelos fertilizantes, possivelmente pelo aluguel da terra. E ainda se envenena, a si e ao meio onde ele está.

Numa feira agroecológica, se o alface custar os mesmos R$2,00, o agricultor fica com tudo - no máximo desconta alguma taxa de manutenção da feira, e o transporte.

E a companheirada da Feira das Garças está de parabéns: oferecendo comida de verdade, de qualidade, cobrando barato por isso e possibilitando que a população se alimente adequadamente!

De acordo com o Mapa das Feiras Orgânicas do IDEC, Recife tem ainda 20 feiras deste tipo, que provavelmente também praticam preços justos.

Veja abaixo o preço dos produtos na Feira das Garças, no dia 13 de fevereiro de 2016. A comparação com a feira convencional no Rio é baseado em lembranças de algumas semanas, portanto não é tão precisa. E vale lembrar que esses dias fui no Mercado da Boa Vista, em Recife, e quiseram me cobrar R$8 num abacate! Portanto, não é só uma diferença de preço entre as cidades.

Produto Feira do Bairro de Fátima com Agrotóxico (Rio de Janero) Espaço Agroecológico das Graças (Recife)
Abacate R$3 a R$5 R$1
Manga Rosa +/- R$3 R$0,50
Manga Espada +/- R$2 R$0,25
Milho   R$1,00 (não transgênico!)
Pastel R$5, de carne moida, com muita gordura R$4, de jaca, integral, delícia
Bebida Caldo de cana, R$3 Suco de açai com limão, R$2,50
Mandioca Uma boa de Santa Cruz, equivalente à daqui, sai por R$6/kg R$4 /kg, macaxeira no caso
Cebolinha R$2 o micro-molho R$2 o molho gigante
Coentro R$2 o micro-molho R$2 o molho gigante
Couve R$2 o micro-molho R$2 o molho gigante
Meia duzia de ovo caipira R$8 (quando tem) R$5
Flores   R$3 o molho
Repolho   R$4 (grande)
Geléia de Açaí grande   R$8
Pão Integral   R$7,50
Maxixe   10 por R$1
Rúcula   R$2 maço grande
Banana   R$0,25 cada
Pimenta de cheiro   R$2,00 um saquinho cheio
Pitanga (jamais! :) R$2,00 um saquinho cheio

Parabéns a todas as camponesas e camponeses que trazem seus produtos agroecológicos para as feiras do Recife, livre de agrotóxicos, de transgênicos, mas principalmente livres de exploração. Iniciativas como essa são fundamentais para romper o ciclo neo-liberal-tóxico-monopolista-concentrador do mercado capitalista de alimentos.

Todo poder às/aos produtoras/es!