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27 de Janeiro de 2010, 22:00 , por Alan Freihof Tygel - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Blog do Alan, contém pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.


Melancias para Saramago

21 de Junho de 2010, 21:00, por Alan Freihof Tygel - 22 comentários

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À medida que vão crescendo, as folhas mudam de forma, Devo confessar que as achava mais bonita antes, Mas quanto bebezinho fofinho por aí não fica feio depois que cresce? Parece que a vida vai endurencendo as folhas...

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E na manhã em que recebi a tristíssima notícia sobre a morte de José Saramago, fui ver as melancias pra ver se me animava, E, para minha surpresa, além dessas aí de cima, que foram plantadas com todo carinho, regadas e cuidadas, nasceram outras melancias dentro da composteira, Isso mesmo, depois de um tempo jogando 5kg de lixo orgânico por semana, tcharan, brotaram as melancias, sem intenção nenhuma.

Eu pensei em homenagear Saramago colocando um texto dele aqui, talvez aquele sobre o massacre de carajás, ou sobre a democracia, talvez uma foto dele com a bandeira do MST... Mas todo mundo já fez isso.

Então, Saramago, pra você, lindos brotos de melancia que vieram no dia em que você se foi.

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Correspondências não correspondidas

18 de Junho de 2010, 21:00, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

O DIA publicou:

'O Rio pela Paz' lista prédios que precisam ser revitalizados no Centro

O DIA ONLINE

Rio - O movimento "O Rio pela Paz", vai receber, a partir desta segunda-feira dos cariocas sugestões de prédios que devem ser revitalizados e no momento estão ocupados por moradores de rua, no Centro do Rio.

O presidente do Movimento, Rommel Cardozo, explica que o objetivo é montar um dossiê de todos os imóveis que foram invadidos, estão em situação precária de manutenção, gerando transtornos para a vizinhança.

"Na Rua do Riachuelo, por exemplo, existem vários deles. Um dos integrantes do Movimento já foi até mesmo assaltado enquanto passava na porta. Não adianta conquistarmos a oportunidade de sediar eventos internacionais, se não cuidamos desse detalhe tão importante", declara.

"Queremos descobrir os prédios da região Central, ou seja, nos bairros de Santa Teresa, São Cristóvão, Praça Onze, Lapa, Castelo, Praça XV e Bairro de Fátima", finaliza Rommel.

Caso você saiba de algum prédio nestas condições, fique a vontade em mandar sua denúncia para [email protected].

 

O Globo publicou asneira semelhante.


 

Eu atendi ao pedido:

De: [email protected]

Para: [email protected]

Olá,

Atendendo aos pedidos do Movimento Rio Pela Paz, gostaria de fazer algumas denúncias relacionadas à invasão de imóveis abandonados.

Em primeiro lugar, gostaria de denunciar a existência dos incisos XXII e XXIII do artigo 5o de nossa Constituição Federal:

XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;

Qual a função social exercida por prédios públicos abandonados no centro Rio? Se não cumprem este inciso, não há direito de propriedade e portanto não estão invadidos, e sim ocupados.

A segunda denúncia que gostaria de fazer é em relação à situação de moradia da maioria dos cariocas. Carioca, aliás, é quem mora na cidade do Rio, apesar de tentarem a todo momento provar que é o título dado aos moradores da Zona Sul, uma ínfima parte da cidade. E grande parte dos cariocas mora em condições precárias, sem os direitos básicos que são garantidos aos moradores da Zona Sul, como asfalto, luz, água, esgoto, ... E segundo a declaração universal dos direitos humanos, da qual o Brasil é signatário:

"Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência fora de seu controle. "

Prezados organizadores deste movimento, vou lhes contar um segredo. Descobrir os prédios ocupados na região central do Rio é uma tarefa fácil. Difícil é esconder a motivação que tem este "movimento". Todos sabemos que a revitalização do Centro vai gerar uma fortíssima especulação imobiliária na região. É fácil ver que por trás desta tentativa de expulsar os pobres das zonas nobres do Rio, de tentar associar pobreza à violência, e por fim de tentar esconder a pobreza para longe dos olhos da zona sul, por trás disso tudo sabemos que há a mão do mercado imobiliário. Sabemos que as indenizações do governo a famílias removidas são pagas com cheques de imobiliárias.

Bom, esta é a minha denúncia. E se quiser mesmo saber onde existem ocupações no Rio, procure os movimentos de sem-teto organizados: MTST, MNLM. Eles sabem de tudo, e podem te esclarecer melhor.

Boa sorte na sua procura,

Alan Tygel

 


 

Eles responderam de volta:
De: O Rio pela Paz Movimento <[email protected]>
Prezado Alan,
Creio que na sua visão, realmente, a sua denuncia faça sentido, pois, na minha, temos uma infinidade de delinqüentes escondidos em meio as pessoas necessitadas, que ocupam essas residências, fazendo daquele local, uma armadilha para quem passa. Esses jovens que deveriam estar sendo tratados, que utilizam drogas e para isso, fazem seus assaltos na região do centro, são o maior problema da região, são crias de total descaso social, de anos e anos de abandono.
Concordo que todos tem o direito de moradia e que temos um poder publico omisso e que muito temos que fazer para melhorar. Creio na educação capacitando as pessoas a buscar seu sustento e sua moradia.
Não existe nada escondido por trás desse movimento, a única coisa que fazemos, é motivar as pessoas a buscar o seu direito e na minha opinião, ninguém merece viver escondido, e prédio abandonado nesse caso, não deixa de ser um descaso com a sociedade, que caminha a passos largos para um abismo, com soluções meia boca para tudo.
Gostaria que todos pudessem estudar em sua universidade, mas, a realidade não é essa, para acertar, vamos precisar de amor e entendimento a respeito do assunto, aceito a sua denuncia, a sua critica, mas, espero que não pare por ai. Vamos debater mais assuntos, temos muito o que mudar e creio que a chave está em nossas mãos.
Tenho muitos amigos, moradores de comunidades, como Rio das Pedras, Musema, Tijuquinha e até Cidade de Deus. Não quero de maneira nenhuma, ser um aliado de especuladores.
Um forte abraço,
Rommel,
Rommel Cardozo
Movimento O Rio pela Paz

 


 

E eu repliquei:

De: [email protected]

Para: [email protected]

 

 

Oi Rommel,



> temos uma infinidade de delinqüentes escondidos em meio as pessoas necessitadas, que ocupam essas residências, fazendo daquele local, uma armadilha para quem passa. Esses jovens que deveriam estar sendo tratados, que utilizam drogas e para isso, fazem seus assaltos na região do centro, são o maior problema da região, são crias de total descaso social, de anos e anos de abandono.

De fato, esse é exatamente o ponto em que discordamos. Dentro das ocupações urbanas, assim como dentro das ocupações rurais, existe uma infinidade de trabalhadores honestos, cujo salário não seria suficiente para pagar um aluguel e o transporte até o trabalho. Alías, aqueles que têm um emprego formal dificilmente o teriam se morassem onde o salário pode pagar o aluguel, já que os empregadores não concordariam em pagar o transporte.


>Não existe nada escondido por trás desse movimento, a única coisa que fazemos, é motivar as pessoas a buscar o seu direito e na minha opinião, ninguém merece viver escondido, e prédio >abandonado nesse caso, não deixa de ser um descaso com a sociedade, que caminha a passos largos para um abismo, com soluções meia boca para tudo.

O que os movimentos sociais fazem é justamente buscar os direitos de moradia. Mas não o fazem criminalizando a pobreza, como deram a entender as notas sobre o seu movimento publicadas nos jornais de hoje. Lutam valorizando o ser humano, a dignididade, e buscando um outro tipo de sociedade, onde a vida seja pautada não pelo dinheiro e pela acumulação de mais e mais dinheiro, e sim pela solidariedade.

Mesmo que inconscientemente, o interesse do seu movimento tem tudo a ver com a especulação imobiliária. Não seja ingênuo. Você está buscando seu direito de andar tranquilamente pelo centro, atacando o direito a moradia de outras pessoas. O que é revitalização, senão a remoção de pobres e a inclusão de ricos?



> Gostaria que todos pudessem estudar em sua universidade,

Nós também, e por isso apoioamos a adoção de cotas na UFRJ.



> Vamos debater mais assuntos, temos muito o que mudar e creio que a chave está em nossas mãos.

A chave está nas mãos do povo. E o povo que consegue virar essa chave é o povo organizado, organizado em movimentos sociais. Quando um jornal publica a sua nota, convocando uma caça aos movimentos sociais de luta pela moradia, está virando a chave para o lado contrário. O problema é a desproporção de forças que movem a chave.

Por isso peço que conheça os movimentos sociais, ouça a voz de quem participa deles, conheça alguns moradores de ocupações. Posso inclusive te dar o email de alguns deles. E entenda que limpeza da pobreza, muros, choque de ordem, "revitalização", nada disso vai acabar com a violência que te aflige. A solução de um problema tão complexo passa por projetos pautados em outros valores, e que busquem efetivamente uma mudança na sociedade.

Alan

 

---

E assim acabou o diálogo.



Por toda a parte

2 de Junho de 2010, 21:00, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

 

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Entre os 15 e 23 anos, eu achava que não conhecia o mundo.

 

Depois disso, até os 26, me incomodava muito não conhecer o Brasil.

 

Hoje, prestes a completar 27, percebo que eu não conheço o Rio. As melancias não brotam só em Santa Teresa: Santa Marta, Cidade de Deus, Maré, estão por toda a parte, é só dar dois passos e ir lá ver.



As melancias estão brotando

24 de Maio de 2010, 21:00, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

A terra é dura. O local foi utilizado por vários anos como depósito de entulhos. Pedra, pau, caco de vidro, parafuso, cerâmica, tudo que é porcaria se acha por lá.

A terra é seca. Desde sempre descoberta, a água bate, escorre e leva embora o pouco que ainda há de bom.

Mesmo assim, as melancias estão brotando. Olhe pro lado. Só vejo entulho. Olhe direito. No meio das pedras, bem ali entre um caco e um parafuso, repare como as melancias brotam.

Como podem? Não apenas são sementes. São sementes, sabem que são sementes e sabem o que deve fazer uma semente. Têm consciência de que se continuassem apenas sementes, as melancias jamais iriam brotar. Continuariam sufocadas sob o entulho.

Mas ainda são apenas brotos. As formigas, as lagartas, as pragas, todas estão à espreita. E o que move as sementes é a certeza da colheita de melancias fartas, bonitas, saborosas. E livres.

As melancias livres estão brotando.



Utopia, realidade, e a utopia que vira realidade

10 de Maio de 2010, 21:00, por Alan Freihof Tygel - 44 comentários

Enff_004Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra. A luta pela reforma agrária, por uma vida digna no campo e na cidade, por alimentos saudáveis, por respeito à Natureza, igualdade de gêneros, por uma educação popular, e finalmente pela construção de uma sociedade em que o povo seja soberano, todas estas lutas compõem a pauta do MST. Temido pela burguesia agrária e pelo agronegócio, bombardeado pela mídia, criminalizado por governos e judiciários oligárquicos, segue ocupando latifúndios e lutando por terra para quem precisa.

As dificuldades existem. Quem mora num acampamento ou assentamento, ou já visitou um deles, sabe que os problemas não são poucos. Vão desde aqueles causados pelo modelo de assentamento, feito para dar errado, promessas não cumpridas dos governos, dívidas no bancos, até problemas de relacionamento interno, lideranças corruptas ou venda irregular de lotes.

Felizmente, existem muitos lugares onde a utopia do MST virou realidade. Assentamentos modelo, o trabalho em mutirão, as cooperativas de produção agroecológica, exemplos não faltam. O mais notável deles, sem dúvida alguma*, é a Escola Nacional Florestan Fernandes.

No último sábado (8/5/2010) participei de uma visita à Escola, organizada pela Associação dos Amigos da ENFF. Foi a segunda experiência concreta de contato com o movimento que tive, após o EIVI. Nos assentamentos da Bahia, transitei entre utopia e realidade. Desta vez, em Guararema (SP), conheci a utopia que virou realidade.

A Escola tem como objetivo formar lideranças e ser um espaço de troca de experiências não só entre membros do MST, mas de diversos movimentos sociais brasileiros, latino-americanos e africanos, procurando resgatar o sentido internacionalista da luta. Os cursos contemplam as áreas como Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, Conjuntura Internacional, Educação do Campo e Estudos Latino-americanos.

A própria construção da ENFF já foi em si um belo processo de educação. Mais de mil trabalhadores de brigadas de todo o país participaram da obra, doando mãos, cérebros e suor por esta causa. Enquanto trabalhavam, se alfabetizavam ou continuavam os estudos formais, e aprendiam técnicas de construção civil. Seus nomes estão espalhados pela escola, e muitos deles foram educandos em cursos da ENFF. Foi uma construção no sentido mais amplo possível da palavra.

Enff_003A escola é mantida no dia a dia por cerca de 35 trabalhadores fixos, além dos educandos, que obviamente colaboram nas tarefas. Uma creche (Ciranda Saci Pererê) foi construída para abrigar os filhos dos moradores e para que mães possam trazer seus filhos enquanto participam dos cursos.

As instalações da escola incluem ainda o auditório Patativa do Assaré, a plenária Rosa Luxemburgo, a biblioteca (informalmente Antônio Cândido, que participou da inauguração, mas não aceitou a homenagem), além de 3 salas de aula com capacidade para 200 pessoas e cadeiras dispostas em círculo, um refeitório, áreas de convivência e dormitórios.

Na área da escola existem plantações de hortaliças e frutas, que contribuem para o auto-sustento da escola, junto com as criações de galinhas, porcos, coelhos e de um tanque para criação de peixes. Uma míni-usina de óleo vegetal também está sendo implantada. O belíssimo campo de futebol ajuda na integração entre os educandos e também contribui na boa relação com a comunidade em torno da escola.

Segundo os coordenadores da ENFF, esta relação é de respeito mútuo. As crianças que moram na ENFF estudam nas escolas da região, onde uma clara e cruel disparidade surge: devido às péssimas condições das escolas municipais, as crianças da ENFF frequentemente têm um melhor desempenho, já que moram num ambiente culturalmente muito rico, além de possuírem uma infraestrutura acima da média região, inclusive com acesso à internet, coisa rara por lá. Contudo, as crianças da região frequentam a ENFF, jogam futebol e em breve será inaugurada uma sessão semanal de cinema para que estes laços se estreitem ainda mais.

Pelas paredes da Escola, se vê muita arte. Chamam a atenção as fotografias de Sebastião Salgado, do livro Terra. Este livro, que conta ainda com prefácio de José Saramago e versos de Chico Buarque, teve todos os direitos e recursos obtidos com a venda doados ao MST para o início das obras da ENFF. As fotos, que trazem a força característica de Salgado, mostram ocupações, assentamentos, marchas e funerais. O cotidiano do MST, retratado de modo nu e cru.

Para ajudar a manter a Escola, foi criada a Associação dos Amigos da ENFF, cujo objetivo é arrecadar fundos para cuidar desta iniciativa. Para saber mais informações sobre a Associação e sobre como se tornar sócio, clique aqui.

A ENFF é um espaço fundamental no fortalecimento dos movimentos sociais. Sua manutenção é vital para a formação política dos trabalhadores na luta por um outro modelo de sociedade. No entanto, o apoio à luta do MST vai além. A realidade do movimento é dura, as dificuldades são inúmeras e oportunidades de atuação não faltam.

A utopia existe. A realidade também. Transformar aquela nesta, multiplicar experiência da ENFF por 1000, este é desafio.

 

 

* "Sem dúvida" para mim, considerando meu limitado conhecimento sobre o movimento.

** As fotos foram emprestadas do blog http://gugamachala.blogspot.com/2009/06/um-pouco-de-colombia-na-florestan.html . Galera que participou da visita comigo, estou aguardando as fotos!