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O segundo encontro

mayo 15, 2015 20:43 , por Alan Freihof Tygel - 0no comments yet | No one following this article yet.
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Não, não é todo dia que a gente encontra alguém tão especial. Volta e meia a gente esbarra na rua com um conhecido, toma uma cerveja com uma amiga querida, sai pra dançar com os colegas do serviço... Mas aquele encontro, que por mais que você espere é sempre de supetão, por mais que você saiba, nunca está preparado, por mais que você deseje, não acontece toda hora.

Hoje eu encontrei Paulo Freire pela segunda vez. Não foi à toa, não foi por acaso, mas foi surpreendente. A primeira vez foi em 2010, durante o IV Estágio de Vivência e Intervenção - EIVI Bahia. Na entrada do local onde fizemos a formação, uma grande faixa dizia: "A cabeça pensa onde os pés pisam". Entrava e saia, saia e entrava, lendo e relendo a frase, e não havia jeito de entender.

Já no assentamento, depois de uma semana morando na casa de dona Gilma, Tiquinho e o pequeno Francisquinho, percebi que o menino, apesar de já ter 10 anos, tinha muitas dificuldades de leitura. Então sentei com ele, peguei o caderno, pedi para ele ler algumas palavras, e nada. Folheei até chegar numa página onde estava o alfabeto, e foi lá que encontrei Paulo Freire, mas não só. Luiz Gonzaga veio de brinde, e poderia até dizer que Fagner ficou de longe olhando.

"Francisquinho, que letras são essas?"

"A, Be, Ce, De, Fe, Fe, Gue, Agá, I, Ji, Le, Me, Pe, O, Que e Re".

Eu jamais podia ensinar alguém a ler sem enteder sua realidade. Podia até saber de cor a quantidade de soja produzida no Brasil naquele ano, mas o alfabeto com o qual aquele menino aprendeu a ler, eu não sabia. Lembrei que, apesar de ter ouvido a música um tanto de vezes, jamais havia conseguido decorar. E, no mesmo sopetão, entendi a frase: só entra na cabeça quando o pé ta no chão.

Hoje foi diferente. Depois de uma semana inteira preparando, ao mesmo, um artigo sobre alfabetização em dados inspirado em Paulo Freire, e uma oficina sobre educação no MST para um congresso sobre internacionalismo, na Alemanha, estava com a corda todo no homi. O objetivo não era focar em Freire, porque no mesmo congresso, haveria uma oficina só sobre ele no dia seguinte. Mas durante a oficina, a conversa acabou indo para esse lado, aproveitei que estava com tudo fresco na cuca, e fui falando sobre o método de alfabetização.

Uma companheira alemã estava realmente muito interessada, me interrompia toda hora, fazendo muito esforço pra entender. O camarada alemão confessou: parece muito interessante, mas pra mim é muito difícil imaginar. Foi quando comecei a me dar conta do tamanho da distância entre Angicos de 1960, e Münster em 2015. Comecei a achar que fiz tudo errado.

"Mas então assim, partindo da realidade dos estudantes, fazendo pontes daí com novos assuntos, blablablaeminglêsmisturadocomalemãoblblbla"

"Desculpe, não entendi sua pergunta!"

"Não foi uma pergunta, foi só uma constatação que percebi agora. Problematizando a realidade das é pessoas, é tão simples inserir o debate político em qualquer processo de formação!"

Confesso que eu chamei. Mas mesmo assim, quando ele apareceu na minha frente, assim tão simples, natural, óbvio, deu aquele sorriso na alma...

Até a próxima, camarada Paulo Freire!


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