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15 de outubro, Dia dos Professores e Professoras

13 de Outubro de 2011, 21:00 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Carta de Paulo Freire aos professores (trechos)


Ensinar, aprender:
leitura do mundo, leitura da palavra



Nenhum tema mais adequado para constituir-se em objeto destaprimeira
carta a quem ousa ensinar do que a significação críticadesse ato, assim
como a significação igualmente crítica de aprender. É quenão existe ensinar sem aprender e com isto eu quero dizer mais do que diria sedissesse que o
ato de ensinar exige a existência de quem ensina e de quemaprende. Quero dizer que ensinar e aprender se vão dando de tal maneira quequem ensina aprende,
de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendidoe, de outro,
porque, observado a maneira como a curiosidade do alunoaprendiz trabalha
para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, oensinante se ajuda a
descobrir incertezas, acertos, equívocos.
O aprendizado do ensinante ao ensinar não se dánecessariamente através
da retificação que o aprendiz lhe faça de erros cometidos. Oaprendizado do
ensinante ao ensinar se verifica à medida em que oensinante, humilde, aberto,
se ache permanentemente disponível a repensar o pensado,rever-se em suas
posições; em que procura envolver-se com a curiosidade dosalunos e dos diferentes caminhos e veredas, que ela os faz percorrer. Algunsdesses caminhos e
algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quasevirgem dos alunos
percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas que nãoforam percebidas
antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como umburocrata da mente,
mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade – razão porque seu corpo
consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhaçõesdos alunos, à sua ingenuidade e à sua criatividade – o ensinante que assim atuatem, no seu ensinar, um
momento rico de seu aprender. O ensinante aprende primeiro aensinar mas aprende
a ensinar ao ensinar algo que é reaprendido por estar sendoensinado.
O fato, porém, de que ensinar ensina o ensinante a ensinarum certo
conteúdo não deve significar, de modo algum, que o ensinantese aventure a
ensinar sem competência para fazê-lo. Não o autoriza aensinar o que não sabe.
A responsabilidade ética, política e profissional doensinante lhe coloca o dever
de se preparar, de se capacitar, de se formar antes mesmo deiniciar sua atividade
docente.
...
Assim, em nível de uma posição crítica, a que não dicotomizao saber do
senso comum do outro saber, mais sistemático, de maiorexatidão, mas busca
uma síntese dos contrários, o ato de estudar implica sempreo de ler, mesmo que
neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra eassim ler a leitura do
mundo anteriormente feita. Mas ler não é puro entretenimentonem tampouco
um exercício de memorização mecânica de certos trechos dotexto.
...
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, masgratificante. Ninguém
lê ou estuda autenticamente se não assume, diante do textoou do objeto da
curiosidade a forma crítica de ser ou de estar sendo sujeitoda curiosidade, sujeito
da leitura, sujeito do processo de conhecer em que se acha.Ler é procurar buscar
criar a compreensão do lido; daí, entre outros pontosfundamentais, a importância
do ensino correto da leitura e da escrita. É que ensinar aler é engajar-se numa
experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensãoe da comunicação.
E a experiência da compreensão  será tão maisprofunda quanto sejamos
nela capazes de associar, jamais dicotomizar, os conceitosemergentes da experiência escolar aos que resultam do mundo da cotidianidade.
...
Estudar é desocultar, é ganhar a compreensão mais exata doobjeto, é perceber suas relações com outros objetos. Implica que o estudioso,sujeito do estudo, se arrisque, se aventure, sem o que não cria nem recria.
Por isso também é que ensinar não pode ser um puro processo, como
tanto tenho dito, de transferência de conhecimento doensinante ao aprendiz.
Transferência mecânica de que resulte a memorização maquinalque já critiquei.
Ao estudo crítico corresponde um ensino igualmente críticoque demanda
necessariamente uma forma crítica de compreender e derealizar a leitura da palavra e a leitura do mundo, leitura do contexto.
...
Enquanto leitores, não temos o direito de esperar, muitomenos de exigir,
que os escritores façam sua tarefa, a de escrever, e quase anossa, a de compreender
o escrito, explicando a cada passo, no texto ou numa nota aopé da página, o
que quiseram dizer com isto ou aquilo. Seu dever, comoescritores, é escrever
simples, escrever leve, é facilitar e não dificultar acompreensão do leitor, mas
não dar a ele as coisas feitas e prontas.
A compreensão do que se está lendo, estudando, não estalaassim, de
repente, como se fosse um milagre. A compreensão étrabalhada, é forjada, por
quem lê, por quem estuda que, sendo sujeito dela, se deveinstrumentar para
melhor fazê-la. Por isso mesmo, ler, estudar, é um trabalhopaciente, desafiador,
persistente.
...
É preciso que nosso corpo, que socialmente vai se tornandoatuante,
consciente, falante, leitor e “escritor” se apropriecriticamente de sua forma de
vir sendo que faz parte de sua natureza, histórica esocialmente constituindo-se.
Quer dizer, é necessário que não apenas nos demos conta decomo estamos
sendo mas nos assumamos plenamente com estes “seresprogramados, mas para
aprender”, de que nos fala François Jacob (4). É necessário,então, que aprendamos a aprender...
Recusando qualquer interpretação mecanicista da História,recuso igualmente a idealista. A primeira reduz a consciência à pura cópia dasestruturas materiais da sociedade; a segunda submete tudo ao todo poderosismoda consciência.
Minha posição é outra. Entendo que estas relações entreconsciência e mundo
são dialéticas ...
A leitura crítica dos textos e do mundo tem que ver com asua mudança
em processo.

Fonte: http://professorarroyo.blogspot.com/2011/10/15-de-outubro-dia-dos-professores-e.html

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