No tempo-espaço da modernidade liquida não é possivel experimentar!
13 de Outubro de 2013, 20:38 - 2 comentários | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
A fluidez das relações percebida por Bauman, coloca para os indivíduos a condição de seres incapazes de vivenciar, e pior ainda, apreciar, aprender com qualquer experiencia mais sólida. Afinal esses homens e mulheres, tem redefinido os significados do mundo a partir de sua individualidade. Se eu não tenho tempo e não dou espaço para o outro ser quem ele é logo, o mesmo é feito comigo o que faz dos espaços de sociabilidade uma constante arena de individualidades.
Outros percursos tem marcado minha corrida ao mar, e neste movimento tenho encontrado bancos de areia e até ilhas de resistência que aspiram a condições de arquipélagos para depois se tornarem continentes. De quem estou falando? Daqueles que Bauman chama de rebeldes e revolucionários, homens e mulheres que articulam o desejo de mudança da ordem social com seus planos individuais, ao invés de redefinir o mundo a partir de seus desejos e vontades.
[MOSAÍCO DE FOTOS: Zapatistas, Sem Terras, Indigenas, Quilombolas, MPL, Feministas e Sertanejos]
Concordo com autor que vivemos um mundo de incertezas, que mudanças repentinas acontecem num tempo/espaço que minhas avós desconheceram. O próprio Bauman reflete em outro texto (amor líquido) que até mesmo o sentimento de amor seria contestável, alegando que o tempo na cidade era tão rápido que não sabia se a amaria amanhã como a amava ontem.
Considerando a cidade uma comunidade onde estranhos podem se encontrar, é crível que a quantidade de encontros de fato são muito maiores do que em outros lugares, como em pequenas comunidades rurais, todavia, grande parte destes encontros se dá sobre a política de medo cotidiano do desconhecido. Esta politica impede que nos revelemos como de fato somos, pelo contrário não nos permite, nem deixa que possibilitemos ao outro revelar-se, por temermos não apenas a criação de laços duráveis, mas também nossa integridade. Assim, a vida nas cidades modernas mantém as pessoas longe dos espaços públicos e afasta as das habilidades para compartilhar a vida pública.
É ai que entra a vida na esfera das redes de computadores. Nestes condomínios fechados, temos maior segurança das relações, mais do que nunca a identidade é redefinida a todo instante, como dizia Bauman sobre a sociedade moderna. Não estamos fazendo nada de diferente nas redes, apenas fazemos com maior intensidade. Em muitas vezes apenas multiplicamos a quantidade de encontros, mas ainda nos encontramos em uma multidão de solitários.
Como aponta Giocconda Belli, num post sobre a cultura digital, onde destaca que as relações construídas através das redes são marcadas por uma comunicação controlada. Nesta forma de relação é possível conectar-se a muitos amigos em uma rede social qualquer sem estabelecer laço com nenhum deles, e, do dia para a noite, deixar de participar da vida social na rede sem ter nenhum quebra de protocolo com estes amigos virtuais.
Toda essa ideia sobre modernidade liquida me fez pensar no texto de Jorge Larrosa Bondía, Notas sobre a experiência e o saber de experiência, que resgato um trecho.
“A experiência, a possibilidade de que algo no aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço.” (p 24)
No Manifesto Comunista, Karl Marx, apontou os avanços tecnológicos da sociedade burguesa, que desde o estabelecimento da indústria moderna, construiu suas ferrovia rumo ao progresso, partindo a toda vapor da civilização feudal em rumo a uma sociedade mais “livre”. Outro autor desta tradição pos-modernista, Antonhy Giddens, caracteriza o atual momento pela radicalização e universalização das consequências da modernidade. De fato a sociedade burguesa moderna e sua difusão em escala mundial criaram oportunidades para uma existência segura e gratificante, à mais de 60 anos não temos guerras mundiais, porém a fizeram as custas de tirar de cada um de nós o tempo e o espaço para experimentar.
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