Ir para o conteúdo
Mostrar cesto Esconder cesto
Voltar a Blog
Tela cheia

Pública agonia da morte anunciada - Por Elisa Lucinda

27 de Julho de 2011, 21:00 , por Cecília Bizerra Sousa - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 121 vezes

Publiquei ontem no facebook e no twitter um texto fantástico de Elisa Lucinda, sobre a morte e a morte de Amy Winehouse. Quando vejo hoje de manhã, a diva poética havia me retuitado. Quase morri! ;)

Tietagens a parte, compartilho aqui também o texto de Elisa: "Pública agonia da morte anunciada", publicado em seu site "A Lira que Alucinda". Um texto, como disse, fantástico e fala-dor.

Pública agonia da morte anunciada

Elisa Lucinda

Nossa sociedade judaico cristã elogia o mártir, glamouriza a dor, super estima o sofrimento de tal modo que chega a ser sádica. Que a tragédia é campeã nas manchetes nós sabemos mas é triste  demais assistir  a morte de uma jovem  talentosa como Amy Winehouse que apesar de ser rica e famosa (ideal de vida de muita gente), se matou. A moça de linda voz que podia tudo,  parece que nos disse com sua existência, que a vida  lhe doía insuportavelmente e que mesmo tendo aonde soltar seu canto, estourou como as cigarras. Beber até desmaiar pode nos dizer que aquele ser não suporta estar diante da vida e de seus conteúdos intensos sem estar para esta mesma vida anestesiado.  Da mesma  anestesia parecia  precisar o nosso Michael Jackson cujos analgésicos eram  condição sine qua non para que  nosso astro internacional pudesse “levar” a vida. A  ilusão de poder irrestrito que a fama e o dinheiro nos fazem crer que temos deixa uma lacuna que nos  prova sua ineficiência: por que se matar se se pode ter tudo o que  se quer? Não se pode ter tudo, é bom esclarecer. E me chama especial atenção que apesar da possibilidade econômica de poderem se tratar  nas melhores clinicas do mundo e de  terem a seu dispor  melhores profissionais da saúde, esses  pobres heróis sucumbem em praça pública  sob os aplausos de seus fãs e ninguém percebe a doença grave  exposta a todos. Ninguém vê a ferida aberta, a angústia espumante à  nossa frente. Não sabemos da intimidade verdadeira da vida de Amy, mas  imagino que devesse até interessar a alguns sua  crônica embriaguez , a falta de noção para fazer contas ou cuidar dos limites que também circundavam sua arte. Com mente confusa é mais fácil ser explorado, usado, roubado. Porque a deixavam  entrar em cena assim? Cadê o produtor, o amor, a família, os amigos? No imenso palco de sua solidão voraz a moça agonizou e sua não secreta agonia teve cumplices sórdidos. Talvez sua grana calasse a boca dos que viam o abismo cada vez mais irreversível para onde ela caminhava  e não a advertira nem dela cuidara, para não perder a mordomia, para  não contrariar a rainha e ganhar seu desafeto ao invés de caros e desmedidos agrados. Não posso afirmar, porque não vi acontecer, mas não duvido nada que até nas inúmeras clínicas pelas quais passara, não tenha aparecido um enfermeiro ou  médico que, diante de suas ofertas irresistíveis e ilimitadas, ou mesmo por um simples autógrafo, não lhe tenha  deixado de oferecer suas doses proibidas ali dentro.

Quando Cássia Eller morreu, fiquei  viúva dela. Sofri como um parente. Chorava  inconsolável  lamentando a injusta morte prematura de uma tímida maravilhosa , que saiu de um barzinho  com um banquinho e um violão pra virar pop star. De repente se dera conta que aquilo, do jeito que acontecia, não era pra ela, era demais pra sua alma imprevisível  o competitivo mercado e suas cruéis exigências. Cássia cheirou, chorou desesperada, bateu a cabeça na quina da madrugada e a gente não fez nada. Da mesma maneira vimos Amy  gritar seu desespero: em junho fora vaiada na Sérvia por estar muito bêbada em cena, sem ter noção de que estava ali para oferecer um produto (sua voz bela e belas canções) para quem tinha pago pra vê-la.  Em três dias da semana de sua morte bebera, mamara sua vodca até desmaiar. Era o seu canto mudo , seu grito de socorro desesperado que o mundo não escutou. Estávamos ocupados em cultuar sua dor.


0sem comentários ainda

    Enviar um comentário

    Os campos são obrigatórios.

    Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.

    Cancelar