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Economia Solidária como alternativa e crítica ao capitalismo

14 de Dezembro de 2016, 15:21 , por Shirlei Aparecida Almeida Silva - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Estamos vivendo um momento crucial da humanidade, onde construímos um sistema de valores e crenças, baseado na opressão, na guerra e na tirania, tanto entre os seres humanos quanto entre estes e todos os demais seres que habitam o planeta terra. Temos chamado este sistema de capitalismo.

Compreendendo um pouco melhor, vamos a força das palavras: capitalismo é um substantivo masculino. A palavra capital vem do latim capitale, derivado de capitalis (com o sentido de "principal, primeiro, chefe"), e vem do proto-indo-europeu kaput significando "cabeça”. Este, nomeia um sistema socioeconômico tendo como base a legitimação da apropriação privada de tudo que é considera bens e a irrestrita liberdade do comércio e da indústria, seu principal objetivo é a acumulação de riquezas.

Neste sistema, a centralidade está na posse individual do “cabeça”, do chefe, numa visão claramente patriarcal, hierárquica opressora. Este visualiza todo o seu entorno, como possíveis bens, coisas, que podem ser apropriadas para a promoção da maximização do lucro, nesse sentido, faz parte do sistema se relacionar com o planeta (seres humanos, bichos, rios, solo, montanhas, plantas ou o próprio planeta) como coisas, mercadorias que devem ser racionalmente negociadas no mercado, gerando cada vez mais lucro e acumulação.

Este sistema valoriza e promove a competição, a disputa, a luta, as hierarquias opressoras, o mando, o autoritarismo, a obediência cega ao chefe, ao poder, a apropriação de recursos, a destruição, a morte e o medo e portanto a guerra, pois estes são parte estruturante do próprio sistema e de onde ele se alimenta.

O capitalismo gera seres humanos, medíocres, medrosos, covardes e infantilizados, limita o pensamento crítico e libertário, impõe a opressão as mulheres, as crianças, as artes e a literatura.

Em contraponto, entendemos que Economia é um substantivo feminino, o elemento “eco” vem do grego oikos e significa “casa, lar, domicílio, meio ambiente”. Na sua origem, portanto, economia é a arte de bem administrar a casa + Solidária que é por sua vez um adjetivo, também feminino, vem do Francês SOLIDAIRE, “interdependente, completo, inteiro” e do Latim SOLIDUS, “firme, inteira, completa” que acrescenta, qualifica o substantivo Economia.

Então, Economia Solidária se constitui por princípios e práticas fundadas em relações interdependentes, sólidas e altivas de colaboração, trocas e partilhas, apoiadas em um princípio matrilinear, onde as relações entre os seres humanos deve ser fundamentalmente horizontais, fundadas no reconhecimento da outra pessoa como parte de mim e do todo. Estas práticas por sua vez são inspiradas por valores culturais que colocam o cuidado com a casa comum, portanto com a vida em todas as suas dimensões, expressões e formas e a promoção da felicidade da pessoa humana e suas coletividades, como sujeitos e finalidade da atividade econômica, cultural e política.

A Economia Solidária busca bases diferentes e antagônicas ao capitalismo, não se baseia na acumulação, mas no cuidado com o planeta e todos os seres que nele habitam, na perpetuação das condições para gerar vida e isto requer a tomada de consciência, criatividade e responsabilidade dos indivíduos e a solidariedade entre os cidadãos e cidadãs, que se reconhecem como parte e não comerciantes da natureza e que com ela e entre ela está em total conexão e interdependência.

A Economia Solidária, se coloca também propulsora de um (des)envolvimento endógeno, vindo a partir das necessidades das comunidades humanas, no diálogo franco e direto, onde a definição do que produzir, vem a partir das necessidades reais também do planeta e todas as criaturas, onde a produção, a distribuição, as finanças e o consumo são ações responsáveis e contextualizadas.

Mas, é importante ficar alerta, a força militante e propositiva da economia solidária, não pode se bastar em si mesma, não pode ficar somente no mundo das ideias, em fundamentalismos, tristes e rancorosos, que se envenenam com a disputa pequena, cada vez mais adoecidos em grupos fechados de militontos[1], onde pessoas fracas e débeis se encontram somente para criar intriga,  apontar defeitos uns dos outros, para reclamar e se lamentar, debatendo ardorosamente para saber quem é do dono da razão, ou quem são os donos da economia solidária, numa ação antropofágica se consumem a si mesmos, afastam quem poderia chegar, somar e enriquecer o debate. Afirmo: isto não é economia solidária, não promove o bem viver e na verdade serve ao projeto Capitalista.

É preciso ter coragem para ir além, romper o lugar comum, o que já está dado, se tornar pratica e práxis. Ser espaço gerador de felicidade, beleza, leveza, esperança, lugar da ética, da estética, da poética e também da patética.

A Economia Solidária não se forma com pessoas dependentes, frágeis e débeis. Mas, com mulheres e homens, jovens e velhos, crianças e adolescentes,  de todas as raças e credos, conscientes do seu papel no mundo, seres políticos, que estrategicamente se colocam, se questionam, se auto organizam, não esperam por projetos ou políticas externas aos seus coletivos, tem a coragem de olhar de frente e respeitam e tentam compreender suas diferenças e conflitos fazendo destas sua força, recriam reinventam as  maneiras e significados do trabalho, dos produtos e serviços gerados, da vida comunitária, constroem comunidades autônomas e altivas,  determinadas e propositivas para todos os campos da ação humana, baseados nos princípios do cuidado e da vida plena.

Economia Solidária, neste momento histórico, considero como um fronte de resistência, um possível contraponto, frente as imposições do sistema capitalista, que tenta cada vez mais ferozmente transformar tudo em mercadoria, até mesmo a mercantilização das relações, a ameaça de destruição do planeta em mais de 23 diferentes formas simultâneas. A economia solidária deverá estar de mãos dadas e em sintonia com outros movimentos sociais, apontando a necessidade urgente de um outro paradigma não capitalista, que promova uma sociedade cuidadora e saudável.

Portanto, a própria existência e a necessidade de uma economia do cuidado, vem do fato que a economia capitalista não atende, não preenche as necessidades da vida, dos sujeitos e do planeta ao contrario coloca este em risco. A Economia Solidária, necessariamente vai mais além da crítica, pois traz seu bojo, no seu amago, uma proposta de reflexão, ação, reflexão.

Muitas iniciativas, que nos fazem saborear a sociedade dos nossos sonhos, já estão em prática, baseadas em uma nova lógica, distante do modelo capitalista, são organizações comunitárias em ecovilas, ocupações urbanas, produção agroecológica, biodinâmica, permacultura, feiras orgânicas, lojas solidárias, fundos rotativos, bancos comunitários com moeda social, redes e cadeias produtivas. Nestes espaços se busca o exercício de uma democracia direta e não representativa, muito além de uma categoria produtiva. Esta perspectiva está gerando, novas concepções e formas da escola, de espiritualidade, de relação com o tempo, com o trabalho, e até mesmo redefinindo as reais necessidades humanas e apontando para novas forma de se fazer política voltadas a valores éticos e responsáveis e uma economia da vida verdadeira.

Nascemos para sermos cuidados e cuidadores, e podemos enquanto seres em evolução aprender cada vez mais a dimensão do verbo AMAR. Não somente como um sentimento melancólico, mas como um verbo regular, transitivo direto. Enquanto verbo exige ação. Não tão somente contemplação, ou falsa passividade.

Desta maneira a Economia Solidária se transforma não somente numa crítica, mas verdadeiramente uma antítese do capitalismo.

“Economia é todo dia e a nossa vida não é mercadoria”

 

[1] Ver texto do Frei Betto - Dez Conselhos para os Militantes de Esquerda. http://www.revolucoes.org.br/v1/sites/default/files/dez_conselhos_para_os_militantes_de_esquerda.pdf


Fonte: Shirlei Aparecida Almeida Silva

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