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Estes nossos dias...

27 de Março de 2012, 10:47 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Por todos os cantos do país podemos encontrar experiências magníficas que dão conta de expressões da vivência e realidade social do nosso povo. Os tempos em que tais experiências acontecem são outros, e trazem consigo formas diferentes de preservação, elaboração e desenvolvimento, que marcam de maneira significativa as culturas locais e regionais. Na atualidade, aquilo que esta sendo produzido nos rincões mais distantes do grandes centros tem  potencialmente a possibilidade de ser apresentado ao mundo por meio da rede internet. Este fato em especial, mas não apenas ele, traz para estas comunidades novas oportunidades e conjuntamente suas experiências se reelaboram graças às potencialidades dos ambientes virtuais web.  Tais ambientes virtuais são elementos que constituem o que tem sido designado por ciberespaço que numa definição mais ampla de Levy [Cibercultura -1999, p. 92] consiste no “espaço de comunicação aberto pela interconexão dos computadores e das memórias dos computadores.” Este seria o meio que coloca em sinergia as diversas interfaces, os próprios ambientes enfim, todas as funcionalidades disponibilizadas via rede. É destas relações intrínsecas entre as práticas sociais, a cultura e as tecnologias de informação e comunicação (com base micro-eletrônica) que emerge o que tem sido designado pelo termo cibercultura. Para Pierre Levy, pesquisador da cibercultura, esta é 
(…)  a expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião entorno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O apetite para as comunidades virtuais encontra um idealde relação humana desterritorializada, transversal, livre. As comunidades virtuais são os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato. (LEVY, Cibercultura - 1999, p.130)
   Com a cibercultura, o próprio tempo e espaço ganham novos contornos e definições. Esse novo universo, o ciberespaço, é habitado até mesmo pelos que acham que vivem uma vida “off line” pois, ainda que não estejamos continuamente conectados, estamos imbricados nas relações que constituem-se a partir dos ambientes de rede. As decisões que lá são tomadas, as transações feitas no ciberespaço, tem reflexos práticos em nossa vivência extra web. Como eu já disse e pode ser facilmente atestado, nosso país é rico em experiências culturais. A seguir então, comentarei algumas que nascem da interação Culturas + Tecnologias. 
Relacionado identidade indígena e tecnologias digitais, a rede Índios On-line nasceu em 2004 fruto de uma articulação da ONG Thydêwá com sete nações indígenas do nordeste - Pankararu (PE), Xucuru-Kariri, Kariri-Xocó (AL), Tumbalalá, Kiriri, Tupinambá e Pataxó Hahahae (BA).  A ideia originou-se de um projeto anterior (Índios na Visão dos Índios) que visava produção de uma coleção de livros em que os índios fossem os produtores de conteúdos – fotografias e textos. Ao aprenderem a usar computadores e telefones celulares os integrantes do projeto perceberam que podiam ir além do que previamente havia sido pensado. Após conectarem-se à rede internet direto de suas aldeias os índios passaram a postar livremente arquivos de texto, áudio, fotos e vídeos em um website e as ações expandiram-se com suporte de oficinas oferecidas pelo projeto ArcoDigital. Atualmente o foco do trabalho, que é voluntário e agora conta com o apoio do programa Cultura Viva, consiste em dar visibilidade na rede às questões relativas ao cotidiano das aldeias. Os índios, com suas fotos, vídeos de celular e comentários tem usado as tecnologias digitais para denunciar e discutir seus problemas locais como a perda da safra de 2009 da tribo Nhenety por falta de um trator, como  também outros mais amplos como questões ligadas a identidade, reconhecimento e demarcação de terras.
Se navegarmos pelo site do Índios Online poderemos encontrar comentários às publicações feitos por membros de povos indígenas de outros países, uma evidencia de amplitude que atingem os debates. Segundo informações do próprio site o projeto “Índios Online é um canal de diálogo, encontro e troca. Um portal de diálogo intercultural, que valoriza a diversidade, facilitando a informação e a comunicação para vários povos indígenas e para a sociedade em forma geral.”
Este exemplo nos convida para uma reflexão à respeito dos tempos em que vivemos em que a nossa relação com o digital e a virtualidade  tem se estreitado cada vez mais. Elaboramos e reelaboramos ao mesmo tempo nossa estética corporal e a de nossos perfis e avatares nas redes sociais; fortalecemos antigas amizades e fazemos novos laços; estabelecemos relações profissionais e desenvolvemos aprendizagens diversas; nos ocupamos em manter-nos atualizados sobre o que acontece no mundo e também em manter o “nosso mundo” atualizado sobre o que acontece conosco. Informar e estar informado, “estar na rede”, inteirar-se à respeito do que há de novo, tudo isto está na ordem do dia e estes são elementos importantes da cibercultura.    Como no caso dos “Índios Online”, cada vez mais criamos espaços onde os conhecimentos e saberes são trocados, revistos e reelaborados em prazos mais curtos graças à possibilidade de ações em redes colaborativas que os tornam mais atuais e aplicáveis trazendo retornos significativos para a sociedade. 
Estas são claras nuances dos nossos dias, desta tal cibercultura. Nuances que exigem de nós, para sua compreensão, percepções complexas que relacionem espaço-tempo-culturas-tecnologias-conhecimento.


Elaborado com base em PINHEIRO, 2011. Produção e difusão do conhecimento em tempos de cibercultura: potencialidades. FACED/UFBA.
Acompanhe esta e outras postagens também em: www.olharddodan.blogspot.com

Fonte: http://olhardodan.blogspot.com/2012/03/estes-nossos-dias.html

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