Henry Kissinger, figura famosa na política mundial, dizia
que quem domina a comida domina as pessoas. Não incluíram no pacote as
doenças crônicas resultantes do tipo de comida difundida pelo mundo como
algo “moderno”, como o hambúrguer e o refrigerante cola – diabetes em
adultos, cardiovasculares, câncer e hipertensão, apenas para citar as
campeãs nas estatísticas. A OMS informa que 2,8 milhões de pessoas
morrem em consequências de doenças associadas ao sobrepeso. E outras 2,2
milhões morrem por intoxicações alimentares.
Por Najar Tubino.
Porto Alegre - A indústria da
alimentação deverá faturar em 2014 US$5,9 trilhões, segundo estimativa
da agência britânica dedicada à pesquisa sobre consumo e marcas – The
Future Laboratory. O mercado global de snacks (bolinhos, biscoitos,
salgadinhos) deverá movimentar US$334 bilhões. As vendas de chocolates e
confeitos vão faturar US$170 bilhões. O Brasil consumiu em 2012, 11,3
bilhões de litros de coca-cola, empresa que faturou US$48,02 bilhões, e
lucrou US$ 9bilhões. Na pesquisa do IBGE comparando 2002-2003 com
2008-2009, o consumo anual de arroz das famílias caiu 40,5% - de 24,5kg
para 14,6kg- e o de feijão caiu 26,4% - de 12,4 para 9,1kg. Os
refrigerantes do tipo cola cresceram 39,3% de 9,l litros para 12,7
litros.
No Brasil, 48,5% da população está acima do peso, são 94
milhões de pessoas. Entre as crianças de 5 a 9 anos o aumento da
obesidade multiplicou por quatro nos meninos (de 4,1% para 16,6%) e por
cinco entra as meninas – de 2,4% para 11,8%. Uma em cada 10 crianças
abaixo dos seis anos já apresenta sobrepeso. Nos Estados Unidos 35,7% da
população, ou seja, mais de 135 milhões de pessoas são obesas, segundo o
Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) – 17% são jovens. No
mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde o número já atinge 1,5
bilhão de pessoas. Na China, o índice de obesidade duplicou nos últimos
15 anos, na Índia subiu 20%. No Brasil, segundo um estudo da
Universidade de Brasília, o SUS paga R$488 milhões por ano para tratar
doenças ligadas ao aumento do peso. Moderno doentio
As causas
citadas para explicar esta tragédia humana estão associadas à mudança
tecnológica, ao estilo de vida das metrópoles, aos hábitos sedentários, a
questão prática da vida atual, não deixa tempo para cozinhar, comer em
casa, entre outras tantas. É óbvio que a alimentação está no centro
desse problema, que há muito tempo deixou de ter uma abordagem cultural,
e precisa ser encarado como uma mudança social, política e econômica.
Henry Kissinger, figura famosa na política mundial, dizia que quem
domina a comida domina as pessoas. Não incluíram no pacote as doenças
crônicas resultantes do tipo de comida difundida pelo mundo como algo
“moderno”, como o hambúrguer e o refrigerante cola – diabetes em
adultos, cardiovasculares, câncer e hipertensão, apenas para citar as
campeãs nas estatísticas. A OMS informa que 2,8 milhões de pessoas
morrem em consequências de doenças associadas ao sobrepeso. E outras 2,2
milhões morrem por intoxicações alimentares, resultante de
contaminações de vírus, bactérias, micro-organismos patogênicos e
resíduos químicos.
Neste capítulo específico a história é longa.
Um dossiê da Autoridade de Segurança Alimentar e Econômica, de Portugal,
usando os dados da União Europeia, contabiliza 100 mil compostos
químicos usados correntemente no mundo. Na União Europeia eles registram
30 mil, produzidos a uma média de uma tonelada por ano, sendo que a
metade tem potenciais efeitos adversos à saúde.
“- Poucos foram
estudados em profundidade suficiente de modo a permitir as estimativas
de riscos potenciais de exposição, sobretudo aos seus efeitos de longo
prazo, quanto à toxicidade ao nível da reprodução ou do sistema
imunológico ou ação carcinogênica”.
A contaminação pode ocorrer
no solo, durante o plantio, no tratamento da planta, depois na colheita e
armazenagem, também dos processos industriais, da queima de substâncias
que se transformam e pela incorporação de contaminantes e aditivos em
alimentos:
“- A prevalência de doenças ou a morte prematura
causada por químicos presentes nos alimentos é difícil de demonstrar,
devido ao período de tempo, geralmente longo, que decorre entre a
exposição a estes agentes e o aparecimento dos efeitos”, registra o
documento .
Mentira consistente O problema é que a
comida moderna, saborosa, suculenta, cheirosa vendida pela publicidade
no mundo inteiro é uma mentira. Todos os aspectos citados, incluindo
ainda a cor, o tempo de vida na prateleira, a viscosidade, o brilho, o
sabor adocicado, ou então o salgadinho bem sequinho, todos são resultado
da aplicação de uma lista quase interminável de aditivos químicos.
Inclusive registrada internacionalmente por códigos numerados e
divulgada pelo Codex Alimentarius, da ONU. Por exemplo, o conservante
nitrito de sódio é o E-250 e o adoçante artificial acessulfamo-K é o
E-950.
Antes de avançar no assunto, um alerta da ONU sobre o uso de componentes químicos na vida moderna:
“-
O sistema endócrino regula a liberação de certos hormônios que são
essenciais para as funções como crescimento, metabolismo e
desenvolvimento. Os CDAs, desreguladores endócrinos, podem alterar essas
funções aumentando o risco de efeitos advesos à saúde. Os CDAs podem
entrar no meio ambiente através de descargas industriais e urbanas,
escoamento agrícola e da queima e liberação de resíduos.Alguns CDAs
ocorrem naturalmente, enquanto as variedades sintéticas podem ser
encontradas em agrotóxicos, produtos eletrônicos, produtos de higiene
pessoal e cosméticos. Eles também podem ser encontrados como aditivos ou
contaminantes em alimentos”.
O alerta das Nações Unidas é no
sentido de realizar “urgentemente” novas pesquisas para avaliar o
impacto dos também chamados disruptores endócrinos. Ocorre que alguns
químicos sintéticos espalhados mundialmente têm uma estrutura molecular
parecida com os hormônios naturais, como o estrógeno e a testosterona.
Os hormônios funcionam como mensageiros da herança genética, e os
químicos interferem nesse processo, alterando o conteúdo da mensagem. Em
1996, um grupo de pesquisadores norte-americanos – Theo Colborn, Diane
Dumanoski e John Peterson Myers – lançaram o livro “O Futuro Roubado”,
tratando dessa temática, com um apêndice na edição brasileira de José
Lutzenberger. No Brasil o livro foi lançado em 2002. Urgência 17 anos
depois.
Prático e barato O problema é que a indústria
se interessa por custo/benefício. Os aditivos dão consistência aos
alimentos, não deixam a mostarda e a maionese virar uma gororoba, a
carne e os produtos curados, como salsichas, mortadela, salames,
perderam a cor vermelho-rosada. Os sorvetes não ficam com espuma, as
sopas e caldos tem um cheiro maravilhoso. Fiquei enjoado de tanto ler
sobre aditivos químicos nos últimos tempos. O mais impressionante, dos
mais de 40 trabalhos que repassei, é a declaração da supervisora de
marketing, da Química Anastácio (SP), para a revista Química e
Derivados:
“- O nitrito de sódio é o principal aditivo usado em
produtos cárneos, é o agente conservante de todos os produtos curados,
promove a coloração vermelho-rosada nas curas e nos crus e o róseo
avermelhado nos cozidos, além do sabor característico. Realmente esses
produtos são considerados carcinogênicos, porém os grandes frigoríficos
os utilizam pelo fato de não ter substituto no mercado. Mas devem ser
usados com responsabilidade, respeitando os limites máximos de 0,015g
por 100g e 0,03g por 100g, nos casos do nitrito e nitrato de sódio”,
disse Alessandra Fernandes Guera.
A Associação Brasileira de
Defesa do Consumidor (PROTESTE) tem trabalhos que mostram a capacidade
dos nitritos e nitratos de sódio de reagir com certas substâncias
presentes nos alimentos, que são as aminas, e se transformam em
nitrosaminas, potencialmente cancerígenas.
Danos cerebrais Uma
pesquisa de Sandrine Estella Peeters, da COPPE-UFRJ aborda o tema de
como os aditivos químicos afetam a saúde. Hiperatividade em crianças,
citado como consequência de corantes em alimentos, além de dor de cabeça
crônica. Urticária, erupção da pele, câncer em animais, além de riscos
de longo prazo de causar danos cerebrais. Este é o caso do glutamato de
sódio, muito conhecido nos temperos, mas é utilizado em mais de cinco
mil produtos.
Considerado como um agente capaz de produzir
efeito neurotóxico. Em outra pesquisa, da Universidade Cândido Mendes,
Roseane Menezes Debatin, tese de mestrado, comenta o seguinte sobre o
glutamato de sódio:
“– É um sal composto de uma molécula de ácido
glutâmico ligada ao sódio. Tem um sabor adocicado, é um grande
estimulante do paladar, suprimindo os gostos desagradáveis, levando a
uma maior consumo de produtos industrializados. Usado em caldos,
biscoitos, snacks, miojos, batata frita. O ácido glutâmico está
envolvido na ativação de uma série de sistemas cerebrais, concernentes à
percepção sensorial, memória, habilidade motora e orientação no tempo e
espaço. Existem vários trabalhos científicos comprovando a
neurotoxicidade do glutamato, principalmente na região do hipotálamo e
no sistema ventricular”.
Nos Estados Unidos, o glutamato foi
retirado dos alimentos infantis em 1969. A Ajinomoto maior indústria do
ramo- 107 fábricas em 23 países - que comercializa o produto informa que
o consumo no mundo cresce 5% anualmente.
Lista interminável Os
antioxidantes, usados na conservação, interferem no metabolismo,
produzem aumento de cálculos renais, ação tóxica sobre o fígado e
reações alérgicas, conforme a pesquisa da COPPE. Os conservantes, como o
ácido benzoico, um dos mais usados, produzem irritação da mucosa
digestiva, outros produzem irritações nas células que revestem a bexiga,
podendo atuar na formação de tumores vesicais. As gorduras hidrogenadas
provocam o risco de doenças cardiovasculares e obesidades. E os
adoçantes artificiais, substitutos do açúcar, estão relacionados com a
diabete, obesidade e o aumento de triglicerídeos (gordura na corrente
sanguínea). Sobre os adoçantes, o professor e doutor em ciência de
alimentos da Unicamp, Edson Creddio, comenta o seguinte:
“- Os
adoçantes são medicamentos que devem ser usados por pessoas com diabetes
e hipoglicemia e não por todas as pessoas, inclusive crianças, como se
fossem totalmente isentos de risco. Esta substância é vista pelo público
leigo como panaceia passada pela mídia com a imagem que levará o
usuário a ter um corpo perfeito”.
Os adoçantes artificiais mais
usados são a sacarina, que é 500 vezes mais potente que o açúcar, o
aspartame, como diz o professor, que é 150 a 200 vezes mais doce, além
do ciclamato e o acessulfamo-k, também muito mais doce que o açúcar.
Estão presentes nos refrigerantes, bebidas isotônicas, sucos preparados,
e demais industrializados.
Sódio em demasia Fiz uma
relação com 14 grupos de aditivos mais usados nos alimentos consumidos
atualmente. Os conservantes aumentam o prazo de validade, os
estabilizantes mantêm as emulsões homogêneas vamos dizer, os corantes
acentuam e intensificam a cor natural para melhorar a aparência e fazer o
consumidor acreditar que está levando algo novíssimo. Os antioxidantes
evitam a decomposição, os espessantes dão consistência ao alimento e os
emulsificantes aumentam a viscosidade do produto. Os agentes quelantes
protegem os alimentos de muitas reações enzimáticas e os flavorizantes
tem o papel de realçar o odor e o sabor dos alimentos. Já os
edulcorantes são usados em substituição ao açúcar e os acidulantes
utilizados para acentuar o sabor azedinho do alimento. Os humectantes
mantêm a umidade e a maciez, os clarificantes retiram a turbidez, os
agentes de brilho mantém a aparência brilhante e os polifosfatos são
usados para reter a água, no caso dos congelados, como o frango e nos
produtos curados.
No Brasil, a ANVISA desde 2011 negocia com a
indústria de alimentos para diminuir a quantidade de sódio dos alimentos
industrializados. Não há nem meta nem prazo para chegar a um nível
aceitável. Numa pesquisa realizada em 2011, com 496 produtos das regiões
nordeste, sudeste e sul foram encontradas entre produtos de diferentes
empresas quantidades 10 vezes maiores nos queijos tipo minas frescal,
parmesão e ricota. No entanto, as menores diferenças na quantidade usada
de sódio entre os mesmos produtos de diferentes empresas chegaram a 40%
no caso das mortadelas, macarrão instantâneo e bebidas lácteas. O teor
de sódio mais elevado foi registrado no queijo parmesão inteiro e
ralado, macarrão instantâneo, mortadela, maionese e biscoito de
polvilho.
Informa a ANVISA: o sódio é um constituinte do sal,
equivalente a 40% da sua composição, sendo um nutriente de preocupação
para a saúde pública, que está diretamente relacionado ao
desenvolvimento de doenças como hipertensão, cardiovasculares e renais.
Na tabela de informação nutricional dos alimentos, que deve estar no
rótulo, consta a quantidade de sódio. Para ser isento não pode ter mais
de 5mg por 100g de alimento. Se tiver 40mg na mesma proporção é muito
baixo e 120mg é considerado baixo. Na pesquisa da ANVISA o teor médio de
sódio do macarrão instantâneo foi de 1.798mg por 100g, da mortadela foi
de 1.303mg por 100g e o da maionese 1.096mg por 100g.
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