Ir para o conteúdo
Mostrar cesto Esconder cesto

Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Voltar a Artigos e reflexões
Tela cheia Sugerir um artigo

Economia Solidária - o despertar de um novo movimento social

5 de Maio de 2011, 21:00 , por Desconhecido - 66 comentários | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 640 vezes

daniel tygel, 6 de maio de 2011

Eu estava no metrô de Brasília ontem, e de repente me veio um pensamento forte: "O movimento de Economia Solidária nasceu!", e senti uma grande alegria me tomar por dentro, e um desejo de escrever esta carta...

Comecei a ver as tantas pessoas, empreendimentos, organizações, redes, que estão construindo, há tantos anos, o embrião de outro(s) modelo(s) de desenvolvimento a partir das mais diversas práticas econômicas, políticas, culturais e sociais.

Vi a beleza dos empreendimentos, contra a corrente, se organizando em redes, centrais de comercialização, grupos de consumo, uniões representativas nacionais ou locais. Produzindo, vendendo, fazendo feiras, trocando, e muitas vezes passando inúmeras dificuldades para sobreviver, sem apoio algum, e mesmo assim militando, participando de encontros, reuniões de fóruns, assembléias, conferências. Cada empreendimento solidário, que se pauta pela partilha, pela cooperação, pelo respeito e pela inserção no território é um núcleo real, concreto, de transformação social.

Vi a beleza de pesquisadores e alunas/os universitárias/os, tentando quebrar o isolamento das universidades para dar um sentido maior à construção do conhecimento com a participação popular através de incubadoras e pesquisas inovadoras.

Vi a beleza do setor de igrejas, de tantas denominações, lutando contra um conservadorismo e alienação política nas estruturas eclesiais ou evangélicas, buscando dar um sentido político aos valores, místicas e parábolas bíblicas.

Vi a beleza das tantas organizações sem fins lucrativos, que abraçam a educação popular, educação do campo, a luta pela democracia, pelo meio ambiente, pela segurança alimentar e nutricional, pela justiça ambiental, e tantas outras, denunciando o atual modelo de desenvolvimento e se articulam com as mais diversas alternativas econômicas propositivas.

Vi a beleza das tantas pessoas que decidem entrar no poder público, assumir cargos de gestão, e travarem uma enorme luta dentro do governo municipal, estadual ou federal para poder fazer avançar políticas de apoio à economia solidária. E estas mesmas pessoas, gestores públicos, se organizando em rede para fazer parte também do movimento de economia solidária.

Vi a beleza dos vários movimentos afinados, especialmente o de mulheres, mas também os da cultura livre, da reforma agrária, de povos e comunidades tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, pescadores artesanais e tantos outros), da agroecologia, o movimento sindical de trabalhadores rurais e urbanos: quanta gente abraçando causas específicas e ao mesmo tempo buscando dar corpo a alternativas econômicas através da economia solidária, iniciando um processo importante de convergências entre movimentos, tendo o território como local de articulação, para além das setorialidades, e buscando articular a denúncia, a resistência e a construção de alternativas.

O movimento de Economia Solidária está mostrando sua cara, que tem várias cores e tons.

Está começando uma longa trajetória para sair da invisibilidade.

Está despertando!

O movimento conseguiu, nestes últimos 36 dias, afirmar que tem um horizonte político muito diferente do horizonte político defendido pelo SEBRAE, CNI e outros que pregam a necessidade de concorrência, isolamento, individualismo, competição e eficácia na maximização dos lucros, além de defenderem o atual modelo de desenvolvimento e de organização da economia e da sociedade.

O movimento conseguiu, nestes últimos 36 dias, afirmar que a Economia Solidária é diferente. Defende a mudança no modelo de desenvolvimento e de sociedade, para que seja pautada pela participação, democracia econômica, autogestão, cooperação, diversidade cultural, étnica e de gênero, pela territorialidade, e pelo cuidado com nosso meio ambiente.

Na próxima semana vamos começar as audiências públicas. Estou muito animado, e confiante quanto à sabedoria de todas e todos que estão na base e vão participar destas audiências.

Somos muito diversos, polemizamos muito, temos muitos conflitos internos. Mas esta diversidade é nossa força também: há os que puxam mais o econômico (como as uniões locais/nacionais), os que puxam mais o ideológico (como as universidades), os que puxam mais a reciprocidade e o comunitário (como as organizações de igreja progressista), os que puxam mais as questões de diversidade de gênero, raça e etnia, os que puxam mais o político. E todas estas dimensões estão, de alguma maneira, na alma de cada pessoa, de cada empreendimento, de cada trabalhador/a de empreendimento, de cada organização e rede.

E estão todas articuladas nos fóruns municipais, estaduais e nacional de Economia Solidária.

Esta é uma mensagem de amor: A todas e todos que estamos dando um salto histórico de despertar de um novo movimento social, muito especial, ainda com muitos desafios pela frente, mas que está caminhando e construindo sua autonomia e um jeito próprio de fazer política, a partir da produção, da atividade econômica, da união entre o econômico, o político, o cultural, o ambiental e o respeito à diversidade de gênero, raça e etnia.

"É muito fácil ouvir uma árvore que tomba. Mas ninguém ouve toda uma floresta a crescer." - provérbio africano.

Boas vindas ao Movimento de Economia Solidária!

E boas audiências a todas e todos!


Fonte: Daniel Tygel

66 comentários

  • 334cf3bfc784f782352c60cf231a391c?only path=false&size=50&d=404Gerson Appenzeller (Chico Bento)(usuário não autenticado)
    6 de Maio de 2011, 20:03

    O Amor é o Cerne da Economia Solidária

    Daniel:
    Eu estou percorrendo o sítio do FBES (aliás, recentemente, tenho feito isso mais de uma vez ao dia...)e eis que agora fui alcançado pela onda de amor fluente do teu caloroso, envolvente e estimulante texto, qual hino em louvor à EcoSol.
    Tuas palavras me fizeram relembrar da 1ª carta de Paulo aos Coríntios em que ele nos fala do supremo dom do Amor.
    Creio verdadeiramente que o que nos une e nos envolve pela Economia Solidária é a manifestação do Amor Essencial que temos e buscamos partilhar.
    Fostes feliz em plenitude ao repartir conosco esta visão, e, por isso somos sempre gratos a ti por tudo que vens amorosamente agindo.
    "Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três: porém, o maior destes é o Amor."


  • 8fc16575ff112d84b73ad0c21659933b?only path=false&size=50&d=404wanderleyart(usuário não autenticado)
    7 de Maio de 2011, 21:36

    O que tu fizestes faz um bem pra nós...

    Parabéns pelo o trabalho de redigir e compartilhar seu pesamento/visão, pois ações assim só fortalecem a nossa luta, ainda mais neste momento importantíssimo do movimento da Economia Solidária.
    1 grande Abraço solidário!


  • 100 2743 minorCaue
    8 de Maio de 2011, 9:39

    Obrigado.

    E como se pudesse ouvir a floresta crescer...


  • Caa445c12b37057a7e9d1338409c98b3?only path=false&size=50&d=identiconana
    9 de Maio de 2011, 1:53

    obrigado

    muito bom..


  • 207449006c47305d182b10d3010e681e?only path=false&size=50&d=404iber ajala(usuário não autenticado)
    9 de Maio de 2011, 11:32

    AÇÃO DO ESPIRITO DE FAZER.

    TODOS NÓS QUE SOMOS ESCRAVO DO SALARIO, TEM DENTRO DE SI SUFOCADO O GRITO DE LIBERDADE, E É HISTO QUE TE MOVE E ATODOS NÓS QUE ESTAMOS CONSTRUINDO ESTE MOVIMENTO, TEM O AMOR PEGANDO FOGO DENTRO DO CORAÇÃO E NOS MOVE DE VARIAS FORMAS FORMATANDO O MODELO DE VIVER COM MAIS PLENITUDE DO SER HUMANO.


  • Ae61ef5528a5ab187ff89fdaacdeb0af?only path=false&size=50&d=404Katiucia Gonçalves(usuário não autenticado)
    9 de Maio de 2011, 14:25

    Tuas palavras, as minhas.....

    Oi Daniel..

    Tu não poderia ter usado melhor as palavras,tu disse tudo aquilo que eu como ees tenho no coração (e sei que muitos se identificarão com que tu escreveu) em relação ao Movimento de Economia Solidária..desde que estourou esta questão da Pl. e tivemos que refletir sobre o movimento, oque somos? e o que queremos? a coisa mais certa é a de que :Não queremos ser os patrões..o que queremos é igualdade.(Esta frase fez parte do texto de abertura da 10 Feira do dia das M~es de Porto Alegre)...Sexta dia 13/05 as 14h na SRT, teremos nosso primeiro encontro preparatório do Forum gaucho para refleteirmos sobre a nossa proposta,e farei questão de abrirmos lendo esta tua demonstração de amor pelos nosso ideais....obrigada por voce está conosco......
    katiucia Gonçalves


Enviar um comentário

Os campos são obrigatórios.

Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.

Cancelar

FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária

Brazil