Rio+Leaks: veja nova versão do documento que será negociado na Rio+20 oficial, não divulgado pela ONU
мая 24, 2012 21:00 - no comments yetA Cúpula dos Povos divulga em primeira mão a mais recente versão do documento que servirá de base para as discussões na Rio+20 oficial (o ‘rascunho zero’), distribuída apenas para os grupos negociadores das Nações Unidas – Estados-membros, organizações intergovernamentais e Major Groups. No espírito Wikileaks, esta divulgação de um documento mantido fora do alcance do público pela ONU é apenas a primeira da série que chamamos de Rio+Leaks.
As Nações Unidas publicaram na íntegra apenas a primeira versão do documento. O motivo? Não sabemos. Mas a Cúpula considera que todas as versões do ‘rascunho zero’ – intitulado O futuro que queremos – são de interesse público e ajudam a entender os jogos de poder e os interesses que circulam nos debates a portas fechadas na sede da ONU, em Nova York.
Neste documento, formulado após uma rodada de negociações informais realizada no início de maio, as 80 páginas revelam uma “linguagem mais amena que as outras versões do ‘rascunho zero’”, segundo a antropóloga Iara Pietricovsky, do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e membro do Comitê Facilitador da Sociedade Civil Brasileira para a Rio+20. Como nas outras duas versões do documentos que analisamos aqui, Iara apontou alguns aspectos importantes – explícitos e implícitos – do texto.
Consensos vagos
Nesta versão mais recente do ‘rascunho zero’, alguns parágrafos terminam com a frase “concordado ad ref“. Significa que aqueles pontos e temas estão o mais próximo possível de um consenso geral, que será acordado durante a Rio+20. No entanto, são justamente esses parágrafos os mais vagos, avalia Iara. “Os pontos de maior consenso sempre são expressos por palavras como ‘reafirmamos’, ‘reconhecemos’, ‘convidamos’, ‘sublinhamos’, ‘enfatizamos’ etc. Qualquer um que ler esses pontos vai concordar: ninguém se sente ameaçado”, opina.
Os pilares são três, o foco é um
A ideia dos três pilares do desenvolvimento sustentável – econômico, social e ambiental – permanece central nesta nova versão de O futuro que queremos. Estranhamente, no entanto, apenas o pilar ambiental tem retranca própria no texto. “A ausência de capítulos referentes aos pilares social e econômico acentua o meio ambiente e ameniza a importância das outras dimensões”, critica Iara. “Assim, o escopo da conferência fica reduzido, e também a ligação entre os três pilares.
Um exemplo da valorização do pilar ambiental em detrimento dos outros dois é a ideia de fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) como órgão fundamental na promoção do desenvolvimento sustentável. “Deveria haver uma retranca para o pilar econômico e outra para o pilar social, também indispensáveis”, pondera a antropóloga.
Mulheres e direito à água
Embora o texto do documento atual ainda entenda corporações privadas e movimentos sociais como elementos de igual peso no escopo da sociedade civil, alguns movimentos sociais conseguiram incorporar suas reivindicações: as mulheres, os movimentos de direito à água e, em parte, os sindicados.
As mulheres são mencionadas diversas vezes ao longo do texto como detentoras de um “papel fundamental para desempenhar rumo ao desenvolvimento sustentável”. O direito à água também é um dos únicos a ser reafirmados, segundo Iara. “A forte menção às mulheres e ao direito à água são vitórias desses grupos sociais nas negociações dentro da ONU”, explica. “Ainda assim, no caso da água, o texto abre espaço para o setor privado.”
Metas de desenvolvimento sustentável
Como esperado, as Metas de Desenvolvimento Sustentável (SDGs, na sigla em inglês) foram apresentadas no documento, embora sem menção ao modo como elas deverão ser implementadas. “Nenhum SDG é mandatório: há apenas propostas, sugestões e ideias que ficarão a cargo dos países implementar ou não”, critica Iara.
Para ler a nova versão do documento O futuro que queremos, publicada (mas não divulgada) na última terça (22/5), clique aqui (pdf em inglês).
“Nós queremos uma ONU para os povos e não para as corporações”
мая 23, 2012 21:00 - no comments yet
Coletiva da Cúpula dos Povos para a imprensa internacional, no Sindicato de Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro (Foto: Adriana Medeiros)
A coletiva que a Cúpula dos Povos promoveu hoje no Sindicato Dos Engenheiros do Estado do Rio de Janeiro reuniu jornalistas dos mais importantes veículos de comunicação das Américas e da Europa. Durante o encontro, foram discutidos os principais assuntos que entrarão na pauta de discussões no evento que vai acontecer em menos de um mês no Rio de Janeiro.
Quem esteve à frente foram Marcelo Durão e Fátima Mello, integrantes do Grupo de Articulação da Cúpula dos Povos. Num primeiro momento, foi feito um apanhado geral do evento e de algumas bandeiras que a entidade levanta – direito à terra e à cidade, descentralização da natureza, consumo consciente, desenvolvimento sustentável – e posteriormente, a mesa foi aberta para perguntas.
O que realmente preocupa
Marcelo Durão explicou que uma das maiores expectativas que a Cúpula tem é que a Rio+20 seja capaz de reduzir, efetivamente, o poder das corporações nas decisões e que os interesses da iniciativa privada não prevaleçam mediante às negociações sobre questões sociais e do meio ambiente. Durão atenta para o fato de que esses debates devem ser permanentes e que é algo que já vem sendo reiterado há um certo tempo. “Esse é um processo que não se inicia, nem acaba aqui”, alerta.
Fátima Mello diz que hoje há uma “captura corporativa do sistema ONU”. E explica que “as corporações têm avançado sobre convenções, regimes internacionais, que ao nosso ver deveriam estar direcionada aos povos. Nós queremos uma ONU para os povos e não para as corporações. Nós queremos a democratização efetiva do sistema internacional”.
Fátima deixou claro que a Rio+20 deveria, de fato, reconhecer certos atores que não reconhece na prática. Para ela, é necessário que haja uma democratização dos organismos internacionais. Um dos temas que foi dado como exemplo foi o fato de que não dá para discutir a questão da segurança alimentar sem ter os atores diretos presentes e inseridos dentro das discussões para que eles sejam capazes de expor seus pontos de vista e requerer o direito à terra.
Há que se pensar na necessidade de um modelo de desenvolvimento que atenda e leve em consideração os povos, mas não é o que se vê na discussão oficial. E é aí que entra a Cúpula dos Povos, que pretende dar voz e vez aos que não as têm. É com a força que a Cúpula ganhou ao longo dos anos que se tem tentado levar à mesa de discussão os atores e as comunidades afetadas, levar àquelas pessoas que estão diretamente ligadas às zonas de conflito, às zonas ameaçadas. Na opinião de Marcelo Durão o que ocorre é uma inversão. “A voz e a vez são sempre das corporações porque a pauta é sempre econômica.”, explica.

Fátima Mello e Marcelo Durão respondem às perguntas dos jornalistas durante coletiva (Foto: Adriana Medeiros)
Por dentro da Cúpula
A Cúpula dos Povos recebeu quase 23 mil inscritos, mas que devido à questões de acomodação e segurança, houve a necessidade de se fazer uma triagem e selecionar apenas 15 mil pessoas, que virão de várias partes do mundo, em especial das Américas, Europa e norte da África. Sem falar no cadastro de pessoas físicas, que ainda será aberto.
Ao final da coletiva, falou-se um pouco de como se dará a organização no encontro. Ao todo, foram mil e cem atividades autogestionadas inscritas pelos participantes. Houve um enxugamento, devido à razões de tempo e espaço. Essas atividades foram propostas pelos próprios participantes, elas seguirão para as plenárias e posteriormente para as assembleias. Outra atividade interessante que terá na Cúpula são os “Territórios do Futuro”. Lá serão apresentadas práticas, soluções, experiências que mostram o que a sociedade civil quer para o mundo e para os povos.
Aquecimento para a Cúpula
мая 23, 2012 21:00 - no comments yetFalta menos de um mês para o início da Cúpula dos Povos e o Coletivo Tatuzaroio de Comunicação e Cultura começou a divulgar uma série de vídeos independentes com os militantes dos movimentos sociais que estarão presentes no evento.
Com a inciativa, é possível ter uma ideia dos temas que serão abordados e quais serãos os pontos principais de discussão de cada um. É legal acompanhar o site porque todos os dias serão postados novos clipes.Você já pode aproveitar e entender um pouco de um dos movimentos, o FNDC, Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação, presente em todo o território nacional.
Ótimo aquecimento, não?
Trabalho escravo: será que vai levar mais dez anos?
мая 22, 2012 21:00 - no comments yet
Foi aprovada ontem (22/5) a PEC do trabalho escravo, que cria formas mais rigorosas de punição para os empregadores dessa exploração
Apresentada pela primeira vez em 2001, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do Trabalho Escravo já se arrasta há mais de dez anos no Congresso. Apesar disso e da tentativa de alguns parlamentares da bancada ruralista tentarem esvaziar o quórum, a PEC passou ontem (22/5) na Câmara e agora segue para o Senado, para reajuste no texto e para nova votação.
De acordo com a proposta, caso os fiscais do governo comprovem a existência do trabalho escravo ou formas análogas de exploração de mão-de-obra em determinada propriedade, seja ela rural ou urbana, imediatamente o dono perde a posse do imóvel, sem o pagamento de indenização. As terras confiscadas serão destinadas à reforma agrária. Caso irregularidades sejam encontradas em ambiente urbano, as propriedades serão destinadas a programas de habitação social. Juntamente a essa ação, o dono daquele território sofrerá sanções econômicas e penais, também previstas na PEC.
De acordo com dados da ONU, mais de 40 mil pessoas que trabalhavam em condições semelhantes á escravidão foram liberadas nos últimos 16 anos. Só neste mês, o Congresso recebeu um documento com mais de 60 mil assinaturas de pessoas que são favoráveis à aprovação de leis mais duras contra o trabalho escravo.
O que se espera é que, assim como a Câmara, o Senado cumpra seu papel e finalize de vez a questão do trabalho escravo no Brasil, aprovando a lei que prevê a punição adequada para quem ousar desrespeitar os direitos humanos dos trabalhadores rurais ou urbanos. E que, principalmente, não seja necessário mais dez anos para que medidas enérgicas sejam tomadas à respeito desta questão.
Entidades lançam Boletim da Convergência de Comunicação da Cúpula
мая 22, 2012 21:00 - no comments yetDownload audio file (BOLETIN-RIO20ignacio.mp3)
Movimentos e entidades que participam da Cúpula lançaram ontem (22/5) a segunda edição do Boletim da Convergência dos Movimentos na Cúpula dos Povos. O boletim, divulgado em texto e em áudio, apresenta as pautas mais importantes que serão discutidas ao longo do evento, a ser realizado entre os dias 15 e 23 de junho, no Rio de Janeiro, em paralelo à Rio+20 oficial.
Questões como justiça ambiental e a proposta de Criar um Tribunal Internacional de Justiça Climática entraram na pauta. A reforma agrária e o direito ao uso comunitário da terra, são assuntos que têm se arrastado por décadas, embora nenhuma medida enérgica seja tomada por parte dos governo para resolver de vez a questão. Para entender o ponto de vista de entidades da Cúpula e sobre as causas dessa situação, leia o boletim na íntegra aqui (pdf em espanhol).
Você também, pode ouvir o conteúdo do boletim na Rádio Cúpula!
Download audio file (BOLETIN-RIO20ignacio.mp3)