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Quando o último de sua espécie morre

23 de Julho de 2012, 21:00 , por Fernanda Nagem - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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"Morreu não por estar velho demais, mas pela ganância humana".  O Solitário George morreu no dia 24 de junho de 2012, dois dias depois do término da Rio + 20. Era o último indivíduo, macho, da subespécie “Chelonoidis nigra abingdoni” de tartarugas gigantes. Lonesome George (nome em inglês) foi descoberto na Ilha de Pinta, no arquipélago de Galápagos, em 1972. Ele era o “Último dos Moicanos”, ou seja, ele era o último exemplar da sua espécie.

Por José Eustáquio Diniz Alves*/ Fonte: EcoDebate
 
O solitário George tornou-se parte de um programa de procriação no Parque Nacional de Galápagos. Durante 15 anos, ele viveu ao lado de uma tartaruga fêmea vinda de um vulcão próximo. Houve acasalamento, mas os ovos não eram férteis. Da mesma forma, ele compartilhou seu espaço com tartarugas fêmeas da Ilha de Espanhola, mas foi biologicamente incapaz de procriar e deixar descendentes.
 
As tartarugas eram abundantes no arquipélago de Galápagos até o século XIX. As suas diferenças físicas foram um dos elementos usados por Charles Darwin para formular a Teoria da Evolução. Cada ilha de Galápagos tinha a sua espécie própria de tartaruga terrestre. As espécies se diferenciavam à medida em que se adaptavam às condições naturais de cada ilha, propiciando uma riqueza biológica sem comparação.
 
Mas a maravilha da evolução foi interrompida por uma “espécie invasora” que começou a caçar os indefesos animais, não só para o consumo da carne, mas também para o uso energético. Quito, Guayaquil e outras cidades do Equador utilizavam o óleo de tartaruga para iluminar as casas e as ruas da civilização humana. Como as tartarugas fêmeas eram menores e mais fáceis de carregar, elas foram dizimadas primeiro.
 
O Solitário George era o símbolo que servia de denúncia contra uma matança indiscriminada que reduziu a biodiversidade de Galápagos. Ele foi o último exemplar vivo de uma espécie que foi vítima do crime de ecocídio. Mas, infelizmente, ele não foi o último mártir, pois este crime continua fazendo milhares de vítimas pelo mundo afora. Para salvar as espécies e a biodiversidade o ecocídio precisa ser erradicado, antes que seja tarde.
 
Há exatamente um ano, estive no arquipélago de Galápagos e conheci o Solitário George. Foi muito triste ver um indivíduo solitário e centenário, vivendo isolado num parque, sabendo que suas companheiras foram mortas por conta da ganância humana. É muito triste receber a notícia de que este indivíduo morreu e mais uma espécie foi extinta. É mais triste ainda saber que este não será o último solitário a morrer e que diversas outras espécies estão sendo desaparecendo e trilhando o mesmo destino, com a mesma causa mortis.
 
*José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: [email protected]


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