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Esalq: lista de nomes de alunas é controle da sexualidade – Nádia Lapa

18 de Junho de 2015, 18:37 , por Economia Solidária e Feminista - FBES - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Esalq: lista com nomes de alunas é controle da sexualidade da mulher

O sexo, a esta altura e há muito tempo, deveria ser algo natural, prazeroso, consensual e seguro. Lista da Esalq mostra que não
18 de junho de 2015 | Por: Nádia Lapa | Categoria: Comportamento, Sexualidade

De novo, toda hora: alunos da Esalq-USP fizeram uma lista com nomes de alunas e o comportamento sexual delas. Dividiram em três categorias: buceta fedida, teta preta e sociedade do anel. Racismo e misoginia, tudo junto e misturado. O que os rapazes fizeram não tem absolutamente nada de criativo. Mulheres têm a sexualidade perseguida e vigiada o tempo todo, não importa a idade. Sexo não é para mulheres.

Basta ver a quantidade de mitos cercando nossos pensamentos. A mulher é passiva, o homem é ativo. A mulher não tem desejo sexual, o homem é incontrolável. A vagina fica frouxa, nenhum homem vai te querer depois de você transar com outros, se fizer sexo na primeira noite o cara vai te abandonar. O negócio é tão absurdo que eu já recebi diversos relatos de leitoras contando como elas não fazem certas posições logo ao começar a sair com um homem para ele achar que elas são inexperientes. Preocupante.

Para quem me lê há tempos, nada do que eu disse é novidade. Permitam-me falar um pouco da minha história. Sempre fiz sexo quando quis (ou achei querer) e possivelmente alguns parceiros falaram bastante mal de mim. Eu não ligava. Minhas amigas e amigos sabiam do que eu fazia e, ao menos na minha frente, jamais me julgaram. Até em 2011, quando comecei um blog com pseudônimo onde relatava minha vida sexual. A enxurrada de absurdos que recebi foi assustadora, desde fotos de pintos até comentários (muitos) desejando minha morte lenta e dolorosa, de preferência em decorrência de alguma doença sexualmente transmissível. Ali percebi que minha sexualidade era tudo menos livre – e foi quando comecei a me aproximar do feminismo e dos estudos sobre sexualidade.

O que me preocupa na história da Esalq ou de todas as outras noticiadas diariamente é estarmos andando pra trás. O sexo, a esta altura e há muito tempo, deveria ser algo natural, prazeroso, consensual e seguro. É a “infinita estupidez humana e sua arte suprema de manter a si mesmo e aos próximos eternamente infelizes. Todos vigiando a todos para que ninguém faça o que todos gostariam de fazer”, diz Gaiarsa. Mas eu o complemento: ainda que a sexualidade masculina seja, sim, também regulada, a da mulher é proibida.

Existe um inegável duplo padrão moral. Mulheres são putas (e, por favor, não me venham com a ressignificação da palavra, isso só existe nas nossas cabeças, no mundo real puta continua sendo pejorativo) e homens são garanhões. Mesmo quando a mulher está fora dos padrões ocidentais de beleza, chamam o cara de “guerreiro”, “corajoso”. Enquanto o homem vai ganhando pontos a cada transa, aumentando seu capital simbólico e considerado experiente, a mulher vai perdendo valor, como se tal coisa fosse possível. Continuamos confundindo vida sexual com caráter.

Trabalhando com sexualidade e fazendo uma análise minuciosa da minha vida sexual, vejo quantas vezes eu fiz sexo sem desejar. Eu já estava ali mesmo, um a mais, um a menos, qual diferença faria? Ou então me senti grata pelo parceiro ser muito mais bonito do que eu. Impossível esquecer das vezes nas quais eu preferia que tudo acabasse logo, pois estava sem a menor vontade, mas era minha obrigação de mulher estar ali, disposta e disponível. Penso em quantas das alunas dessa lista fizeram sexo por fazer, talvez para parecerem modernas, talvez por alguma coação social, talvez porque nos ensinaram que sexo é um jeito de “prender” namorado, já que nosso valor está em termos um namorado ou marido. Mulher não existe sozinha, ela existe em razão do outro.

Para terminar, tenho três pedidos a fazer às garotas, e eu sei muito bem que não será fácil:

– Se engajem em situações sexuais apenas quando estiverem certas de si mesmas, com desejo e com proteção;

– Não falem da vida sexual das outras mulheres. Mesmo que você não curta uma conhecida, o que ela faz na cama não é da sua conta. Às vezes falamos para nos enturmarmos com os caras. Mas acredite em mim: você nunca será um deles, e na primeira oportunidade eles também falarão de você;

– Conversem entre si. Sem medos, sem achar que estão numa disputa. O cara que foi babaca com um será babaca com outra, isso é incontestável. Assim vocês podem se precaver.

De forma nenhuma estou dizendo que a culpa da sexualidade feminina ser proibida é das mulheres. O sistema é muito poderoso e beneficia os homens; eu só peço que nós cuidemos mais de nós mesmas e das nossas amigas, pois essa ligação nos torna mais fortes.

***

Eu não posso deixar de me questionar: onde estão os homens feministas? Onde eles estavam quando essa lista foi criada? Porque não é trabalho de um cara só. Onde estão os homens para lutarem contra os comentários pejorativos que os outros homens fazem? Homem feminista só serve para dizer como mulheres devem construir o feminismo, ou estão realmente engajados em acabar com o sexismo? Hum, foi o que achei.

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Por Nádia Lapa

Educadora sexual, especialista em gênero e sexualidade e jornalista.



Tags: Esalq


Fonte: https://ecosolfeministafbes.wordpress.com/2015/06/18/esalq-lista-de-nomes-de-alunas-e-controle-da-sexualidade-nadia-lapa/

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