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Real encontra ‘rival’ em lojas da zona sul de SP

30 de Janeiro de 2011, 22:00 , por Diogo Jamra - Digó - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Estabelecimentos da região do Campo Limpo usam moeda forte, o Sampaio. Conheça um pouco os segredos econômicos e financeiros que fazem a periferia cresce
Por: Leonardo Brito, jornal Brasil Atual
Publicado em 30/01/2011, 12:10

Real encontra ‘rival’ em lojas da zona sul de SP
(Foto: Leonardo Brito/Brasil Atual)

O Jardim Maria Sampaio, na periferia da Zona Sul, é um conjunto vermelho de casarios inacabados. Uma pesquisa apontou altos índices de violência doméstica contra a mulher, o idoso e a criança. Por aqui vivem 30 mil pessoas. A falta de dinheiro é constante. O povo é pobre, mas consome!

Há pouco tempo ninguém tinha acesso às agências bancárias. Empréstimos só se conseguiam com amigos. Até que a União Popular de Mulheres de Campo Limpo e Adjacência, de 27 anos de lutas, se uniu à Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (ITCP-USP) e criou um banco para atender à comunidade. Assim, nasceu o Banco Sampaio.

As metas
Os objetivos do Banco Sampaio são: promover o desenvolvimento sustentável, organizar e potencializar a produção e o consumo local, garantir acesso aos serviços bancários e financeiros, ser um espaço educativo, gerar empregos, fomentar a economia solidária, fortalecer a comunidade nas lutas sociais e diminuir a violência.

Em 2005, a União participou do Fórum Mundial, no qual João Joaquim de Melo Neto, idealizador do Banco Palmas de Fortaleza, primeiro banco comunitário do Brasil, falou da importância da criação desses bancos para o fortalecimento econômico das periferias brasileiras, discutiu economia solidária e o auxílio financeiro para moradores e microempreendedores da periferia. A ideia de abrir bancos comunitários em bairros distantes amadurecia.

Banco dos pobres: a ideia deu em união

Em 2003, com a implantação do Programa Oportunidade Solidária, da Prefeitura Municipal, para combater a exclusão social, a ITCP passou a realizar projetos nos distritos do Campo Limpo, Capão Redondo e Jardim Ângela, que culminaram com a criação dos bancos comunitários.

Foi quando a União de Mulheres de Campo Limpo juntou o desejo de melhorar a condição financeira do pessoal da Zona Sul à ideia da ITCP de inaugurar um banco comunitário no Jardim Maria Sampaio – a ITCP já criara o Banco Apuanã, no Jardim Apuanã, na Zona Norte; o Banco Vista Linda, no Jardim Donária, na Zona Oeste; o Banco Autogestão, no Jardim São Luis, na Zona Sul; e o Banco Paulo Freire, em Inácio Monteiro, na Zona Leste.

Em junho de 2009, a União de Mulheres convidou o bairro inteiro para participar, sugerir o nome do banco, e compactuar das propostas de fortalecimento do bairro. Em setembro, o Banco Sampaio abriu as suas portas.

Crédito produtivo ou crédito de consumo: fácil e rápido

O crédito produtivo do  Banco Sampaio atende pequenos empreendimentos locais com capital de giro ou fixo. O empréstimo – em reais – é de até R$ 1.000. O prazo para saldá-lo é de seis meses. Os juros são de 1,5% ao mês para quem pega até R$ 300; de 2% ao mês, para quem pega até R$ 699; e de 2,5% ao mês, para quem pega até R$ 1.000. As únicas exigências do Conselho de Análise de Crédito para o empréstimo são que o morador se relacione bem com a comunidade do bairro, atue há mais de seis meses na atividade a ser financiada e tenha condições de pagar.

Uma nota de S$ 10

O Banco Sampaio destina também crédito de consumo, priorizando o fortalecimento do comércio local. O empréstimo é de até $300 sampaios (leia na pág. ao lado),  quatro meses para saldar a dívida e taxa de juros zero. Caso atrase o pagamento, o cliente paga taxa administrativa de 1% ao mês e R$ 0,25 por dia de atraso.

Para aprovação do crédito, os clientes respondem a um questionário socioeconômico. Para liberação da grana, o banco quer saber do cliente qual é a finalidade do crédito e exige um aval solidário de um vizinho, para saber se esse vizinho emprestaria um dinheiro pessoal para o cliente.

O real virou sampaio

O sampaio vale nas lojas credenciadas pelo banco. Além de oferecer desconto nesses estabelecimentos, ele tem lastro no real, é seguro e circula livremente no bairro.

Como e onde circula
“Com o Sampaio, os moradores não compram fiado, eles têm dinheiro para pagar.” A opinião é de Silvestre Oliveira, 47 anos, dono do Açougue do Silvestre, um dos primeiros a aceitar o sampaio em seu comércio. “Com um capital maior, ele  ajudaria ainda mais as pessoas” – explica. Atualmente, 26 lojas aceitam o sampaio. São padarias, cabeleireiros, casas de material de construção, lojas de roupa, mercadinhos, lanchonetes, drogarias e bares do Campo Limpo e do Jardim Helga.

O comerciante que faz seus negócios em sampaios pode  usá-los em outros pontos credenciados ou trocá-los por reais quando pagar uma conta fora do bairro ou município.

As cédulas de sampaios – 0,50, 1,00, 2,00, 5,00 e 10,00  – são produzidas no Banco Palmas, de Fortaleza, que gerencia o fluxo das notas e troca as cédulas velhas a cada ano.

As notas têm marcas de segurança. Há dois hologramas: um P de Palmas, no canto superior esquerdo, e, abaixo,  um símbolo amarelo em forma de sol. Há também o nome Rede Palmas na faixa  na faixa amarela, embaixo da nota. No verso, está o número de série dela.

Cada sampaio homenageia uma pessoa ou instituição, com foto ou ilustração. Na nota de S$1,00, por exemplo, está o professor Paulo Freire.

O que valida essa moeda é a garantia de que o banco Sampaio tem, no cofre, o  valor correspondente em reais. xa amarela, embaixo da nota. No verso, está o número de série dela.

Cada sampaio homenageia uma pessoa ou instituição, com foto ou ilustração. Na nota de S$1,00, por exemplo, está o professor Paulo Freire.

O que valida essa moeda é a garantia de que o banco Sampaio tem, no cofre, o  valor correspondente em reais.

Banco Palmas, o primogênito

O Banco Palmas nasceu nos anos 70, depois do despejo de algumas comunidades para a periferia de Fortaleza. Abandonados pelo poder público, os moradores criaram a Associação dos Moradores do Conjunto Palmeiras (ASMOCONP), em 1981.

A conquista de água, luz, transporte, posto de saúde veio com os anos. Mas muitas pessoas que lutaram pelas melhorias não tiveram como arcar com essas despesas e se mudaram para outras favelas – uma pesquisa no bairro mostrou que os habitantes gastavam mais de R$ 1 milhão por mês no comércio fora da comunidade e concluiu que todos se empobreciam com isso.

Em 1998, criou-se o Banco Palmas e uma moeda social, o Palmas, com o intuito de fazer o dinheiro circular no comércio local, gerar emprego, aumentar a renda e promover o desenvolvimento econômico. Hoje, o Banco Palmas negocia com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) empréstimos de R$ 3 milhões, para manter sua estrutura, funcionários e investir em novos bancos comunitários pelo Brasil. Acredita-se que os 52 bancos comunitários brasileiros movimentem mais de R$ 1,5 milhão por ano – desde o início de 2010, eles são reconhecidos pelo Banco Central.

A bronca de quem quer crescer

O analista de crédito Thiago Vinícius de Paula da Silva, 21 anos, funcionário do Banco Palmas, adora o que faz. E quer fazer mais, muito mais. Olha só o que ele diz: “O Banco Sampaio tem uma pequena carteira de crédito. Mas ele não tem estrutura física nem mão-de-obra para voar mais alto. O ideal seria ter dinheiro para bancar seus projetos, contratar mais funcionários, aumentar o crédito, atrair mais comerciantes. Mas falta profissionalismo. A atividade do banco é vista como uma política marginalizada. As condições de trabalho não ultrapassam o conceito de voluntariado – muitos trabalham sem salário fixo. Os bancos convencionais emprestam nove vezes o seu valor em caixa; os comunitários só emprestam aquilo que têm em caixa”.

De Bangladesh para o Brasil

Em Bangladesh, o economista Muhammad Yunus criou um banco que emprestava 27 dólares para artesãs endividadas. Hoje, o programa beneficia sete milhões de bengaleses. O índice de inadimplência é de menos de 1%.

Em 2007, a deputada federal Luiza Erundina apresentou um projeto que legaliza o funcionamento dos Bancos Populares de Desenvolvimento Solidário, voltados ao atendimento de famílias de baixa ou nenhuma renda.


Categorias

Finanças Solidárias, Crédito e finanças, Cultura, São Paulo
Tags deste artigo: bancos comunitários finanças solidárias moeda social

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