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A leitura de Mafalda e minha representação da vida.

April 30, 2011 21:00 , par Aline Mendonça dos Santos - 0Pas de commentaire | No one following this article yet.
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  A leitura de Mafalda e minha representação da vida.

Aline Mendonça dos Santos

 

Quando eu era pequena, devia estar cursando a quarta ou quinta série do ensino fundamental, comecei a frequentar diariamente a biblioteca da minha escola. Eu estudava pela manhã e – na parte da tarde – ia voluntariamente para a biblioteca. Eu morava muito perto da minha escola e, depois do almoço, quando minha mãe saia para trabalhar eu ia para a biblioteca. Não sei qual era a motivação – ninguém mais fazia isso -, mas lembro que a bibliotecária do turno da tarde era também minha professora de português. Eu passava a tarde toda lá: conversando, ajudando em algum trabalho como catalogar livros, olhando sobre a  janela as freiras cuidarem da horta e as crianças brincarem na pracinha (espaço de recreação conhecido hoje como play graund). Vez ou outra eu pegava alguma leitura, estudava,  mas o que se tornou um hábito mesmo, foi  folhar jornais e revistas antigos em busca das tirinhas da Mafalda  - personagem infantil criada pelo argentino Quino em 1964.

Eu adorava a Mafalda – ainda adoro. Mafalda era curiosa, viajava em seus pensamentos e odiava sopa – essas eram as características que, na época, me aproximavam da personagem. Com o tempo, fui descobrindo outras características de Mafalda e aprendendo muito com os questionamentos daquela garotinha. Com Mafalda aprendi a ler o mundo para além do meu cotidiano, aprendi que haviam coisas erradas acontecendo (caso contrario uns não teriam mais ou menos que os outros); aprendi que os sonhos não tinham limites e, principalmente, aprendi que a luta por um mundo melhor era necessária.

Passado aquele ano, deixei de ir a biblioteca tão frequentemente – outras coisas atraiam-me -, mas Mafalda já era uma referência na minha vida. Depois disso me tornei uma pessoa mais atenta e politizada: militei no movimento estudantil do ensino fundamental ao ensino superior, sempre tive uma opinião sobre as coisas e nunca medi esforços para expressá-la (talvez isso seja um problema), minha elaboração política partidária não era mais reflexo da opinião do meus pais e, não por acaso, investi profissionalmente no Serviço Social, na Sociologia e na Educação.

Hoje olho para minha história e percebo que conquistei muitas coisas, que sou feliz com minhas escolhas, mas pouco mudou do mundo que Mafalda havia-me apresentado. Nem por isso abandonei meus preceitos ou desisti da luta, mas confesso que estou cansada. Estamos cada vez mais sozinhos, a luta está esvaziada por um sistema que insiste em disseminar o individualismo exacerbado em prol do status quo – trata-se de um darwinismo social (Salve-se quem puder!). Ta certo que eu já integrei ao processo em situação peculiar – sou de uma geração quieta, que não lutou para ser livre, que não lutou por direitos e que é filha de uma geração reprimida pela ditadura, ou seja, sou de uma geração que aprendeu a se calar. Entretanto, sempre que desanimo lembro de Mafalda, do mundo que ela almejava e que eu ainda almejo e continuo em frente. O mais curioso de tudo isso, é que Quino escreveu e desenhou a última tirinha de Mafalda em 1973 – eu ainda não havia nascido. Quem diria que anos depois do silêncio de Mafalda, ela influenciaria tanto minha vida?

Mafalda foi calada por Quino aos 9 anos de idade e hoje, com 45 anos, Mafalda ainda é presente no imaginário de muitos que – como eu – a têm como heroína de suas histórias. Essa reflexão me faz lembrar uma citação – de autor desconhecido – que certa vez li: “Dizem que os livros mudam o mundo, mas quem muda o mundo são as pessoas, os livros apenas mudam as pessoas”. Agradeço aos livros por me darem o privilégio de conhecer Mafalda.


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