Carlos Drummond de Andrade Quando a senhora foi descer do lotação, o motorista coçou a cabeça: - Mil cruzeiros? Como é que a senhora quer que eu troque mil cruzeiros.
- Desculpe, me esqueci completamente de trazer trocado.
- Não posso não, a madame não leu o aviso – olha ele ali – que o troco máximo
é de 200 cruzeiros?
- Eu sei, mas que é que hei de fazer agora? O senhor nunca esqueceu nada na
vida?
- Quem sabe se procurando de novo na bolsa...
- Já procurei.
- Procura outra vez.
Ela vasculhava, remexia, nada. Nenhum cavalheiro (como se dizia no tempo do
meu pai) se moveu para salvar a situação, oferecendo troco ou se prontificando a
pagar a passagem. Àquela hora, não havia cavalheiros, pelo menos no lotação.
- Então o senhor me dá licença de saltar e ficar devendo.
- Péra aí. Vou ver se posso trocar.
Podia. Tirou do bolso de trás um bolo respeitável e foi botando as cédulas
sobre o joelho, meticulosamente.
- Ta aqui o seu troco. De outra vez a madame já sabe, hein?
Ela desceu; o carro já havia começado a chispar, como é destino dos lotações,
quando de repente o motorista freou e botou as mãos à cabeça:
- A abobrinha! Ela ficou com a abobrinha!
.......................................................................................................................................
Como você terminaria essa história? Use o espaço dos comentários para escrever.
Por Adele
0sem comentários ainda
Por favor digite as duas palavras abaixo