As minibibliotecas fazem-nos reviver muitas emoções..."Morte e Vida Severina" é uma delas...Como não recordar o poema que era também peça teatral ( Auto de Natal) e da qual participamos, em um determinado momento, todos: alunos, professores, coordenadores, secretário, diretora? A Escola Vicente Landi inteira vibrava e até hoje as palavras vão caindo bem fundo em nosso coração...
O meu nome é Severino,não tenho outro de pia.Como há muitos Severinos( que é santo de romaria)deram então de me chamarSeverino de MariaComo há muitos Severinoscom mães chamadas Maria,fiquei sendo o da Mariado finado Zacarias.
E por aí vai a apresentação do Severino que não tem como individualizar-se, pois são tantos pelo Nordeste afora, tantos pelo Brasil afora...
Somos muito Severinosiguais em tudo na vida:na mesma cabeça grandeque é a custo que se equilibra,no mesmo ventre crescidosobre as mesmas pernas finase iguais também porque o sangueque usamos tem pouca tinta.
E a semelhança também está na morte, que ronda por todos os lados e estará presente em todos os passos do Severino que se torna um retirante, como milhares, como milhões de brasileiros que fogem da seca e da fome...Na sua jornada depara com enterros, velórios, cantadores de "Excelências", até que se aproxima do litoral e imagina que algo poderia mudar, embora pouco esperasse da vida.
Nunca esperei muita coisa. É preciso que repita.Sabia que no rosáriode cidades e vilas,que nas terras que cortandona minha descida eu vinha,não seria diferentea vida de cada dia.
Porém a decepção, apesar de tão pouco esperar, acaba chegando, ao ver como seus irmãos nordestinos passam a vida, dentro ou fora do lamaçal. e então ele pergunta:
"Seu Josè, mestre carpina,que diferença fariase em vez de continuartomasse a melhor saída:a de saltar , numa noite,fora da ponte e da vida?"
Podemos ver que Severino está no auge da desilusão e do desespero, achando que talvez seja melhor "saltar fora da ponte e da vida" . E, então, como um milagre, as mulheres chegam avisando Seu José que seu filho acaba de nascer. Em lindos versos, João Cabral de Melo Neto, o nosso poeta, faz renascer a esperança por uma nova vida que começa.
"E não há melhor resposta que o espetáculo da vida:vê-la desfiar seu fio( que também se chama vida)ver a fábrica pacienteque ela mesmo se fabrica,vê-la surgir como há poucoem nova flor explodida.Mesmo quando é tão pequenaa explosão ocorrida.Mesmo quando é explosão como a de há pouco, franzina,Mesmo quando é explosão de uma vida severina.
Obrigada, poeta, pela emoção de seus versos!
Postado por Ilza
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