Em Rubem Alves, poesia e prosa se misturam
1 de Setembro de 2014, 4:18
, por Desconhecido
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Em Rubem Alves, poesia e prosa se misturam,ao narrar estórias que lhe contaram:
Quando o silêncio cobre o nome
Havia certa vez um homemque dizia o nome de Deus.Quando o coração lhe doíapor uma criança que choravaou um pobre que mendigava,ele andava até a floresta,acendia o fogo, entoava cançõese dizia as palavras.E Deus o ouvia...
O tempo passou.Voltou à mesma floresta.Mas não carregava fogo nas mãos.Só lhe restou cantar as cançõese dizer as palavras.E Deus o atendeu ainda assim...
Um tempo mais longo se foi.Sem fogo nas mãos,sem força nas pernas,não alcançou a floresta.Mas do seu quarto saíram as mesmas cançõese as mesmas palavras.E Deus lhe disse que sim...
Chegou a velhice.Nem floresta nem fogo ou canções...Restaram as palavras.E o mesmo milagre ocorreu...
Por fimsem fogo ou floresta,sem canções ou palavras.Só mesmo o infinito desejoe o silêncio:E Deus tudo entendeu...
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Texto e poesia, ao narrar a morte de Mahatma Gandhi
Quando meninotinha medo dos fantasmasque assombravam a noite e a solidão.Sua ama lhe contava estóriase lhe ensinou o poderdo nome de Deuspara exorcizar demôniose para afugentar o pior de todos eles:o medo.E aprendeu a repetir o nome sagrado.Rami Ram:era assim que ele soavaem sua língua,Ó Deus, meu Deus.
Naquele dia caminhavapara as orações do meio-dia,em meio a alegrias luminosase prenúncios de violência.De repente, ali, ao alcance de seu braço,tudo muito depressapara que se pudesse fazer algo,a arma, os clarões, os estampidos,a dor, a vida que fugia,e só lhe vieram aos lábiosas palavras de infância,o nome de Deus,Rami Ram.
Assim morreu Mohandas Mahatma Gandhi,um santo que sabiado poder do nome sagrado.
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Finalmente, encerrando nosso post de hoje, que comemora o início de setembro, mês da primavera, mês de nascimento de Rubem Alves, o texto-poesia com que ele encerrou o livro "Pai Nosso- Meditações", publicado pela primeira vez em 1987:
Esperança
Que haja olhos para acolher o luar,
e que eles adivinhem as formas
que se escondem nas nuvens,
e os ventos brinquem com as pipas.
Mas é preciso que os sacramentos da morte
sejam enterrados
e os seus sacerdotes
aprendam os risos da vida.
O mundo é muito belo.
É preciso que ele continue...
Pintura arte Naif- Artista Aracy
Postado por Amora.doce, em setembro de 2014
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