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O Andar

9 de Setembro de 2014, 20:14 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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                                                                                                                Antônio Maria

Aconteceu na Avenida Copacabana, esquina de Santa Clara. Uma jovem senhora chamou o guarda e apontou o homem, encostado a um poste:
— Prenda este homem, que ele está se portando inconvenientemente.
Era um homem magro, pálido, vestido em casimira velhinha. Não tinha cara de gente má. Ao contrário, seus olhos eram doces e mendigos.
O policial segurou o homem pela lapela. O homem não se mexeu. Apenas levantou os olhos e perguntou:
- Por quê?
A senhora estava uma fúria e dizia num fôlego só:
— Há uma hora este cidadão me segue. Começou no lotação. Desceu quando eu desci. Entrei numa loja e ele entrou também. Andei um quarteirão e ele andou também. Entrei no mercadinho e ele entrou também...
— E lhe disse alguma coisa?
— Não. Só olhava.
O guarda soltou a lapela do homem. O homem agradeceu. O guarda dirigiu-se ainda à mulher:
— Mas ele só olhava?
— Sim. Mas olhava de maneira obscena.
O guarda perguntou, então, ao homem:
— Você olhava de maneira obscena?
— Sim. Não sei mentir. Mas qualquer um no meu lugar faria o mesmo. 0 senhor já viu ela andar?
0 guarda viu depois, quando a mulher desistiu da prisão do seu espectador e foi andando. Não se deve explicar muito, mas é preciso que se diga: era uma moça brasileira. Uma moça de formato brasileiro, com movimentos brasileiríssimos. Dessas que deviam ter, como certos automóveis, uma tabuleta às costas, onde se lesse: "Amaciando".
08/01/1960
 

Texto extraído do livro "Benditas sejam as moças: as crônicas de Antônio Maria", Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro, 2002, pág. 79, organização de Joaquim Ferreira dos Santos.
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Sobre o autor:
Antônio Maria Araújo de Morais: 

Compositor. Jornalista. 
Nascido em família abastada, seu avô era proprietário do Engenho Cachoeira Lisa. Na infância, aprendeu piano e francês com professores particulares, um hábito na formação das crianças de tradicionais e ricas famílias do Recife. No entanto, uma grave crise financeira afetou os negócios de seu pai, também usineiro como o avô, o que fez com que a família perdesse grande parte de suas riquezas. Seu pai morreria antes que ele saísse da adolescência. No Colégio Marista, onde estudava, tornou-se amigo do colega Fernando Lobo, além de Hugo Peixa e Arlindo Gouveia. Aos 18 anos, já demonstrava inclinação para a boemia, uma característica que seria uma constante na sua vida de compositor e jornalista. Nessa época, passou a frequentar bares e cabarés do Recife. Nascido em uma família de usineiros, nada mais natural do que se interessasse em estudar Agronomia, vindo a exercer o cargo de técnico de irrigação de cana-de-açúcar na usina da família. 
Em 1940, mudou-se para o Rio de Janeiro, já trabalhando como locutor de rádio e na Cidade Maravilhosa passou também a freqüentar os bares, muitas vezes na companhia do futuro parceiro Fernando Lobo. Um ano depois, sem conseguir emprego fixo e depois de passar fome e até ser preso, regressou à cidade natal. Em 1944, casou com Mariinha Gonçalves Ferreira, também filha de usineiro e irmã do seu amigo de colégio Hugo Peixa. Foi residir em Fortaleza, CE e depois em Salvador, BA onde, como diretor de produção das Emissoras Associadas, iniciou sua amizade com Dorival Caymmi. Em 1947, candidatou-se a vereador de Recife, mas não conseguiu se eleger.
Em 1948, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde assumiu a direção de produção da Rádio Tupi e escreveu para "O Jornal" a coluna "O Jornal de Antônio Maria". Continuou a compor jingles publicitários e se tornou um dos primeiros profissionais da televisão brasileira, contratado como diretor de produção da TV Tupi, em 1951. Chegou a ser um dos profissionais mais bem pagos do rádio e da televisão, além de ser um dos cronistas mais lidos no país. Sem saber tocar instrumentos musicais, compunha cantarolando.
No final dos anos 1950, apaixonou-se por Danusa Leão, na época casada com o jornalista Samuel Wainer, dono da Última Hora, jornal onde era um dos colunistas mais apreciados. Os dois acabaram decidindo morar juntos, mas, quando veio o golpe de 1964, Danusa resolveu acompanhar Wainer ao exílio. Doente, sem poder comer e beber como gostava, tinha o hábito de sempre ir à geladeira na casa de seus amigos. Morreu em conseqüencia de seu segundo enfarte, solitário, numa madrugada, em Copacabana, em frente à boate Le Bistrô, no posto 4.
http://www.dicionariompb.com.br/antonio-maria/biografia





    Por Adele

Fonte: http://caldasminibibliotecas.blogspot.com/2014/09/o-andar.html

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