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TUIM CRIADO NO DEDO

17 de Dezembro de 2013, 21:19 , por Desconhecido - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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                                                                              Rubem Braga


João-de-barro é um bicho bobo que ninguém pega, embora goste de ficar perto da gente, mas de dentro daquela casa de João-de-barro vinha uma espécie de choro, um chorinho fazendo tuim, tuim, tuim...

A casa estava num galho alto, mas um menino subiu até perto, depois com uma vara de bambu conseguiu tirar a casa sem quebrar e veio baixando até o outro menino apanhar. Dentro, naquele quartinho que fica bem escondido depois do corredor de entrada para o vento não incomodar, havia três filhotes, não de João-de-barro, mas de tuim.

Você conhece, não? De todos esses periquitinhos que tem no Brasil, tuim é capaz de ser menor. Tem bico redondo e rabo curto e é todo verde, mas o macho tem umas penas azuis para enfeitar. Três filhotes, um mais feio que o outro, ainda sem penas, os três chorando.

O menino levou-os para casa, inventou comidinhas para eles, um morreu, outro morreu, ficou um. Geralmente se cria em casa é casal de tuim, especialmente para se apreciar o namorinho deles.

Mas aquele tuim macho foi criado sozinho e, como se diz na roça, criado no dedo. Passava o dia solto, esvoaçando em volta da casa da fazenda, comendo sementinhas de imbaúba. Se aparecia uma visita fazia-se aquela demonstração: era o menino chegar na varanda e gritar para o arvoredo: tuim, tuim, tuim! Às vezes demorava, então a visita achava que aquilo era brincadeira do menino, de repente surgia a ave, vinha certinho pousar no dedo do garoto.

Mas o pai disse: "menino, você está criando muito amor a esse bicho, quero avisar: tuim é acostumado a viver em bando. Esse bichinho se acostuma assim, toda tarde vem procurar sua gaiola para dormir, mas no dia que passar pela fazenda um bando de tuins, adeus. Ou você prende o tuim ou ele vai embora com os outros, mesmo ele estando preso e ouvindo o bando passar, esta arriscado ele morrer de tristeza".

E o menino vivia de ouvido no ar com medo de ouvir bando de tuim.

Foi de manhã, ele estava cantando minhoca para pescar..............................................    .................................................................................................................................................................................................
Como gosto de acompanhar a viagem de sua imaginação! Complete a história no espaço destinado aos comentários. Vai ser divertido ler.  Na próxima semana você vai conhecer o final dado por Rubem Braga.
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Veja o que  a Ilza  nos diz a respeito da história de Rubem Braga:
Desta vez confesso que estou muito em dúvida sobre o final da história de Rubem Braga, o nosso grande cronista.Se bem conheço as crianças e o medo que têm de perder seu bichinho de estimação, deveria acreditar que o menino preferisse prendê-lo no mais escondido dos quartinhos, para que ele não seguisse o bando de tuins... Mas, de repente, na diversidade das criaturas do mundo e nas múltiplas reações que podem acontecer, teria ele dado oportunidade ao pássaro de seguir os seus iguais? Na sua cabecinha de garoto, passaria a lógica de que seria preferível um tuim vivo e não morto de tristeza???????Aguardarei a publicação do final da história, pois, sem dúvida, estou curiosa. 
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Queila, nossa seguidora assídua, concluiu a história e até um galinho garnizé entrou nela:
Foi de manhã , ele estava catando minhoca para pescar e escutou um bando de tuins. Largou tudo e saiu correndo gritando: Tuim , tuim vem aqui...tuim tuim aqui! Agui tuim, tuim, tuiimmm...A tarde veio e logo a noite , nada do tuim aparecer. O menino foi pra cama triste , não pregou os olhos...chorou a noite toda! Assim que ouviu o metido garnizé cantar , levantou e foi até o quintal. Sentou num toco, esticou o dedo pro alto e pediu baixinho...Tuim vem pra mim! Ficou assim um bom tempo, estático, agora calado, cabisbaixo e de olhos fechados a espera do bichinho. Instantes depois, sentiu uma pressão , mais outra e outra... sorrindo ele abriu os olhos e viu empoleirados em seu dedo : o tuim, a tuim e o tuinzinho!
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Alguém mais nos enviou um final para a história do tuim:
olhou para o céu e viu passando um bando de pássaros. Seu coração disparou. Seria um bando de tuins? Saiu correndo de volta para casa. Tuim, tuim, tuim, gritava da varanda. Depois de algum tempo, o tuim apareceu e pousou no seu dedo. Aliviado voltou a procurar as minhocas para pescar. Numa das vezes em que foi ao mercadinho fazer compras para sua mãe, escutou um rapaz dizer que por ali havia passado um grupo de “caçadores” à procura de tuins. Os colecionadores pagavam um alto preço por exemplar dessa espécie que havia se tornado rara, em extinção. Seu coração acelerou por medo que encontrassem o seu tuim. Todos os dias chamava o tuim e ele atendia seu chamado, até que uma vez não mais apareceu. Havia sido encontrado pelos caçadores. O garoto se tornou um menino triste e nunca mais quis ter um bichinho de estimação.
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E aqui está o final da história do tuim criada por Rubem Braga:
quando viu o bando chegar, não tinha engano: era tuim, tuim, tuim... Todos desceram ali mesmo em mangueiras, mamonas e num bambuzal, dividido em partes. E o seu? Já tinha sumido, estava no meio deles, logo depois todos sumiram para uma roça de arroz, o menino gritava com o dedinho esticado para o tuim voltar, mas nada dele vir.
Só parou de chorar quando o pai chegou a cavalo, soube da coisa e disse: " venha cá". E disse: " o senhor é um homem, estava avisado do que ia acontecer, portanto, não chore mais".
O menino parou de chorar, porque pois seu pai o havia consolado, mas como doía seu coração! De repente, olhe o tuim na varanda! Foi uma alegria na casa que foi uma beleza, até o pai confessou que ele também estivera muito infeliz com o sumiço do tuim.
Houve quase um conselho de família, quando acabaram as férias: deixar o tuim, levar o tuim para São Paulo? Voltaram para a cidade com o tuim, o menino toda hora dando comidinha a ele na viagem. O pai avisou: "aqui na cidade ele não pode andar solta, é um bicho da roça e se perde, o senhor está avisado".
Aquilo encheu de medo o coração do menino. Fechava as janelas para soltar o tuim dentro de casa, andava com ele no dedo, ele voava pela sala, a mãe e a irmã não aprovavam, o tuim sujava dentro de casa.
Soltar um pouquinho no quintal não devia ser perigo, desde que ficasse perto, se ele quisesse voar para longe era só chamar, que voltava, mas uma vez não voltou.
De casa em casa, o menino foi indagando pelo tuim: "que é tuim?" perguntavam pessoas ignorantes. "Tuim?" Que raiva! Pedia licença para olhar no quintal de cada casa, perdeu a hora de almoçar e ir para a escola, foi para outra rua, para outra.
Teve uma idéia, foi ao armazém de "seu" Perrota: "tem gaiola para vender?" Disseram que tinha. " Venderam alguma gaiola hoje?" Tinham vendido uma para uma casa ali perto.
Foi lá, chorando, disse ao dono da casa: "se não prenderam o meu tuim então por que o senhor comprou gaiola hoje?"
O homem acabou confessando que tinha aparecido um periquitinho verde sim, de rabo curto, não sabia que chamava tuim. Ofereceu comprar, o filho dele gostara tanto, ia ficar desapontado quando voltasse da escola e não achasse mais o bichinho. "Não senhor, o tuim é meu, foi criado por mim".
Voltou para casa com o tuim no dedo.
Pegou uma tesoura: era triste, era uma judiação, mas era preciso, cortou as asinhas, assim o bichinho poderia andar solto no quintal, e nunca mais fugiria.
Depois foi dentro de casa para fazer uma coisa que estava precisando fazer, e, quando voltou para dar comida a seu tuim, viu só algumas penas verdes e as manchas de sangue no cimento. Subiu num caixote para olhar por cima do muro, e ainda viu o vulto de um gato ruivo que sumia.
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Sobre o autor:

RUBEM BRAGA
O escritor e jornalista Rubem Braga nasceu em Cachoeiro do Itapemirim (ES), em 12 de janeiro de 1913, e morreu no Rio, em 19 de dezembro de 1990, deixando mais de 15 mil crônicas escritas em mais de 62 anos de jornalismo. 
Ainda estudante, iniciou-se no jornalismo fazendo uma crônica diária no jornal "Diário da Tarde". Como repórter, trabalhou na cobertura da Revolução Constitucionalista de 1932 para os "Diários Associados".
Em 1936, lançou seu primeiro livro de crônicas, "O Conde e o Passarinho".
Em 1938, fundou, junto com Samuel Wainer e Azevedo Amaral, a revista "Diretrizes".
Braga publicou seu segundo livro, "O Morro do Isolamento", em 1944. Foi correspondente de guerra na Europa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) pelo "Diário Carioca", tendo tomado parte da campanha da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Itália, em 1945. 
No período de 1961 a 1963, Rubem Braga foi embaixador do Brasil no Marrocos, na África. Em 1960, publicou "Ai de Ti Copacabana". A este seguiram-se "A Traição das Elegantes" (1967), "Recado de Primavera" (1984) e "As Boas Coisas da Vida"(1988), entre outros tantos livros.
Braga escreveu crônicas para os jornais "Folha da Tarde", "Folha da Manhã" e Folha de S.Paulo entre 1946 e 1961 e colaborou, nos anos 80, com o caderno cultural Folhetim, da Folha.
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Fonte: http://caldasminibibliotecas.blogspot.com/2013/12/tuim-criado-no-dedo.html

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