Um clássico de Castro Alves- Navio Negreiro
16 de Agosto de 2014, 13:18
, por Desconhecido
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O poeta Castro Alves, com apenas 22 anos de idade, teve lucidez suficiente para compreender o terror da escravidão humana e coragem para denunciar o que se passava nos navios negreiros que transportavam escravos. Sua obra "O navio Negreiro" é um clássico da literatura brasileira, no estilo romântico do final do século XIX, mas até hoje é lida, apreciada e fala à alma dos brasileiros que não concordam com a exploração do homem pelo homem. Compõe-se de seis partes e se inicia com um simples verso
"Stamos em pleno mar..."
O cenário é descrito em detalhes, como se fazia na era romântica. Mas, aos poucos, o poeta leva-nos ao interior do navio, despertando nossa imaginação para o que ali ocorria:
Era um sonho dantesco...o tombadilhoque das luzernas avermelha o brilhoem sangue a se banhar.Tinir de ferros...estalar de açoites...Legiões de homens,negros como a noite,horrendos a dançar.
Um dos pontos altos do poema, que atinge realmente o emocional do leitor,é a invocação a Deus, incluída por Castro Alves na quinta parte do poema:
Senhor Deus dos desgraçados!Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura, se é verdadetanto horror perante os céus?!Ó mar, por que não apagasco'a esponja de tuas vagasde teu manto este borrão?Astros! noites! tempestades!Rolai das imensidades!Varrei os mares tufão!
O clímax da indignação do poeta aparece quando questiona a presença da Bandeira Brasileira no navio negreiro:
Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia!…
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!…
Meu Deus meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?!…
Silêncio!… Musa! Chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto…
Auriverde pendão da minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra,
E as promessas divinas da esperança…
Tu, que da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!…
Em uma última invocação, Castro Alves encerra sua grande obra com maravilhosos versos:
Mas é infâmia demais! Da etérea plagalevantai-vos, heróis do Novo Mundo!Andrada! arranca este pendão dos ares!Colombo! fecha a porta dos teus mares!
Se você,leitor, considerar que o tom é trágico demais, pense um minuto apenas que Castro Alves denuncia, em seus versos, o absurdo do transporte de homens, que eram livres na África, para outros países nos quais viveriam como escravos; arrancados de sua terra, de suas casas e de suas famílias, transportados em condições miseráveis, tanto é verdade, que muitos deles morriam no mar, em plena viagem... ou então passavam a viver como mortos-vivos em miserável escravidão.Estes fatos justificam todas as palavras, todas as lamentações e acusações do poema "Navio Negreiro"...
Postado por Amora.doce
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