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O Leite e o Desenvolvimento Local

23 de Outubro de 2013, 18:29 , por Rede Guandu - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Encontrar o Leite UHT nas prateleiras do mercado a 3 reais, intriga quem compra e limita o acesso de muitos brasileiros a esse alimento. Por outro lado, a experiência de organização cooperativa dos agricultores da Serra de São Pedro é capaz de manter, durante o mesmo período, o leite à R$ 1,95 por meio de circuitos curtos de comercialização. Além dos preços de venda, a cadeia de leite e derivados no Brasil apresenta diferenças significativas em relação ao preço pago ao agricultor, quando comparamos cooperativas e grandes empresas.

As contrariedades enfrentadas por agricultores e consumidores no caso do leite são consequência do que vem ocorrendo com o sistema agrícola e alimentar a nível mundial. A expansão de poucas empresas da indústria agroalimentar concede a elas o poder de decidir o que, como e onde produzir e qual será o preço de compra, pago ao agricultor, e de venda, pago pelo consumidor.

Não é difícil conceber que a lógica de funcionamento destas corporações nada tem que ver com a preocupação de praticar um preço justo de venda, com o consumidor, e de compra, com o agricultor. Como empresas de capital aberto, lhes interessa gerar lucro a seus investidores para atrair mais capital e expandir-se no mercado. Portanto, esse modus operandis busca satisfazer aos acionistas e não aos agricultores e/ou consumidores, objetiva o lucro em carência do bem-estar social.

No Brasil, o mercado de leite é conceituado como oligopólio, onde poucas corporações controlam a maior parte do leite produzido. Mas, por que controlam? A maior proporção do leite brasileiro, 58%, provém da agricultura familiar, mas os laticínios (unidades de processamento) estão nas mãos de grandes empresas – entre elas a Nestlé. Dessa forma, controlam o mercado ao apropriarem-se do bem produzido pelos agricultores, acumulando grande quantidade do leite e distribuindo por meio dos supermercados, de modo a centralizar poder para determinar os preços de compra e venda.

Enquanto o processo de globalização e concentração se expande sobre o sistema agroalimentar, iniciativas de cooperativas e de circuitos curtos de comercialização surgem contra esse modelo hegemônico. Na região de Piracicaba, o laticínio da Cooperativa de Agricultores do Município de São Pedro – COOPAMSP – beneficia agricultores e consumidores e, ainda, distribui o leite em escolas e outras instituições regionais. Durante o ano, o sistema de cooperação garante os preços fixos pagos aos agricultores e, consequentemente, estabiliza o preço de compra para os consumidores.

Quando comparamos os preços pagos pela COOPAMSP, um laticínio regional – do município de Brotas – e a média CEPEA dos preços no Estado de São Paulo, observamos que a cooperativa é a única a garantir os preços estáveis ao longo do ano, independente da oferta de leite no mercado, que é variável em função do regime hídrico. Essa estabilidade decorre da política da Cooperativa e da interação entre conhecimento e experiência coletiva dos agricultores do Alto da Serra de São Pedro, que se unem para realizar os trabalhos pesados de semear, picar e ensilar as matérias necessárias para enfrentar a baixa disponibilidade de água no inverno e, consequente, menor oferta de pasto aos animais.

Além do aspecto econômico, a experiência promove o emporamento dos agricultores, que participam das decisões sobre a produção, beneficiamento e comercialização de seu produto. E, ainda, utiliza de canais curtos de comercialização, incentivados por políticas públicas, como o PNAE e o PAA, e por iniciativas de consumidores locais, como a Rede Guandu de Consumo Responsável. Dessa forma, aproxima agricultores e consumidores, fornece alimento saudável à instituições regionais e diminui os custos energéticos e monetários de transporte.

Gabriel Colombo de Freitas
Luis Carlos Nascimento Júnior

GESP – Grupo de Estudos São Pedro – ESALQ/ USP


Fonte: http://terramater.org.br/guandu/?p=731

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