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Engenharia e Desenvolvimento Social na Amazônia - o XI ENEDS no Pará

October 3, 2014 9:52 , by Alan Freihof Tygel - 0no comments yet | No one following this article yet.
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por Alan Tygel, fotos de Ana Castro

Em 2003, ainda sob os ecos da eleição do presidente Lula, um grupo de engenheiras e engenheiros que se recusaram a aceitar a Engenharia única e exclusivamente voltada para a geração de lucro resolveu realizar o I Encontro de Engenharia e Desenvolvimento Social. Hoje, 11 anos depois, o encontro cresceu, se tornou nacional, criou asas, filhas, e aterrissou por fim na região Norte.

Entre os dias 24 e 26 de setembro de 2014, o GETS - Grupo de Pesquisa e Extensão Trabalho Tecnologia Social e Desenvolvimento da Amazônia promoveu, junto a diversos parceiros, o XI Encontro Nacional de Engenharia e Desenvolvimento Social, na cidade de Castanhal, região metropolitana de Belém, Pará.

A motivação básica do ENEDS é fazer a Engenharia pensar politicamente sobre o seu papel, e mostrar às futuras engenheiras e engenheiros que existem possibilidades - e muitas necessidades - de realizar a prática da Engenharia voltada para o desenvolvimento social, e para as reais necessidades do povo brasileiro.

O XI ENEDS teve como tema "Repensando a Tecnologia e a Sustentabilidade da Amazônia". A motivação é justamente questionar a utilização do discurso da sustentabilidade e da tecnologia para justificar ainda mais destruição da natureza em nome do benefício de poucos.

A conferência de abertura colocou em discussão a construção de Belo Monte, onde foram apontadas as diversas contradições deste projeto, em todas as indas e vindas que já duram mais 30 anos. O discurso técnico da geração de energia falha quando se observa a vazão inconstante do Rio Xingú. A falácia da energia renovável e limpa também não se sustenta, dado o período de vida útil da usina, e as emissões de metano pela floresta submersa, que é liberado após a água passar pela turbina. E finalmente, a destinação da energia para produção de alumínio para exportação coloca um ponto de interrogação sobre a real necessidade do empreendimento.

O XI ENEDS teve dois momentos que já estão gravados na história deste encontro. O primeiro deles foi o "saiaço" promovido no último dia. Durante o mini-curso sobre Gênero e Engenharia, que discutiu a questão do feminismo dentro da Engenharia, alguns participantes fizeram ofensas a homossexuais presentes. Como respostas, mais de 10 homens vestiram saias para ministrar palestras e participar do evento, mostrando que o Desenvolvimento Social do qual falamos não pode ser levado à cabo sem uma Engenharia construída por todas e todos, sem distinção de gênero e opção afetiva.

Outro momento marcante foi a criação de Rede de Engenharia Popular, durante a plenária final do evento. A rede, que de alguma forma já existia na prática, tem como objetivo identificar engenheiros e engenheiras pelo Brasil que estejam dispostos a se colocar à disposição dos movimentos sociais.

Os mini-cursos e mesas do eventos buscaram abordar áreas específicas das engenharias e debates mais amplos. No campo da engenharia civil, os debates deixaram claro que pensar em materiais de construção sustentáveis não basta. É preciso discutir a cidade e as formas de exclusão que ela promove. Nesse sentido, a mesa Engenharia, intervenção urbanística e direito à cidade fez uma grande contribuição à reflexão sobre o assunto. E o mini-curso sobre habitação popular contribuiu com a experiência prática do coletivo Usina.

No campo da Computação, dois mini-cursos debateram a contribuição das tecnologias de informação aos movimentos sociais, e as formas de desenvolver sistemas voltados a uma lógica anti-capitalista. Os interessados na Engenharia de Produção também tiverem muitas contribuições nos minicursos sobre arranjos produtivos locais, análise FOFA e mapa mental, qualidade e pesquisa-ação para o desenvolvimento local.

A importância da agro-industrialização nos assentamentos de reforma agrária foi tema de uma mesa com participação da universidade e do MST, além do Incra. Foi ressaltada a importância de processar os produtos agrícolas para gerar valor agregado e maior durabilidade na produção da agricultura familiar camponesa.

Outros temas discutidos foram os resíduos sólidos, a formação em engenharia, e as alternativas de trabalho profissional.

O ENEDS analisa e aprofunda a complexidade do papel do engenheiro e engenheira na resolução de problemas reais de uma sociedade desigual e que enfrenta um crise ambiental sem precedentes. Ainda assim, a mensagem é clara: existem caminhos para a construção de uma engenharia solidária, multidisciplinar, comprometida com um desenvolvimento que ponha fim às desigualdades sociais e às injustiças ambientais.

Enfim, uma Engenharia Popular.

 


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