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É viável construir ecopolos e ecocidades para todos?

28 de Novembro de 2016, 13:55 , por Miro - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Licenciado sob CC (by-sa)

Tianjin Eco-CityTianjin Eco-City, projeto para uma nova Tianjin, da empresa Surbana, China, em parceria com Singapura.

 

Segundo relatório da ONU (de 2014) mais da metade da população mundial já vive em áreas urbanas. Se fossemos construir ecopolos ou ecocidades fora das áreas urbanas existentes, isso implicaria deslocar quase quatro bilhões de pessoas e urbanizar área suficiente para abrigá-las. Por mais ecológica ou sustentável que essas obras sejam, empregando métodos e materiais de menor impacto ambiental, a edificação dessas cidades ideais exigiria imensa quantidade de recursos e mesmo que fossem edificadas em zonas degradadas pela prática da pecuária e da agricultura entrópica, elas suprimiriam áreas que poderiam ser transformadas em agroflorestas sintrópicas ou restauradas e devolvidas à vida silvestre. Ao final teríamos reduzido ainda mais drasticamente o deslocamento de animais migratórios e inviabilizado a expansão populacional de muitas espécies que estão em extinção ou ameaçadas disso. Por outro lado, o que faríamos com as cidades atuais? As deixaríamos para trás, como ruínas, entregues a bandoleiros?

Além de um brutal avanço humano sobre áreas rurais, seria um gigantesco desperdício de espaço.

Migração De Búfalos 

Ação ou presença humana restringe áreas selvagens e ameça espécies migratórias, como os búfalos, que percorrem vários quilômetros.

 

 

 

                                                                                                        

 

 

 

MAS E SE OS ECOPOLOS NÃO FOREM PARA TODOS?

 

Europa vista do espaço, à noite, revela iluminação urbana.

Europa à noite 

 Crendo numa arrasadora redução da população humana mundial, causada por guerras, pandemias ou cataclismos, algumas pessoas almejam construir estâncias aprazíveis que sejam como sementes de uma nova era, eclodindo enquanto a civilização atual se desfaz. Seriam muito menores o número e as dimensões dessas povoações, pois seriam habitadas apenas por uma pequena elite de idealistas afortunados. Esses núcleos de sustentabilidade seriam a matriz de uma civilização igualmente sustentável, embora pós-apocalíptica, caso não sejam também destruídos pelos cataclismos e guerras ou caso não sejam degradados por hordas invasoras de bandidos ou desesperados.

Neste caso, a edificação desses ecopolos causaria um impacto ambiental mPrédio Abandonado Detroituito menor, sendo possível que quase todo esse impacto seja absorvido pela biosfera, a depender do tamanho de cada um, de quantos, onde, com que e como eles sejam construídos.

 

 

 

 

Prédio abandonado em Detroit: a cidade sofreu um colapso financeiro.

 

 

 

 

 

 

 

ECOPOLOS COMO NÚCLEOS DE VANGUARDA

 

          Cidade ideal projetada por Jacque Fresco, autor do Projeto Vênus.

 Ecocidade de Jacque FrescoEm vez de elitistas, os ecopolos podem ser utilizados como centros dinamizadores de uma cultura sustentável, em outras palavras, sendo polos, tal como o neologismo indica e tal como deve ser a intenção de seu criador. Sem buscar isolamento egoísta, esses ecopolos difundiriam seus conhecimentos e experiências a toda a humanidade, colocando-se como modelos a serem copiados ou exemplos instigadores de profundas e salutares mudanças na civilização. 

 

 Porém, isso só terá valia se os residentes dos ecopolos não negligenciarem o resto do mundo, considerando-o irrecuperável. Para isso, seria necessário superar o apego a certas idealizações, como as plantas do Projeto Vênus, cujo autor, Jacque Fresco, propõe demolir as cidades atuais, para construir suas cidades sustentáveis. Ora, realmente não seria fácil derrubar e terraplenar grandes metrópoles como São Paulo e Tóquio, para transformá-las nos sonhos arquitetonicamente assépticos desse gênio tecnocrata.

 Londres pós-apocaliptica

Londres pós-apocalíptica, com o rio Tâmisa seco. Concepção artística publicada pelo Daily Mail

 

 

 

 

TRANSFORMAR CIDADES EM ECOCIDADES

 

Abaixo, a restauração do rio Cheonggyecheon, antes soterrado por concreto, em Seul, Coréia Do Sul.

                       Restauração do Rio Cheonggyecheon

Certamente, todas as cidades podem ser continuamente reformadas e reestruturadas, gradualmente obtendo maior grau de sustentabilidade, mesmo que jamais alcancem a eficiência das cidades idealizadas por Fresco, com toda elegância de sua monótona simetria.

É indispensável encarar a realidade: a humanidade degradou o mundo e cabe a ela restaurá-lo. As cidades já fazem parte da superfície do planeta, cabe-nos transmutá-las de cânceres em células saudáveis da biosfera. Não devemos desistir antes de tentar: é nossa obrigação. Aliás, não devemos apenas tentar, mas fazer o possível e além.

Grandes equipes multidisciplinares que incluam urbanistas, arquitetos, engenheiros, projetistas, ecologistas, biólogos, permacultores, etc., podem ser capazes de inventar melhorias e soluções criativas para as cidades atuais, integrando-as cada vez mais ao sistema ambiental planetário. Os limites não são técnicos nem financeiros, mas políticos e culturais.

 

 

ECOPOLOS MAIS VIÁVEIS

Bioconstrução em Findhorn, Escócia Bioconstrução mimética em Findhorn, Escócia

 

Não é viável construir ecocidades para todas as pessoas, mas é indispensável transformar todas as cidades em ecocidades. Um possível caminho para isso talvez seja a criação de alguns ecopolos que realmente sejam polos irradiadores de informações e iniciativas; verdadeiras comunas sustentáveis, voltadas a revolucionar a macrocultura mundial, pacificamente transformando a civilização humana através do ideal da sustentabilidade socioambiental.

 

         Biconstrução mimética no País De Gales

Bioconstrução miméticaContudo, buscando ser realistas, devemos considerar que a grande maioria da população mundial não tem recursos para empreender prodigiosos ecopolos repletos de alta tecnologia. O mais básico, a aquisição de terras para o ecopolo, é inacessível para cerca de quatro bilhões de humanos, somando pobres e miseráveis, que apenas lutam por sobreviver.

Além do mais, na atual ordem mundial, a construção de ecopolos de alta tecnologia inevitavelmente dependeria de muito dinheiro e de grandes corporações capitalistas, como bancos comerciais e indústrias. Exigira imensa quantidade e variedade de recursos, incluindo especialistas de diversas áreas e produtos manufaturados de alto custo; recursos esses que escasseiam na maior parte do mundo, constituído por países periféricos, como o Brasil, cuja indústria não representa maioria na balança comercial, tendo uma economia dependente da exportação de commodities.

Nestes países, muitos produtos e profissionais teriam que ser importados, elevando tanto o custo financeiro quanto o impacto ambiental resultante do gasto de combustíveis utilizados no transporte.                                                              

 

                                                                       Bioconstrução mimética em Tibá, Brasil

Biconstrução com tijolos de adobe

Ecopolos de alta tecnologia talvez sejam viáveis para algumas pessoas, em alguns lugares, mas certamente não representam uma alternativa à imensa maioria da humanidade. Contudo, isso talvez seja melhor para todos os seres sencientes, pois existem criativas soluções de baixa tecnologia cuja engenhosidade deixaria perplexo o mais fanático futurólogo.

Seguindo o minimalismo tecnológico, isto é, priorizando o emprego de materiais, produtos e técnicas mais naturais possíveis, ascendendo a tecnologias industriais apenas quando indispensável, seríamos capazes de edificar ecopolos mais acessíveis e ecológicos. Utilizando recursos locais minimizaríamos custo financeiro e danos ambientais resultantes do transporte e da sobrecarga de demanda sobre zonas de extrativismo, onde há minas ou poços de petróleo, por exemplo.

Chuquicamata, mina de cobre no Chile

Chuquicamata, mina de cobre, no Chile: uma das maiores do mundo, possui cerca de 4km de comprimento e 900 metros de profundidade.

 

Com técnicas como a permacultura, a bioconstrução e a agroecologia sintrópica, por exemplo, podemos construir ecopolos em áreas degradadas, restaurando-as ou requalificando-as, sempre que possível evitando terraplenagem e derrubada de árvores, empregando mimetismo nas edificações e biomimética nos materiais, modificando do ambiente somente o estritamente necessário, buscando integrar os humanos ao ecossistema. Estes seriam ecopolos mais viáveis, ambientalmente, economicamente e socialmente, pois edificar-se-iam empregando preferencialmente seus futuros residentes, incluindo trabalhadores locais, independentemente de seu grau de escolaridade, os quais poderiam ser capacitados para tal.

Habitação construída com COB e pedras.

Habitação construída com COB e pedras.

 

Assim, o que diferenciaria um ecopolo de uma ecovila não seria o emprego de tecnologias mais ou menos avançadas, mas sua atuação externa, sua influência positiva sobre a humanidade, exemplificando um novo modelo civilizatório e compartilhando seus conhecimentos e práticas. Afinal, ser um ecopolo, isto é, um polo ecológico, é ser um centro de difusão da sustentabilidade socioambiental.

Quanto à aquisição de terras para os ecopolos, além do financiamento colaborativo ou coletivo (crowdfunding), refém do totalitarismo econômico imperante no mundo, poderemos criar outras possibilidades. Através de ampla, intensa, bem fundamentada, bem organizada e persistente atuação sociopolítica, certamente conseguiríamos:

1- a promulgação de lei que obrigue a desapropriação de terras degradadas cujos proprietários não as estejam devidamente restaurando ou requalificando com eficiência e rapidez; e

2- transformar pequenos municípios em ecopolos, com as necessárias alterações e adequações legais.

 

Outras alternativas poderão surgir, como possibilidades que também exijam grande coragem e engajamento, mas sem escapar ao Pacifismo Proativo (item 33 da Proposta Para Ecocivilização).

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Todos os seres humanos estão sujeitos a erros, principalmente os inovadores mais ousados. Pouquíssimas e diminutas discordâncias não nos devem impedir de admirar e desejar sucesso a empreendimentos como Projeto Vênus, Projeto Equilibrium, Nação Terra Nova e outros. Afinal, mesmo após o desenvolvimento ou aplicação dos projetos, erros podem ser corrigidos, equívocos podem ser superados e aprimoramentos podem ser feitos. Por isso, colaboremos  com os valorosos vanguardistas destes e de muitos outros empreendimentos voltados ao aperfeiçoamento da civilização humana ou, ao menos, desejemos a eles felicidade e uma vida plena de realizações, enquanto nós mesmos nos engajamos em outras iniciativas em prol do bem comum!

 

30 de novembro de 2016

Atualizado em 9 de dezembro de 2016

 

Licença Creative Commons
O trabalho É VIÁVEL CONSTRUIR ECOPOLOS E ECOCIDADES PARA TODOS? de Miruí Araújo De Sá está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-CompartilhaIgual 4.0 Internacional.

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Em breve, novidades em Ecocivilização, incluindo novos empreendimentos voltados à autossustentabilidade socioambiental e à aplicação de itens da Proposta Para Ecocivilização.

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