Sobre o dinheiro e a alma
сентября 1, 2014 18:52 - no comments yetPesquisas recentes apontam uma leitura nada comum sobre a origem do dinheiro. Seu surgimento não estaria vinculado à facilitação das trocas de bens, substituindo com vantagens o escambo, a troca direta. Antes da razão prática ele teria sido criado por razões espirituais, para negociar com o divino. As primeiras moedas, segundo esta versão, teriam sido animais oferecidos aos deuses em troca de favores solicitados desde tempos imemoriais: chuva, sol, boa colheita, etc. Esta versão abre outra perspectiva de relação com o dinheiro que não é nem a da adoração, tão comum, nem a da execração. Ela vai além, entendendo seu papel simbólico e ajudando a compreender a alma humana.
Um dos motivos da adoração ao dinheiro é seu poder de evitar frustrações. Quem tem dinheiro não precisa o tempo todo priorizar, escolher. Pode, em termos materiais, ter “tudo” o que deseja, em comparação à média das pessoas. Outro conforto que o dinheiro traz, é o próprio conforto: paga serviços, bens e situações que evitam trabalho. Não é à toa que o dinheiro é normalmente tão cobiçado e que quem aparenta possuí-lo está tão exposto à inveja. Os motivos que cada pessoa elege para valorizar o dinheiro são um bom caminho do processo de autoconhecimento: ele pode ser um revelador de desprendimento, mas também de apego. Ele pode mostrar o cuidado consigo e com os outros, ou pode ser usado para controlar as pessoas. O dinheiro pensado com força de vida, como energia condensada, pode nos ajudar no caminho da coerência, usando-o para moldar o mundo que queremos.
É possível destacar duas relações profundas do dinheiro com a alma: a liberdade de escolha que o dinheiro permite e a promessa de aprovação social que ele oferece. Pensando que cada ser humano tem no seu DNA desejos de liberdade e de reconhecimento do seu valor, vê-se que todos tentam, por diferentes meios, cumprir estes desejos. A maioria tenta ser útil, trabalha no que lhe cabe buscando mostrar seu mérito, tenta ser bom pai, mãe, filho, amigo, colega de trabalho, etc., confiando colher amor e respeito de si mesmo e dos outros. O dinheiro entra aí desestabilizando a equação social. Como poderoso motor de reconhecimento, particularmente numa sociedade consumista, ajuda na criação de uma imagem pública favorável até para quem não tem mérito e usa o dinheiro para criar, acelerar ou aprofundar a desejada admiração pública.
Costuma-se separar, e é justo que se faça, aqueles que obtêm dinheiro por mérito do trabalho árduo, daqueles que o obtêm por meios escusos. Quando se obtém dinheiro por algo meritório, o desejo de reconhecimento através desse tenderia a ser menor, pois a atividade que causou sua obtenção já traz também reconhecimento, e assim não se necessitaria de exposição de poder econômico. Pode-se pensar que o apego exagerado ao dinheiro, e mesmo a exibição pública daquilo que ele proporciona, estaria mais presente naqueles que não têm outros merecimentos para serem reconhecidos, ou que intimamente duvidam de seu próprio valor. Nestes casos, que parecem ser frequentes, o dinheiro pode facilmente virar uma prisão, ao invés de um instrumento de liberdade de escolhas.
Se olhamos o dinheiro de modo mais espiritualizado, de fato é possível perceber caminhos da alma através das formas de sua presença diária na vida de cada um. Para aqueles que querem uma existência plena, não é possível ignorar como o dinheiro lhes afeta, nem desconhecer que ele é também uma metáfora de poder. A alma, ou a consciência de cada um, não quer subterfúgios, não quer vender ilusões a si mesma ou aos outros. Ao invés de execrá-lo, talvez a melhor forma de vencer o poder do dinheiro seja simplesmente olhá-lo de frente, como o que ele de fato é: um instrumento, um objeto, que tem o sentido que lhe damos. Como diz a música de Frejat “desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também... E que você diga a ele, pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem...”.
Outro link relacionado: "Sobre o ter e o ter"
Um pouco da sabedoria do Yoga
августа 24, 2014 7:29 - no comments yetÉ comum pensar no Yoga como uma ginástica vinda da Índia, na qual as pessoas executam, ao som de música suave, belos exercícios de alongamento que ajudam a manter o corpo em forma, com equilíbrio e flexibilidade. Tudo isso é verdade, mas é a ponta do iceberg do universo do Yoga, que é também uma forma de exercício espiritual e uma via de cura, imersas numa concepção de mundo na qual tudo é um. Corpo e emoções, mente e alma estão completamente interligados e podem ser curados de desarmonias pela via do Yoga, que inclui a plena absorção da energia vital, o “prana”, através de práticas respiratórias.
Surgida na Índia há cerca de cinco mil anos, a prática tem uma dimensão devocional que inclui cânticos (mantras) e posturas meditativas que facilitam o contato com o divino. Como a palavra Yoga significa “união” e sua prática se propõe ser um caminho para a “iluminação”, pode-se destacar sua vocação para ser um caminho de autoconsciência. Iluminação sendo entendida aqui como a união entre a pessoa e o divino em si, a autenticidade na aceitação de seus talentos e suas sombras, do destino do Universo e do seu próprio. A prática do Yoga é um caminho de busca da alegria de viver, que, no dizer de Gandhi, é encontrada quando existe coerência entre o que se faz, o que se pensa e o que sente. Integração.
Na prática do Yoga é-se convidado a uma concentração profunda da mente no funcionamento do corpo. Ao realizar uma postura tradicional, chamada “ásana”, em ritmo respiratório definido, por exemplo, inspirar ao subir, expirar ao descer, a mente é chamada a concentrar-se em algo que se está realizando no momento, o que a libera de quaisquer outras preocupações. Esta concentração meditativa é uma das portas que o Yoga abre para a união entre corpo, mente e espírito. Sem esta união não há possibilidade de um aprofundamento da consciência, nem de saúde perfeita. A relação do Yoga com a medicina ayurvédica indiana é assim, profunda.

"Revoluções tranquilas": A África dá exemplo ao primeiro mundo
августа 14, 2014 19:08 - no comments yetA experiência da "cidade rural verde" de Songhai é espantosa. É impressionante que um pais pobre como o Benin, na costa oeste da África, possa mostrar ao mundo tal exemplo de produção limpa com energias renováveis, lixo zero e criação de empregos decentes. Tudo isto em harmonia completa com a Natureza. Não seria este o sonho do “primeiro mundo”? pois há muito mais: formação, pesquisa, serviços de saúde, incentivo ao empreendedorismo...Não é a toa que Songhai e seu modelo de desenvolvimento, tenha como slogan a expressão "A África levanta a cabeça".
O nome Songhai foi emprestado de um poderoso e dinâmico império africano do século XV. Segundo o padre dominicano Godfrey Nzamujo, fundador e animador das experiências Songhai desde 1985, os valores desta civilização eram: visão, coragem, criatividade, sentido do bem comum, disciplina e solidariedade. A equipe de Songhai vem formando, com base nesses valores, gerações de dirigentes que coordenam experiências implantadas em vários países e melhoram a vida de milhares de pessoas.
O que se vê na sede histórica do projeto no subúrbio de Porto Novo, capital do Benin, é uma impecável limpeza e organização, na qual os jardins que produzem alimentos e embelezam o sítio são adubados com a compostagem dos dejetos animais e humanos que também viram energia por biogás. Tudo é vendido fresco, a preços acessíveis, ou processado em indústrias cujas máquinas são fabricadas ali mesmo, muitas delas com latas de alumínio reutilizadas, idealizadas por mecânicos locais e que funcionam com energia produzida ali mesmo. Um exemplo de permacultura.
Os produtos, orgânicos, são de excelente qualidade e não vão todos para o exterior a preços inacessíveis: o alvo da produção Songhai é o povo pobre do Benim mesmo, numa economia chamada por eles de “de comunhão”. Os avanços tecnológicos desta experiência maravilhosas devem muito ao Pe. Godfrey, doutor em eletrônica, microbiologia e ciências do desenvolvimento. Os avanços humanos são uma conquista coletiva que se celebra a cada domingo numa alegre e colorida missa celebrada na pequena capela que transborda de gente que canta a liberdade de construir seu próprio destino.
Conheça o site em francês e inglês
https://www.songhai.org/index.php?lang=fr
Paz: Israelenses e Palestinos convivendo respeitosamente
августа 7, 2014 14:09 - no comments yetCada um nós se angustia com este conflito sem fim. Temos um sentimento de impotência que se agrava pelo fato de termos visto o fiasco de tantas tentativas de paz. Uma nova força está surgindo neste conflito: nós, a sociedade civil, os/as cidadãos que querem o bom, o justo e o belo.
Veja a petição que já foi assinada por quase dois milhões de pessoas no mundo inteiro. Seja uma delas e vamos mostrar que estamos atentos/as, que nos preparamos para outras formas de ação, mas já demos o primeiro passo.
https://secure.avaaz.org/po/israel_palestine_this_is_how_it_ends_rb/?bgopYdb&v=42866
Se tem dúvidas, veja uma excelente apresentação que tenta trazer mais clareza: IsraelPalestina_.pps
Baixe o livro Por uma Sobriedade Feliz
августа 1, 2014 11:43 - no comments yetEste belo livro de Patrick Viveret origina-se em uma palestra deste filósofo francês. O desafio de ser feliz com simplicidade, em conexão construtiva e criativa consigo mesmo, com os outros e com a Natureza, é o seu objeto. Fiquei encantada com a largueza do mundo e a singeleza do cotidiano que ali se encontra e resolvi tornar este trabalho acessível ao público brasileiro, traduzindo-o. Patrick Viveret é co-fundador do movimento internacional “Dialogues en humanité”, do qual o Brechó Eco- solidário é um dos representantes brasileiros e que pode ser conhecida no site http://dialoguesenhumanite.org/
O livro encontra-se esgotado, mas você pode ter acesso a ele clicando abaixo.
"Revoluções tranquilas": O Brechó Eco Solidário é uma delas
июля 25, 2014 12:54 - no comments yetAqui pertinho de nós, em Salvador, existe um mercado que funciona com base na abundância, no qual a moeda sobra e chega a pobre e ricos. A cada ano, no Parque da Cidade, centenas de pessoas trabalham para mostrar que outro mundo é possível e está em construção. A moeda social "grão" circula alegremente e seriamente movendo uma experiencia que começou em 2006, da qual milhares de pessoas já tomaram parte e sobre a qual a mídia quase nunca fala, preferindo tiros, pancadaria, guerras, catástrofes.
Muitas outras "revoluções tranquilas" estão acontecendo no mundo, sem fazer alarde. Bénédicte Manier, que escreveu um livro sobre o assunto, fala de "um milhão" de pequenas revoluções realizadas por cidadãos comuns pelo mundo afora. Pretendo falar destas experiências que nutrem a esperança, que impulsionam a crença de que é possível contribuir pra construir um mundo melhor. Começo pelo nosso Brechó, que além de um mercado alternativo de bens usados, tem terapias holísticas, cultura popular, educação ambiental. explosição de arte reciclada e Diálogos sobre soluções para as questões que nos afligem.
Para conhecer melhor o evento, saboreie o vídeo abaixo. Alegre-se, esta bela experiência existe, é construida autogestionariamente e precisa de todos/as. Se quiser ser voluntário/a, baixe o texto informativo e veja como inscrever-se. Se não pode, seja um consumidor consciente, separe objetos usados em bom estado e venha para o Parque da Cidade nos dias 24 e 25 de outubro para comprar objetos úteis com o "grão".
Inscrição_voluntários_brechó_2014_pdf_correto.pdf
Sobre o ter e o ter
июля 22, 2014 15:14 - no comments yetOuvimos ad nauseum que vivemos um tempo em que o ter é mais importante que o ser. A frase é inócua, pois é raríssimo que um ser humano normal não ache que o ser é pelo menos tão importante quanto o ter, portanto não há desacordo e não se avança. Difícil então é questionar-se sobre a relação positiva e profunda de cada pessoa com o ter. Para chegar mais rápido ao ponto, evoco a velha roupa bonita, macia de tão usada, cheia de lembranças de coisas vividas e que é tão difícil de aposentar. Esta relação afetiva com o ter, com algo que tem significação para o ser profundo, é que precisa ser valorizada.
Num mundo de modas rápidas e produtos descartáveis, seria necessário uma relação mais densa com o ter, que prolongue e dê significado aos objetos. O que existe abundantemente é uma relação viciosa com o comprar. A emoção de adquirir algo novo, sem defeitos, sem história. Tanto que, pros mais endinheirados, é comum esquecerem nos armários o que compraram após consumirem a emoção do momento da compra. O mesmo “vício” é a relação com o descartável, com o prático, o que não dá trabalho, o que desaparece após o uso dos nossos olhos sem deixar vestígios depois de passado o caminhão do lixo. Só que não desaparece de fato.
Dados os resultados do consumo sem fim para o planeta, este comportamento de ligeireza com o ter deverá ser revisto, sob pena de catástrofes climáticas cada vez mais cotidianas. A durabilidade do produto ano após ano, seja ele um prato, um computador ou uma geladeira, a reinvenção da roupa por um novo acessório ou nova combinação, a escolha criteriosa de produtos alimentícios que de fato construam nosso corpo e não distraiam nossa fome íntima serão a nova ordem. Do mesmo modo que consertar um objeto usado significará respeito por ele, por si mesmo e pelo mundo. A Seva Ioga, a ioga que praticamos trabalhando concentradamente, faz do gesto mais simples de colar cacos, remendar, lavar pratos e limpar ambientes, um ato de meditação, de encontro consigo mesmo, de respeito para com o objeto. Que o ter seja reabilitado, no bom sentido.
(Publiquei esse texto pela primeira vez em 22 de julho de 2014, avisando ao público que "A partir de hoje irei partilhar pequenos textos de minha autoria que refletem sobre a vida e/ou que compartilham experiencias inovadoras de coletivos cidadãos que estão mudando o mundo sem que este mundão velho da TV, do consumo e do vazio interior nem perceba...". De lá pra cá, tomei gosto pela partilha e sigo publicando co alegria)
Dialogando em Lyon/França 2014
июля 16, 2014 12:59 - no comments yetMais uma vez uma multidão de pessoas e de organizações estiveram discutindo e experimentando, em Lyon/França, o mundo de amanhã, nos dias 4/5 e 6 de julho 2014. Na lógica de Gandhi "seja você o mundo que quer ver", os Diálogos estão mostrando, além de Lyon, em Bangalore/India, Salvador/Brasil e em cidades de todos os continentes, que é possível ser otimista.
Este Movimento Diálogos em humanidades quer agora, em parceria com outras redes de ativistas do mundo, construir uma carta de governança cívica para o planeta. Em outras palavras, identificar tudo aquilo que pode unificar ambientalistas, movimento da economia solidária, cultura livre, entre outros muitos, com metas mínimas de dignidade humana para uma nova governança global.
Segue abaixo um primeiro esboço como ponto de partida que é obra coletiva da rede Diálogos nos últimos anos.
"Prioridades:
- Renda Mínima Universal de Dignidade Humana;
- Alfabetização para todos, funcionando como impulso também à "conscientização" proposta por Paulo Freire;
- Cuidados básicos de saúde com ênfase na prevenção (utilização de ervas medicinais e tecnologias de saneamento ecológico – biorremediação);
- Plantio de árvores para reflorestamento e estímulo àprodução de alimentos baseados em agroflorestais e técnicas agroecológicas em áreas públicas e privadas);
- Novas formas de apropriação coletiva da terra rural e urbana;
- Direito à água limpa para todas a sociedade, investindo em tecnologias livres;
- Apoio à cultura das populações mais fragilizadas;
Critérios de governança:
- Autogestão;
- Participação popular;
- Maioria de mulheres, idosos e jovens no comitê de governança;
- Justiça (aos mais frágeis, maior apoio)
- Justeza (ação adequada a cada contexto)
- Ouvir as crianças
- Tomada de decisão deve considerar os impactos sócio-ambientais até a 3ª geração.
Fontes de recursos:
- Taxa Tobin (espécie de CPMF que taxaria todas as transações do mercado financeiro mundial)
- Imposto sobre grandes forturas
- Recursos inesgotáveis da energia amorosa humana e da mãe natureza...
- Viver a abundância preferencialmente com arte
- Políticas e ações de anticorrupção local e global
- Capacidade de cuidar o espaço humano

O documento final, que será co-construído e será propriedade coletiva, tem por objetivo ser divulgado amplamente nas redes sociais e apresentado na Conferência do Clima de Paris em dezembro de 2015.
Dentro deste quadro, fica a pergunta: Porque foi tão difícil construir até aqui consensos sobre coisas tão politicamente unânimes entre aqueles/as que querem construir um outro mundo?
Programa Diálogos em humanidade Lyon Julho 2014
июня 18, 2014 14:08 - no comments yetDialogues en humanité: http://dialoguesenhumanite.org
O evento francês Dialogues en humanité realiza-se anualmente desde 2002 e possibilita ao público a discussão e vivência de "práticas do futuro emergente" - inovações na sociedade para fazer face aos desafios econômicos, sociais, ambientais e espirituais da humanidade. Este processo vem se descentralizando, buscando parcerias com eventos afins em várias cidades do mundo e sendo realizado também em Berlim/Alemanha, Bangalore/India, Riad/Marrocos, entre outras. O Brechó Eco Solidário é uma das expressões brasileiras da rede internacional Dialogues en humanité.
Programme_Dialogues_en_humanite_2014.pdf