Debater elementos para construção de referenciais metodológicos em produção, comercializaçãoe consumo solidário foi o principal objetivo do encontro que reuniu em Brasília, nos dias 3 e 4 de junho, membros do Núcleo Produção, Comercialização e Consumo Justo e Solidário da Rede CFES – Centro de Formação e Apoio a Assessoria Técnica em Economia Solidária.

Um dos pontos-chave na programação do evento foi a apresentação dos resultados de uma pesquisa sobre formação e comercialização intitulado ‘A natureza da comercialização na economia solidária: a contribuição dos Grupos de Consumo Responsáveis’. O estudo foi realizado por Diogo Rêgo como tese de mestrado pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia. Ele, além de fazer parte da Rede CFES, também compõe a Rede Moinho, uma das três experiências presentes no encontro e que compartilharam suas trajetórias.

Diogo contou que no total foram mapeados 19.708 empreendimentos de economia solidária em todo o Brasil com o objetivo de identificar quais são as principais dificuldades encontradas pelos grupos. “São eles: falta de crédito, logística, falta de atuação em rede e formação”, destacou. De acordo com o estudo, 52,07% dos empreendimentos analisados sofrem com a falta de capital de giro o que pode refletir, por exemplo, na inadequada estrutura para a comercialização (37,52%).

Comércio justo é a articulação das relações econômicas que tem como base a solidariedade, ou seja, não são pautadas nas relações comerciais, mas sim na justa distribuição de renda, melhoria nas condições de vida dos participantes, compromisso com o meio ambiente, desenvolvimento sustentável e respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras envolvidas. Nesta perspectiva, os empreendimentos de economia solidária são associações e cooperativas alicerçadas nos pilares da solidariedade, da autogestão, da cooperação e da geração de trabalho e renda.

Valdener Pereira Miranda, 48 anos, relatou durante o encontro a experiência da Associação de Assentamentos no Estado do Maranhão (Assema). Articulada em 1989 por quatro sindicatos de pequenos agricultores da região, a associação surgiu a partir da necessidade de organização e fortalecimento dos camponeses que sofriam forte intervenção dos latifundiários, o que gerou, na época, inúmeros conflitos agrários. “Os trabalhos iam desde a recuperação da terra, a produção diferenciada por meio da agroecologia, até o sistema de comercialização para que os pequenos agricultores pudessem sair das mãos dos atravessadores, pois tudo era dominado pelos grandes da região”, relatou Valdener que há 20 anos faz parte da Assema.

A associação que começou com quatro cooperativas em quatro municípios, hoje conta com 8.700 famílias em 16 cidades do estado. O óleo de babaçu registrado oficialmente como orgânico corresponde a 60% de toda produção da cooperativa e, segundo Valdener, 70% dos óleos produzidos são para exportação. Hortaliças, grãos, frutas e farinha também são produzidas e comercializadas em feiras locais.

“Foi por meio da organização e da formação que essas famílias conseguiram deixar o trabalho em troca da subsistência. Hoje eles melhoraram economicamente, contam com educação e vivem dignamente”, salientou Valdener. A Justa Trama, uma cadeia produtiva de algodão agroecológico, e a Rede Moinho que atua com consumo solidário, também apresentaram suas experiências durante o evento.

Articulado nacionalmente pela Cáritas Brasileira, o CFES Nacional é um projeto da Secretaria Nacional de Economia Solidária/Ministério do Trabalho e Emprego (SENAES/MTE), que teve início em 2009. Em 2013, a parceria entre a entidade e o governo que firmaram convênio até 2015, dá continuidade aos processos de articulação e formação.

por Thays Puzzi, assessora de Comunicação da Cáritas Brasileira | Secretariado Nacional