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blogdoalan

January 27, 2010 22:00 , by Alan Freihof Tygel - | No one following this article yet.

Blog do Alan, contém pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.


Cícero

January 26, 2015 8:32, by Alan Freihof Tygel - 0no comments yet

Faz dois anos que perdemos ele. Literalmente, saiu da vida pra ficar de vez em nossos corações, sempre que tivermos alguma dúvida sobre quando sai a reforma agrária.



Começando a pensar numa rotina

January 19, 2015 19:50, by Alan Freihof Tygel - 0no comments yet
  • A boa notícia: consegui uma casa! Fica numa linda república, com mais 4 pessoas. Uma casa antiga, de madeira, bem aconchegante e a 15 min andando do prédio que trabalho. Fiquei no sótão, com dois quartos pequenos. Não tem móveis (bonitos), mas tem uma cama antiga, uma mesa, e segundo dizem, aqui tem bons lugares para garimpar móveis usados. Me mudo na quarta, e mando fotos da casa e da cachaça ;)
  • A notícia ruim: meu amigo Mohamed, minha amiga Farah, meu amigo Lavdim ainda não conseguiram. Os preços não são convidativos, e no caso do Mohamed, que também procura uma república, é bem provável que o nome atrapalhe. O mais trágico é que é o só o nome mesmo, porque ele nem tem traços árabes muito marcantes. Lembro que em 2004, quando estive em Berlin, fiquei num albergue, e conheci um iraniano, também Mohamed: era engenheiro eletrônico, como eu, já havia sido aceito numa universidade estadunidense mas não conseguia o visto, e aguardava na Alemanha. Ele disse que a dificuldade era por conta do nome também, já que nem árabe ele era (persa, no caso).
  • No Brasil, a distinção entre classes é vísivel pela cor da pele, pela conta bancária, pela "boa aparência", enfim, diversos critérios. Isso já é ruim o suficiente. Aqui, além disso tudo, cidadãos de primeira e segunda classe são objetivamente distinguíveis através dos documentos, ou mais especificamente, passaporte. O idioma também é outro elemento. Mas aqui, quem não tem passaporte pode falar o que quiser, parecer o que quiser, mas é cidadão de segunda classe. E quem tem, como eu, pode até falar um alemão de padaria, ter uma pinta de baiano (hehe), que tá tudo bem.
  • Isso cria um ambiente propício para o surgimento, e um amplo e assustador apoio da sociedade, a coisas como o Pegida, os patriotas europeus contra a "islamização" do ocidente. Em Bonn, como se isso não bastasse, temos o Bogida, a versão local desta corja. Enquanto isso, um grupo de judeus cola adesivos dizendo que "toda crítica a Israel é anti-semita". Assim, usam porcamente o sofrimento de milhões de pessoas, inclusive meu avô, para justificar as atrocidades praticadas em Gaza e na Cisjordânia.
  • Os jornais que tenho lido aqui usam terrorista e muçulmano como sinônimos. Desacaradamente. A entrevistada da capa de domingo do Die Welt am Sontag, tipo o Globo daqui, era uma espécie de Beltrame versão feminina-alemã. Imagine. A partir do pressuposto da guerra ao terror, disseram estar monitorando mais de 100 grupos islâmicos (=terroristas, no caso). Ela também disse não ver problema nenhum no Pegida ("é até bom que cada um mostre sua bandeira"). E espera que caiam as leis de privacidade na internet para eles poderem vigiar melhor os islâmicos...
  • Capa do jornal de hoje dava conta da proibição de aglomeração de pessoas em Dresden, e por consequência, proibia uma manifestação do Pegida já marcada. Dizia que o líder do Pegida estava ameaçado de morte (pelos islâmicos?terroristas?tanto faz?). A outra matéria era sobre um deputado alemão verde (progressistas, por aqui) que apareceu num vídeo a seis meses atrás com uma planta de maconha. Ia ser processado. A outra matéria era sobre as execuções de estrageiros na Indonésia, incluindo o Brasileiro.
  • Hoje, finalmente fui tentar comer comida alemã. No restaurante em frente ao meu prédio de trabalho, tem dois restaurantes: um persa, que serve comida "Halal" (própria para muçulmanos) e outro alemão. Aproveitei que estava sozinho e fui no alemão, já que meus colegas só comem no outro. O prato do dia já tinha acabado (salsicha com salada de batata, que mais poderia ser?). Pedi um trem chamado Flammenkuche (tipo Bolo flamejante). Daí veio uma.... pizza! E não poderia ter sido mais clichê, com chucrute em cima (e outros coisas mais, estava bem gostoso). Aliás, atenção: chucrute em alemão não é "chucrrrute" (não é, mas poderia ser). É Sauerkraut. Meus vizinhos que se cuidem ;)
  • Fingindo que sou rico, pedi uma água (pensando que era da torneira) e veio uma com gás, de E2,2. Fingindo que sou rico, pedi um café - expresso? não, preto mesmo (achando que seria mais barato). Resultado: mais E2,00  (o expresso era 1,20). Daí que a conta deu 10,60. Daí que dei uma nota de 50 e disse, peraí, tenho 0,60. Contei as moedinhas e tinha 0,57. Daí pensei, vou me dar bem pelo menos uma vez! Daí ela disse, Nein, e preferiu me dar o troco em moedinhas...

 Jantar de sexta ;)

Esses vegans daqui são ótimos!

Ao lado do cartaz: Patriotismo não, obrigado.

Na página indicada (http://www.keinbockaufnazis.de/), um aviso: "Por favor, não escreva nenhum comentário começando com 'Eu não tenho nada contra estrangeiros, mas ... '. Nossa experiência é de que o risco é alto que venha um racismo daí."

Me sentindo em Santa Teresa...

Vista da minha sala. Tão vendo o Reno? Nem eu, mas juro que ele tá logo ali.

Podia chamar essa foto de "quem mexeu no meu queijo", mas jamais faria isso.

A janta de hoje - vai gordinho!



Sábadão em Bonn, tudo de Bão!

January 17, 2015 13:53, by Alan Freihof Tygel - 0no comments yet
  • Sábadão de inverno em Bonn, os Alemão tudo na rua botando as luvinhas de fora. Dois erros nesta frase: (i) só quem usa gorro e luva sou eu, o povo parece que não tá nem aí pro frio. (ii) Tem muito mais do que alemão aqui, muito mesmo. Em muitos lugares, ouve-se todos os idiomas, menos alemão: árabes, sobretudo turcos, espanhol, um bocado de coisa.
  • Daí virou lugar comum falar de xenofobia na Europa. Mas vamos com calma, é mais complexo que isso:
    • É claro que os imigrantes sofrem um bocado aqui. Noto isso desde os imigrantes classe A, que são meus colegas da universidade. Todos muçulmanos (Kosovo, Etiópia, Argélia - alguém um dia sonhou em conhecer um Kosovense?). Eles têm muito mais dificuldades que eu para arumar casa, visto, conta no banco, etc. Alías, conta no banco é fácil, basta ter uma residência ;). Imagina para os refugiados...
    • Mas: todos os meus colegas vieram com bolsa da Uni-Bonn ou DAAD, ao contrário do bacanão aqui que veio bancado pelo povo brasileiro;
    • Mas: todos os 5 moradores de rua que ví até agora eram bem alemães;
    • Mas: quer comer bem e barato? Procure um chinês, um turco, um indiano, mongol... Os restaurantes são maravilhosos, o povo é simpático, pergunta se gostou da comida, e, principalmente, alerta se o prato que você escolheu for "scharf", apimentado. Aliás palavra útil essa.
    • E o Alemães adoram! Ví uma cena bem bonita hoje enquanto comia meu Kebab. A alemã entrou na loja com seu filhinho no carrinho de bebê. O turco, muito simpático, cumprimentou, e só olhar o neném viu que ele estava doente. Enquanta moça era atendida por um funcionário, o turco simpático saiu de trás do balcão, e foi lidar com o bebê doente, segurou as mãozinhas, brincou, e a mãe numa alegria que só. Sai a mãe, entram duas sul-coreanas. Mais uma vez, o turco simpático recebe com um enorme sorriso, e os três têm uma animada conversa em alemão (daí que soube que era sul-coreanas) quando ele começou a falar da integração Turquia-Coréia. Daí ele ofereceu, de graça, dois docinhos, e elas quase caíram pra trás. Pense num alemão fazendo isso? nê...
  • Em suma, minha conclusão depois de dois dias (tudo pode e deve mudar) é que: (i) no Brasil não existe um nível de imigração de estrageiros pobres que nos permita comparar como seria a reação do nosso povo; (ii) existe um nível grande de integração, e um esforço da parcelas das sociedade pra isso acontecer, seja por simpatia, seja por necessidade de mão de obra barata; (iii) o fantasma do fascismo ronda forte por aqui, vide a conversa com os muros do post anterior. Prometo me aprofundar melhor e ir conhecer as organizações aqui.
  • Sábadão de inverno em Bonn, o povo vai pra praça. Havia duas manifestações, em barracas montadas: uma promovendo boicote aos produtos israelenses enquanto israel mantiver as invasões em Gaza e Cisjordania. Eles fizeram um enorme trabalho de mapeamento e distribuiam isso. Dooei 2 Euros.

  • A outra eram muçulmanos dando Alcorão de graça e incentivando a leitura e conversão para o Islã. Em alemão. Achei bem corajosos, fazer isso no momento atual. Mas parecia tudo bem.

Mais um pouco de conversa com as paredes:

Tá frio, moça!

Certas coisas nunca envelhecem!

Alguém entendeu?

Burguês. Mente estreita. Pequeno burguês. Bonn. (tinha outro que não tirou foto, mas era tipo esse, dizendo: Schhhh. Silêncio. Sem bagunça. Bonn.

... para que ninguém seja invisível, ajude ao invés de virar o olhar.

A capa da 1a edição do Charlie após o atentado, colada na porta do meu departamento (onde, diga-se de passagem, há muitos muçulmanos). A charge mostra Maomé segurando a placa, e dizendo que tudo é perdoado.

Pra fechar, minha feira hoje. Claro que segurei a mão porque ainda estou no albergue, mas esperem só quando eu tiver uma cozinha pra mim!



Hoje eu falei com as paredes, em Bonn

January 16, 2015 18:33, by Alan Freihof Tygel - 0no comments yet

Algo como "Nazis no papo"

As paredes murmuram um passado não muito distante...

O adesivo vermelho diz: "aqui havia propagando nazista"

"Firmes contra o pensamento de direita." Apagado, um cartaz do 1. de maio.

"Os racistas do Bogida (Bonn contra Islamização do mundo ocidental) resolveram fazer frente. Venha junto contra a islamofobia, homofobia, sexismo, antissemitismo e racismo."

Energia nuclear? Não, obrigado (simpáticos!)

Autoexplicado

Qual a semelhança entre luta contra o fascismo, anarquismo, autogestão (ninguém precisa de chefes!), veganismo e uma caixa de vender cigarros?

"O sistema não tem uma crise. Ele é a crise!"

Os de cima, e os de baixo

Na cidade onde tudo é "certinho", achei uma coisa errada!

 

 



Para Jojo e Vitú, com amores

January 15, 2015 14:33, by Alan Freihof Tygel - 1One comment

Era uma vez uma cidade na beira do mar. Lá se viviam muitas alegrias e tristezas, para alguns mais alegrias, pra outros, mais tristeza, que nesta cidade estas coisas não eram lá tão bem divididas. Dividida era mesmo essa cidade, os contrastes entre ricos e pobres, brancos e negros, asfalto e morro, baixa e alta, centro e periferias, isso era coisa difícil de se esconder. Esta cidade tem tudo isso, mas também é uma cidade de encontros. Foi nessa cidade, e não poderia ter sido em nenhuma outra, que nasceu o samba.

Uma cidade da rua, do calor, da fé e da festa, onde a vida é uma eterna celebração dos deuses e dos orixás. A cidade preferida de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dorival Caymmi, Gal Costa, Vinicius de Moraes, Gordurinha, Maria Bethânia, era um lugar onde a música ditava o ritmo da vida. O som do tambor embala o dia a dia, espremido no ônibus, preso no trânsito. Mas nesta cidade também chega o fim da tarde, e com ele, a brisa do mar e cerveja da esquina.

Era uma vez uma cidade que eram duas. Eram duas vezes uma cidade que eram duas mil. São Jorge ou São Sebastião, cajá ou cajarana, Porto do Barra ou Arpoador, roda de samba ou samba de roda, jongo ou ijexá, bicho, mén, são detalhes tão pequenos só engrandecem essa cidade.

Era uma vez um menino. Um menino que pensou que saia dessa cidade. Pensou que deixava sua família, seus amigos, sua amigas. Também pensou que deixava uma menina.

A menina também pensou que havia ficado longe seu amor. Sabendo que não havia a menor condições de ficarem separados, resolveu também mudar de cidade para continuar na cidade.

E assim, ao invés de uma família, hoje têm duas, ao invés de um punhado de grandes amizades têm dois. E o encontro que se celebra hoje não é somente entre duas pessoas. De tanta gente que passou nestas idas e vindas, de um lado para o outro, o que acontece hoje é bem mais. É também o encontro entre duas cidades que nunca se desencontraram.

Por todas essas, e mais tantas outras, hoje é dia de tomar algumas... algumas decisões que a humanidade não pode mais postergar.

A partir de hoje, fica decretada que a distância entre Rio e Salvador não deve passar de 5 suspiros; fica instituída também a união entre o Bairro de Fátima e a Barroquinha; Copacabana e Pituaçú passam a partir desta data a compor o mesmo território, assim como o Garcia e Santa Teresa. O Trapiche Gamboa passa a ocupar a praça Teresa Batista.

E o Vaca Atolada e o Suvaco de Cobra não são mais lugares diferentes. Subindo a ladeira da Barra chegamos na Rocinha, descendo a do Curuzu chegamos em Acari. O metrô de São Cristóvão, cinco estações depois desce na Lapa, e subindo a Joana Angélica chegar-se-á na Lapa, a outra, que depois do Bar da Cachaça deságua no Pelourinho.

A Praça Castro Alves nada mais é do que a outra face da Urca, e do Jazz no Mam à Orquestra do outro Mam não são precisos mais do que três abraços. Haveria melhor lugar para o Circo Voador do que o Rio Vermelho? Não há razão para que o Aterro fique fora do Parque da Cidade.

E por razões africanas e italianas, mas muito mais brasileiras, eu vos declaro, tão cariocas quanto baianos, felizes para sempre.