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27 de Janeiro de 2010, 22:00 , por Alan Freihof Tygel - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.

Blog do Alan, contém pensamentos saídos diretamente da minha cabeça.


Oswaldo Sevá se foi: "ninguém é obrigado a vender a cabeça"

2 de Março de 2015, 5:53, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Oswaldo Sevá - Foto: Verena Glass

Uma grande perda... Mas, taí alguém que podemos dizer cumpriu um papel grandioso nesse mundo.

Sevá dava suas aulas apenas com fotos. Usinas, indústrias, pedreiras, minas, estradas de ferro, garimpo... E a cada foto, a gente entrava naquele mundo particular, compreendendo os estragos que a Engenharia pode fazer no mundo.

Certa vez ele deu uma entrevista para a revista do Soltec - EITCHA!!! - e eu fui o responsável pela diagramação. Obviamente a entrevista toda não cabia, e tive que cortar alguns trechos. Logo após a publicação, cheguei um e-mail trovejante do Sevá, dizendo que havíamos cortado o principal, que era por conta das críticas à Universidade, por que fulano ia achar isso, isso, e aquilo, e nem deu tempo de dizer que eu só tentei extrair o mais bonito. Rapidamente publicamos a entrevista inteira.

Mas o que importa é que esse trabalho, difícil, me fez ler e reler a entrevista várias vezes. Daí pesquei uma frase, singela, mas muito forte, que passei a usar no final de todas as minhas apresentações, quando tento convencer engenheiros de que outros caminhos são possíveis:

"..., mesmo dentro do sistema, devíamos todos ser pelo menos reformistas, humanistas, afinal temos que procurar emprego e salário mas ninguém é obrigado a vender a cabeça e apenas reproduzir a máquina de moer gente e utopias em que isso se transformou."

Numa dessas palestras, no ENEDS de Natal, em 2012, estava super nervoso, pois era uma plateia grande, um auditório imponente. Havia preparado os slides com a citação, mas não havia atentado para o que podia acontecer e aconteceu: ele estava na plateia! Dai, obviamente fiquei mais nervoso ainda.

Ao final, como sempre, ele levantou. Me preparei para raios e trovões, e ouvi uma linda demonstração de humildade: "Quero saber o que os palestrantes não puderam dizer por conta do curto tempo?" Não poderia ter recebido elogio maior.

Professor Oswaldo Sevá, sempre presente!

Veja o site do Sevá, e uma entrevista (que, essa sim, tentaram censurar!) no Combate ao Racismo Ambiental.



Além de tudo, ainda tem o doutorado...

26 de Fevereiro de 2015, 17:36, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Feijoada de Kassler, vestido por cima de cinco casacos e outras notícias sobre o Carnaval de Bonn

19 de Fevereiro de 2015, 11:21, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda
  • Passar o Carnaval aqui na região do norte do Reno não foi exatamente algo novo pra mim. Em 2004, mochilando pelazoropa, fui batendo de porta em porta no amigos - Estevan e Adonhiran, em Paris, meu primo Ivan em Bruxelas, até que cheguei na casa do Castelo e Lena, em Colônia, justinho no Carnaval. Coincidência. Na época, alías, eu também nem ligava muito pro Carnaval no Rio.
  • Posso dizer que não mudou muita coisa desde então. Na verdade, deve fazer algumas centenas de ano que nada muda (hehe, quase brincadeira). O carnaval transita entre algo muito sério, tradicional, e as novidades que vão chegando - inclua-se aí as brasilianidades, muito fortemente.

Um bloco bem tradicional, jogando Kammelen para o povo. Se você perguntar que são Kammelen, vão dizer que são doces ou flores. Mas, como sempre, na prática a teoria é bem outra. Não contem pra ninguém, mas chegeui a receber uma cenoura, um lenço de polyester e um pacote de papel de assoar nariz (Tachentuch, ítem indispensável por aqui).

Agora pensem na alegria do ser-humano quando ouve a batida a alfaia!!! E tava melhor que uns certos Maracatus do Ridijaneiro por aí...

  • Aqui em Bonn, o dia grande da festa foi segunda-feira, a Rosenmontag. Vários blocos marcharam da estação de trem até um local aqui perto de casa. Segunda, então, foi dia de festa na Doro48.
  • Combinamos assim: para o café da manhã, Salsicha Branca (Weisswürstchen, no diminutivo, pra parecer fofinho) com pretzels, sim, aquele mesmo que vende no shopping, só que não. E pro almoço de fim do dia, feijoada!
  • O feijão (marron) não foi dificil de achar. Fiquei encucado foi com a carne seca: talvez por conta do frio, acho que em nenhum momento histórico se precisou salgar a carne para conservá-la. Na verdade, a técnica que se usa é a defumação. Daí então, achei que o mais digno para a feijoada seria um Kassler, carne de porco defumada. Feijão cozido do dia anterior, com louro (lorbeerblätter), coentro, cebola e alho refogado, bacon, ... Como era pra comer no meio do carnaval, achei por bem não economizar no sal.
  • Tomamos "café", retocamos as fantasias e fomos pra rua. Umas 4 horas depois bateu a fome a voltamos pra feijoada, que foi sucesso total. Pra uns 15 bêbadas e bêbados de carnaval, funcionou bem, e logo voltamos pra aproveitar o resto da festa.

A cozinha da casa durante o café da manhã!

Veio até gente de Hong Kong especialmente pro carnaval da Doro48!

No dia seguinte, cheguei em casa de noite crente crente, mas não tinha sobrado nada...

  • Mas o auge mesmo do nosso carnaval foi uma festa de reggae. Hãn? É isso mesmo! E na verdade mesmo, não foi uma festa, mas um protesto! Como assim??? Assim: todo ano, no final do desfile, alguns coletivos anarquistas e de luta pelo direito à cidade (sim!) organizam uma festa reggae na praça. Aberta, com música, alto astral, ocupando os espaços públicos, coisa que tem andado em falta por aqui. Mas como a onda aqui tem sido bem criminalizadora destes movimentos - que acabam por agregar também estrangeiros/refugiados - esse ano a festa não foi permitida pela prefeitura. E agora... ?
  • Na Alemanha, festa se pode proibir. Mas protesto não! :) A festa virou então uma manifestação, oficialmente autorizada, e rolou reggae a noite toda. Entre uma música e outra, alguns falatórios, se entendi bem, porque sendo um protesto, tinha que seguir algumas regras, como falar x% do tempo. Mas o importante é que nos divertimos um bocado, comemos bem, cerveja boa. A fantasia de (nem tão) piriguete (quase) não sente frio obviamente só durou até um certo momento, porque depois já tava se chamando piriguete congelada.

 (Nem tão) piriguete (quase) não sente frio

  • Se foi bom o Carnaval daqui? Bonn o suficiente para não cortar os pulsos vendo o caranaval do Rio, Salvador e Recife pelo facebook!

Termino com uma espécie de meta-síntese do carnaval daqui. As fantasias do vizinho, antes e depois da folia. Danke schön, Georg!



Em Bonn, (nem tão) piriguete (assim, quase) não sente frio!

16 de Fevereiro de 2015, 18:00, por Alan Freihof Tygel - 1Um comentário



Manda descer, que hoje tem chucrute com dendê!

31 de Janeiro de 2015, 16:13, por Alan Freihof Tygel - 0sem comentários ainda

Chucrute não teve não, mas hoje a Doro48 - versão alemão da TK22 - cheirou a dendê! Teve muito coentro, farinha, pimenta e peixe - dorrrrrado, chama-se. Depois duas semanas em Bonn, pude fazer uma moqueca pras meus Mitbewohner, amigos de casa, aqui na Dorotheenstraße 48. Foi preparada ao som de Roque Ferreira e Gil, e comida com tempero de Mariene.

Christian, Simon, Arne, Doro (sim, o mesmo nome da rua!), Stephi e Georg

Na república - WG (Wohnsgemeinschaft, ao pé da letra Comunidade de Moradia, sim, eles adoram juntar palavras, mas essa ficou tão grande que precisou de sigla - WG - vêguê) moram 7 pessoas, numa casa antiga, de 3 andares. No primeiro, um quarto, sala da foto acima, a cozinha (o melhor lugar da casa, pelo menos no inverno), e um jardim, que deve ser o melhor lugar da casa no verão.

A cozinha é grande o suficiente pra cozinhar o que quiser, e pequena o suficiente pra ficar aconchegantemente cheia com 7 pessoas dentro

O jardim! Até agora nevou só um dia aqui...

O armário de guardar comida. Adivinha qual meu lugar?

Pois então, aqui é tudo divididinho, cada um tem seu lugar no armário e na geladeira (são duas). Algumas coisas são comuns como cebola, alho, azeita, vinagre, e tal. A princípio estranho um pouco isso, pois nunca fiz assim em casa. Mas é razoável, porque é muita gente, cada um com hábitos diferentes. E também não é tão estrito assim, dá pra dar uma roubadinha do amiguinho, e também, se calhar de trombar com alguém na cozinha, sempre rola umas trocas. E sempre rola de trombar, sempre tem alguém na cozinha, e sempre comemos meio juntos, meio separados.

No segundo andar tem 3 quartos e um banheiro. Moro no sótão, onde tem mais um quarto além do meu, e um banheiro. Meu quarto na verdade são dois - visitas bem vindas! - mas só um tem aquecedor. Então talvez melhor esperar esquentar um pouco, mas também dá pra dormir na sala. Tenho um espelho ondulado, uma cama-sofá, uma estante, uma cadeira, uma mesa e uma cadeira de balanço (!). O melhor de tudo é que não precisei comprar nada, aqui na casa tem um porão cheio de coisas legais.

Meu antequarto. Bonitinho, mas sem aquecimento, então não dá pra trabalhar nele agora. Felipe, duvido você não ficar com inveja dos pacotes que tão no alto estante!

Levanta a mão aí quem tem uma pia no quarto! :) Aqui é assim, dividimos o banheiro (privada e chuveiro - klo), mas cada quarto tem sua pia. Se alguém reparou no detalhe rasta da toalha da mesa, ela me foi emprestada pelo Georg, que trouxe da Etiópia, da comunidade Awra Amba - para saber mais, google. Na cabeceira, Vito Gianotti! Alías, tava falando desse livro com o povo aqui, e perguntaram: nossa, como você sabe tanto sobre a história da Europa? Pois é, para pensar em casa...

 

Enfim, tudo isso pra dizer: estou muito bem instalado, aluguei uma casa e ganhei um bocado de amigos muito legais, atenciosos e cuidadosos, que estão me fazendo sentir em casa, com todo o peso que essa palavra tem. Com eles eu também estou aprendendo alemão, já que na universidade é tudo em inglês. O alemão é uma língua incrível, tem uns significados muito profundos, um dia vou escrever melhor sobre isso.

Duas palavras que estou amando: Schleim (xláim) - catarro, sim fiquei resfriado, era de se esperar, até que demorou muito, e ungebügelt, algo que não foi passado a ferro, ou seja amassado, ou seja todas as minhas roupas. O caso dessa palavra hoje foi que, para a moqueca (aliás, coisa mais engraçada do mundo é eles tentando falar moqueca e cachaça - catchaca, sim, também teve cachaça), eles montaram uma mesa grande na sala. Aí rolou um debate porque a toalha de mesa estava ungebügelt, mas na verdade ninguém passa nada aqui.

Na universidade também estou bem instalado. Se em casa são todos alemães, trabalhadores, alguns inclusive desempregados, o que não é raro aqui por ora, na universidade são todos estrangeiros. Tenho uma sala, dividida com um taiwanês, duas paquistanesas, uma iraniana, e um líbio. Na sala ao lado, mais colegas: Etiópia, Algéria, e Kosovo - alguém aí já sonhou em conhecer um Kosovar? Incrível. Com eles não rola muito diálogo, ainda. A língua é uma barreira grande, pois todos falam um inglês mais ou menos. Acho que o único que fala alemão sou eu. E as diferenças culturais são tão grandes que é difícil até começar. Mas uma hora rola.

Minha salinha na universidade

Sabemos todo os problemas do imperialismo, mas... estar no "centro do mundo" é fantástico! Pra nós no Brasil (pra mim, pelo menos) a África, é um lugar tão distante, mesmo que falemos, estudemos, nunca me imagino lá, é sempre algo do imaginário. Aqui não, a África está logo alí. E os africanos também. Não os africanos que eu fico imaginando quando vou num quilombo, mas os africanos que vieram, fugidos ou não, enfim, que existem e eu posso tocar. O mesmo com a Ásia.

E tanto um quanto outro se materializam nas lojas de comida. Tem duas aqui perto realmente especiais. Numa delas, asiática-africana, comprei coentro fresco, lula (congelada), leite de coco, e ví que tem mandioca congelada, e tapioca (em bolinhas). Troquei uma ideia com o dono, vietnamita, que me deixou profundamente ofendido quando, após eu anunciar minha nacionalidade, disse que eu não tinha cara de brasileiro. Não reconheceu minha bainidade nagô. Mas tudo foi compensado pelo sorriso que ele deu quando contei que no Brasil usamos muito coentro e leite de coco. A Ásia é logo alí, nós é que não sabemos.

No mercado turco eu encontro frutas e legumes, e .... feijão!!!! Esse vai ser o prato do próximo Brasilianisches Mittagessen, o almoção verde-amarelo.

UPDATE: Cartas para Dorotheenstr. 48, Bonn - 53111 - Alemanha ;)

Mais um pouco de conversa com as paredes:

Propaganda nazista, com adesivo dos Antifas (anti-fascistas) por cima.

Precisando de móveis? Veja o dia de botá-los pra fora (sim, tem uma dia específico, assim como cada tipo de lixo) no seu bairro e vá à caça! Não é so bagaceira não, tem até privada!

Na placa, se lê: desobediência civil, e na árvore, um pano de oncinha

 Brincadeira com a propaganda da cidade. As duas da esquerda são propaganda oficial, com as palavras alegria e cidade em alemão, inglês e francês, e tudo isso resultando em Bonn. A ideia é retratar a cidade como global, cool, interessante (alguma semelhança com outra cidade que tentam vender como global?). Na esquerda: Burguês. Mente estreita. Pequeno burguês. Bonn.