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Blog do Arroyo

12 de Janeiro de 2009, 22:00 , por Desconhecido - | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Diálogo sobre Economia Solidária e Reforma Política

11 de Maio de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


ECONOMIA SOLIDÁRIA – TAMBÉM UM NOVO JEITO DE FAZERPOLÍTICA
 O debate sobre a forma de se fazer política é coisa que não vem dehoje e também não é só daqui.  É a grandediscussão que o Fórum Social Mundial trouxe de forma mais explícita.  Aí, o FórumBrasileiro de Economia Solidária (FBES), como filho legítimo do fórum SocialMundial (FSM), herdou o gérmen da radicalização da democracia (Aliás, nossa 1ªrevista, de 2002, tem como título: Radicalização da Democracia). Note-se queradical significa ir às raízes, às bases e fundamentos; coisa bem diferente deextremismo ou sectarismo (que tem a ver com seita).
 A denominada Economia Solidaria e Autogestão ao propor gestãocoletiva das realidades objetivas (negócio, por exemplo) traz junto a idéia dagestão coletiva das coisas subjetivas  que envolvemo relacionamento e a organização das pessoas. Isto inclui a forma de se fazerpolítica. Aliás, esta também é uma herança do FSM porque o corolário de UmOutro Mundo Possível significaria: Uma Outra Política é Possível.
 Hoje, vivemos uma crise nas formas denominadas “democráticas” de sefazer política. Os instrumentos tradicionais (partidos e sindicatos) não estãodando conta da gestão pública que a sociedade e sua relação com a naturezademandam. 
Existe a visão de que política só se faz através da denominada DemocraciaRepresentativa Tradicional, cujo processo eleitoral elege representantes quedependem muito de recursos financeiros de campanha (diretos ou indiretos),possuem fóruns especiais de negociação, muitas vezes sem prestar contas de seusmandatos ou gestão e vivem em regime de irrevogabilidade de seus mandatos.Nisto os Partidos Políticos se parecem cada vez mais com empresas de propagandae marketing.  Os que no começo não são assim, ficam depois.  Os queparecem diferentes são apenas lados de uma mesma moeda, como o Republicano e oDemocrático nos EUA, por exemplo.
 No processo deempresariamento partidário e financeirização de campanhas e, em suma, deadaptação ao mercado, vale a lei da concorrência onde existem apenas doislados: o seu e o do concorrente. Porém para se chegar a isso é só começar aperder a capacidade de ver que além do inimigo existem os que são simplesmenteadversários e, principalmente, os parceiros. Não é só para Busch que “quem nãofecha comigo (com meu partido) é meu inimigo”.
 Estamos falando, além dos problemas e limites, das virtudes e potencialidades:estamos falando da importância estratégias e alianças que possam combinar aspolíticas partidárias com organizações e movimentos sociais. Isto é muitodiferente de achar que política só se faz nas instâncias partidárias e que daíse leva a orientação para os movimentos sociais. 
Não estamos negando a importância da política partidária e sindical; sódizendo que não são os únicos instrumentos e tampouco a única maneira de sefazer política. Esta discussão também deve ser ampliada para outras organizaçõespartidárias menores - muitas vezes, chamadas “organizações políticas” - quepossuem a mesma forma organizacional com semelhante funcionamento vertical .Contudo, deve-se considerar que estas últimas têm, às vezes, a virtude deinvestir em escola de formação política e ideológica para seusquadros.   
Contudo, educar pela forma de se fazer política (pelo método e pelaspráticas políticas) é onde está o nó da questão. Por quê? Porque nós falamosque educamos de três formas: 1) na economia solidária e autogestão; 2) para aeconomia solidária e autogestão; 3) pela (ou através da) economia solidária eautogestão.  Isto significa que economia solidária e autogestão é uma escola dademocracia. Ou melhor: escola de radicalização da democracia porque pode envolvernossa vida enquanto trabalhador e enquanto cidadão, que se relaciona e consome.Nós estamos aprendendo a tratar da (auto)gestão da nossa economia, da finançasolidária (incluído o crédito), da administração, organização e do nossoconsumo dentro de uma perspectiva de sus tentabilidade social eambiental. 
 Quando falamos, de forma resumida, que estão em disputa doismodelos - um que centraliza nas organizações tradicionais, outro que enfoca naautogestão e decisões coletivas - não quer dizer que defendemos uma coisa ououtra. Quer dizer que não queremos alienar, por exemplo, nossa capacidade edireito de definir as coisas estratégicas e nossa política. Se abrirmos mão,hoje, do poder de decisão das questões essenciais estaremos optando pela subalternidadede amanhã. É uma pobreza porque se deixarmos de ser sujeitos, deixaremos deser, simplesmente.
 As relações das políticas governamentais com os movimentos eorganizações sociais requerem amadurecimento. Amadurecimento para a adequadaparceria com os movimentos e organizações sociais, contemplando, por exemplo,seus princípios, métodos de atuação e características organizacionais. Sobreisto, quanto da riqueza dos movimentos e organizações sociais são perdida pelosimples fato de aqueles que deveriam promovê-los, simplesmente, vampirizam suasessências! 
Sobre institucionalização e o movimento, ou sobre a estrutura e a base,vale a pena avaliar a política dos governos da social-democracia e também deorigem comunista na Europa (Espanha, Itália e França): foram eleitos pelostrabalhadores e deixaram em enorme crise o movimento sindical. Como ostrabalhadores e suas organizações deveriam se relacionar com o governo queajudou a eleger? Os sindicatos e principalmente as centrais sindicais ficaramestagnadas, quando não retrocederam. Resultado: muitos foram para a retraçãopolítica enquanto os poucos que começaram a buscar continuidade de lutasencontraram muita dificuldade, como por exemplo, os metalúrgicos na Itália, apartir de 2002.
 Na América Latina (especialmente, Brasil, Venezuela, Equador,Uruguai, Bolívia, Argentina, Paraguai e Nicarágua) depois de governosditatoriais e autoritários, surgem perspectivas de conquistas e de avanço dademocracia. Contudo, é de se perguntar das políticas públicas com relação aosmovimentos sociais, partidos, sindicais e sobre atividades com relação à etnia,gênero e meio ambiente. È de se avaliar o investimento que se faz no presentepara garantir saldos políticos, sociais e culturais após gestão dos governos progressistasou democrático-populares. O que está sendo feito para educar, conscientizar, epromover a organização da sociedade? Por acaso não se mede o resultado pelo quese propiciou para garantir e ampliar o exercício da democracia (econômica,cultural e política) e para atender aos in teresses da maioria?
 O que ficará, de fato, depois destes governos progressistas? Qualserá o saldo deste processo? O que sobrará para a sociedade dos homens emulheres que habitam esta região? Talvez devêssemos perguntar o quanto e em quêcada governo está promovendo os movimentos e as organizações sociais maisautônomas e com perspectivas de desenvolvimento e de sustentabilidade.
 Daí a necessidade de politizar nossos embates e de promoverpolitização de nosso cotidiano de homens e mulheres que vivem juntos projetoautogestionário, envolvendo as pessoas na vida pública e também na partilha avida privada. Por conta disso dizemos que economia solidária e autogestão não éapenas um projeto econômico. É um projeto sociedade e de vida.
Abraço
Luigi Verardo - ANTEAG


OiLuigi e compas da ecosol

Taí um tema que merece todo nosso esforço de elaboração emobilização.

Seu texto, Luigi, coloca com brilhantismo e objetividadeuma dimensaão que o nosso Movimento por uma Economia Solidária precisa avançar,a política. Extamente pq a Economia Solidária é, na verdade, um projeto desociedade que jamais vingará sua dimensão econômica se não alterar a culturapolítica da Sociedade.

É fundamental compreender que o maior obstáculo à adoçãoda cultura da solidariedade na economia, está em seu exercício no poder, já quea política é a síntese dos valores mais caros em uma Sociedade. Isto vale paraas grandes estrutras econômicas e políticas assim como vale para as relações emum empreendimento, que se não tiver democracia interna, jamais será plenamentede Economia Solidária. Ou ainda, enquanto tivermos empreendimentos onde osdirigentes não decidem coletivamente o que fazer, não prestam conta de suasatitudes e do movimento financeiro que administra, também não teremos EconomiaSolidária. Sei que enfrentar esta pauta causa incômodo porque nem sempre vemosno espelho o que gostaríamos mas " triste do revolucionário que nãorevoluciona a si mesmo" ...

Neste momento de Reforma Política, entendo que estaresponsabilidade se exponencializa. Talvez nosso fórum pudesse compor umacomissão nacionmal para pensar formas concretas de participar deste processoque é, em si, uma oportunidade de avanço de transformações no sentido doaprofundamento democrático republicano, ou de seu retrocesso.

Na prática, precisamos debater proposições que ampliem astécnicas políticas no sentido de viabilizar a participação direta e o ControleSocial. Por exemplo:

1. O direito de desvotar: já há tecnologia para registrarvotos identificados por códigos/senha que permite a qualquer momento o eleitorir no site do TRE e retirar o voto, e quando o eleito perdesse o número devotos para se eleger, perderia o mandato.
2. O direito a fiscalizar diretamente qualquer funçãopública nos três poderes, mediante inscrição específica.
3. A criação da Câmara Nacional de Controle Social, emcomposição entre DCGU e MP para servir de apoio técnico às demandas sociais detransparência pública
4. A exigência de prévia autorização de quebra de sigilotelefônico, bancário e fiscal para o exercício de todos e qualquer cargo deconfiança.
5. Exigência de participação direta em todo processo deelaboração e execução do Orçamento Público, desde o PPA(plano Pluri Anual) atéa LOA(Lei Orçamentária Anual)
6. Exigência de lista de apoio exclusivo para a inscriçãode candidaturas, inclusive avulsas(sem filiação partidária)
7. Introdução da Educação Política, com ênfase naParticipação e Controle Social, na Escola.
8. Lei da Responsabilidade Democrática: definirprocedimentos democráticos mínimos de transparência, participação e ControleSocial sobre organizações públicas e privadas, cuja inadimplência teria asmesmas consequências da inadimplência financeira.

Precisamos resonhar a democracia, uma democracia solidáriapara uma economia solidária.

Abraço

Arroyo – ISSAR



Prato cheio para o clientelismo político

27 de Abril de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


“A adoção do Voto Distrital no Brasil seria um prato cheio para o clientelismo”

Dr. Márlon Jacinto Reis, Juiz no Estado do Maranhão e Presidente da Abramppe, fala com os internautas sobre o distritão.

A proposta do voto distrital que estão discutindo, o tal "distritão", tem o objetivo de prejudicar partidos emergentes, só interessa ao PMDB. Com essa proposta os partidos serão reduzidos a quase nada, pois os candidatos não precisarão deles para se eleger, sem falar que a briga dentro da própria legenda será ainda pior do que já é hoje.
O voto distrital não facilita o controle, mas facilita o clientelismo. Os patronos assumirão o controle vitalício e hereditário dos distritos. O distrito é o ambiente perfeito para a compra de votos. Será o fim dos partidos, que serão oficializados como simples exigência burocrática para a candidatura .
Até o sistema atual é melhor do que isso. Os deputados serão de uma vez por todas sim, simples despachantes, interessados apenas em carrear recursos para o Distrito, secundarizando os debates estratégicos nacionais.
As listas partidárias têm que ser bem compostas, se o partido quiser ser bem votado. Um deputado que participou de um escândalo não entra, porque compromete a votação de toda a lista. Figuras inexpressivas também não terão destaque nas listas. Por outro lado, a lei deve exigir que a lista seja formada por votação dos filiados e não por escolha do diretório.
A lista pré-ordenada é transparente. Sabe-se exatamente o impacto do voto. Ela é, ao contrário, um antídoto já testado em outras nações contra o caciquismo e o clientelismo, já que a base para coesão nos partidos fisiologistas é a possibilidade de alcance do mandato. Se o cacique dita qual é a ordem, o que manterá unidos os que não forem contemplados? Só partidos sustentados por programas permanecem coesos após a escolha da lista.
Na Espanha, após quase meio século de ditadura de Franco, optou-se pela lista fechada e bloqueada como meio de impedir o controle da política por patronos locais. O resultado foi a saída da Espanha da condição de quintal da Europa para a posição de destaque que tem hoje , com o maior percentual do mundo de adultos com formação superior. Lá as eleições são debates ideológicos, propiciados pela ação de partidos delineados programaticamente. E o sistema foi implantado num pais pobre e analfabeto.
A lista pré-ordenada, que chamo de lista transparente, é o meio propício para o desenvolvimento de partidos identificados com programas.
A formação da lista deve obedecer a uma lógica de coesão partidária, pois se ela não tiver uma lógica interna, se justificando perante os demais membros do partido e especialmente entre os demais pretendentes, o partido se dissolve. Não dá para empurrar pessoas na lista.
O partido naturalmente iria zelar pela lista: não colocaria candidatos envolvidos em escândalos. Se colocado tal candidato ( corrupto, fraudulento, desonesto, desleal, indigno), este afastaria os eleitores, mais do que agregaria.
Portanto, a lógica na lista partidária, não é a atual (lógica) de deputados isolados, mas a de grupos. Passa-se da fase primitiva da política de indivíduos para a de sujeitos coletivos.
Com votações individuais, em que membros de um partido tem que disputar o voto com correligionários, não é possível formar partidos programáticos . Já no voto distrital, os partidos acabam de vez, pois só importa a pessoa, a figura pessoal dos candidatos. Se hoje um grupo de ambientalistas quiser formar um partido, será destruído pela lógica. Só a disputa interna, exigida pelo sistema que leva uns a disputarem votos com os outros . Se houvesse lista fechada, todos atuariam como um bloco. Já os partidos em que prevaleça o fisiologismo não consegue alcançar a coesão necessária para manter todos unidos em torno de uma lista formada por um cacique. Por que os outros ajudariam, se foram vítimas de uma prática democrática dentro do partido?
Pensemos num "político" famoso de São Paulo, que quase presidiu o Brasil. Ele tem muitos votos para se eleger deputado mas a rejeição a ele é tão forte que ele seria considerado um praga por qualquer lista partidária. Sua votação individual é muito forte. Ele seria eleito por muitos distritos em São Paulo. Poderia escolher o distrito onde ficaria para sempre eleito sem fazer campanha. Mas numa lista partidária, sua presença seria muito danosa para o coletivo, que teria apenas a votação que hoje já pertence a esse polêmico parlamentar, o que levaria seu partido a um fracasso nas urnas. Temos portanto de fugir da idéia de vinculação de parlamentares com o distrito. O papel de proximidade com o povo é dos vereadores, prefeitos e o governo do Estado. A Câmara dos Deputados deve pensar leis para o Brasil. Sua função é genérica, abstrata, não paroquial. O Parlamento precisa ser uma representação das ideologias que vicejam no Brasil, não uma disputa para para ver quem individualmente tem mais voto .As mulheres são 9% do parlamento e 51% da população. E os índios, não são brasileiros. Não há um só deles no Congresso Nacional.
Há necessidade urgente de uma reforma partidária. Ela é o ponto de partida para tudo. Para quem defende voto distrital, esqueça a reforma partidária. Os partidos acabarão no Brasil, que será um pais de caciques num País dividido em feudos. Pergunta-se: Se tivermos voto distrital, como será a divisão das circunscrições eleitorais? E é aí que está: É o Parlamento quem fará a divisão. Como acham que ela será feita? Os mais fortes derrotarão os mais fracos, fixando distritos em suas bases eleitorais. Quase vejo como ficará o Maranhão: Um Estado dividido em distritos. Cada um será dominado por um patrono que irá a Brasília apenas para buscar recursos para a sua clientela.O Brasil já teve o voto distrital. Foi assim no Império e na República Velha. Foi preciso uma revolução (a de 1.930) para que o sistema fosse mudado. Ele acabava com as minorias. Os eleitos nos distritos eram, sempre, por razões óbvias, os que eram ligados ao Governo.
Imaginem as eleições de 2.010 quando o Presidente tinha elevados índices de aprovação. Em quantos distritos venceriam pessoas que o criticassem? Os candidatos apoiados pelo partido se aproveitariam da popularidade do Presidente, e ainda seriam vistos como os que mais poderiam trazer de Brasília, para os seus distritos.A oposição teria sido esmagada.
Por fim, a lista fechada não é o modelo ideal, mas é o único que permite o desenvolvimento de partidos ideológicos, coisa de que o Brasil já precisa, mas não propicia o ambiente adequado para que surjam e cresçam. Não podemos estancar o amadurecimento da idéia.O sistema de votação em listas é bastante utilizado no mundo e pode ser uma alternativa Não existe somente o sistema de lista fechada como em alguns locais da Espanha ou mesmo em Portugal, em que fica a cargo do partido a escolha dos lugares . Por exemplo a Suécia, Holanda, Dinamarca e Finlândia, que estão entre os dez países menos corruptos do Mundo, onde o penúltimo inclusive ocupa o primeiro lugar, utilizam o sistema de lista semi-aberta, onde não cabe ao Partido determinar exclusivamente qual o candidato que irá ocupar o lugar, por conta do número de votos nos candidatos individuais.
É necessário também aprofundar a discussão sobre o voto distrital o qual, poderá ser combinado com o sistema de lista semi aberta. Na Espanha, que deu um salto social e político formidável nos últimos 20 anos, agora se começa a pensar em flexibilizar a lista. Mas hoje o grau de amadurecimento da democracia é outro. O ideal é que se possa alterar a ordem da lista, mas isso é mais recomendável para democracias robustas e consolidadas. Na Itália, sob a vigilância do voto preferencial, pesquisas demonstram que as regiões de melhores indicadores sociais votavam em siglas partidárias, enquanto as mais empobrecidas votavam em pessoas, por causa do clientelismo. Há excelente pesquisa sobre o assunto em livro de Robert Putnam HTTP://www.oab.org.br/noticia.asp?id=21635



A gente não quer só comida... a gente quer Participação Política e Controle Social

18 de Abril de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


Desemprego tem a menor taxa para o mês demarço desde 2002, diz IBGE


As manchetes festejam o desempenho econômico, mas queremos ir além


População desocupadasomou 1,5 milhão de pessoas.

Rendimento médio real dos ocupados foi de R$ 1.557.

Do G1, em São Paulo e no Rio
A taxa de desemprego nas seis regiõesmetropolitanas pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE)ficou estável em março, ao passar de 6,4% em fevereiro para 6,5%, conformeaponta levantamento divulgado nesta terça-feira (19). No entanto, segundo oestudo, a taxa é a menor para o mês de março desde o início da série histórica,em março de 2002. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda foi de1,1 ponto percentual.
saiba mais
A população desocupada somou 1,5 milhão depessoas e não apresentou variação em relação ao mês anterior, conforme informouo IBGE. Já em relação ao mesmo período do ano passado, houve queda de 14%(menos 250 mil pessoas).
A população ocupada chegou a 22,3 milhõese apresentou estabilidade sobre fevereiro. Na comparação anual, foi registradaalta de 2,4% (mais 531 mil ocupados). O número de trabalhadores com carteiraassinada no setor privado foi de 10,7 milhões, ficando estável. Em relação ao mesmoperíodo de 2010, foi verificado crescimento de 7,4% (mais 739 mil postos detrabalho com carteira assinada).
“A taxa de desocupação do primeirotrimestre deste ano (6,3%) é menor do que a taxa registrada em todo o ano de2010 (6,7%). Com isso, a gente pode ver para onde o ano está caminhando”, disseCimar Azeredo, gerente da Coordenação de Trabalho e Rendimentos do IBGE.


Salários
O rendimento médio real dos ocupadosfoi de R$ 1.557, apresentando alta de 0,5% sobre fevereiro e de 3,8% nacomparação com março.
Por região
Na comparação mensal, o desempregoteve variação significativa, segundo o IBGE, somente em Belo Horizonte, que viua taxa passar de 6,3% para 5,3%. Na comparação anual, foram registradas quedasem Belo Horizonte (1,0 ponto percentual), Rio de Janeiro (1,5 pontopercentual), São Paulo (1,3 ponto percentual) e Porto Alegre (0,9 pontopercentual).
Nível de ocupação
O nível da ocupação (proporção depessoas ocupadas em relação às pessoas em idade ativa), estimado em 53,3% nototal das seis regiões, não variou em relação a fevereiro, mas subiu 0,6 pontopercentual sobre o mesmo período do ano passado. Na comparação mensal, todas asregiões tiveram estabilidade nesse indicador. Sobre março de 2010, foiverificada alta em Porto Alegre (1,9 ponto percentual) e em São Paulo (1,0ponto percentual). As outras regiões não tiveram variação significativa,segundo o IBGE.
“A taxa de desocupação no mês de março eno primeiro trimestre deste ano foi a menor já registrada desde o início dapesquisa, em 2003. É um outro recorde registrado neste mês”, disse.



EM DEFESA DOS RIOS, DA VIDA E DOS POVOS DA AMAZÔNIA

12 de Abril de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda


CARTA DE BELÉM

EM DEFESA DOS RIOS, DA VIDA E DOS POVOS DA AMAZÔNIA
 Os participantes do seminário “Energia e desenvolvimento: a luta contra as hidrelétricas na Amazônia”, após ouvirem professores e pesquisadores de importantes universidades afirmarem que Belo Monte não tem viabilidade econômica, pois vai produzir somente 39% de energia firme, 4,5 mil MW dos 11 mil prometidos. Afirmarem ainda que a repotenciação de máquinas e equipamentos e a recuperação do sistema de transmissão existente poderiam acrescentar quase duas vezes o que esta usina produziria de energia média, investindo um terço do que se gastaria na construção de Belo Monte.


Após ouvirem o procurador do Ministério Público Federal (MPF) falar sobre a arquitetura de uma farsa jurídica: falta de documentação, oitivas indígenas que nunca existiram, licenças inventadas e ilegais, estudos de impacto incompletos e que não atendem as exigências sociais, ambientais e da própria legislação.
Após ouvirem o povo akrãtikatêjê (Gavião da montanha), relatando a luta que até hoje travam contra a Eletronorte, que os expulsou de suas terras quando a hidrelétrica de Tucuruí começou a ser construída, tendo sua cultura seriamente ameaçada, enfrentando doenças e problemas sociais que antes não conheciam. Mostrando que sua luta já dura mais de 30 anos, e que até hoje não conseguiram sequer direito a uma nova terra.
Após ouvirem os movimentos e organizações sociais denunciarem que os povos do Xingu, agricultores, ribeirinhos, pescadores, indígenas, extrativistas, entre outros grupos, estão sendo criminalizados e simplesmente ignorados. Situação reconhecida pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, que solicitou ao governo brasileiro que pare a construção de Belo Monte enquanto os povos indígenas não forem ouvidos.
Após verem os exemplos históricos dos grandes projetos na Amazônia, inclusive exemplos mais recentes como o das hidrelétricas no rio Madeira, onde foi verificado desde o não cumprimento dos direitos trabalhistas, até mesmo trabalho escravo, levando os trabalhadores a se rebelarem contra a opressão que vinham há muito tempo sofrendo.
Afirmam que a UHE Belo Monte não tem nenhuma sustentabilidade social, econômica, ambiental, cultural e/ou política, por isso representa uma insanidade.
Afirmam que o governo brasileiro trata hoje Belo Monte de forma obsessiva, irracional, movido unicamente pela necessidade de atender a interesses políticos e econômicos, em especial os das grandes empreiteiras.
Afirmam que é possível impedir a construção da UHE Belo Monte, defendendo os rios, a floresta, as populações rurais e urbanas, a vida na Amazônia, no Brasil e no mundo.
Diante disso, os participantes deste seminário assumem os seguintes compromissos:
- Fortalecer uma grande frente contra o barramento dos rios da Amazônia;
- Fortalecer o movimento contra Belo Monte, inclusive criando novos comitês;
- Cobrar um grande debate no senado federal, com a presença dos senadores e povos do Xingu.
 VIVA O RIO XINGU, VIVO PARA SEMPRE!
VIVA OS RIOS DA AMAZÔNIA, VIVOS PARA SEMPRE!
 BELO MONTE NÃO!   TERRA SIM!
Belém, 12 de abril de 2011



Fiori revela o que está acontecendo na África e no Oriente Médio

10 de Abril de 2011, 21:00, por Desconhecido - 0sem comentários ainda



Guerra na África é nova corrida imperialista, diz Fiori

Recomendado pelo Prof. Antônio Maués, Dr em Direito Constitucional, por ELEONORA DE LUCENA, DE SÃO PAULO, 04/04/2011 - 07h01
A guerra na Líbia faz parte de uma nova corrida imperialistaque vai se aprofundar, diz José Luís Fiori, coordenador do programa depós-graduação em economia política internacional da UFRJ. Para ele, potênciasdisputam recursos estratégicos na África, mas os conflitos não têm a ver apenascom o petróleo. Nesta entrevista, Fiori fala também sobre o poder dos EUA, queele enxerga vivendo uma crise se crescimento. A seguir a íntegra da entrevista.

Folha -Como o sr. analisa a guerra na Líbia?
*José Luís Fiori-" É evidente que não se trata de umadiscussão sobre o direito a vida dos líbios, ou sobre os chamados direitoshumanos, e menos ainda, sobre democracia. Nesta,como em todas as demais intervenções deste tipo, de europeus e dos EUA, feitasneste último século, jamais se esclarece a questão central de quem tem o direitode julgar e arbitrar a existência ou não de desrespeito aos direitos humanos emalgum país em particular, e quem determina o lugar em que a "comunidadeinternacional" deve ou não intervir para defender vidas e direitos.Com relação a quem arbitra, são sempre os mesmos países que Samuel Huntingtonchamou de "diretório militar" do mundo, ou seja, EUA, Inglaterra eFrança. E, com relação aos critérios da arbitragem, é óbvio que este diretóriojamais intervém contra um país, ou contra um governante aliado, por maisautoritário e anti-democrático que ele seja, e por mais que ele desrespeite osdireitos defendidos pelos europeus e pelos norte-americanos. Independentementedo que se pense sobre o fundamento e a universalidade dos direitos humanos, nãohá a menor dúvida que, do ponto de vista das relações entre os Estados dentrodo sistema mundial, eles sempre são esgrimidos e utilizados como instrumento de legitimação das decisõesgeopolíticas e geo-economicas das grandes potencias. Por isto, as decisõessobre este assunto nos foros internacionais são sempre políticas einstrumentais e variam segundo a vontade e segundo os interesses estratégicosdestas grandes potências.

A guerra é sobre o petróleo?
O que está em jogo na Líbia não é apenas Petróleo. Nem tudo no mundo da geopolítica e da lutade poder entre as grandes e médias potências tem a ver com energia, ou mesmo,com economia. Neste caso, está em jogo o controle de uma região fronteiriça daEuropa, parte importante do Império Romano, e território privilegiado doalterego civilizatório da "cristandade". Foi por onde começou ocolonialismo europeu, no século 15 e depois, de novo, no século 19. Acho que jáestamos assistindo uma nova corrida imperialista na África, e que não éimpossível que se volte a cogitar de alguma forma renovada de colonialismo.

Como seria essa corrida imperialista? O que deve acontecerpor lá? As revoltas árabes em curso terão algum impacto no poder dos EstadosUnidos na região e no mundo?
Durante a década de90, generalizou-se a convicção de que a África seria um continente inviável emarginal dentro do processo vitorioso da globalização econômica. Tratava-se deum continente que não interessaria às grandes potências nem às suas corporaçõese bancos privados. Mas a África não é tão simples nem homogênea, com seus 53Estados, cinco grandes regiões e seus quase 800 milhões de habitantes. Ummosaico gigantesco e fragmentado de Estados, onde não existe um verdadeirosistema estatal competitivo, nem tampouco se pode falar de uma economia regionalintegrada De fato, o atual sistema estatal africano foi criado pelas potênciascoloniais europeias e só se manteve integrado, até 1991, graças à guerra fria eà sua disputa bipolar. Depois da guerra fria e do fracasso da intervenção dosEstados Unidos na Somália, em 1993, os EUA redefiniram sua estratégia para ocontinente negro: propondo, como objetivo central, o crescimento econômico,através dos mercados, da globalização e da democracia. Mas de fato, a preocupação dos Estados Unidos com a África se restringiuaté o fim do século 20, quase exclusivamente, à disputa das regiõespetrolíferas e ao controle e repressão das forças islâmicas e dos gruposterroristas do Chifre da África. Masdeverá ocorrer uma mudança radical, nas próximas duas décadas, do comportamentonorte-americano e dos europeus, graças à invasão econômica da China da Rússia,da Índia e, inclusive, do Brasil. A África será de novo um ponto central danova corrida imperialista que já está em curso e que deverá se aprofundar aindamais na próxima década Neste período, não é improvável, inclusive, que asvelhas e novas potências do sistema mundial, envolvidas na disputa pelosrecursos estratégicos da África, voltem a pensar na possibilidade de conquistae dominação colonial de alguns dos atuais países africanos que foram criadospelos próprios colonialistas europeus. E é nesta perspectiva que acho quedeve refletir sobre a reação européia e norte-americana frente às revoltasárabes. E, em particular, no caso da intervenção militar na Líbia, comandadapela Otan e liderada pelos EUA, Inglaterra e França.

Os EUA estão ameaçados de perder poder no Oriente Médio?
Sempre existe o risco de perda do controle que já tinhamconquistado na situação anterior à rebelião. Mas, neste caso, não vejo esterisco. Pelo contrário, acho que são os mesmos de sempre que estãoredistribuindo as cartas e manipulando as divisões internas dentro dos governose dos envolvidos nas rebeliões. Quandohouver risco real, reprimirão como fizeram no Bahrein. Sempre que possível atravésdas mãos de terceiros.

Para o sr. não há perda da hegemonia norte-americana?
Os EUA estão enfrentando neste momento os problemas,contradições e incertezas produzidas pela sua mudança de status _ da condiçãode "potência hegemônica do mundo capitalista, até a década de 1980, para acondição de "potência imperial", assumida progressivamente depois de1991. Poderia até se chamar de uma"crise de crescimento", e não uma "crise terminal". E o seu"declínio relativo", de que tanto se fala na imprensa, com relação àexpansão asiática e à sua provável ultrapassagem econômica pela China ,nãoatingirá a posição dos EUA, como pivot do sistema mundial, nas próximas duasdécadas, pelo menos.
Este novo estatuto imperial dos EUA deve fazer com que mudemsua forma de administrar o seu poder global. Esta mudança será lenta ecomplicada, dentro e fora dos EUA. Muitos analistas confundem a trepidaçãoprópria deste processo de mudança com uma "crise terminal" do poderamericano no mundo. A partir de agora, ecada vez mais, os EUA deverão adotar uma posição mais distante e arbitral comrelação às lutas de poder em todos os tabuleiros geopolíticos do mundo. Sóintervindo em última instância e, de preferência, através das mãos de terceirospaíses. E deverão promover ativamente todo tipo de divisões internas, dentro efora dos principais países dentro de cada um destes tabuleiros. Seguindo omodelo clássico da administração imperial da Grã-Bretanha, durante o século 19.Isso não acontecerá sem conflitos. Mas este será o jogo que estará sendo jogadonas próximas duas décadas: de um lado, os EUA atuando como cabeça de império,se distanciando, e só intervindo em última instância, e, do outro, as demaispotências regionais tentando escapar do cerco americano, através de coalizões de poder que neutralizem o divisionismoestimulado pelos EUA.

Quais as diferenças em relação ao império britânico?
Trata-se de umsistema imperial muito mais complexo e instável do que foi o império britânico,porque ele é supra-nacional sem ser colonial. E envolve, potencialmente, 195Estados e economias nacionais, que são ou se consideram soberanos. Asfronteiras deste império não são fixas nem territoriais e podem ser redefinidasa cada momento pelo poder global militar e financeiro dos EUA. E, dentro deste sistema, a expansãocontínua do poder e da riqueza americana promovem e fortalecem algumas novaspotências emergentes que deverão competir com os EUA, nas próximas décadas,pelas hegemonias regionais do mundo. É importante sublinhar que este novotipo de império não exclui a possibilidade de derrotas ou fracassos militareslocalizados dos EUA. Pelo contrário: é aprópria expansão vitoriosa dos EUA - e não o seu declínio_ que vai promovendoos conflitos e as guerras. E, do ponto de vista estritamente militar, oessencial para o novo poder imperial americano é impedir que alguma potênciaregional ameace a sua supremacia naval em qualquer região do mundo. E, é óbvio,impedir que ocorra uma guerra hegemônica capaz de atingir a sua supremaciamilitar global.

Não há limites para este poder?
É óbvio que este novo poder imperial não é absoluto nem seráeterno. Como já foi dito, sua expansão contínua cria e fortalece poderesconcorrentes. E desestabiliza e destrói os equilíbrios e as instituições,criadas pelos próprios EUA, estimulando a formação de coalizões de poderregionais que acabarão desmembrando aospoucos o seu poder imperial, como aconteceu com o império romano. Por outrolado, a nova engenharia econômica mundial deslocou o centro da acumulaçãocapitalista e transformou a China numaeconomia com poder de gravitação quase equivalente ao dos Estados Unidos. Estanova geo-economia internacional intensifica a competição capitalista e já deu inícioà uma "corrida imperialista", cada vez intensa na África e na Américado Sul, aumentando a possibilidade e o número dos conflitos localizados entreas grandes potências. Além disso, o poder imperial norte-americano deveráenfrentar uma perda de legitimidade crônica dentro dos EUA, porque adiversidade e a complexidade nacional, étnica e civilizatória do seu império éabsolutamente incompatível com a defesa e a preservação de qualquer tipo ousistema de valores universais, como pretendem os norte-americanos. Daí o aumento das divisões, cada vez maisprofundas, dentro do establishment da política externa dos EUA, e também dentroda sociedade americana, com aumento da radicalização das posições e conflitos,como no caso do Tea Party, e das manifestações Madison, Wisconsin etc. Dequalquer forma, é possível dizer, com relação ao futuro, que não existe nenhumalei que defina a sucessão obrigatória e a data do fim da supremacia americana.Mas é absolutamente certo que a simples ultrapassagem econômica dos EUA nãotransformará automaticamente a China numa potência global nem, muito menos, nolíder do sistema mundial. Além disso, épossível afirmar que terminou definitivamente o tempo dos pequenos paísesconquistadores. O futuro do sistema mundial envolverá, daqui para frente, umaespécie de guerra de posições permanente entre grandes países continentais,como é o caso pioneiro dos EUA, e agora é também o caso da China, Rússia, Índiae Brasil.

O sr. tem afirmado que a partir dos anos 1970, depois daconsolidação do novo sistema monetário internacional "dólarflexível", os EUAs conquistaram um poder sem precedentes no capitalismo.Mas a crise financeira recente não expôs fragilidades desse sistema? Não há umdeclínio nessa hegemonia?
É verdade que depoisda crise dos anos 70, a política monetária dos EUA, junto com a desregulaçãodos seus mercados financeiros, contribuíram decisivamente para o nascimento donovo sistema monetário internacional dólar-flexível, que já dura mais do que osistema de Bretton Woods. E não há dúvida de que esse novo sistema transferiupara os Estados Unidos um poder monetário e financeiro sem precedente nahistória da economia mundial. Simplesmente porque, segundo as novas regrasque não foram consagradas por nenhum tipo de acordo internacional, os EUApassaram a arbitrar simultaneamente o valor da sua moeda, que é nacional einternacional a um só tempo, junto com o valor dos seus títulos da dívida, que absorvem a poupança de todo o mundo eservem de âncora para o próprio sistema liderado pela moeda norte-americana. Efinalmente, como consequência, os EUA podem redefinir, a cada momento, o valordas suas próprias dívidas, sem que seus credores possam reclamar sem sairperdendo. Nesse sistema, toda crise financeira da economia americana acaba afetando,em maior ou menor grau, a economia mundial, através da própria correntefinanceira global do dólar flexível. Estascrises se repetirão mas elas não são necessariamente um sinal de fragilidade.Ás vezes, podem ser até um sinal de poder e o início de um novo cicloexpansivo. De qualquer maneira, estas crises não deverão alterar a hierarquiaeconômica internacional, enquanto o governo e os capitais americanos puderemrepassar os seus custos, para as demais potências econômicas do sistema.
Aí, o conceito de hegemonia é extremante amplo e gelatinoso.Vai desde o exercício puro e simples da supremacia militar até a ideia deliderança econômica e moral dos povos. Achoque o poder global dos EUA, hoje, já não tem a ver com o sentido gramsciano dehegemonia. Trata-se de um poder imperial global, militar e financeiro. Eleinclui a possibilidade e a necessidade destas crises, que inclusive podemacabar resultando numa escalada ainda mais ampla de poder e riqueza _comoaconteceu com os EUA, depois da crise dos anos 70 do século passado. Comexceção de um pequeno período de alguns poucos anos na década de 1990, nuncaninguém acreditou que o mundo fosse unipolar. Do meu ponto de vista, dentro dosistema inter-estatal em que vivemos, o conceito de multipolaridade érebarbativo e tem pouco relevância do ponto de vista teórico. A despeito de queseja um termo útil no mundo diplomático.

O dinamismo da China não trará necessariamente consequênciasgeopolíticas? Ela não deverá abandonar paulatinamente sua posição de fragilidadediplomática por uma ação mais enfática na diplomacia mundial? É possívelenxergar a China como potência hegemônica mundial?
Hoje não há duvidaque a grande novidade dentro do sistema mundial é a expansão econômica daChina, e a sua disposição crescente de lutar pela hegemonia política e militarregional, na Ásia e no Pacífico Sul. Mas do ponto de vista geopolítico, omais provável - nas próximas duas décadas pelo menos _ é que a China serestrinja à esta luta pela hegemonia regional, mantendo-se fiel à suaestratégia atual de não provocar nem aceitar nenhum tipo de confronto foradessa sua zona de influência. Mas se a China seguir o caminho de todas asgrandes potências do sistema inter-estatal capitalista, em algum momentofuturo, terá que combinar a sua nova centralidade econômica mundial com algumtipo de projeção do seu poder político e militar para fora da sua própriaregião imediata. Mas há que ter em conta que a China tem uma posiçãogeopolítica desfavorável, com um território interior amplo e cercado e umafronteira marítima muito extensa, não contando ainda com um poder naval capazde se impor ao controle norte-americano do Pacífico Sul. Sem poder naval, a China não irá muito longe. E tomarão muitosanos ainda para que a China venha a ter uma capacidade naval capaz de ameaçar ocontrole marítimo global da marinha norte-americana. O próprio Japão tem umacapacidade naval maior do que a China. E,com certeza, os EUA deverão incentivar o aumento do poder militar do Japão e daCoréia, com vistas a um equilíbrio de poder regional, que contenha a Chinadentro de sua própria região.

Como o sr. observa a posição europeia nesse jogo de poder?
Depois de 1991, aumentou o número de sócios da UniãoEuropeia e a extensão territorial coberta pela Otan. Mas a União Europeia está cada vez mais fraca, dividida e desorientadasobre como conduzir seus assuntos internos e sobre como se reinserir no novosistema internacional, depois do fim da guerra fria e da reunificação daAlemanha. Está ficando cada vez mais claro qual a verdadeira causa destaperda de rumo: a União Europeia não dispõe de um poder central unificado ehomogêneo, capaz de definir e impor objetivos e prioridades estratégicas, aoconjunto dos seus associados. Além disto, ela está cada vez mais dividida entreos diferentes projetos para a Europa: da França, Grã-Bretanha e Alemanha, quesão seus Estados líderes e que têm entre si divergências estratégicasseculares. Divergências que ficaram adormecidas até o fim da Guerra Fria, masque reapareceram depois com a reunificação da Alemanha e o ressurgimento davelha Rússia dentro do cenário geopolítico europeu. Com a sua reunificação, a Alemanha se transformou na maior potênciademográfica e econômica do continente e passou a ter uma política externa maisautônoma, centrada nos seus próprios interesses nacionais. E, nesta linha, vemse envolvendo cada vez mais com a hegemonia da Europa Central. Ao mesmo tempo,vem estabelecendo laços cada vez mais extensos com a Rússia. Uma estratégia querecoloca a Alemanha no epicentro da luta pela hegemonia dentro de toda aEuropa, ofusca o papel da França e desafia o americanismo da Grã Bretanha.
Nos próximos anos, não é impossível que Alemanha e Rússiabusquem uma aproximação mais estreita, uma vez que a Rússia é a maior fornecedorade energia da Alemanha e de toda a Europa, além de ser a segunda maior potênciaatômica do mundo. E a Alemanha tem condições de fornecer à Rússia a tecnologiae os capitais de que necessita para recuperar o dinamismo econômicoindispensável à uma grande potência.Esta aproximação afetará radicalmente o futuro da União Européia e de suasrelações com os Estados Unidos. Não é improvável que traga de volta acompetição geopolítica dos Estados europeus que foram os fundadores do atualsistema mundial.

E a atual crise econômica na Europa? O sr. acha que o eurosobreviverá?
A atual crise econômica européia não é apenas financeira nemse restringe à insolvência de alguns Estados de menor importância econômicadentro da comunidade. Do meu ponto devista, se trata de uma crise monetária e de insolvência do próprio euro, umamoeda que é emitida por um Banco Central metafísico, que não pertence a nenhumEstado nem está associado a nenhum Tesouro Central. O novo sistemamonetário europeu começou a ser construído com o Tratado de Maastricht, em1992, e culminou com a criação do Euro, em 2002. Baseado na suposição dos dirigentes europeus de que esta nova moedaglobal conduziria à criação de um poder central capaz de geri-la. Mas atéhoje o euro funcionou como uma espécie peculiar de moeda semi-privada einconclusa, sendo aceita com base na crença privada e na certeza pública de queo BCE e a Alemanha cobririam todas as dívidas emitidas pelos 16 Estados membrosda eurozona. Como ocorreu até 2008, permitindo que todos estes paísespraticassem taxas de juros quase iguais às da Alemanha, apesar da sua imensadesigualdade de poder e riqueza. Estasituação mudou depois do colapso financeiro de 2008, quando a primeira-ministraalemã, Ângela Merkel, estabeleceu o novo princípio de que cada país europeuteria que ser responsável, a partir daquele momento, pelos seus próprios bancose pela cobertura de suas dividas soberanas. A consequência imediata da novaposição alemã foi a crise de insolvência de alguns governos da Europa Central,no ano de 2009, contornada pela intervenção do FMI. No início de 2010,entretanto, a denúncia do novo governo socialista da Grécia, de que o déficitorçamentário grego do ano anterior havia sido maior do que o publicadoinicialmente, serviu como estopim de uma nova crise. Essa crise foi magnificadapelo veto alemão, durante seis meses, a qualquer tipo de ajuda comunitária aogoverno grego. Até o momento em que a situação da Grécia ameaçou se estender aoutros países endividados e acabou atingindo a própria credibilidade do euro.Isso obrigou a Alemanha a aceitar aaprovação apressada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira, comcapacidade anual de mobilização de até 750 bilhões de euros. Valor suficientepara contornar a crise imediata, mas incapaz de reverter a desmoralização dosistema monetário europeu, que foi criado em 2002, sob a tutela alemã. Paracorrigir esta "falha de fabricação" do euro, a França propôs acriação de um governo econômico europeu, que não foi aceito pela Alemanha. O governoalemão, por sua vez, propõe, sem o apoio francês, a criação de um FundoMonetário Europeu, para exercer o controle rigoroso da disciplina fiscal daeurozona, com o poder de expulsão dos faltosos. O impasse permanece, mas, assim mesmo, no curto prazo, se impôs aposição alemã, favorável a um ajuste fiscal draconiano de todos os paísesincorporados à zona do euro. Como o ajuste está sendo aplicado em economiasque já estão estagnadas e com altas taxas de desemprego, é como colocargasolina na fogueira e apostar numa profunda e prolongada recessão como fizeramos EUA no início da crise da década de 1930. Mas nada disto resolverá oproblema da insolvência do euro, porque a moeda europeia só terá valor efetivono momento em que for lastreada por um poder e por um tesouro central capazesde assumir a responsabilidade permanente pela sua sustentação, com base na suacapacidade de tributação e endividamento. Seisto não acontecer, e se os pequenos estados europeus não aceitarem a condiçãode províncias fiscais da Alemanha, o sistema monetário europeu e o próprioeuro_ estão com seus dias contados.

Como o sr. avalia a aproximação entre EUA e Rússia?
Qualquer discussãosobre o futuro desta relação entre EUA e Rússia tem que partir do fato que osEUA seguirão sendo o pivot militar da Europa por muito tempo. Pelo menosenquanto mantiverem o controle das forças da Otan e dos arsenais atômicos daAlemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Turquia. Neste sentido, a iniciativa aindaestá nas mãos dos EUA. E os EUA têm pelo menos duas grandes alternativasestratégias possíveis com relação a como se conduzir com a Rússia. A primeiraalternativa é manter a estratégia clássica, definida por Alfred Mackinder, nofinal do século 19. A mesma estratégia que foi seguida pela Grã-Bretanha,durante o século 19, e que foi mantida pelos EUA, depois do fim da SegundaGuerra Mundial: cercar e Rússia eimpedir de todas as maneiras a sua aproximação da Alemanha. Esta foi denovo a opção dos EUA, depois do fim da guerra fria, com a incorporação militarda Europa Central à Otan e o estabelecimento de bases militares americanas nosterritórios da Ásia Central, como forma de apoio às guerras do Iraque e doAfeganistão. Mas existe a possibilidade de uma segunda alternativa, maisinovadora e ousada, que poderia redesenhar o mapa geopolítico da Europa e domundo, com efeitos imediatos sobre a geopolítica da Ásia Central e do OrienteMédio. Nesse caso, os EUA promoverão umaacordo de médio prazo de pacificação da fronteira russa, junto com uma acomodaçãonegociada com o Irã, envolvendo o apoio da Rússia e a simpatia implícita daAlemanha. Sendo assim, a Rússia daria uma contribuição decisiva para aestabilização da Ásia Central e do Oriente Médio. Neste caso, através de umanegociação envolvendo o Irã e a Turquia, com vistas à construção de um novoequilíbrio de poder regional. Em trocadisto, a Rússia teria o apoio norte-americano para retomar sua zona deinfluencia, e reconstruir sua hegemonia nos territórios perdidos depois daguerra fria. Desde que fosse sem o uso das armas, pelo caminho do mercado e daspressões diplomáticas, como lhes foi permitido e aconteceu com a Alemanha e oJapão, a partir da década de 1950. Esta aliança estratégica com a Rússiaajudaria a bloquear a expansão chinesa, e envolveria o apoio econômicoamericano ao desenvolvimento do capitalismo russo, com vistas à sua superaçãodo seu viés atual, de natureza primário-exportadora. Mas não há que esquecerque Roosevelt tentou levar à frente uma estratégia parecida de incorporação da URSS,em 1945. Mas sua proposta foi atropelada pela sua morte e pela estratégiadesenhada por Churchill e Truman, que levou à guerra fria. De novo, o projetode Barack Obama pode revolucionar a geopolítica mundial, mas também pode seratropelado pelas mudanças presidenciais que ocorrerão nos EUA e na Rússia, noano de 2012. Mas, antes disso, o grande jogo de Barack Obama pode escapar-lheao controle, porque os EUA podem não conseguir conter ou controlar todas asforças sociais e políticas despertas, ou estimuladas, por esta gigantescamudança geopolítica, dentro de cada um dos países envolvidos, na Ásia Central,no Oriente Médio e no Norte da África.

As crises capitalistas têm muitas vezes desaguado em guerrasde grandes proporções. O sr. enxerga essa possibilidade?
Acho que devemmultiplicar-se os conflitos localizados dentro do sistema mundial, envolvendosempre os EUA, de uma forma ou outra. Mas não vejo no horizonte apossibilidade de uma grande guerra hegemônica do tipo das duas grandes guerrasmundiais do século 20.

A América Latina poderá deixar sua condição tradicional deperiferia exportadora para as grandes potências?
Na segunda década doséculo 21, depois de ultrapassados os efeitos imediatos da crise de 2008, omais provável é que a América do Sul se mantenha na sua condição tradicional deperiferia econômica exportadora. Mesmo quando se ampliem e diversifiquemseus mercados na direção da Ásia e da China. Para mudar essa rota, serianecessário uma decisão de Estado e uma capacidade coletiva de manter em pé o projeto integracionista,independentemente dos conflitos e divergências locais e das próprias mudançasfuturas de governo. Além disso, seria preciso levar à frente a integração da infraestrutura física energética docontinente e desenvolver cada vez mais o seu mercado interno, com a redução da sua dependência macroeconômica àsflutuações dos mercados compradores e dos preços internacionais. Nesse ponto,não existe meio termo: os paísesdependentes da exportação de produtos primários, mesmo no caso do petróleo,serão sempre países periféricos, incapazes de comandar sua própria políticaeconômica, e incapazes de comandar sua participação soberana na economiamundial. De qualquer maneira, o futuro da América do Sul será cada vez maisdependente das escolhas e decisões tomadas pelo Brasil. E o tempo urge porquese o Brasil seguir submetido aos desígnios dos mercados internacionais setransformará, inevitavelmente, numa economia exportadora de alta intensidade,de petróleo, alimentos e commodities, uma espécie de periferia de luxo dasgrandes potências compradoras do mundo. Como foram, no seu devido tempo, aAustrália e Argentina ou o Canadá, mesmo depois de industrializado. E se istoacontecer, o Brasil estará condenando o resto da América do Sul à sua condiçãohistórica secular, de periferia primário-exportadora da economia mundial.

Como deverá evoluir a relação do Brasil com os EUA?
Hoje, o Brasil é oúnico país da América do Sul que tem capacidade e possibilidade de construir umcaminho novo dentro do continente, combinando indústrias de alto valor agregadocom a produção de alimentos e commodities de alta produtividade, sendo, aomesmo tempo, auto-suficiente do ponto de vista energético. Entretanto, estanão é uma escolha puramente técnica ou econômica. Ela supõe uma decisãopreliminar, de natureza política e estratégica, sobre os objetivos do Estado eda inserção internacional do Brasil. E, neste caso, existem duas alternativaspara o Brasil: manter-se como sóciopreferencial dos Estados Unidos na administração da sua hegemonia continental,ou lutar para aumentar sua capacidade de decisão estratégica autônoma, nocampo da economia e da sua própria segurança, através de uma política hábil edeterminada de complementaridade e competitividade crescente com os EstadosUnidos, envolvendo também as demais potências do sistema mundial, nofortalecimento da sua relação de liderança e solidariedade com os países daAmérica do Sul. Seja como for, é absolutamente certo que as escolhasbrasileiras serão decisivas para o futuro da América do Sul.
Por outro lado, entre as chamadas potencias emergentes oucontinentais, como a China, Índia e, talvez, Turquia, Irã e Indonésia, o Brasil é o país com maior potencial deexpansão pacífica, dentro da sua própria região. Com a diferença essencialde que seu principal competidor na América do Sul são os próprios EstadosUnidos. Mas, ao mesmo tempo, a expansão do Brasil, dentro e fora da América doSul, contou até aqui com a vantagem de ser uma potência desarmada, porque de fato está situado na zona de proteçãoatômica incondicional dos Estados Unidos. Além disso, Brasil também usufruiu dacondição de país ou nação formada dentro da mesma matriz cultural ecivilizatória que os EUA. Mas chegará o momento em que o Brasil terá que tomaralgumas decisões fundamentais com relação a estes dois pontos que favoreceramaté aqui a expansão da sua influencia internacional. Em primeiro lugar, terá que definir o seu próprio projeto mundial e suaespecificidade com relação aos valores, diagnósticos, e posições dos europeus enorte-americanos, com relação aos grandes temas e conflitos da agendainternacional. E, em seguida, o Brasil terá que decidir se aceita ou não acondição militar de aliado estratégico dos Estados Unidos, da Grã-Bretanha e daFrança, com direito de acesso à tecnologia de ponta como no caso da Turquia oude Israel, por exemplo mas mantendo-se na zona de influência, proteção edecisão estratégica e militar dos Estados Unidos e de seus principais aliadoseuropeus. Ou seja, o Brasil terá que decidir o seu lugar no mundo, a partir doseu pertencimento originário à tradiçãoeuropéia e cristã, que o distingue e distancia inevitavelmente, das outrastradições e potências continentais que deverão estar competindo com os EstadosUnidos e entre si pela liderança mundial nas próximas décadas. E terá quedecidir se quer ou não, ter algum dia a capacidade de sustentar suas posições fora da América do Sul com seu próprio podermilitar.

Qual a importância do Mercosul?
O Brasil controla atualmente metade da população e doproduto sul-americano, é hoje o player regional mais importante no tabuleirogeopolítico da América do Sul. Vem tendo uma presença cada vez mais afirmativa,mesmo na América Central e no Caribe. O Brasil aceitou o comando da missão depaz das Nações Unidas, no Haiti, tomou uma posição decidida a favor dareintegração de Cuba na comunidade americana e tem defendido, em todos os forosinternacionais, o fim do bloqueio econômico à Cuba. Ao mesmo tempo, temexercido uma razoável influência ideológica sobre alguns governos de esquerdada América Central e tomou uma posição rápida e dura frente ao golpe de Estadomilitar de Honduras, em junho de 2009, e na tensão com os Estados Unidos, comrespeito à coordenação da ajuda ao Haiti, no terremoto de Porto Príncipe, noinício de 2010. Mas apesar do seu maiorativismo diplomático, o Brasil ainda não tem possibilidade de competir ouquestionar o poder americano, no seu mar interior caribenho. Na América do Sul,entretanto, o Brasil tem demonstrado, nestes últimos anos, vontade e decisão dedefender seus interesses e o seu próprio projeto de segurança e de integraçãoeconômica do continente. Com a expansão do Mercosul, a criação da Unasul edo Conselho Sul-Americano de Defesa, oBrasil contribuiu para o engavetamento do projeto da Alca e reduziu aimportância do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca e da JuntaInteramericana de Defesa, que contam com o aval dos Estados Unidos. Alémdisto, o Brasil teve uma participação ativa e pacificadora nos conflitos entreEquador e Colômbia e entre Colômbia e Venezuela. E fez uma intervenção discretae eficiente para impedir que o conflito interno da Bolívia se transformassenuma guerra de secessão territorial na sua própria fronteira e bem no coraçãoda América do Sul. Além disto, em 2009,o Brasil assinou um acordo estratégico militar com a França, que deverá alterara relação do Brasil com os EUA e transformar o país, em alguns anos mais, namaior potência naval da América do Sul, com capacidade simultânea de construirsubmarinos convencionais e atômicos e de produzir os seus próprios caçasbombardeiros. Essa decisão não caracteriza uma corrida armamentista entre oBrasil e seus vizinhos do continente nem, muito menos, com os EUA. Mas sinalizauma mudança da posição internacional brasileira e uma decisão brasileira deaumentar sua capacidade político-militar de veto, dentro da América do Sul, comrelação às posições norte-americanas.
Nos momentos de crise forte não faltam os que afirmamvislumbrar a "crise final do capitalismo". Immanuel Wallerstein, porexemplo, acha que "a civilização capitalista chegou ao outono de suaexistência". Por que o sr. discorda dessa tese?
Acho que já expus meu ponto de vista nas respostasanteriores. Mas podemos voltar ao assunto de forma mais direta e clara. Éverdade que na crise dos anos 70 do século passado falou-se muito de fim dahegemonia americana e, inclusive, em alguns casos, em crise estrutural ou finaldo próprio capitalismo. E, no entanto,hoje está claro que a crise dos anos 70 não enfraqueceu o poder americano.Muito pelo contrário, transformou-se no ponto de partida de uma escalada noprocesso de acumulação vitoriosa do poder e da riqueza dos EUA, em escalaplanetária. E, agora, de novo, neste início do século 21, voltou-se a falarde uma crise terminal do poder americano e do capitalismo. Mas não existemevidências convincentes de que este colapso esteja ocorrendo ou vá ocorrer nospróximos tempos. A crise hipotecária e financeira americana, de 2007/2008 nãose transformou numa crise econômica global. E não é provável que ela possarepetir, a médio prazo, a crise da década de 1930 ou, mesmo, a da década de1970. O fracasso político norte-americano no Iraque não diminuiu o podermilitar dos Estados Unidos, que segue sendo muito superior ao de todas asdemais potências juntas. A economia norte-americana segue sendo a mais poderosado mundo e mantém sua capacidade de inovação. Os Estados Unidos seguemcontrolando cerca de 70% de toda a informação produzida e distribuída ao redordo mundo. A moeda internacional segue sendo o dólar. O déficit externo nãoameaça os Estados Unidos neste novo padrão monetário internacionaldólar-flexível. E os Estados Unidos não parecem estar sem os "os meios e avontade de continuar conduzindo o sistema de Estados na direção que sejapercebida como expandindo não apenas o seu poder, mas o poder coletivo dosgrupos dominantes do sistema", como pensava Giovanni Arrighi. Asdificuldades políticas e econômicas dos Estados Unidos, no final da primeiradécada do século 21, poderão se prolongar e aprofundar. Mas, do nosso ponto devista, com certeza não se trata do fim do poder americano nem, muito menos, daeconomia capitalista.
De qualquer maneira, o problema de fundo de todas estas profeciasterminais não está na sua leitura imediata da conjuntura internacional desteinício do século 21. Seu ponto fracoestá na confusão que fazem entre planos e tempos históricos diferentes. Ohistoriador francês Fernand Braudel falava da existência de pelo menos trêstempos históricos diferentes: o tempo breve, da vida política imediata, dotempo cíclico, da vida econômica, e da longa duração, das grandes estruturashistóricas. Sem distinguir estes planos e estes tempos diferentes pode-seconfundir, com facilidade, o fim de um ciclo normal da economia capitalista comuma crise estrutural ou terminal do próprio capitalismo. E pode se considerarcatastrófico um declínio relativo de um país que tenha acumulado uma quantidadeexcepcional poder, após uma guerra vitoriosa, como foi o caso dos EstadosUnidos, depois de 1945, e depois de 1991. Apartir deste momento vitorioso, é inevitável que a potência ganhadora percaposições relativas dentro da hierarquia mundial do poder e da riqueza, namedida em que avança a reconstrução dos Estados e das demais economias queforam derrotadas ou foram destruídas pela guerra. Nestes períodos derecuperação, a velocidade da reconstrução física e militar e do crescimentoeconômico dos derrotados ou destruídos tende ser maior do que o da potêncialíder. O que não se percebe, muitas vezes, é que a reconstrução eaceleração do crescimento destes países é, ao mesmo tempo, indispensável, paraa acumulação de poder e riqueza da potência que está em "declíniorelativo". E que esta potência emdeclínio é indispensável para o ascenso relativo das outras potências que estãose aproximando ou ultrapassando a potência líder. Por isso, se pode falarde um "declínio relativo" do poder americano, com relação à China,como já se falou do declínio do poder econômico norte-americano, com relação aoJapão e à Alemanha, na década de 1970. Mas esse declínio relativo dos EstadosUnidos não significa, necessariamente, um colapso do seu poder econômico e dasua supremacia mundial. De qualquermaneira, por trás da visão de Wallerstein, como da minha própria, existemteorias diferentes sobre a origem e a dinâmica do sistema mundial.Wallerstein e Arrighi vêem a história mundial como uma sucessão de cicloshegemônicos ou de acumulação de capital. Enquanto eu vejo este mesmo sistemacomo um "universo" em expansão contínua. Onde todos os Estados quelutam pelo poder global, em particular as grandes potências, estão semprecriando, ao mesmo tempo, ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra, sem perdersua preeminência hierárquica dentro do sistema. A visão deles está mais próxima da biologia e dos seus ciclos vitais.Enquanto a minha está mais próxima da física termodinâmica e da teoria dasestruturas dissipativas.






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