Ah, o amor…
20 de Outubro de 2011, 22:00 - sem comentários aindaEle é uma escolha. Sim, uma escolha. E se escolho amar, em alguns momentos sentirei dor. Aquela dor doída, no fundo do peito, provocada pelo silêncio, pelo não, pela mentira, pela falta de esperança, pela omissão.
Se escolho amar, tenho que ser paciente. Ser paciente e saber esperar. E saber perdoar. Porque eu darei mais o meu perdão àquelas pessoas que mais amo, se quiser continuar optando por amar sem, é claro, deixar de dizer não quando for preciso dizer não.
Que utópico, sonhante! Como amar assim em um mundo que se nos mostra tão cruel em vários sentidos, e nos ensina a ser também assim? Como amar, perdoar, ter esperança, se o individualismo, o egoísmo e a competição reinam – somos (des)educados para isso – , e a solidariedade é um valor tão desvalorizado?
Que bom seria! Ver se fortalecendo perto da gente a cultura da partilha, da colaboração, do ser (também) responsável pelo outro… A cultura do amor! É utopia? Sonho? Pode ser. Mas é também um desejo, o meu desejo, pelo qual luto, todos os dias, de várias formas.
Quanto ao meu amor… não sei se já aprendi a amar. Mas o escolhi como princípio de vida, com toda a profundidade que ele requer, com todas as suas agruras e também com toda a plenitude de felicidade que ele pode proporcionar.
Não vou dizer que é fácil. É um caminhar, um caminho. Caminho que se faz, na maioria do tempo, sozinho, e por vezes é cheio de dores, obstáculos… Mas muitas, muitas vezes vezes é bonito, pleno de alegrias e sempre, sempre verdadeiro.
E por falar em caminho, amor, partilha e verdade, divido com vocês o mais bonito diálogo sobre amor que já vi.
“Após um longo e sábio caminhar, o Pequeno Príncipe, dispôs-se a descansar…
E foi então que apareceu a raposa:
– Bom dia – disse a raposa.
– Bom dia – respondeu educadamente o pequeno príncipe, que, olhando a sua volta, nada viu.
– Eu estou aqui, – disse a voz, debaixo da macieira…
– Quem és tu? – perguntou o principezinho. – Tu és bem bonita…
– Sou uma raposa – disse a raposa.
– Vem brincar comigo – propôs ele. – Estou tão triste…
– Eu não posso brincar contigo – disse a raposa. – Não me cativaram ainda.
– Ah! Desculpa – disse o principezinho. Mas, após refletir, acrescentou:
– Que quer dizer “cativar”?
– Tu não és daqui – disse a raposa.
– Que procuras?
– Procuro os homens – disse o pequeno príncipe.
– Que quer dizer cativar?
– Os homens – disse a raposa – têm fuzis e caçam.
É assustador! Criam galinhas também. É a única coisa que fazem de interessante. Tu procuras galinhas?
– Não – disse o príncipe. – Eu procuro amigos.
– Que quer dizer “cativar”?
– É algo quase sempre esquecido – disse a raposa.
Significa “criar laços”…
– Criar laços?
– Exatamente, disse a raposa. Tu não és ainda para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo…
– Minha vida é monótona. Eu caço as galinhas e os homens me caçam. Todas as galinhas se parecem e todos os homens também. Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. Os teus me chamarão para fora da toca, como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo?
Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! – Mas tu tens cabelos dourados.
E então serás maravilhoso quando me tiverdes cativado. O trigo, que é dourado, fará com que me lembre de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo…
A raposa calou-se e observou muito tempo o príncipe:
– Por favor, cativa-me! disse ela.
– Eu até gostaria – disse o principezinho – mas eu não tenho
muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a
conhecer.
– A gente só conhece bem as coisas que cativou – disse a raposa.
– Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma.
Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos.
Se tu queres um amigo, cativa-me!
– Que é preciso fazer? – perguntou o pequeno príncipe.
– É preciso ser paciente – respondeu a raposa
– Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada.
A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.
Mas cada dia, te sentarás um pouco mais perto…
No dia seguinte o príncipe voltou.
– Teria sido melhor se voltasses à mesma hora – disse a raposa.
– Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz! Quanto mais a hora for chegando, mais me sentirei feliz! Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!
Assim o pequeno príncipe cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
– Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua – disse o principezinho. – Eu não queria te fazer
mal; mas tu quiseste que eu te cativasse…
– Quis – disse a raposa.
– Então, não terás ganho nada!
– Terei, sim – disse a raposa – por causa da cor do trigo.
Depois ela acrescentou: – Vai rever as rosas. Assim, compreenderás que a tua é a única no mundo. Tu voltarás para me dizer adeus, e eu te presentearei com um segredo.
O pequeno príncipe foi rever as rosas:[...]. “ E ao voltar dirigiu-se à raposa:
– Adeus… – disse ele.
– Adeus – disse a raposa.
– Eis o meu segredo:
É muito simples: só se vê bem com o coração.
O essencial é invisível aos olhos.”

Para os dias de intranquilidade
29 de Setembro de 2011, 21:00 - sem comentários aindaSer eu
Respirei fundo. Respirei de novo. Dei um ritmo paciente e lento à minha respiração, e fiquei assim até que fossem embora o medo, a culpa, e chegasse a bem vinda paz. E ela chegou, em silêncio, como sempre. E ficou ali comigo o resto da noite. Já com ela, fiz o que tinha de fazer: dei-me banho, vesti-me com uma roupa leve e limpa, apaguei a luz e coloquei-me no meu colo.
Paz. Compaixão. Pedi-me perdão, perdoei-me. Foi um ato de tão sensível e sincera generosidade... Adormeci. E fiquei ali, vendo-me dormir, guardando o meu próprio sono, cuidando da minha calma.
Compaixão. Calma... há quanto tempo você não me visitava... Fica comigo esta noite? Ela ficou. Permaneceu ali, também em silêncio, embora às vezes dissesse baixinho algumas frases bonitas, com sua doce e harmoniosa voz.
Calma. Presença. Senti-me ali tão completa... Eu, de fato, estava ali, inteirinha. Corpo, alma, mente, voz... tudo. Estava toda presente em mim. Agora sim, posso acordar, disse eu, ainda em silêncio. Só mais um pouquinho... e vou acordar. Desfrutar da minha presença, da minha inteireza, e ser. Infinitamente, para sempre, ser eu.
Sobre mim e Clarice
15 de Setembro de 2011, 21:00 - sem comentários aindaA obra de Clarice Lispector para mim é inspiradora. Uma mulher que, no seu tempo, escreveu sobre ser mulher com todas as suas vantagens e agruras, merece reverências e aplausos. Também admiro muito a maneira como ela reflete sobre sonhos e sobre a vida: com a beleza e a profundidade de quem soube ser muito intensa. E ela escreve sobre si. Mas parece que viu o meu avesso.
"Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:
- E daí? Eu adoro voar!
Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre."
Clarice Lispector
Contraventora
5 de Setembro de 2011, 21:00 - sem comentários aindaO que me atrai?
Profundidade.
O que me excita?
Liberdade.
O que me move?
Leveza e sinceridade.
Publicação que analisa cobertura da mídia sobre o MST está disponível para download
1 de Setembro de 2011, 21:00 - sem comentários aindaO Intervozes divulga pesquisa que analisa a cobertura da mídia sobre o MST durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito de 2010. O relatório já está disponível para download.
O relatório “Vozes Silenciadas”, resultante da pesquisa realizada pelo Intervozes analisando a cobertura da mídia sobre o MST, foi lançado oficialmente na noite da última quarta-feira (24), durante o Acampamento Nacional da Via Campesina, em Brasília, onde foram distribuídas cerca de 600 cópias da publicação. O lançamento do “Vozes Silenciadas” contou com a participação da pesquisadora responsável pelo relatório, a jornalista e professora do curso de Comunicação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mônica Mourão, do jornalista Leandro Fortes, da revista Carta Capital, e de dirigentes do movimento.
Para Mônica Mourão, pesquisadora responsável pelo relatório, um dos principais méritos da pesquisa é que ela tira o movimento do "achismo" e comprova por meio de dados a realidade da criminalização de suas bandeiras na grande mídia. “A pesquisa constatou que não há uma invisibilidade do movimento em si, mas de suas lutas e, na maioria das vezes, o movimento é citado como referência pejorativa”, afirmou.
Mônica também destaca que a maioria das matérias da grande mídia que citam o movimento são para associá-lo a algo negativo. “A pesquisa constatou que há uma constante associação do movimento a termos negativos - ao todo foram encontrados 192 termos diferentes, como baderna, invasão, ilegalidade - e os acontecimentos relacionados ao movimento só viram notícia quando tem algum conflito”, ressaltou a pesquisadora. “E, neste caso, só há relato do conflito, sem se apresentar nenhuma possibilidade de solução dos problemas expostos”, pontuou.
Para a realização da pesquisa foram analisados três jornais de circulação nacional (Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo); três revistas também de circulação nacional (Veja, Época e Carta Capital); e os dois telejornais de maior audiência no Brasil: Jornal Nacional da Rede Globo e o Jornal da Record. Ao todo foram analisadas 301 matérias que mencionaram o MST durante o tempo em que ele foi alvo de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) no Congresso Nacional, entre os meses de fevereiro e julho de 2010.
30 anos do Jornal Sem Terra
Na mesma noite em que foi lançado o relatório “Vozes Silenciadas”, o acampamento também comemorou os 30 anos de existência do Jornal Sem Terra, veículo de comunicação organizado pelo próprio MST. Para Vilson Santin, integrante da Coordenação Nacional do MST, “O Jornal Sem Terra tem sangue, lágrima e sorriso de cada pessoa que conseguiu seu pedaço de chão e colheu o pão da terra conquistada. Ele é parte integrante de tudo o que a gente faz e fará para alimentar o povo Sem Terra”.
Leandro Fortes, jornalista da revista Carta Capital, que também participou das atividades, reforçou a necessidade dos movimentos sociais fortalecerem seus meios de comunicação. “A mídia é elitista, abomina a discussão sobre o fim e limite dos latifúndios no Brasil e sempre verá os sem-terra como invasores e vândalos”, defendeu Leandro.
Fortes definiu o jornal do MST, um veículo de comunicação que nasceu antes do próprio movimento, como um instrumento de resistência que não submeteu às tentativas de criminalização. “É preciso que vocês façam uma contrarrevolução, gerando os meios de comunicação e seus próprios jornalistas. A história do maior movimento social do Brasil só será contada quando vocês tiverem formas de contá-la”, conclui o jornalista.