Ir para o conteúdo
Mostrar cesto Esconder cesto
Voltar a Blog
Tela cheia

Collor e Dilma: empobrecemos imensamente na política

18 de Abril de 2016, 22:34 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
Visualizado 152 vezes

Sou da geração que construiu o fim da ditadura militar com a campanha pela Anistia e pela Diretas Já e que foi às ruas em busca de ética na política com o impeachment do playboy corrupto Fernando Collor. Por isso mesmo não podia deixar de me emocionar tristemente com o espetáculo de pobreza política que assisti ontem pela TV e que, embora não seja definitivo (pois há ainda o Senado), ilustra em que momento político estamos vivendo.

Ao invés de ver, como em 1992, uma campanha nas ruas liderada pelos movimentos sociais, os mesmos que tinham derrubado a ditadura, e gente honrada no parlamento liderando o processo pró-impeachment, via o rosto cinicamente doentio de Eduardo Cunha, retrato da política mafiosa, como presidente do tribunal. Ao invés de ouvir discursos emocionados de deputados que honravam uma biografia de dedicação ao país, ouvia afirmações raivosas e/ou fascistas, ao lado de bisonhas declarações do tipo “beijinho a papai e mamãe que estão me assistindo”.  Os que genuinamente votavam pensando defender o país da corrupção provavelmente sentiam-se constrangidos de estarem na companhia de quem estavam.

Ao invés de ver, como em 1984 e em 1992, uma população entusiasmada pelos avanços democráticos e unida em defesa de seu país, vi uma cruel divisão da sociedade brasileira, manipulada pelos partidos políticos e por uma mídia que impõe seus pontos de vista ao invés de informar. Será inesquecível esse dia 17 de abril de 2016, o dia em que escancararmos a degradação do processo democrático em política “espetaculosa” e sem respeito à Constituição. Vamos e venhamos, o processo de crime de responsabilidade está sendo aberto sem nenhuma comprovação de culpa da presidenta em corrupção, e sim por umas tais de “pedaladas fiscais”. Só que quase nenhum deputado citou esse assunto em seu voto, como se o julgamento fosse outro. E era, e isso é inconstitucional.

Pois é, só que depois da tempestade pode estar vindo a ambulância, e não a bonança! Se passar o impeachment e tivermos a temeridade de Temer e o PMDB governando o país, as coisas podem se agravar ainda mais em termos de insustentabilidade política.Temer poderá ainda ser cassado pelo STF e Cunha será o presidente (Argh!). Se então tivermos a sorte de Cunha ser cassado pela Câmara, a vaga será de Renan Calheiros! E se for cassado pelo Senado por corrupção, por sua vez pode ser substituído por Gilmar Mendes que defendeu Collor no processo de impeachment e que é o juiz do ódio e não da temperança! Que perspectiva horrorosa temos pela frente. Só resta pedir: Fica Dilma!  O PT e seu governo erraram gravemente, se misturaram com porcos e agora comem farelos, mas sua biografia é mil vezes mais decente do que a desses senhores.

Como encontrar esperança em meio a tanta tristeza? Exatamente no fato de que a política partidária está tão degradada que há um processo de invenção na sociedade civil visando criar novos modelos políticos. No Brasil e no mundo modelos horizontais estão nascendo, que preveem controle social em todas as etapas dos processos políticos, que separam política e poder econômico, que afastam o carreirismo, que têm grande enraizamento local, que favorecem a confiança interpessoal e a responsabilidade coletiva.  As inovações sempre começam invisíveis, mas a população brasileira quer mais seriedade na política – e essa é uma demanda  verde-amarela-vermelha-azul e cor de rosa –  e não quer mais do mesmo. Ela evoluirá em busca de uma reforma política profunda.

A esperança vem do fato também de que os milhões que construíram a democracia estão vigilantes, que grande parte evoluiu em suas práticas políticas para mais corresponsabilidade e querem ver essa evolução no Brasil. Já fizemos transformações profundas nesse país e continuaremos fazendo, dessa vez com o apoio da nova geração, dos nossos filhos. Esses, que vivem em redes horizontais e que não precisam mentir em casa, não toleram a política que aí está e exigem coerência entre o que se diz e o que se faz. O futuro é deles e os ajudaremos a construí-lo, sem permitir nenhum retrocesso.

 


Categorias

Política

0sem comentários ainda

    Enviar um comentário

    Os campos são obrigatórios.

    Se você é um usuário registrado, pode se identificar e ser reconhecido automaticamente.

    Cancelar