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Em busca da mente clara: meditar...meditar

25 de Julho de 2016, 23:06 , por Débora Nunes - 0sem comentários ainda | Ninguém está seguindo este artigo ainda.
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Débora Nunes

 

Conhecer a própria mente e sua forma de funcionamento é um passo essencial para o aprendizado da meditação, mas é também um excelente caminho para a clareza mental em todas as esferas da vida. Um princípio fundamental para uma mente clara, segundo muitas tradições de sabedorias orientais, é dar-nos conta de que “não somos a nossa mente, somos a pessoa que observa a mente funcionar”. Esta percepção estabelece que conhecendo nossa mente poderemos direcionar seu funcionamento, termos melhor discernimento, usarmos melhor nossas capacidades e nosso tempo e sermos assim mais felizes.

 

A atenção ao momento presente é o caminho para tranquilizar a mente e perceber seus mecanismos de atuação. Porém, diversos obstáculos se colocam a esse alinhamento com o agora e a mente tende a distrair-se. O budismo identifica dezenas de tipos de "distrações" que fazem com que a mente se desalinhe, se agite e dificulte a conquista da clareza e da paz interior inerente à mente alinhada. Algumas destas distrações serão comentadas a seguir e você poderá identificar quais são seus padrões. Com base nesse conhecimento, e em minha experiência com estudantes, identifiquei cinco tipos bastante comuns de funcionamento da mente. Aqueles/as que querem avançar na prática da meditação e beneficiar-se de uma mente mais clara e tranquila podem observar o tipo de pensamentos mais frequentes em seu dia a dia e assim se aventurar em seu mundo interior e buscar evolução pessoal. Nunca é demais dizer que, numa concepção holística, integrativa, cada evolução pessoal ignifica também uma evolução coletiva, já que tudo está interligado.

 

Nos tempos atuais, a maior parte das pessoas tem momentos em que é controlada pelos próprios pensamentos, chegando a confundir a si mesma com sua mente. A mente desassossegada é aquela que está constantemente envolvida com pensamentos repetitivos, seja em torno de emoções, positivas ou negativas (desejos, ciúme, raiva, paixões etc.) ou de situações vividas (questões de trabalho e relacionamento, entre outros), das quais não consegue se desligar. A mente preocupada é movida pelos medos e se ocupa excessivamente de especulações sobre o futuro, sobre o que pode acontecer em casa, na saúde, no trabalho, com os entes queridos etc., ocupando-se, na maioria das vezes desnecessariamente, com pensamentos negativos. A mente comentadora é aquela que opina incessantemente sobre tudo e todos, com julgamentos muitas vezes negativos, observando criticamente os outros, perdendo a oportunidade de observar a si mesmo e evoluir. A mente planejadora está sempre focada no futuro, seja na agenda imediata, seja na mais longínqua, planejando os passos a seguir de modo geralmente esperançosamente positivo, mas idealizando sua capacidade de interferir no mundo e alienando-se, do mesmo modo, do momento presente. ]

 

A mente testemunha, por outro lado, é a de quem encontrou a paz interior, pois ela está atenta ao que acontece aqui e agora, permitindo que a pessoa sinta mais o mundo e observe a si mesma em ação, evitando perder-se em seu próprio funcionamento mental e abrindo caminhos para o aperfeiçoamento pessoal. Os tumultos da mente são amenizados quando meditar se torna parte da vida. Nesse caso, a mente testemunha naturalmente se instala no espaço de paz produzido na meditação e no qual ela encontra alimento para se desenvolver. Pode-se perceber assim as variações do comportamento mental ao longo do tempo e identificar o que é natural e sadio e o que deve ser curado. Quando vivemos situações de estresse excessivo, é natural tendermos ao desassossego em torno do tema que nos estressa, como é típico da mente inquieta, porém viver desassossegado/a é doentio. Em situações em que estamos conhecendo muitas pessoas e circunstâncias novas é natural o comentário consigo mesmo sobre o que se vê e vive, como é típico da mente comentadora, mas se o julgamento é o principal mote da mente, e sobretudo se ele é constantemente negativo, é fácil ver que há uma fuga de si e de seus próprios desafios.  O planejamento sobre o que se quer, seja em termos de ações concretas quanto de evoluções buscadas também é natural, e mesmo necessários, como é típico da mente planejadora, só não podem ser compulsivos e ocupar a maior parte dos pensamentos.

 

Testemunhar calmamente o próprio processo mental nos dá, ao promover o autoconhecimento, a oportunidade de cura dos excessos, pois a mente é maleável e pode ser treinada. A proposta é conseguir uma disciplina mental para evoluir e evitar que os padrões excessivos (que podem ser mais de um) que desenvolvemos por circunstâncias pessoais ou temperamento nos deixem infelizes. Um caminho simples para reconhecer o próprio padrão mental é adotar práticas de meditação, como a meditação diária de um minuto para iniciantes, explicada aqui. Ao começar o método, enquanto sua mente estiver agitada, use os exemplos dados acima como referência e observe o padrão de funcionamento mental que se reproduz, antes que a calma vá se instalando. Na medida em que você repete em semanas e meses a experiência meditativa (que pode ter vários métodos, encontrados facilmente na web através de mestres disponíveis), a percepção do funcionamento mais comum da sua mente vai se tornando mais e mais evidente. Identificado o padrão, é importante entender a relação desse padrão com a história de vida e a personalidade e “cortar” os excessos, com persistência.

 

Se há muita inquietação, é preciso uma mudança profunda no jeito de viver; se há medos e preocupação demasiada, é preciso desenvolver mais confiança nos outros e no mundo; se há muito julgamento, é hora de focar em si, com compaixão, para poder evoluir; se o foco é no futuro e no que há a fazer, mais presença e prazer no momento presente, no aqui e agora, pode ser o caminho. Cada um destes percursos evolutivos exigirá muita disciplina e discernimento, muitas vezes demandará inclusive apoio terapêutico, mas será mais fácil se se sabe que direção tomar. Para isto o diagnóstico do padrão mental é o primeiro passo. Com persistência na meditação a mente que vai se esvaziando de suas sombras e se tornando naturalmente cada vez mais clara e plenamente consciente. Só uma mente clara permite o alinhamento de si com o que é essencial. O alinhamento e a autenticidade favorecem ações pertinentes para a realização individual e com isso mais alegria no dia a dia e ao longo da vida e melhores consequências para o mundo ao redor. Nada há a perder. Tente!


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Política, Cultura
Tags deste artigo: autoconhecimento espiritualidade meditação

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